domingo, 31 de julho de 2011

Aos amigos Sufi

Na Celebração do Ramadão


Sou como um viciado em ópio
Em meu anseio por um estado sublime,

Por aquele solo de Nada Consciente
Onde a Rosa desabrocha
Sempre.

Veja, o Amigo
Fez-me um grande favor
Arruinou a minha vida completamente;

O que esperava
Que ver Deus causaria?

Das cinzas dessa moldura partida
Há um filho nobre em crescimento ansiando pela morte,

Pois,
Desde que nos encontrámos pela primeira vez, Amado,
Tornei-me um estrangeiro

A todos os mundos,
Excepto àquele
No qual existe apenas Você
Ou – Eu.

Agora que o Coração guardou
Aquilo que jamais pode ser tocado
A minha subsistência é Desolação Abençoada,
E dali eu clamo por mais solidão.

Eu sou solitário.
Sou tão solitário, querido Amado,
Pois Deus é a quintessência da solidão,
O que é mais solitário do que Deus?

Hafiz,
O que é mais puro e mais solitário,
Magnificentemente Soberano,
Do que Deus?


- Hafiz

Tau'ma - Didymus

Tomás ou Tomé pregou junto de muitos e diferentes povos. Nomeadamente, os Partos, os Medos, os Persas, em Hyrcania e Bactria.

Acredita-se que por último tenha rumado à Índia e aí ficado (o seu apostolado é mencionado por Efrém da Síria, pelo abençoado Jerónimo, e outros) que, devido à sua sua vida santa, obteve muitos seguidores, e os cristianizou. Razão pela qual é dito que teria provocado a ira do rei idólatra, o qual o condenou a ser trespassado com lanças. O seu apostolado ficou marcado pelo martírio.

Deu-se a cerca de 12km de Madras, no grande monte na costa de Coromandel (denominado Calamina), é o local tido como o da sua passagem.

Tomé tem um papel importante na lenda do rei Abgar V de Edessa (Urfa), por ter enviado Tadeu de Edessa a pregar na cidade mesopotâmica (hoje síria) de Edessa após a sua passagem/ascensão.

A tradição mantida pela igreja de Edessa afirma que Tomé é o Apóstolo da Índia, gerando inúmeras lendas também atribuídas a S. Efreu, copiadas em códices dos Sécs. VIII e IX.

As lendas preservam a crença de que os ossos de Tomé foram transportados da Índia para Edessa por um mercador, e que as suas relíquias operaram milagres tanto na Índia, quanto em Edessa. As tradições tomasianas ganharam corpo na liturgia siríaca.

De Edessa as suas relíquias foram transportadas para Chios no mar Egeu, e mais tarde para Ortona em Abruzzi, onde aparentemente ainda hoje se encontram, e onde são veneradas pelos fiéis.

Gémeo

Deir Al Muharraq




sábado, 30 de julho de 2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Igreja Suspensa

El Muallaqa; Sitt Mariam

A igreja de Santa Maria, no Bairro Copta do Cairo, Egipto.

A Igreja Suspensa, terá sido construída no Séc. IV sobre as ruínas de uma fortaleza da Babilónia romana.

Ficou conhecida como igreja Suspensa por estar construida "suspensa ou pendurada" sobre uma das torres do forte romano ainda ali existente.

Aparentemente, na parte baixa do forte, e olhando para cima, é visível o chão da igreja Suspensa, sendo ainda audível os passos das pessoas que percorrem o andar onde se encontra o chão da igreja.

Kom el Shoqafa

As Catacumbas de Kom el Shoqafa



São em Alexandria, Egipto, e constituem um extraordinário sítio arqueológico.

Está considerado como um dos maiores locais de repouso dos romanos em terras egípcias.

Tratam-se de túmulos escavados na rocha na Época do imperador Antonino (o mesmo do Itinerário Antonino português), no Séc. II D.C.

Admiravelmente estes túmulos romanos respeitam a antiga religião egípcia, ao mesmo tempo apresentam símbolos helénicos e romanos; resultando numa convivência pacífica.

