sábado, 23 de outubro de 2010

Mosteiro de São Bento de Arnóia / Mosteiro de São João de Arnóia

Enquadramento
Rural, isolado, ergue-se a meia encosta, sobranceiro à estrada que liga a sede do concelho a Arnóia. A E. encontra-se a Casa das Abegoarias, antiga casa agrícola do mosteiro, cujo portal se adossa à capela-mor.
A igreja é precedida por pequeno adro em laje granítica sobrelevado, com dois degraus, delimitado por dois plintos coroados por bola.
Fronteiro à fachada principal, do lado das dependências monacais, encontra-se pátio empedrado, delimitado por muros com fonte de espaldar adossada, aberto, do lado N., com entrada protegida alpendre sustentado por quatro colunas, coroado por plinto com cruz de ferro e cata-vento. Envolvem o edifício, a S. e a O., campos de cultivo que formavam a antiga cerca do mosteiro, existindo, no limite O., chafariz parcialmente coberto por vegetação, embebido em muro, com espaldar delimitado por pilastras toscanas, rematado por frontão triangular, com nicho no tímpano.
Espaldar com bica carranca e taça semicircular suportada por modilhão.

Descrição
Planta composta por igreja de planta longitudinal, de nave única, com capela-mor quadrangular mais estreita, torre sineira quadrangular adossada a N. da fachada principal, e dependências monacais adossadas a S., avançadas em relação à fachada principal da igreja, organizadas em torno de claustro quadrangular, com corpo da extremidade S. alongado para O., formando um L que envolve o pátio. Volumes articulados de dominante horizontal, quebrados pelo verticalismo da torre sineira. Coberturas diferenciadas em telhados de duas, três e quatro águas e coruchéu, coroado por cata-vento, na torre sineira.
IGREJA com fachadas em cantaria de granito rematadas por cornija sob beiral. Fachada principal orientada, enquadrada por pilastras toscanas coroadas por urnas e rematada por frontão triangular com grande cruz latina sobre acrotério. Portal principal em arco abatido, com demarcação na pedra de fecho, encimado por nicho com imagem de São João Baptista, ladeada superiormente por dois janelões em arco abatido. Fachada lateral N. com corpo da nave ritmado por contrafortes, aberta por janelões em capialço e fresta. Corpo da nave aberto por dois janelões em capialço. Fachada lateral S., sendo apenas visível parte do corpo da capela-mor, rasgado por janelão em capialço. Fachada posterior da capela-mor em empena, com cruz latina no vértice. Torre sineira com fachadas em cantaria de granito, com cunhais apilastrados, rematada por cornija, com pináculos nos ângulos. Apresenta dois registos, separados por estreita cornija, possuindo no primeiro, na face fronteira, relógio, e no superior sineiras em arco de volta perfeita.
DEPENDÊNCIAS MONACAIS com fachadas rebocadas e pintadas de branco, de dois registos, com cunhais em apilastrados, e remates em cornija sob beiral. Fachada principal a N., virada ao pátio, formando o ângulo do L, rasgada no primeiro registo, por portas de verga recta, na face voltada a O., e por dois vãos em arco pleno na face voltada a N. É rasgada no segundo registo por janelas de verga recta, de sacada à face, com guarda em ferro, e porta de verga recta, a que se acede por escadaria de pedra, de um só lanço, com arranque volutado, decorado com folhagens e ave, coroado por urna, guarda plena em cantaria, terminando em patamar coberto por alpendre sustentado por quatro colunelos toscanos, assentes em plintos entre guarda de ferro. Cobertura interior em madeira. Fachadas S. e E. com fenestração irregular, constituída por frestas, janelas rectangulares de peito e de sacada tendo, a E., três portas rectangulares, uma delas com acesso por escada de cimento e guardas de ferro.
CLAUSTRO de dois registos, separados por estreita cornija, sendo o primeiro rasgado por arcaria plena sobre colunas toscanas, e o segundo, fechado, com fenestração regular, constituída em cada pano por três janelas de sacada à face, com guardas de ferro. Interior das galerias com tecto plano rebocado e pintado de branco e pavimento em laje de granito. Na galeria E., ladeando porta de verga recta de acesso ao quintal, fonte de espaldar enquadrado por pilastras, rematado por entablamento coroado por frontão de volutas interrompido por cruz. O espaldar apresenta 2 bicas em forma de querubim e taça gomada sobre mísula em folha de acanto. Pátio do claustro, ajardinado, com quadras de buxo, possuindo chafariz central, assente em base quadrangular de três degraus, com tanque recortado, de faces côncavas, elevando-se ao centro, duas taças, circulares, sobrepostas, assentes em coluna prismática, coroada por pináculo piramidal. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, possuindo no primeiro piso, cozinha, copa, sala de jantar, sala de estar, arrecadações, assim como serviços administrativos. No segundo piso, com acesso interior por escadaria de pedra e elevador, possui amplos corredores com cobertura em abóbada abatida e pavimento em soalho, que comunicam com os quartos, casas de banho e salas. Salão nobre coberto por tecto em masseira, em madeira envernizada e pintada de branco, com pintura, no centro, das armas beneditinas.

