domingo, 28 de fevereiro de 2010

Le Chateau des Templiers


Au murmure de la cascade,
Montons à travers les halliers,
Parmi les rocs, à l'escalade,
Jusqu'au château des Templiers.

Déjàlà-haut, sur la montagne,
J'aperçois le donjon bruni;
Sa croix domine la campagne
Et s'élance vers l'infini.

Marchons encor, parmi les seigles;
Marchons sous le ciel gris ou bleu.
Il était là, le nid des Aigles
Qui gardaient le tombeau de Dieu.

Je veux toucher du pied leur aire;
Je veux m'incliner à l'autel,
Où priaient ces hommes de guerre,
Que brûla Philippe-le-Bel.

Salut à vous, sombres ruines,
Murs croulants, terribles prisons !
Vos blocs commandent les collines,
Jusqu'aux bleuâtres horizons.

Jadis, quand ils portaient les armes,
Les fiers vainqueurs des mécréants,
On ne passait pas sans alarmes,
Au pied de ces créneaux géants.

Aujourd'hui, terribles victimes,
Dans le trépas vous dormez tous,
Et les grands aigles, sur vos cimes,
Sont remplacés par les hiboux.
Votre glaive et votre cuirasse
Ne défendront plus le saint lieu;
C'est un manant qui vous remplace
Et dîne auprès de votre feu.

Dans la hautaine citadelle,
Où veill aient des hommes de fer,
Le boeuf mugit, le mouton bêle,
L'odeur du foin parfume l'air,
Et la compagne vigoureuse
Du laboureur au cou hâlé
Suspendà sa mamelle heureuse
Un enfant rose et potelé.


- Prosper Blanchemain

Em Homenagem a um Grande Templário que seguiu para Casa:

José Manuel Capêlo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Carta de doação

... que fez D. Pedro Alvo à Ordem do Templo, da quinta e herança que tinha no termo de Cardiga e de Torres Novas, 1255

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Memórias Paroquiais de Santa Maria do Olival

Inteireza de um Juiz

No tempo de el rei D. João II, corria em Lisboa demanda, sobre objecto de grande
valor, entre el rei e o contador-mór da cidade.

Um dos juizes, que haviam de julgar o pleito, era o vigário de Thomar, que depois foi bispo da Guarda, e prior de Santa Cruz de Coimbra.

Os juizes sentencearam contra el rei, o qual sabendo isto, e lendo informação de que o primeiro, que votara contra elle, fora o benemérito vigário de Thomar, mandou-o chamar á sua presença.

Veiu elle, não sem algum receio; porque não conhecia bem a grande alma, e as excellenles virtudes do príncipe.

Este porém, longe de mostrar-lhe algum desabrimento, pelo contrario lhe disse:

«que sabia, que fora elle o primeiro que dera o voto, e que os outros juizes haviam
seguido, que lhe louvava e agradecia esta inteireza, própria de um varão honrado, e de um juiz virtuoso, e que em prova do quanto se agradara do seu proceder, tinha já dado ordem a António de Faria, para lhe dar duzentos cruzados para suas despezas.»

Assim prezava D. João II os actos de justiça, e assim mostrava quanto lhe era odiosa a vil adulação, maiormente quando com ella se ofendesse aquella primeira e principal virtude dos grandes reis.

- Panorama

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Capela românica de São Pedro de Vir à Corça - Monsanto


Enquadramento
Rural e paisagístico. Situa-se isolada na vertente SO. do sopé de Monsanto, numa zona arborizada com sobreiros. Campanário de uma abertura sineira em arco pleno e com remate angular, assente em penedo no lado N. da capela. Sepulturas antropomórficas cavadas na rocha e de diferentes dimensões junto ao alçado N.. Bancadas em betão dispersas pelo recinto. Proximidade de nascente de água a que a tradição atribui propriedades milagrosas.

Descrição
Planta longitudinal composta por 2 rectângulos, encontrando-se o rectângulo menor inscrito no maior, do que resulta uma abside com capela-mor e 2 absidíolos.

Disposição horizontalista das massas.

Cobertura diferenciada a 2 águas.

Fachada principal voltada a O., portal em arco pleno com 2 arquivoltas e impostas salientes decoradas por motivos geométricos, entre os quais meias esferas e sulcos paralelos.
Num 2º nível uma linha de 3 mísulas cúbicas.
Segue-se rosácea com moldura decorada por motivos geométricos, com quadrifólio central e 8 arcos trilobados radiais e remate em empena com cornija.