No centro da fachada do complexo tumular, está o disco solar sobre um friso de serpentes, com a coroa: do Alto e do Baixo Egipto.

Na cripta, um sarcófago em forma de leão, presentes estão Hórus, Thot, Anubis, assim como os canopos; o rei faz uma oferenda aos viajantes sob a forma de Osíris.

Ainda, cachos de uvas, cabeças de Medusa, e todo um conjunto simbólico helénico e romano.

Uma convivência pacífica

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Amesha Spentas

Os Seis Raios de Deus

Gathas

17 cânticos escritos por Zaratustra, o fundador do Zoroastrismo.

Ashem vohû.
Ashem vohû vahistem astî ushtâ astî ushâ ahmâi hyat ashâi vahishtâi ashem.
Ashem Vohu.

Asha é o melhor bem.
É alegria radiante. A alegria radiante surge à pessoa que pratica o bem somente por apreciá-lo como bem.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Freixo de Espada-à-Cinta

Raízes.

Freixo, símbolo de fecundidade e protecção.

Terra antiga de séculos, Freixo de Espada à Cinta é rico em histórias que os mais velhos contam com gosto nas noites longas e gélidas do Inverno, aquecidas por uma boa lareira, e que consagradas pela perseverança das gentes freixenistas se passam de geração em geração.

Origem do nome de Freixo de Espada à Cinta

São muitas as versões e as lendas sobre a origem do topónimo Freixo de Espada à Cinta. De todas elas se deduz algo em comum: uma Espada na Cinta de um Freixo. Não há dúvida de que a palavra Freixo é a designação de uma árvore, que deriva da palavra latina “Fraxinus”, e quanto ao resto entramos no domínio das lendas e do fantástico que à força de se repetirem durante tanto tempo guardamo-las como verdades quase indesmentíveis.
São as seguintes versões que de alguma forma tentam explicar a origem deste topónimo:

Uma das lendas reza que esta vila foi fundada por um fidalgo de apelido “Feijão”, falecido em 977, primo de S. Rosendo, e como por armas no seu brasão figurariam um freixo com uma espada cintada, a vila tomou daí o seu nome.
Outra refere ter sido um nobre godo chamado «Espadacinta» que após uma batalha com os árabes nas margens do Douro e chegado a este lugar se sentou a descansar à sombra de um enorme freixo, onde pendurou a sua espada, perpetuando-se o nome à povoação que um pouco mais tarde se começou a formar: Freixo de Espadacinta.
Dizem ainda que El Rei D. Dinis, estando muito fatigado das guerras que mantinha com o seu filho bastardo, Afonso Sanches, e de passagem por esta terra se deitou a descansar à sombra de um freixo, onde cravou o seu cinturão com a majestosa espada. Adormecendo e embalado pela brisa suave que batia nas folhas da possante árvore sonhou que o espírito do freixo lhe traçava as directrizes mais sábias e correctas para o futuro do reino de Portugal. Quando o rei acordou deste revigorante descanso, decretou que a vila se passasse a chamar Freixo de Espada à Cinta.
O que é certo é que ainda hoje junto à Igreja Matriz e torre heptagonal que nos ficou do extinto castelo medieval, existe um velho freixo venerado e estimado pelo povo, por o considerar o mesmo destas lendas.

(fonte: C. M. de Freixo de Espada à Cinta)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Os montes ou colinas de Jebus Salem - Jerusalém II

(continuação de)

Como anteriormente referido, não foi a morfologia do terreno que alterou, mas a visão e o sentir desse terreno, desse solo, e do seu significado.

Ao tempo de Jebus Salem vigorava o número 5, posteriormente, passou a vigorar o número 7.

Não desconhecerão a Cabala, e a sua aplicação teórica e prática.

O 5 representa o Ser Humano Pleno.
O 7 representa o Mistério, a Obra de Deus. A Perfeição.