Mosteiro beneditino

Época Construção
Séc. X / XI (conjectural) / XVII / XVIII / XIX

Cronologia
995 - Segundo alguns autores, o então chamado Mosteiro de São João do Ermo de Arnóia (por se localizar num lugar demasiado ermo) teria sido fundado por D. Arnaldo Baião;

1034 - data da sepultura existente no claustro, referente a Múnio Muniz, Alcaide do Castelo de Arnóia, provável fundador do mosteiro beneditino, segundo alguns autores;

1075 - data da primeira doação conhecida ao mosteiro;

1091 - doação ao mosteiro, de Rodrigo Pais, de numerosas propriedades;

1116 - referência à compra de uma propriedade pelo ao abade perpétuo "Arvitis", do Mosteiro de Arnóia;

1375 - sendo abade do mosteiro, D. Frei Pêro Eanes, o Arcebispo de Braga, D. Lourenço Vicente, efectua uma visita pastoral tendo feito vários reparos à vida comunitária que aí era levada, ameaçando de excomunhão se não fossem cumpridas as recomendações;

1380, 11 Julho - D. Lourenço Vicente volta a fazer uma visita pastoral verificando-se que os capítulos ordenados na visita anterior não haviam sido cumpridos, declarando o abade e os monges incursos na pena de excomunhão;

1402 - referência ao abade do mosteiro, D. Frei João Martins;

1427 - referência à "deplorável situação criada pelo desregramento moral e incontrolada ambição do abade D. Luís Martins", que conservava uma concubina na clausura e havia admitido um filho seu para monge; o Prior claustral escreve ao Papa Martinho V, expondo a situação e pedindo o afastamento do abade;

1441 - D. Luís Martins acaba por renunciar às funções de abade sendo escolhido para lhe suceder "per inlliçom e postulaçom do prioll e monges d'Arnoya" Frei Gil, monge de Pombeiro (MARQUES 1981, 49);

1590 - as constituições fixam o nº de monges em 12 elementos;

1593 - o mosteiro passa a vincular as suas rendas à edificação de um colégio-seminário em Coimbra;

1615 - as rendas deixam de estar vinculadas para a construção do seminário de Coimbra;

1639 - data inscrita numa das janelas da igreja;

1688 - data inscrita no chafariz do claustro e na verga de uma das portas que comunicam com o claustro, assinalando a provável reedificação do mosteiro;

Séc. XVIII, início - as obras ainda decorriam no mosteiro;

1706 - data existente no arco triunfal;

1714 - o mosteiro tinha 16 monges residentes; possuia a apresentação da Igreja de São Pedro de Britelo e os curados de São Jorge de Paradança e Santa Maria de Rebordelo;

1726 - a igreja é referida como resultante de obras recentes e cuja fundação era uma das mais antigas da região de Basto, possuia ainda um vigário, apresentado pelos abades e tinha sacrário (CRAESBEECK, 1726);

1731 - data inscrita na nave da igreja;

1748 - data inscrita na verga de uma das portas que comunicam com o claustro;

1752 / 1755 - é superior do mosteiro, o frade João de São José Queirós; posteriormente é deportado para o Brasil, pelo Marquês de Pombal e nomeado Bispo de Grão-Pará;