Alçado N. possui portal em arco pleno com a arquivolta exterior decorada por sulcos paralelos e por denteado insculpido; apresenta tímpano liso e impostas decoradas por sulcos paralelos; cornija e cachorrada decorada com motivos geométricos e zoomórficos.

Alçado S.: embasamento escalonado na abside; portal em arco pleno com tímpano liso e umbrais curvos decorados por sulcos, circundado por linha de mísulas cúbicas; muro perpendicular à porta; cornija e cachorrada lisa.

Alçado E.: fresta em arco pleno na capela-mor, nos absidíolos e na empena da nave central; empena angular com cornija. Interior: 3 naves separadas por 2 colunas de cada lado; as colunas assentam em plintos altos, apresentam fuste liso e capitel jónico; iluminação por rosácea O. e fresta E.; púlpito adossado ao muro S. com balcão poligonal em cantaria.

Arco triunfal de 2 arquivoltas, sendo a interna em arco pleno e a externa em arco apontando.

Acesso aos absidíolos através de arcos plenos, que se relacionam com o arco triunfal através das impostas contínuas decoradas por meias esferas.

Capela-mor e absidíolos não intercomunicantes e iluminados por fresta E..

Pavimento lajeado e afloramento rochoso.

Cobertura em madeira, única nas naves e diferenciada na abside.

Utilização Inicial
Religiosa: capela

Cronologia
Séc. XII / XIII - Hipotética edificação da capela, desconhecendo-se se foi concluída; topónimo relacionado com lenda referente à criança salva do demónio por Santo Amador e alimentada por uma corça (Segundo tradição local, o nome da Capela prende-se com o facto do eremita Santo Amador, que a habitava, ter recolhido 1 criança, que era amamentada por 1 corça 4 vezes por dia.);

1308 - Concessão de carta de feira à ermida de São Pedro de Vila Corça, por iniciativa de D. Dinis;

Séc. XV, meados - extinção da congregação religiosa;

1450 - Acordo celebrado entre o Bispo da Guarda D. Luís da Guerra e o Cabido acerca do arrendamento da capela a Gonçalo Afonso, cónego da Sé;

Séc. XVI, início - hipotética alteração do interior, atendendo às características das colunas;

1613 - Instituição da Irmandade de São Pedro;

Séc. XVIII - Importante afluência de peregrinos à ermida.

Tipologia
Arquitectura religiosa românica. Igreja de planta longitudinal composta por 2 rectângulos, encontrando-se o rectângulo menor inscrito no maior. Abside composta por capela-mor e 2 absidíolos. Portal principal em arco pleno sem tímpano e encimado por rosácea; portais laterais em arco pleno com tímpano liso; frestas em arco pleno. Cachorrada lisa. Interior de 3 naves separadas por colunas de capitel jónico. Arco triunfal de 2 arquivoltas em arco pleno e arco apontando. Absidíolos com arcos plenos. Cobertura em madeira, única nas naves e diferenciada na abside. Motivos decorativos: quadrifólio, arcos trilobados, meias esferas, sulcos paralelos, denteado.

Características Particulares
Planta longitudinal composta por 2 rectângulos, encontrando-se o rectângulo menor inscrito no maior. Mísulas cúbicas nos alçados externos indiciam anterior existência de alpendres de feira. Interior de 3 naves divididas por 4 colunas de capitel jónico.

(fonte: IHRU)

Capela de S. Miguel do Castelo - Monsanto




Enquadramento
Rural, isolado e a meia encosta.

Ergue-se numa zona de pendor inclinado, extramuros, com a fachada posterior sobre embasamento.

O espaço circundante é caracterizado pela existência de vários afloramentos graníticos, onde existem escavadas treze sepulturas trapezoidais e antropomórficas, isoladas e em grupo. Lateralmente à capela, existe o campanário e, próximo, o Castelo de Monsanto e a torre defensiva do Pião.

Descrição
Planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita e baixa, de volumes articulados de disposição na horizontal com coberturas diferenciadas, que seriam de duas águas.

Fachadas em cantaria aparente, com aparelho isódomo, e remate em cornija.