A evolução da apreensão do espaço de Jerusalém acompanhou a apreensão do significado de Deus.

domingo, 24 de julho de 2011

sábado, 23 de julho de 2011

Maria de Magdala

Ontem foi o Dia de Maria de Magdala


És uma estrela de Luz Divina,
e o teu brilho é mais forte do que o Sol,
guiando-nos assim como um farol,
com um fulgor que encanta e fascina.

És serena como um calmo lago.
As tuas palavras tão cheias de carinho,
acalmam-me como um doce afago,
mostrando-me que não estou sozinho.

Em harmonia estás com a natureza,
posso ouvir a tua voz no vento,
posso ver os teus olhos na Lua.

Mesmo andando sozinho na rua,
vai-se embora todo o meu lamento,
ao lembrar-me da beleza Tua.


- Arcanjo, Estrela d'Alva

Anjo do Deserto


Espírito do Sahara




quarta-feira, 20 de julho de 2011

Os montes ou colinas de Jebus Salem - Jerusalém

Eram cinco os montes ou colinas de Jebus Salem (Jerusalém):

o monte Sião, no centro, rodeado por Acra, Ophel, Bezeta e Moriah.
Mas como é possível serem cinco (5) se todos sabem que são sete (7) os montes ou colinas de Jerusalém?

Como 7 são as de Constantinopla ou Thomar ...

Eram, pois, 5, os montes ou colinas de Jebus Salem.
E 7 as colinas de Jerusalém.
Às 5 de Jebus Salem acresceram 2 colinas ou montes:

Scopus e Nob.

Sião, Acra, Ophel, Bezeta, Moriah, Scopus e Nob.

A geografia do terreno não se alterou, aquilo que se alterou foi a atenção colocada nessa geografia.

As 5 colinas ou montes de Jebus Salem, são as colinas ou montes do tempo do Rei David e do Rei Salomão.
Com o passar do tempo, e com a expansão da Cidade, mais território foi considerado.

(continua)

Ecos do Passado

Diziam-na bela.

Os homens desejavam-na pela sua suposta aparência.
As mulheres odiavam-na pela sua suposta aparência.

E o mundo corria. Corria na sua mansidão da ilusão imediata e aparente.

Qual Hipatia, era capaz de discutir as questões das mais simples às mais complexas, com a mesma simplicidade e desenvoltura. O intelecto era um instrumento não considerado, embora afilado qual bisturi.
Debatia com o Sábio, como debatia com o Mendigo.

A simplicidade dos factos, suscitou a complexidade do mundo.
Um mundo que não compreendia, como ainda hoje não compreende, a simplicidade.

E assim, no Caminho da Eternidade, voltaram a Encontrar-se.
Como se encontram Sempre, uma e outra vez.

E a Face dele foi-lhe roubada.

Ela segurou a Face dele e manteve-a com ela, como Sempre fez.
E com ela, ele foi e ficou, porque na Realidade Eles, são Um.

E as mentiras do mundo, contadas por milhares, ou milhões, ou biliões, de anos, nada são na Existência.
As mentiras do mundo, são apenas isso.
Os papéis no mundo, as personagens no mundo, tão variáveis quanto necessárias, apenas transitórias como as formas, como as aparências.

E ela foi. Penetrou no Deserto, e aí ficou.
Perguntou ao Vento e o Vento respondeu.
E ela guardou a Resposta, e Regressou.

A Realidade, o que verdadeiramente importa, será Sempre.
Sem Princípio nem Fim.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Aegis

Clipeus virtutis

Prosas bárbaras

E seguiam-no: abandonavam os campos, as hortas, os barcos, os casais: as crianças amavam-no: as mulheres iam presas da luz imortal dos seus olhos: todos queriam errar com ele pelo país de Genezareth, comendo os frutos casuais dos pomares, bebendo como as reses no fio dos regatos.

Ele explicava Deus de um modo novo: ninguém o conhecia melhor: ele era a consciência viva de Deus. O seu Deus não era Jeová, amigo de Israel, inimigo dos homens: não era o ser solitário, tenebroso, irritável: o seu Deus era o pai, o consolador, o purificador, o eternamente sereno, o eternamente justo.

