sábado, 2 de outubro de 2010

Convento Santa Maria de Aguiar

Enquadramento
Rural, isolado, mas rodeado a N. por um conjunto de casas rústicas de piso térreo e alguns anexos agrícolas.
Situa-se nas margens da Ribeira de Aguiar, em zona plana, junto ao cabeço de Castelo Rodrigo, a cerca de 3 Km. a SE. de Figueira de Castelo Rodrigo.

Descrição
Planta longitudinal, em cruz latina com três naves escalonadas de dois tramos, transepto saliente de dois tramos em cada braço e cabeceira tripartida, igualmente escalonada, constituída por ábside rectangular e dois absidíolos de planta quadrangular.
Volumes articulados, com coberturas diferenciadas a duas e uma águas.
Alçados S., E. e N. com embasamentos proeminentes biselados e remates em cornija.
Fachada principal virada a O., de três panos divididos por contrafortes, tendo, no corpo central, uma porta em arco pleno encimada por uma fresta em arco quebrado e remate em empena.
Alçado S. com panos murários delimitados por contrafortes.
No corpo das naves, dois panos, o primeiro com duas frestas em arco quebrado. O corpo do transepto tem porta em arco quebrado e janelão mainelado com igual perfil, rasgada por óculo quadrilobado na bandeira.
Alçado E. com três panos ostentando contrafortes de ângulo, rasgados por três frestas em arco quebrado na abside e uma em cada absidíolo.
Alçado N.com panos murários delimitados por contrafortes.
Corpo das naves com portal em arco quebrado com cinco arquivoltas de impostas salientes, ladeado por colunelos de fuste circular e capitéis decorados com motivos vegetalistas estilizados.
INTERIOR com acesso desnivelado a partir da entrada principal, com pavimento lajeado e cobertura em vigamento de madeira. Nave central de dois tramos, iluminada indirectamente pelas fenestrações das naves laterais, tendo dois arcos formeiros de volta perfeita, assentes em pilares cruciformes. Naves laterais cobertas por abóbada de cruzaria de ogivas.
Transepto mais elevado que a nave, com dois tramos em cada braço, tendo arcos torais quebrados, e é iluminado por janelão S..
Cobertura em abóbada de berço quebrado.
Braço N. do transepto liga às dependências conventuais e à sacristia.
Cabeceira com absidíolos que integram nichos em arco quebrado e em arco pleno. Coberturas em abóbada de berço quebrado.
Retábulo de talha dourada na capela-mor.
Sacristia, integrada no corpo conventual, de planta rectangular e cobertura em abóbada de berço quebrado. Iluminada por janelão O. em arco pleno mainelado, com coberturas secundárias em arco quebrado, impostas recortadas e óculo quadrilobado. Dependências conventuais desenvolvem-se a N., de planta rectangular com coberturas diferentes a três águas.
Alçados de dois pisos, com embasamento proeminente e remate em cornija, rasgados por vãos em arco pleno, arco quebrado e de lintel recto com e sem moldura.
Sala do Capítulo de planta quadrangular, de duas naves de seis tramos, com pavimento lajeado e cobertura em abóbada de cruzaria de ogivas apoiada em colunas, tendo bocetes decorados com motivos vegetalistas.
Porta em arco quebrado com três arquivoltas e impostas salientes, ladeadas por colunelos de fuste liso e capitel decorado com motivos vegetalistas estilizados, com dois janelões em arco quebrado.
Restantes compartimentos compostos por duas salas no primeiro piso, com acesso ao piso superior, que constituía o dormitório.
Hospedaria de planta rectangular com telhado a quatro águas, tendo a fachada principal voltada a S., com três portas e duas janelas de lintel recto e moldura simples. No segundo piso, sete janelas idênticas e loggia com colunas toscanas. Alçado N. com cinco janelas e duas frestas de lintel recto, porta em arco pleno no primeiro piso e nove janelas idênticas no segundo.
Alçado O. com fresta no primeiro piso e loggia no segundo. Alçado E. marcado por escadaria com alpendre e porta em arco abatido no primeiro piso. Porta idêntica cronografada e duas janelas de lintel recto no segundo. Alçados rematados em empena recta e cornija.
INTERIOR possui, no primeiro piso, doze compartimentos, uma arcada longitudinal com quatro arcos abatidos, sendo o pavimento lajeado e os tectos planos. No segundo piso, existem treze compartimentos e duas caixas de escadas, o pavimento é assoalhado e possui tectos planos e de masseira.

Tipologia
Arquitectura religiosa, românica, gótica.
Mosteiro masculino cisterciense, composto por igreja de planta em cruz latina, três naves, transepto saliente e capela-mor, segundo o esquema utilizado na igreja de La Prée, em França.
Coberturas em abóbadas de cruzaria de ogiva.
Fachada principal com empena angular reforçada por contrafortes.
Porta principal em arco pleno sem decoração.
Dependências conventuais ligadas ao braço do transepto.
Afinidades: Santa Clara a Velha em Coimbra, São Francisco no Porto, Santa Maria de la Espina em Valhadolid.
Retábulo do estilo nacional.

Características Particulares
Igreja de planta em cruz latina, com cabeceira simples, tendo apenas capela-mor, cuja tipologia foi alterada na sequeência das obras de restauro no início do Séc. XX, com a construção de dois absidíolos, originando uma cabeceira tripartida escalonada, do tipo bernardino.
Naves com dois tramos; escavações revelaram que a construção previa mais dois tramos; nave central cega; abside de planta rectangular; óculo da casa capitular.