A fachada principal, virada a SO., remata em empena e é rasgada por portal em arco de volta perfeita, com quatro arquivoltas assentes em impostas salientes, as exterior e interior sobre colunas de fuste liso, já desaparecidos nas interiores, e capitéis cúbicos ostentando decoração zoomórfica; a coluna do lado esquerdo possui insculpido côvado de 65 cm.; o vão é protegido por porta de duas folhas em ferro.

A ladear o portal axial e em posição superior, duas mísulas de cantaria.

A fachada lateral esquerda, virada a NO., remata em cornija sustentada por cachorrada, tendo em alguns dos cachorros decoração zoomórfica e símbolos fálicos, possuindo, no corpo da nave, dois arcossólios geminados, em arco ligeiramente apontado; é rasgada por porta de verga recta, encimada por tímpano semicircular assente em imposta saliente no lado esquerdo; o vão é protegido por grade metálica de uma folha.

O corpo da capela-mor forma dois panos, o do lado esquerdo criando um ligeiro ressalto, onde surge um terceiro arcossólio, também de perfil apontado.

A fachada lateral direita, virada a SE., apresenta uma cachorrada semelhante à da fachada oposta, sendo cega.
Fachada posterior em empena rasgada por uma fresta na zona superior.

No lado O. a uma cota mais elevada e assente sobre afloramento granítico, surge o campanário em cantaria de granito aparente em aparelho isódomo, rasgado superiormente por dois arcos de volta perfeita geminados.

Acede-se ao INTERIOR descendo uma escadaria constituída por cinco degraus, apresentando-se em cantaria de granito aparente e pavimento em lajeado de granito.

Arco triunfal de volta perfeita, constituído por duas arquivoltas assentes em impostas salientes e encimado por fresta. Na capela-mor, conserva, sobre supedâneo de um degrau, uma mesa de altar recitilínea, um fragmento da pia baptismal em forma de cálice, base de coluna e outros fragmentos em cantaria aparelhada.

Vários fragmentos de cantaria lavrada surgem dispersos pela nave.

Utilização Inicial
Religiosa: igreja matriz

Época Construção
Séc. XII

Cronologia
Séc. XII - data da sua edificação;

Séc. XVI, início - levantamento gráfico efectuado por Duarte de Armas, onde se observa o núcleo urbano da paróquia de São Miguel;

1702 - sepultura no interior de Tomé Furtado de Mendonça, prior da igreja;

1758 - esta capela funcionava como igreja paroquial, sendo o pároco prior apresentando pelo Conde de Monsanto, a quem tinha sido dado o padroado pela Câmara, em troca de fazendas que o Conde possuía, tendo o pároco 200$000 de renda; a igreja encontrava-se fora da freguesia, restando poucas casas, tendo por orago a Aparição de São Miguel Arcanjo no Monte Gargano, sendo sagrada, conforme inscrição gótica que existia na parede da igreja; tinha a capela-mor e dois retábulos colaterais, dedicados a Nosso Senhor do Bonfim (Epístola) e Nossa Senhora da Assunção (Evangelho);

1834 - a igreja ainda se encontrava aberta ao culto.

Tipologia
Arquitectura religiosa, românica. Igreja de planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita e baixa, com campanário em cota mais elevada, com construção autónoma, com sineira dupla. Fachada principal em empena com portal em arco de volta perfeita assente em impostas salientes e em colunas. As fachadas laterais rematam em cornija assente em cachorrada, a lateral esquerda com portal de verga recta, encimado por tímpano. Arco triunfal de volta perfeita, encimado por fresta, rasgando-se outra na parede testeira.

Características Particulares
Antiga igreja paroquial, onde se destaca a fachada principal apresentando colunas com capitéis cúbicos decorados com elementos zoomórficos, que se repetem na decoração das cachorradas, que ostentam também motivos fálicos; a coluna do lado esquerdo possui insculpido côvado. É de destacar a existência de três arcossólios com arcos apontados, na fachada lateral esquerda, que conteriam tumulária. Na envolvência, surgem sepulturas escavadas nos afloramentos graníticos e o campanário, de dupla sineira.

(fonte: IHRU)

Capela de Santa Maria do Castelo - Monsanto


Enquadramento
Urbano, isolado, na montanha, ergue-se no interior do Castelo de Monsanto, sobre afloramentos graníticos.
Próximo, localiza-se a Capela de São Miguel do Castelo.

Descrição
Planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita, de volumes articulados de disposição na horizontal com cobertura homogénea em telhado de duas águas.