O Mestre pregava a fraternidade entre os homens, o perdão, a caridade, a humildade, a grandeza, a poderosa virtude do sacrifício.

– Se vos ferirem, oferecei-vos; se vos odiarem, amai; se vos perseguirem, oral! Que mérito há em amar os que nos amam? Uma coisa que singularmente me tocava no ensino que João me repetia, era a condenação dos usos do Templo, dos zelos devotos dos fariseus: com efeito, para que são tantas purificações, tantos cilícios, tantos usos de piedade? Para que hão-de os fariseus trazer nas suas túnicas as tiras de papiro, que são o sinal da devoção, e para que dão a esmola, de pé, nas escadarias do Templo, gritando e elevando a moeda? – Quando tu deres a esmola – dizia o Mestre de Nazaré – que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.

E esta palavra enchia-me o coração. E alegrava-me o saber que ele não era como os mais profetas, não se retirava para o deserto, não se emagrecia em jejuns não rasgava os seus vestidos, não se feria nas rochas agudas; vivia como um simples e como um pobre e se procurara às vezes os lugares retirados, e amava as montanhas é que ai estava mais na fraternidade dos seus, e no coração de Deus.

João falava-me das mulheres que o seguiam, e eram Joana, mulher de Khouza, Salomé, Maria de Cleofas e Maria de Magdala, que eu conhecia do Acra, em Jerusalém.

Maria de Magdala, aí e em Tiberíade, tinha tido uma vida apaixonada e impura: uma exaltação inexplicável era a essência daquele ser; tinha espasmos, contracções, entusiasmos perturbados: julgava acalmar a impetuosidade da sua natureza febril pelo amor dos homens; ligava-se com os doutores notáveis de então, penetrava em discussões e explicações da Lei, depois andava cercada de fariseus e envolta em devoções; mas tinha o amor dos estofos, e todos os dias chorava. Era uma alma inquieta que buscava alguma coisa: tudo o que fazia era com paixão: a cultura das plantas raras, a criação das moreias em reservatórios, a composição de aromáticos, o estudo das ervas, tudo tratava, ardente e enfastiada. Doente, pobre, foi para Magdala. Aí viu Jesus. pregando. Seguiu-o. Adorava a doutrina do Mestre, e amava a sua figura delicada e bela. Mas tinha fortes impaciências, erguia discórdias com os discípulos, retirava-se ao deserto. Mas voltava, porque a sua dedicação suave pelo Mestre era maior, e domava a sua tenebrosa e confusa natureza.

(...)

E olhava-me, penetrantemente: falava como num sonho, ou a alguém invisível, – Não se pode servir bem a dois amos: um deles se há-de desprezar, outro servir.

Não se adora no mesmo coração a Deus e a Moloch.

Compreendi que o Rabi não tinha confiança em mim: que me julgava um emissário do Templo para lhe escutar a doutrina, e dar testemunho Contra ele.

Respondi com uma dignidade dura: – Tens para mim palavras desconfiadas, Rabi. Chama João. Ele sabe que creio em ti, e que não vou dar-vos testemunhos que o Sanedrim põe por trás das portas dos blasfemadores da Lei. O meu corpo serve e vive no templo, mas muitas vezes o meu espírito tem andado contigo, em desejo e em verdade, no teu lago de Tiberíade. Chama João.

O Rabi considerava-me atento..

– O homem – disse ele – dá testemunho do homem: só Deus conhece os corações.

– Pois bem: tu, que segundo dizem, és hoje o maior vidente de Israel, tu julga, ou condena minha alma.

Dizia isto grave, firme, áspero. Jesus de Nazaré, com o rosto esclarecido, disse-me docemente: – A fé salva.

E depois de um momento: – E quem dizem então os de Jerusalém que eu sou? – Uns, Mestre, dizem que és Elias, ou o Baptista ressuscitado, outros que és o Messias; os fariseus pensam que és um blasfemador ambicioso, ou um simples sincero, a maior parte ignora-te: esta é a verdade.

