quarta-feira, 10 de junho de 2009

A chamada Catedral de Idanha-a-Velha


Enquadramento
Urbano.
Povoação fortificada situada na margem direita do rio Ponsul *2, implantando-se nas terras baixas a S. de Monsanto.
A igreja situa-se intramuros, junto à Porta S. da muralha.

Descrição
Catedral de planta rectangular com dois eixos ortogonais, composta por rectângulo principal ao qual se justapõem, ao lado maior, dois rectângulos e um quadrado.

Cobertura diferenciada a duas águas na nave central e a uma água nas naves laterais.

Fachada principal voltada a NE., com dois registos, tendo o primeiro porta em arco quebrado e porta de lintel recto e o segundo óculo circular e campanário.

Alçado SO. tem, no primeiro registo, duas portas de lintel recto com as ombreiras almofadadas e, superiormente, janelão em arco pleno.

Alçado NO. com porta em arco quebrado e rematada por gablete decorado, ladeado por quatro frestas.

No nível superior, correspondendo ao clerestório da nave central, sete frestas em arco pleno.

Alçado SE. possui janela de lintel recto entaipada e duas frestas, integrando o aparelho dois fustes e inscrição romana.
No segundo registo, cinco frestas em arco pleno. Dois baptistérios exteriores, um na entrada S. e outro junto à entrada N..

INTERIOR de três naves, uma das quais truncada.

Pavimento em madeira em lajeado de granito, sendo os degraus de acesso revestidos a mármore rosa.

Nave central mais larga e elevada do que as laterais, separadas por arcos formeiros ultrapassados, peraltados no lado do Evangelho, assentando em colunas e pilastras.

As paredes SE. e NE. apresentam arcadas cegas em alvenaria de tijolo e a parede NE. arco pleno. Impostas em mármore decoradas com palmetas.

Arco triunfal em ferradura, assente em impostas salientes.

Pavimento lajeado, sendo, na nave central, de madeira.
Cobertura de vigamento de madeira.

A capela lateral SE. de planta quadrada e cobertura em abóbada de berço, apresenta pintura mural representando São Bartolomeu com o diabo agrilhado aos seus pés, em tons ocre e terra queimada, tendo como envolvimento barra decorativa em tons cinza.

A Capela de Nossa Senhora do Rosário, com cobertura em concha, integra na zona superior da parede esgrafito de sabor popular com a data de 1593 gravada e decorada com motivos geométricos, zoomórficos, cruciformes e cabeças de anjo.

Vestígios de pintura mural também nos alçados da nave entre as duas capelas e lateralmente à segunda, representando o Calvário, Cruz de Cristo e Santo António.

O baptistério encontra-se situado no exterior, com planta cruciforme, apresentando pequenos tanques adjacentes.

Cisterna adossado à igreja, à esquerda do portal principal.

Época Construção
Séc. VI / VII / XII / XIII / XV / XVI / XX

Cronologia

Séc. IV - provável construção da primitiva basílica;

559- 570 - criação do bispado da Egitânia, por Teodemiro, rei dos Suevos *3;

585, cerca de - edificação da catedral, do baptistério e do hipotético paço;

Séc. IX / X - transformação em mesquita;

Séc. XII / XIII - surge uma nova capela-mor, reaproveitando materiais da construção anterior;

1165 - doação a Gualdim Pais, Mestre dos Templários, por D. Afonso Henriques;

1197 - doação a Lopo Fernandes, Mestre dos Templários;

1199 - transferência da sede episcopal para a Guarda;

1229 - doação a Mestre Vicente, Bispo da Guarda;

1244 - doação a Martim Martins, Mestre dos Templários;

1326 - recebia 500 libras dadas pelo comendador de Rio Frio, a renda do espiritual e temporal da povoação, 100 libras dos comendadores de Almourol e Cardiga e 100 pela renda do espiritual de Proença;

1497 - obras de renovação na antiga Catedral por ordem de D. Manuel, para o que estipula a quantia de 5 réis por ano; abertura de novos portais;

Séc. XVI - a igreja encontrava-se já parcialmente enterrada; correcção da orientação do altar-mor, (C. Torres, 1992);

1505, 10 Outubro - visitação de D. João Pereira e Fr. Francisco, estando a comenda vaga, por morte de Fr. Garcia Afonso; os visitadores constataram a existência de três naves, a da direita com 7 arcos e a da esquerda com 4, surgindo 2 entradas, um portal virado a N., de pedra lavrada e executado recentemente, protegido por alpendre sustentado por colunas de pedra e coberto por telha vã, e um portal mais pequeno a S.; sobre o portal principal, campanário de pedra lavrada, de construção recente, com dosi sinos e rematado por grimpa; à esquerda do alpendre, edifício antigo com 5 arcos; a capela-mor era abobadada, totalmente em cantaria, tendo uma mesa de altar assente em coluna, onde surgia a imagem escultórica do orago, Nossa Senhora, surgindo dois altares colaterais de pedra, dedicados a Santo António e a São Sebastião, com esculturas dos oragos e imagens pintadas na parede, surgindo, ainda, as pinturas de Santa Catarina e São Sebastião;