Fachadas em alvenaria de granito aparente, de aparelho rústico, parcialmente percorrida por embasamento de cantaria, com cunhais apilastrados e rematadas em beiral.

Fachada principal virada a SO. limitada por pilastra toscana no cunhal esquerdo e aparelho perpianho no direito, rematada em empena com cruz latina no vértice; é rasgada por portal em arco abatido com moldura em cantaria, a verga prolongando-se lateralmente e com pedra de fecho saliente; possui, no lado direito, pequena janela quadrangular gradeada.

Fachada lateral esquerda virada a NO., com duas janelas rectilíneas em capialço, uma na nave e outra na capela-mor.

Fachada lateral direita virada a SE., tendo, no corpo da capela-mor, uma porta de verga recta e uma janela semelhante às anteriores; o muro da nave apresenta alguns orifícios, formando três linhas horizontais irregulares.

Fachada posterior cega, em empena, apresentando alguns orifícios, formando duas linhas verticais irregulares.

INTERIOR em alvenaria de granito aparente, em aparelho rústico, com pavimento em lajeado de granito e cobertura de madeira em dois panos, com tirantes em ferro.

Arco triunfal de volta perfeita assente em impostas salientes, ladeado, na Epístola, por base em granito, suportada por coluna com imagem.

Capela-mor com pavimento e cobertura semelhantes aos da nave, tendo altar-mor com base em granito suportada por coluna.

Utilização Inicial
Religiosa: capela

Cronologia
1694 - Data da sua edificação, sobre uma primitiva capela da Ordem dos Templários;

1758 - Nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo prior da paróquia de São Miguel, Cristóvão de Andrade, surge referida com a invocação de Nossa Senhora do Castelo, situada dentro do mesmo, pertencendo à freguesia;

Séc. Séc. XX - remodelação da capela.

Tipologia
Arquitectura religiosa, vernácula.
Capela seiscentista, de planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita, com coberturas interiores diferenciadas em telhados de duas águas, iluminada por janelas em capialço, rasgadas nas fachadas laterais.
Fachada principal em empena baixa, rasgada por portal em arco abatido, ladeado por uma janela.
Fachada lateral direita rasgada por uma porta de verga recta, no corpo da capela-mor.
Interior com simples ara de altar.

Características Particulares
Capela localizada no interior do Castelo, construída sobre uma primitiva capela da Ordem dos Templários, apresentando grande irregularidade no tratamento dos muros, com alvenaria e cantaria, percorrida parcialmente por embasamento e tendo alguns cunhais apilastrados e outros com aparelho perpianho.
Apresenta vários orifícios nas fachadas lateral direita e posterior, formando, na primeira, três linhas horizontais e na segunda duas verticais.

Materiais
Estrutura em alvenaria de granito, com as juntas preenchidas com argamassa; cunhais, embasamento e cruz em cantaria de granito; portas e coberturas internas de madeira; tirantes e grades das janelas em ferro forjado; coberturas exteriores em telha lusa.

(fonte: IHRU)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mons Sanctum

Eis-nos de volta a Monsanto

Da Villa de Monsanto

A sete legoas de Castelo-Branco para o Nascente, quatro de Salvaterra do Extremo para o Norte, & huma da Estremadura Castelhana, defronte do Castelo de Trebejo, em hum áspero monte, & altíssimo promontório com dificultosa entrada tem seu sítio a Villa de Monsanto, cercada de muros com famoso Castelo, obra de D. Galdim Pies, o qual tem dentro hum poço de agua nativa, muita, & boa, além de muitas fontes, que tem pela parte de fora, entre as quaes ha huma da parte do Occidente que anda ao revez de todas, brota de veraõ, & seca-se de Inverno. Ha nella tradiçaõ, que que esteve de cerco sete annos, & sem duvida devia de ser em tempo dos Romanos a praça que na Lusitania teve Ludo Emilio Consul em dilatado cerco, no fim do qual, não querendo os cercados entregarse, não havendo de sair com armas, sairão com elas para morrer pelejando (como fizerão) com grande estrago do inimigo.