– E tu quem dizes que eu sou’ – Eu, digo que és um homem justo, e uma elevada consciência das coisas divinas.

Digo que és um homem mandado providencialmente, num tempo humilhado e vil, para erguer as almas, desmascarar as hipocrisias, vingar a pátria! Penso que se tens de ter uma acção no mundo, essa deve ser insurgires-te contra a aristocracia do Templo, contra este espírito estreito de Jerusalém, contra este culto pagão das tradições, contra o fariseu e contra o romano, ser o consolador, ser o vingador! – Homem, em que espírito estás?! Eu vim a salvar as almas, e não a perdê-las.

– E é perdê-las. torná-las justas? É perdê-las, o combater este sacerdócio rico e indiferente, este culto ensanguentado e hipócrita? É perdê-las o quebrar-lhes este destino que as traz escravas, sempre choradas e sempre perdidas, e agora sob o arbítrio dos favoritos imbecis de Tibério? – Essas coisas pequenas não me pertencem: são do mundo.

– Perdoa, Rabi: mas a que vieste então? E tu quem dizes que és, te pergunto eu agora? Queres ficar eternamente pregando e contemplando no lago de Tiberíade, e andar errante pelos casais? E pensas que isso influirá sobre os homens, tanto sequer como uma folha seca? Pensas fazer uma revolução na Judeia, acariciando as cabeças loiras das crianças de Chorazim, e contando parábolas, entre os campos, aos simples e às mulheres? Compreendo que a tua ambição não seja maior, e que te baste a felicidade de um sonho na fraternidade dos simples. Mas então para que vieste a Jerusalém? Para que pregas no Templo? Se tu não és uma iniciativa revolucionária, o que és então? Que és tu, se não és uma forte Intensidade de vontade? As máximas que tu pregas são de Hillel. são de Gamaliel, são de Jesus de Sirach: sei que há coisas novas no teu ensino, mas o que nelas há de grande é a tua força de convicção, e a tua fé, e a tua profunda virtude, e o teu amor do sacrifício, e a tua infinita vontade. De que te servem então estas qualidades, para que as guardas? Não és tu judeu? Não é a tua mãe de Caná? Não podia teu pai ser levado legionário para Roma? De que nos servem essas parábolas, essas ironias, essas respostas excelentes, se elas não vão ferir a riqueza do saduceu, a hipocrisia do escriba, a vexação do romano? Queres abster-te da acção? Imaginas que as prédicas do Templo e o ensino sobre as montanhas, só pela sua verdade abstracta, podem combater, vencer um mundo completo, organizado, civil, rico, amado? imaginas que se pode repetir o milagre das trompas de Jericó? Crês tu que um mundo inteiro, tribunais, templos, ofícios, mercados, sacerdócios, escolas, tudo fortemente ligado, se dissipe como uma visão, porque um homem simpático se ergue num caminho e diz: «Amai-vos uns aos outros, e sereis amados do vosso Pai celeste!» Não! tal não será, Rabi! – Pela vossa incredulidade! que se tivésseis a fé tanto – eu sei? – como um grão de mostarda, e dissésseis àquele monte: passa-te daí!, o monte passaria! Oh! geração incrédula, geração incrédula, até quando estarei entre ti?.

O Rabi dava largos passos, atormentado, doloroso.

– Rabi, Rabi, escuta-me. Eu tenho a tua fé, amo o teu reino de Deus. Mas o teu Deus consola muito em cima, e nós sofremos e choramos muito baixo na terra.

Jesus estava tomado de incerteza, de amargura. Eu dizia: – Escuta, Rabi: consinto que só pela tua palavra, tu possas realizar o teu reino de Deus. Mas então deixa esses galileus simples, liga-te aos homens que têm a força, a ciência e o segredo das coisas humanas: nós seremos a acção, sê tu o nosso Messias na Judeia. nada se faz sem um profeta! Como tens tu pensado realizar o teu reino de Deus? Pela doçura e pela paciência. ou pela força e pela revolta? Não podes hesitar, se pensas.