1758 - segundo as Memórias Paroquiais a igreja era espaçosa, possuia quatro altares, o altar-mor com imagens de São Bento e São João Baptista, o altar de Nossa Senhora do Rosário e imagens da Virgem, Santa Ana, Santa Gertrudes, o Menino Deus, etc;

1764, Fevereiro - o frade João de São José Queirós regressa ao mosteiro, onde morreu a 14 de Agosto do mesmo ano;

Séc. XVIII, finais - execução do cadeiral;

1834 - na sequência da extinção das Ordens Religiosas, o mosteiro foi entregue à paróquia de Arnóia;

1842, 19 Março - Bernardino de Sampaio Araújo, pai de Alberto Sampaio, é sepultado no mosteiro;

1867, 14 Julho - carta régia de D. Luís I aprovando os estatutos da Santa Casa da Misericórdia de São Bento de Arnóia;

1868, 8 Janeiro - provisão de D. José Joaquim de Azevedo e Moura, Arcebispo de Braga, confirmando os estatutos;

1868 - fundação da Santa Casa da Misericórdia de São Bento de Arnóia, pelo Comendador Geraldo José da Cunha; é criado o Hospital Civil de São Bento de Arnóia e instalado numa parte do antigo mosteiro, na ala da antiga cozinha, cedida por Agostinho Alves da Cunha, herdeiro do Comendador;

1918 - num período de grandes dificuldades económicas, o hospital encerra "por não poder sustentar um único doente";

Séc. XX, anos 20 - organização da Liga Protectora do Hospital e promoção de festas de caridade para angariação de fundos para a instituição;

1930, 30 Setembro - após demoradas diligências junto da Companhia Franciscana Hospitaleira Portuguesa, quatro irmãs de caridade vieram para o Hospital assegurar os serviços gerais de manutenção e de enfermagem;

década de 40 - o Provedor Dr. Francisco de Meireles adquire o edifício monacal e procede a obras de restauro;

1976 - o estado toma posse do Hospital;

1982 - inauguração do Centro de Saúde de Celorico de Basto para onde passam os serviços hospitalares, sendo as dependências monacais devolvidas à Misericórdia; fundação do Lar D. Maria Olímpia Mota Guedes, constituído por um lar da 3ª idade e um jardim de infância; o lar da 3ª idade é instalado nas dependências monacais;

1993, 31 Agosto - Despacho de classificação.

Tipologia
Arquitectura religiosa, românica, maneirista e barroca. Mosteiro beneditino masculino composto por igreja de planta longitudinal, nave única e capela-mor quadrangular, a que se adossa ao lado direito da igreja, as dependências monacais, desenvolvidas em torno de um claustro.
A igreja, segundo Carlos A. F. de Almeida, conserva ainda vestígios da planta românica, com cabeceira quadrangular, com contrafortes ainda visíveis.
Fachada principal e torre sineira maneiristas, bastante simples, sendo a fachada principal marcada por pilastras toscanas, remate em frontão triangular e portal simples coroado por nicho e dois grandes janelões.
Dependências monacais maneiristas, com fachada principal rasgada regularmente por portas e janelas de sacada à face, com acesso principal no segundo piso, por escadaria de arranque volutado, tipicamente barroco.
Claustro com arcaria de volta perfeita, assente em colunas toscanas, no primeiro registo e janelas de sacada à face no segundo.
Chafariz central de taças sobrepostas.

Características Particulares
A igreja possui um cadeiral ricamente entalhado, semelhante ao do Mosteiro de São Miguel de Refojos de Basto.
Entre os elementos decorativos da igreja salienta-se um tímpano esculpido com Agnus Dei, da escola de Rates, e uma placa com a figura de São Miguel atacando a serpente.
A fachada principal das dependências monacais é precedida por pátio fechado por muro, com acesso protegido por alpendre suportado por colunas toscanas.
Arranque da escadaria da fachada principal das dependências monacais com excelente trabalho de cantaria.
A imponência do chafariz central contrasta com a simplicidade das fachadas do claustro.
No interior conserva ainda parte da organização espacial primitiva, e da decoração dos corredores e salão nobre. O mosteiro conserva ainda a cela onde viveu o Bispo de Grão-Pará, na sequência do desterro a que o votou o Marquês de Pombal.
(fonte: IHRU)

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