Mandou povoar esta Villa El Rey Dom Sancho o Primeiro de Portugal pelos annos de 1190. chamandolhe Monte Sagro, ou Sacro, corrupto depois em Monte de Sancho , & hoje em Monsanto. El Rey D. Affonso o Terceiro lhe deo foral com grandes privilegios:
tem por Armas huma Aguia (insignia do lmperio) com huma Esfera, que lhe ajuntou El Rey D. Manoel, quando a fez Villa, concedendolhe voto em Cortes com assento no banco quatorze. A mayor excellencia, que tem, he, que sitiada pela parte, por onde lhe podem deitar o cordão, para dentro se lavra pão, vinho, & azeite para se sustentar, com muitas hortas, & pomares, muita caça, gado, & colmeas. Nos Castelhanos anda hum adagio, que diz: Monsanto, Monsanto, orejas de mulo, el que te ganare, ganar puede el mundo; por se se divisarem de longe humas farpas, que o parecem.
- Descripçam Chorografica do Reyno de Portugal

Monsanto, é uma Vila de imenso valor histórico, e de uma beleza ímpar.
A sua imponência natural, dá-lhe uma enorme vantagem, transformando-a numa fortificação original.
Todos os Povos que por ela passaram, não lhe ficaram indiferentes!

A Ordem do Templo, e Gualdim Paes em particular - considerando que foi sob a sua égide que se reconstruiu o Castelo de Monsanto -, foi encontrar uma situação natural ideal .

De seguida:

Capela de Santa Maria do Castelo, Capela de S. Miguel do Castelo, e Capela de S. Pedro de Vir à Corça

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Santa Maria do Castelo

A Capela/Templo de Santa Maria do Castelo, foi edificado no interior das muralhas do Castelo de Thomar, e concluída por volta do ano de 1176 (Era de 1214).
Ficava logo imediatamente à esquerda da entrada da Porta do Sol.
Santa Maria do Castelo era uma antiga freguesia da cidade de Tomar, que englobava a alcáçova e a almedina, no alto do morro do castelo.

Foi neste local que se desenvolveu a povoação primitiva, situada na zona intra-muros. No século XVI, Frei António de Lisboa levou a cabo uma reforma da Ordem de Cristo que a transformou numa ordem de clausura, tendo para tal sido arrasadas todas as casas situadas dentro da cerca, de forma a possibilitar a ampliação do Convento de Cristo.

Com a transferência dos seus habitantes para a Vila de Baixo, a paróquia foi extinta e incorporada na de São João Baptista.

A igreja paroquial não chegou aos dias de hoje, sabendo-se apenas que se localizava junto da Porta do Sol.

E aparentaria assim


(Imagens de S. Pedro* de Vir à Corça - Monsanto)
(Corrigido a instâncias de Criptex Sub Rosa; não se trata de S. Miguel, mas de S. Pedro)

De acordo com o Arquivo da Torre do Tombo, Convento de Tomar, Maço 34:

A Paroquial de Santa Maria do Castelo foi feita na Era de 1226 (em 1188).

Foi entretanto criada a Freguesia de Santa Maria do Castelo, e que tinha por paroquianos os moradores da Cerca e do Arrabalde de S. Martinho, que estava detrás dela; que entre 1542 - 1570, ficava nas Obras Novas, bem assim como toda a Freguesia de S. Miguel dos Carregueiros,
e do Vale do Carvalho, e Porrais, e S. Silvestre; o capelão tinha de ir dizer missa a S. Miguel dos Porrais (Carregueiros incluia então a Beselga e a Pedreira).

Numa Carta (o célebre ...) D. João III, refere:
Idem na Igreja de Santa Maria do Castelo de junto do Convento, não há necessidade de haver Capelão, como até agora, por não ter mais do que 8 fregueses, os quais ficarão à Igreja de S. João da Vila e poderão ouvir missa e receber sacramentos no Convento.
E porque a dita Igreja de Santa Maria do Castelo tem próprios de Bens e Heranças, que poderão render até 10$000 réis em cada Ano, que fiquem para a fábrica da Igreja de S. João.
Lisboa, 4 de Fevereiro de 1530

- Arquivo da Torre do Tombo - Tombo da Igreja de Santa Maria do Castelo.

Mais tarde, foi designado como Capela de S. Jorge, e posteriormente, transformado em Capela de Santa Catarina do Monte Sinai (cujo lajedo foi levado para a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, após a sua ruína).

Santa Maria do Castelo foi a primeira Confraria a existir em Thomar (se não mesmo em Portugal); feita de Cavaleiros Vilãos e outros.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Fonte do Sangue I

A toponímia escolhida para animar a memória deste espaço, deriva da histórica entrada do castelo (entrada da antiga vila) - Porta do Sangue.

Este lugar, marcado por uma topografia violenta, pertence à encosta exposta a Sul e ocupa o seu terço médio inferior.