1537, 10 Outubro - visitação de Fr. António Lisboa, referindo a existência de porta travessa com alpendre, apoiado em cinco colunas com a altura de 6 varas; a capela tinha 4 varas de comprido e 3 de largo; o altar-mor encontrava-se deslocado e estava forrado de azulejos, surgindo um retábulo velho com a pintura de Nossa Senhora, encimado por dossel de sarja vermelha; junto à capela, construíra-se a sacristia num arco; altares colaterais com tábuas pintadas com os oragos respectivos; no lado esquerdo do portal principal, a pia baptismal; igreja parcialmente forrada, entrando-se nela descendo quatro degraus;

1589 - rasga-se a Capela de Nossa Senhora do Rosário;

1593 - abertura da porta S.;

Séc. XIX - a igreja é transformada em cemitério da localidade, perdendo a sua função cultual;

1893 - data na Capela de Nossa Senhora do Rosário;

1955 - início da prospecção arqueológica, da responsabilidade de Fernando de Almeida;

1998, 12 Fevereiro - cedência do imóvel ao Instituto Português do Património Arquitectónico;

2006, Fevereiro - fim das obras na zona envolvente da Sé; feitura de uma estrutura metálica em torno dos baptistérios e colocação de estrutura envidraçada para poderem ser visualizados.

Tipologia
Arquitectura religiosa, visigótica, islâmica românico-gótica e manuelina.

Igreja de planta rectangular com dois eixos ortogonais e justaposição de rectângulos e quadrados, com três naves. Portas em arco quebrado, uma delas com gablete, portas de lintel recto, uma delas com ombreiras almofadadas.

Clerestório com vãos em arco pleno.

Arcos formeiros ultrapassados.

Baptistério de planta cruciforme.

Características Particulares
Integração de materiais romanos na construção.

Ausência de abside e elevação interna.

Os arcos não apresentam o mesmo diâmetro e as colunas, formadas por tambores, não possuem concordância exacta entre a altura dos fustes e respectiva adaptação ao capitel.

Portas desniveladas.

Alguns capitéis serão romanos, outros parecem ser jónicos, mas com volutas picadas (C.A. Ferreira de Almeida) e outros parecem inacabados.

As pinturas murais revelam semelhanças com as da Igreja de Santiago de Belmonte, Igreja de Nossa Senhora da Fresta, em Trancoso e a de São João Baptista do Cimo de Vila de Castanheira, devendo-se, provavelmente, a uma mesma oficina.

Materiais
Granito; xisto; mármore; cantaria, alvenaria; aparelho isódomo, almofadado e rusticado; revestimento inexistente; telha "romana".

Observações
*1 - Classificada em conjunto com a Ponte sobre o Rio Ponsul, com a DOF: A chamada "Catedral" e a velha ponte a este, sobre o Ponsul, em Idanha-a-Velha.

*2 - topónimo derivado de Procônsul.

*3 - em 569, o bispo da Egitânea encontrava-se presente no Concílio de Lugo, confirmando a existência do bispado, nesta data.

*4 - espólio arqueológico disperso por vários museus e entidades particulares (Museu Lapidar Igeditano de António Marrocos, Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Museu Nacional de Arqueologia).

*5 - de acordo com o "Plano de Aldeia" do Programa "Aldeias Históricas de Portugal - Beira Interior", está prevista intervenção no imóvel com projecto tutelado pelo IPPAR, da responsabilidade do arquitecto Alexandre Costa.

(fonte: IHRU)

(Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Idanha-a-Velha)

2 comentários:

Criptex disse...

Grande parte (quase tudo) do que hoje se vê em Idanha a Velha, foi fruto do trabalho de dois Homens apaixonados pelos Aromas Arcanos do Passado, que durante anos, de forma clandestina, trouxeram à Luz o que nas trevas do esquecimento se fazia perder...

O nome Fernando de Almeida (tb conhecido como Dom Fernando de Almeida) diz-lhe alguma coisa?

Uma verdadeira caça ao tesouro feita no inicio do Século em total clandestinidade. Felizmente com consequências benignas e resultados louváveis.

Deixou um diário...

Sigillum disse...

Um diário ... excelente :)