Queres fazer um renascimento, com os galileus que te cercam, com os publicanos infelizes, com os doentes que curas, com os miseráveis que consolas, com as mulheres que te amam, com as crianças que te sorriem? – Deus esconde muitas coisas aos sábios, que revela às crianças.

– Para que pregas então no Templo, contra os fariseus e os príncipes? – Deixa pelo espírito dos simples e crianças operar-se a regeneração! – Na verdade, Rabi, dize-me: entendes tu que no mundo nada vale, e que só ø teu ideal pode dar felicidade e sossego? Professas tu o desdém? – Só o desdém dá a paz.

– Dá a inércia, o sacrifício e as virtudes passivas. E se amanhã tu pudesses começar a ver realizado no mundo esse reino dos pobres, dos simples dos pequenos? Se pelo menos visses uma terra bem preparada para a tua palavra? Se Visses tudo transformado por uma acção enérgica, revolucionária, pela nossa acção? Jesus caminhava, inquieto, o seu olhar vibrava. As minhas palavras davam-lhe inesperadas perturbações.

Nós víamos o Templo luzir na branca polidez da pedra sob o Luar: eu dizia-lhe, profundo: – Olha, vê o Templo, hoje ali tudo é intriga, artifício, aparato, riqueza, sangue, hipocrisia, vaidade: amanhã seria o lugar mais santo da Terra.

Jesus cobria o Templo com um vasto olhar, cheio da fulguração do seu desejo. Eu tinha-lhe tomado as mãos, dizia-lhe baixo, junto à face: – Ouve: em Jerusalém há descontentes: alguns membros do Sanedrim estão irritados com a família de Elanan, com Beotos; Gamaliel não ama o Templo; o baixo povo do mercado detesta fariseus e escribas, é nosso; a Galileia é nossa, a Perea é nossa; mandar-se-ão emissários a Jopé: toda a Judeia se erguerá: tu serás o profeta. Queres? O teu sonho do lago de Tiberíade será então vivo, real, palpável, existente sob as nuvens! – Queres? A noite era imortalmente bela: havia uma bondade no ar: o mundo parecia-me possuído de um elemento diverso.

Eu falava confusamente, ora contra os fariseus, ora contra os romanos: e não conhecia nem a força de Roma, nem o poder sacerdotal, nem a inércia de um povo egoísta. Uma grande tentação cativava o espírito do Mestre. Eu dizia-lhe, tomando-lhe as mãos: – Rabi, Rabi, depois do fariseu, será a vez do romano. Tu serás o maior da Judeia: terás glorificado o pobre, terás humilhado o rico, terás aniquilado o hipócrita, terás expulso o romano: serás pela justiça igual a Ezequiel, pela força igual aos Macabeus: serás como David, terás a Palestina desde o Jordão até ao mar, e serás o rei de Israel.

Eu falava exaltado: mostrava-lhe Jerusalém e dizia-lhe: – Terás a Palestina até ao mar, serás o rei de Israel!.

Mas Jesus, erguendo a mão, mostrando-me com um gesto elevado e transcendente o céu cheio da Lua serena, o inefável silêncio, a pura beleza do elemento, o profundo mistério onde Deus habita, disse-me: – Vai-te: o meu reino não é deste mundo.

Olhei longamente o Rabi, lamentei o seu desdém, sorri da sua palavra: e calado, concentrado, saí pelo caminho de Betfagé.
- Eça de Queirós

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Jebus - Salem


Antes de ser conquistada pelo rei David (Melekh David), rei de Israel, a cidade de Jerusalém chamava-se:
Jebus ao mesmo tempo que era conhecida por Salem.

A cidade pertencia à tribo Cananita dos Jebuseus.

A cidade de Jebus, permaneceu intacta durante as conquistas de Josué, sendo subjugada posteriormente pelo Rei David.
Ao conquista-lá, o monarca Hebreu transferiu a capital de Hebron para Jerusalém.