Trata-se de uma pequena clareira contida entre taludes de queda abrupta.

A sua forma encaixada é evidenciada por um estrangulamento que lhe confere alguma profundidade visual em direcção à pequena gruta de onde brota água da fonte.

- ICN (Historial: Álvaro Barbosa)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Cerca dos Sete Montes

A CERCA DOS SETE MONTES.

A ORDEM DE CRISTO, DO SÉCULO XIV AO SÉCULO XVI.

Segundo Amorim Rosa, em "Anais do Município de Tomar", já no Reinado de D. Dinis o maciço montuoso que integra o monte castrejo de Tomar, era chamado o lugar de "Sete Montes e Sete Vales", e era profícuo na cultura da oliveira.

Estes Sete Montes, são um sistema de morros colinares de relevo acentuado, que se desenvolvem em forma de arco de ferradura, partindo, junto às várzeas do rio, de norte para poente, para depois inflectirem para sul, e virem de novo findar nas várzeas ribeirinhas. Encerram no seu seio, um extenso valado, que desce de poente para nascente, até à várzea do Nabão: o Vale da Riba Fria.

Amorim Rosa, na obra supracitada refere um outro documento, da época de D. Manuel I, indicando, já então, a existência de um recinto murado no lugar e referencia o ribeiro que descia o Vale; é citado como o "ribeiro que vem da Cerca, e do Vale da Riba Fria, pelo pé dos Montes".

É provável que a cerca a que refere este documento, seja a primeira cerca conventual, coeva da Reforma que D. Manuel I fez na Ordem de Cristo, pela qual consignou definitivamente o Castelo de Tomar a Convento, desalojando, os moradores da "Cerca da Villa".

Notícia da cerca do Convento, situada no Vale da Riba Fria nos dá também Amorim Rosa, nos seus "Anais", pela mão do escrivão que relata a "operação imobiliária" que Frei António de Lisboa, realizou no lugar dos Sete Montes e Vales, para o transformar numa grande cerca conventual.

Sobre a vastidão da Cerca e da operação imobiliária que a consumou, assim regista o escrivão da Ordem em 1529(Tombo das Rendas e Bens do Convento, Arquivos Nacionais - Torre do Tombo):

"...Comprou todo o Lugar de S. Martinho e assí todas as casas que nele tinha João de Castilho, Mestre das Obras do Convento, com todas as cerradas, terras e chãos que o dito João de Castilho tinha ao redor, e assi pessoas que o todo se include ora no cerco das obras novas e no da Riba Fria, com muitas outras heranças que dentro do cerco Riba Fria foram havidos por Frei António. E houve o dito Frei António para o dito Convento todas as propriedades de olivais e terras de pão, cerradas, matos, montes e vales que se includem no Cerco da Riba Fria que está a conjunto da banda à Cerca do dito Convento, o qual está todo cercado de parede de pedra e cal com altura de braça e meia, e começa da banda do Norde do dito Convento (cerca) e vai correndo por esta banda do Norte ao longo da estrada que vai para Ourém e para Torres Novas até à Cruz de S. Martinho, onde se aparta o caminho de Torres Novas do de Ourém, e dai volve contra o Sul, partindo logo com o dito caminho que vai para Torres Novas, e vai seguindo até vir dar na Calçada que vai da Vila para Santa Maria dos Anjos e para Torres Novas, e daí desce ao longo da dita calçada e desce ao Ribeiro que vem da Riba Fria e passa além por trás das casas dos moradores da Vila, que são as Olarias, que vai cerrar com o cerco ao redor e fica dentro dela a propriedade de Sete Montes e Vales, que já dantes era da Ordem e pertencia à Comenda de Cem Soldos. Para isto fez muitas trocas de propriedades da Ordem com os seus donos, para assi ficar tudo pegado."

A CERCA CONVENTUAL, DOS FINAIS DO SÉCULO XVI AOS FINAIS DO SÉCULO XIX

Independentemente das referências bucólicas emanadas da "Lusitânea Transformada", não conhecemos outras fontes que, de concreto, nos informem do conteúdo da paisagem da Cerca dos Sete Montes, No entanto, Amorim Rosa, na obra citada, refere um documento da Ordem, de 1590 que faz menção dos "Olivais dos Sete Montes que ficavam dentro da Cerca que se fez de novo".