Cronologia
Séc. XI - de início mosteiro beneditino português, anexado pelo Reino de Leão, voltou a ser português no fim do Séc. XIII, na sequência da invasão militar de D. Dinis, em 1296;

1165 - doação de Fernando II de Leão; era uma filial da Abadia leonesa de Moreruela, filha de Claraval, integrada na diocese de Ciudad Rodrigo, sendo os monges fundadores originários de Val Paraíso e São João de Tarouca;

1170 - 1174 - passa a cisterciense, passando a ter abades vitalícios, eleitos pela comunidade de religiosos, situação que perdurou até 1465;

1174 - doação de D. Afonso Henriques, documento apócrifo segundo vários autores;

1180, 27 Abril - compra de uma granja em Castelo Rodrigo, a Fernando Fernandes de Bragança;

1181 - compra de uma granja em Castelo Rodrigo, a Gonçalo Martins Machado;

1182 - Bula de Lúcio III refere a filiação em Boulbonne ( França ), isentando-o de dízimos, o que seria confirmado em 1221 por Honório III;

1190 - primeira referência ao mosteiro nas actas dos Capítulos Gerais;

1217 - Rodrigo Peres vende a sua parte da herdade da Cortiçada ao Mosteiro, bem como uma herdade e uma granja em Ciudad Rodrigo; compra de um moinho em Ciudad Rodrigo a Felix Rogeiro e de uma vinha em Castelo Rodrigo a Paio Mendes;

1223 - compra de uma herdade em Castelo Mendo a Egas Mendes;

1253 - compra de uma herdade em Pinhel a João Martins;

1297 - Anexação da região de Riba-Côa e passagem para a jurisdição de São João de Tarouca;

1320 - tinha de rendimento 210 libras;

1331 - mosteiro recebe os foros da aldeia;

1354 - possui na Guarda dois casais, três herdades e um souto, além de propriedades em Maceira;

1398 - Pedrona Fernandes doa várias propriedades;

1458 - pertenciam ao Mosteiro as igrejas de Almofala, Vilar, Mata de Lobos e Figueira;

1459 - Abade D. Nuno Álvares escreveu ao Papa Pio II dando-lhe a conhecer o estado de miséria do convento devido ás sucessivas guerras;

Séc. XVI - perda progressiva das propriedades doadas; o mosteiro possuía dormitório, com cerca de 16 celas, parlatório, refeitório, na ala N. do claustro, e cozinha, enfermaria e casa abacial;

1500 - 1589 - os abades comendatários eram apresentados pela Coroa;

1533 - visita do Abade de Claraval Edmé Sanlim na sequência de queixas contra a actuação incorrecta do Abade Comendador D. Álvaro Ferrão, documenta o seu estado de ruína, estando apenas a Sala do Capítulo intacta, dormindo os religiosos num ângulo do claustro; início do restauro do mesmo;

1536 - o visitador manda que a obra do dormitório prosseguisse, o qual deveria ir desde a Sala do Capítulo ao Parlatório, sendo feito, por baixo, o refeitório e a cozinha e que se acabasse o claustro;

1557 - bula de Paulo VI ordena ao chantre da Guarda e deão de Lamego que restituam os bens alienados ao mosteiro;

1589 - incorporação do mosteiro na congregação de Santa Maria Alcobaça, surgindo abades trianais, eleitos pelo Capítulo, situação que se manteve até à extinção;

1636 - feitura do sacrário;

Séc. XVIII - construção do coro-alto, cujo cadeiral era datado de 1703, e talvez da abóbada berço estucada e da hospedaria; elevação do pavimento 50 cm., escondendo as bases dos pilares;

1704 - data na pedra de armas do Abade Frei Pedro da Silveira;

1723 - reparação dos telhados, levantamento dos muros da cerca, fontes e conserto do órgão, por 72$900;

1747 - reparação do órgão por 5$700;

Séc. XVIII, final - tinha de renadas 3:700$000;

1810 - devastações durante as Invasões Francesas;

1811 - as perdas do mosteiro, na sequência das Invasões, foi avaliada em 790$000 nas dependências monacais, 323$000 nos móveis, 489$600 nos móveis dos religiosos, 320$000 de prejuízo na hospedagem das tropas e 4$800 em roubos na igreja;

1816 / 1819 - obras de carpintaria e colocação de coerturas nos dormitórios e claustro; madeiramento e caiação da cela abacial; madeiramento, rebocos e caiação nas coberturas da igreja; colocação de caixilharias na igreja e cela abacial; reparações no muro da cerca; conserto do lagar;

1822 / 1825 - obras nas coberturas da igreja; execução de nova porta do carro;

1834 - expulsão dos monges;

1840 - arrematação em hasta pública, tendo sido comprado por Manuel António Marçal que aí viveu entre 1849 e 1859;

Séc. XX, 1ª metade - demolição do claustro, o qual ainda existia em 1920, possuindo arcos plenos assentes em colunas dóricas, provavelmente 9 arcos por ala, tendo os ângulos fechados e, no piso superior, janelas de verga recta; no centro, tinha uma fonte; a sua demolição ter-se-á devido à necessidade de espaço para touradas (J.C. Martins);

1929 - na fachada principal observava-se um alpendre a duas águas, característico das igrejas cistercienses mais antigas (M. Cocheril);

1936 - plano de acrescento de um tramo à nave; vários projectos de restauro, assinados por José Soares Zilhão;

1938 / 1939 - construção dos absidíolos, por António Domingues Esteves;

1941 - 1952 - a igreja esteve sem cobertura durante este período;

1987 - proposta do IPPC para recuperação das dependências conventuais, com estudo, conservação e valorização museológica, que não avançou;

1992, 01 Junho - afectação da igreja ao Instituto Português do Património Arquitectónico, por Decreto-lei 106F/92;

1994 - o IPPAR estuda a possibilidade do imóvel integrar a Rota de Cister, ao abrigo de um protocolo com o Fundo de Turismo.

(fonte: IHRU)

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