A cidade foi inicialmente edificada sobre o monte Sião, sendo cercada por quatro outros montes:
Acra, Ophel, Bezeta e Moriah.
Os montes formavam, num círculo imaginário, a Cidade de Jerusalém; uma espécie de barreira natural, ao mesmo tempo que era mais uma protecção contra os inimigos.

O monte Sião é pleno de Simbolismo.

domingo, 17 de julho de 2011


É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...


- Miguel Torga, Viagem

sábado, 16 de julho de 2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Nos salgueiros



Gósto de estar debruçado
sobre o liquido cristal;
e da aguia ao ninho ousado
prefiro um ninho isolado
entre o verde salgueiral!

Gósto de ver a ramagem
limpido lago beijar!
É-nos mais doce a paizagem,
quando lá sob a folhagem
cantam as águas e o ar!

Sem ter lagos cristailinos,
os campos só tedio inspiram;
como os rostos peregrinos,
em cujos olhos mofinos
nunca as lagrimas fulgiram!

Coluna, a mais verdejante,
sem nas águas se mirar,
é como alma delirante,
que não tem, aberta e amante,
outra que a possa espelhar!

Tirem as ondas ao mundo!
e o mundo não tem pupilla!
reina o mysterio profundo;
e dos seus valles no fundo
nunca mais o ceo scintilla.

Se uma idéa vaporosa,
bate as azas, quer voar,
prazer, dor misteriosa,
meigo aroma d'uma rosa
que anceia por se exhalar:

Se a saudade te devora,
se tens um desejo vago,
se visão encantadora
na tua alma ri ou chora,
vae sentar-te junto a um lago.

Escuta, se o lago canta,
vê, se dorme, o que elle esconde!
espelho, em que o azul te encanta,
meiga voz, que alli descanta,
sempre a onda te responde!

No campo a andorinha inquieta
páira; a aguia vôa aos ceus;
do bosque a rôla é dilecta;
porém o meigo poeta
e o cysne, ó lago, são teus!

Gósto de estar debruçado
sobre o liquido cristal;
e da aguia ao ninho ousado
prefiro um ninho isolado
entre o verde salgueiral
!

- Tradução de Pinheiro Chagas a partir de Victor de Laprade

Os planos de Carlos V sobre Portugal

Uma pedrada no charco.
Uma pedrada na fachada dos vendilhões.
É assim o magnífico texto de Vilhena Barbosa sobre a verdade dos factos:
(clicar nas imagens para ampliar)





quarta-feira, 13 de julho de 2011

Morte branca
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821 anos - II


Na Abnegação do Acto
Na Plenitude do Humano Gesto
Na Afirmação do Momento
O Tempo Redondo

Ontem e Amanhã, no Sempre Presente

Redondo ...
Redondo o Tempo

Actos e Gestos feitos da mais Pura Têmpra
De Absoluto Despreendimento
Directo, Imediato e Íntegro

Até na mais absoluta dificuldade há, Sempre,
A Luz da Esperança; a Luz do Amor.
Esperança na Compreensão dos actos e dos factos.
Esperança em que a Luz do Amor Universal
Semei a Harmonia

A Luz do Amor e a Harmonia

- Sigillum

821 anos


Noite, irmã da Razão e irmã da Morte,
Quantas vezes tenho eu interrogado
Teu verbo, teu oráculo sagrado,
Confidente e intérprete da Sorte!

Aonde são teus sóis, como côrte
De almas inquietas, que conduz o Fado?
E o homem porque vaga desolado
E em vão busca a certeza que o conforte?

Mas, na pompa de imenso funeral,
Muda, a noite, sinistra e triunfal,
Passa volvendo as horas vagarosas...

É tudo, em torno a mim, duvida e luto;
E, perdido num sonho imenso, escuto
O suspiro das coisas tenebrosas...


- Antero de Quental, Lacrimae rerum

Honor Virtus et Potestas
Lux et Pace

terça-feira, 12 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

domingo, 10 de julho de 2011

sábado, 9 de julho de 2011