Durante todo o século XVII e até meados do século XVIII, a Cerca terá sido exclusivamente local de lazer e recolhimento, no meio da natureza, dos freires de Cristo. Porém, a partir do terceiro quartel do século XVIII, a Cerca terá perdido esse carácter de lugar conventual, para surgir como uma propriedade da Ordem destacada da própria estrutura espacial do Convento de Cristo, isto é, uma Quinta.
É como Quinta dos Sete Montes que ela é referida em documentos de arrendamento do século XVIII.

Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, por D. Maria II, os bens da Ordem de Cristo são anexados à Coroa, para posteriormente serem desbaratados quer por dons, quer por vendas em hasta pública. No Diário do Governo n° 265, de 9 de Novembro de 1837, é anunciada uma lista de propriedades da Ordem de Crista que serão postas à venda em 4 de Maio do ano seguinte.
Nessa lista consta a . . ."Cerca do Convento de Cristo, denominada dos Sete Montes, que se compõe de terras de pão, vinha, oliveiras, pomares, hortas, terras de mato; e é toda murada em circunferência." ... Foi à praça por cinco mil réis...

Foi adquirida, bem como a parte sul/poente do Convento, a horta dos frades e a antiga Cerca da Vila, por António Bernardo Costa Cabral, ministro do Reino e Conde de Tomar, por graça da Rainha.

A CERCA DO CONVENTO DE CRISTO COMO MATA NACIONAL DOS SETE MONTES

A Cerca, foi propriedade do Conde de Tomar e dos seus herdeiros durante quase um século, os quais mantiveram a vocação agrícola da quinta; até que, em 1936, os bens que a família Costa Cabral detinha no Convento de Cristo, (a propriedade urbana e a rural), foram vendidos em hasta pública e... comprados pelo Estado.

A Cerca ou Quinta dos Sete Montes foi então arrematada por um representante do Ministério das Finanças por quinhentos e sessenta mil escudos, o que para a época fora uma quantia muito generosa.

Foi a seguir transformada, a Cerca, em campo experimental hortícola pela Brigada Agrícola de Tomar, entidade que durante dois anos ficou responsável por este património do estado.

Em 1938, por vontade da Edilidade Tomarense, foi transformada em Parque Florestal e Jardim Municipal. Para o efeito, foram encaregues pelo Governo, os Serviços Florestais de Sintra (delinear e plantar a Mata, bem como o Jardim Municipal
que veio a ocupar grande parte do "Vale da Riba Fria", isto é, o valado que discorre por entre os Sete Montes.

Com a intervenção dos Serviços Florestais de Sintra, foram abertos novos caminhos no interior da Cerca, plantadas numerosas árvores, sobretudo pinheiros a coníferas, por entre o olival existente na Cerca.

Os valados e as suas hortas desapareceram, à excepção da parte já referida, do "Vale da Riba Fria", cujas hortas deram lugar ao Jardim Municipal.

Em 1986, a "Mata dos Sete Montes", como passou a ser designada, a cerca do Convento, foi integrada no Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservaçao da Natureza. Desde então passou a fazer parte do património natural, classificado.

- ICN (Historial: Álvaro Barbosa)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Alma até Almeida


Na altura de 40º, 20 minutos, 7 legoas de Trancoso para o Nascente, & três de Pinhel para a mesma parte, em lugar alto está situada a nobre Villa de Almeyda, distante hum quarto de legoa do rio Coa, que dà nome à Comarca, que chamaõ de Riba de Coa, a qual he huma lingua de terra de 15 legoas de comprido, & quatro de largo, aonde tem a mayor largura.

Está lançada de Norte a Sul, & cingida da parte de Portugal com o rio Coa, que tendo seu nascimento na serra de Xalma, que he huma parte da de Gata, entra no nosso reyno pelos lugares de Folgozinho, Val d’Espinho, donde se avizinha ao Sabugal, primeira Villa acastellada desta Comarca por aquella parte, & della vay correndo atè se meter no Douro em ViIla Nova de Foscoa.

Pela parte, ou Estermadura do Reyno de Leaõ, com que confina, vay a raya balizada por campinas, & montes atè S. Pedro de Rio Seco, perto do qual lugar nasce a ribeira de Touroés, que vay dividindo os Reynos, até entrar no rio Agueda abaixo de Escarigo.
Daqui vay o Agueda fazendo a mesma divisaõ atè entrar no Douro, que fecha ultimamente este destricto, recebendo as aguas do Coa no lugar que dissemos.

A fundaçaõ desta Villa te atribue aos Mouros, quando dominaraõ a Espanha, chamandolhe Talmayda, interpretado Mesa, pela planicie de seu antigo sitio, que foy em hum campo mais para o Norte, aonde vemos agora hum valle, que se chama Enxido da Carça, o qual era melhor, mais plano, & e mais idóneo que o de agora, que fica em hum recosto para o Nascente.

El Rey Dom Fernando o Magno, primeiro de Castella, a conquistou aos Mouros pelos annos de 1039.
Depois se tornou a perder, & a restaurou El Rey D. Sancho o Primeiro de Portugal no de 1190, por meyo do illustre Payo Guterres, descendente do famoso Egas Moniz; o qual por se assinalar nesta empreza tomou o sobrenome de A]meyda.

Finalmente El Rey Dom Dinis a fundou no sitio, em que hoje está, mandando fabricar seu Castello, q reedificou El Rey D. Manoel pelos annos de 1509, do qual se estaõ vendo terra de onze Bispados, a saber, de Lamego, Guarda, Coimbra, Vizeu, Braga, Miranda, Porto, Coria, Ciudad Rodrigo, Placencia, & Salamanca.

He cercada de muros de cantaria com duas portas, a de S. Antonio, & a de S.Francisco, & tem huma fortaleza para o Poente na mayor imminencia da Villa com duas torres no primeiro Castello, & huma cerca descortinada com seus reductos descortinados, cisterna de agua nativa, & casas de muniçoens, & de alojamento dentro do primeiro Castello. Tem depois deste primeiro Castello huma cerca com quatro
reductos descortinados, & ponte levadiça, que cahe sobre huma cava, que a cerca em roda, guarnecida de lages, altura de duas picas: outras duas de vaõ com suas ladroeiras a partes convenientes. Tem outro Castello para o Poente, chamado a casa de Treiçaõ, com outra porca & ponte levadiça.

A Igreja Matriz, que he da invocaçaõ de N. Senhora das Candeas, fica neste Castello para a parte do Norte: he sumptuoso Templo, com huma boa, & alta torre de campanario, & tem hum Vigario, que apresenta o Bispo de Lamego, para administrar os Sacramentos aos freguezes. Tem mais Casa de Misericordia, Hospital, & junto à Praça huma Ermida de obra muy curiosa, que he dos Andrades, outra de S. João Bautista, outra de S. Barbara, & hum Mosteiro de Terceiras de S. Francisco da invocação de N. Senhora do Loreto, que fundarão três irmãas da família dos Sellas, & Falcões de Pinhel, chamadas, Gracia da Coroa, Ana da Concsição, & Branca da Assumpção, que com outras donzelas recolhidas, & virtuosas, vivião em Comunidade no Lugar da Nave, termo da Villa do Sabugal, donde se mudarão para esta Villa, que tem mais fóra dos muros huma Ermida de S. Pedro Martyr.

Tem esta Villa 550 visinhos com nobreza; he Casa do Infantado, & nella entra em correição o Ouvidor de Villa Real. He abundante de paõ, vinho, gado, & caça; & tem mais 50 poços de agua. O seu termo tem os lugares seguintes.
Junça tem cem visinhos com huma Igreja Paroquial da invocação de S. Maria Magdalena, Curado annual, que apresenta o Vigario de N. Senhora das Candeas da Vila de Almeyda. Junto a este lugar está a Igreja de N. Senhora do Mosteiro cujos vestigios mostrão ter sido Convento.
Val de la Mula tem 100 visinhos com huma Igreja Paroquial dedicada a N. Senbora da Assumpção, Abbadia que apresenta o Bispo de Lamego, de cuja Provedoria he esta VilIa, a qual tem por Armas as Reaes de Portugal, juntas com huma Esfera, divisa del Rey D. Manoel.
Assistem ao Governo civil desta Villa dous Juizes ordinarios, que o são também dos Orfãos, tres Vereadores, hum Procurador do Concelho, Escrivão da Camera, dous Tabelliaens & tem Alfandega com Juiz, Escrivão, Feytor, & Guardas de pé, & de Cavallo. Ao militar, hum Terço de Infantaria paga. & huma Tropa de cavallos de presídio com quatro Companhias da Ordenança, subordinadas ao Sargento mor desta Villa.

- Descripçam Chorografica do Reyno de Portugal