sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
O Ciclo de 2011
Para 2011, Esperança e Concretização
Santuario rupestre a Endovélico
Pelo Vale de Lucefecit - Pelo Vale da Luz
Estrela d' Alva, Estrela da Manhã
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Do Achamento e Nome da Terra de Vera Cruz
Um abraço amistoso desde este lado do oceano
No dia 22 de Abril de 1500, naus com a cruz da Ordem de Cristo chegaram à Terra de Vera Cruz, onde é hoje a Bahia.
Foi o espírito dos cruzados que guiou a aventura das grandes navegações portuguesas.
Lisboa, 08 de Março de 1500, um domingo. Terminada a missa campal, o rei D. Manuel I sobe ao altar, montado no cais da Torre de Belém, toma a bandeira da Ordem de Cristo e entrega-a a Pedro Álvares Cabral. O capitão vai içá-la na principal nave da frota que partirá daí a pouco para a Índia.
Era uma esquadra respeitável, a maior já montada em Portugal, com treze navios e 1500 homens. Além do tamanho, tinha outro detalhe incomum. O comandante não possuía a menor experiência como navegador. Cabral só estava ao comando da esquadra porque era cavaleiro da Ordem de Cristo e, como tal, tinha duas missões: criar uma feitoria na Índia e, no caminho, tomar posse de uma terra já conhecida, o Brasil.
A Presença de Cabral à frente do empreendimento era indispensável, porque só a Ordem de Cristo, uma companhia religiosa-militar autónoma do Estado e herdeira da Ordem dos Templários, tinha autorização papal para ocupar - tal como nas cruzadas - os territórios tomados aos infiéis (no caso brasileiro, os índios). No dia 26 de Abril de 1500, quatro dias depois de avistar a costa brasileira, o cavaleiro Pedro Álvares Cabral cumpriu a primeira parte da sua tarefa. Levantou onde hoje é Porto Seguro a bandeira da Ordem e mandou rezar a primeira missa no novo território. O futuro país era formalmente incorporado nas propriedades da organização. O escrivão Pero Vaz de Caminha, que reparava em tudo, escreveu ao rei sobre a solenidade: «Ali estava com o capitão a bandeira da Ordem de Cristo, com a qual saíra de Belém, e que sempre esteve alta». Para o monarca português, a primazia da Ordem era conveniente. É que atrás das descobertas dos novos cruzados vinham as riquezas que faziam a grandeza e a glória do reino. A seguir perceberá como a Ordem de Cristo transformou a pequena nação ibérica num império espalhado pelos quatro cantos do planeta.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Gravura de D. Sebastião, 1600-1650
Contributo para o Núcleo de Amigos do Elmo de D. Sebastião.
Uma versão bem mais madura de D. Sebastião ...
Gravura miniatura de D. Sebastião
Contributo para o Núcleo de Amigos do Elmo de D. Sebastião.
Trata-se de uma gravura conforme com a descrição seguinte do Museu Histórico do Brasil:
Miniatura de D. Sebastião, Rei de Portugal, Séc. XVI. Pintura sobre aço.
Adquirida pelo Museu Histórico ao Sr. J. Washt. Rodrigues, que a encontrou no interior de Minas Gerais, Brasil.
A iconografia de D. Sebastião é pouco abundante. Sobre este pequeno retrato fez o gravador Deboié a sua estampa “Sebastianus, XVI rex Portugaliae”, em 1737, Nº 47, do Catálogo de Estampas dos Anais da Biblioteca Nacional”, XVIII, 37. O pintor foi Afonso Sanches Coelho (1525 – 1590), natural de Valência, segundo uns, português, segundo outros, que floresceu nas cortes de Lisboa e Madrid, sendo chamado o Ticiano Lusitano. É possível que a miniatura do Museu Histórico seja uma cópia do original desse pintor. Contudo, é anterior ao Séc. XVIII. Aliás, os biógrafos de D. Sebastião não o conheceram, sendo o último em data, Antero de Figueiredo, tanto que esse retrato, não está indicado entre os do pincel de Afonso Sanches Coelho. Nem outra referência se encontra na obra conscienciosa e documentada, ultimamente publicada em Portugal sobre D. Sebastião, pelo grande historiador Queiroz Veloso.
Como teria ido parar ao interior de Minas, a mãos de um velho coleccionador de objectos antigos?
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Santuário de Nossa Senhora da Assunção da Boa Nova
Enquadramento
Rural. Isolado num vale que termina na ribeira de Lucefece.
A cerca de 50 m encontra-se a casa de habitação do casal que guarda a capela.
Descrição
Um cruzeiro, pouco depois do cemitério, marca o início do arruamento que conduz ao santuário; a c. de metade do percurso, outro cruzeiro a partir do qual um alinhamento ténue de árvores marca o percurso até ao terreiro da capela; este apresenta ligeira pendente, sendo definido por murete com banco que em toda a sua extensão oferece locais de estadia em redor do santuário. Fronteiro à entrada da capela, aglomerado de construções e um alinhamento de palmeiras constituindo uma cortina. Capela em planta de cruz grega com braços desiguais totalmente abobadada no interior. Cobertura exterior em telhado de linhas radiadas. As quatro fachadas apresentam o mesmo aspecto. A fachada principal a O., a fachada N. e a fachada S. têm uma porta simples de arco quebrado sobrepujada por uma estreita fresta, sobre a qual há um balcão avançado do tipo de matacães. A fachada principal é encimada pelo campanário com um sino de bronze. No extradorso da capela-mor, fachada E., abre-se uma fresta, obstruida pela montagem interior do retábulo. O edifício é rematado em todo o redor por uma coroação de merlões e ameias de tipo claramente defensivo. Cobertura exterior em telhado de várias pendentes. Espaço interior diferenciado. A capela-mor ocupa totalmente o braço E. A abóbada tem uma composição mural que cobre totalmente o tecto em 20 quadros rectangulares com temas bíblicos do Apocalipse de São João e com representações de reis da primeira dinastia. Os restantes braços da igreja apresentam várias pinturas murais do início do século, representando figuras de santos, segundo cópias oitocentistas, enquadradas por molduras de estuque. Os altares colaterais têm retábulos em talha.
Utilização Actual
Religiosa: santuário (Festa móvel em honra de Nossa Senhora da Boa Nova, da responsabilidade da Confraria de Nossa Senhora da Boa Nova, realiza-se no Domingo de Pascoela)
Cronologia
1340 - Fundação por voto de D. Maria, mulher de Afonso X de Castela e filha de D. Afonso V, relacionado com a vitória da Batalha do Salgado;
1700 - Arranjo da igreja ordenado pelo comendador Luís Lencastre; construção do actual campanário;
Séc. XVIII - construção dos dois altares colaterais.
Tipologia
Arquitectura religiosa, gótica, fortificada. Santuário com capela-fortaleza em cruz grega totalmente abobadada, evidenciando paralelismos com a igreja-fortaleza da Flor da Rosa, no Crato.
Características Particulares
O carácter religioso é reforçado e fortalecido, pela relação com a paisagem envolvente.
Dados Técnicos
Paredes portantes reforçadas por cunhais em silharia e travadas por abóbadas sob coberturas de pendentes.
Materiais
Alvenaria de pedra argamassada, rebocada e caiada *1. Silharia dos cunhais em granito. Cobertura em telha com drenagem lateral em algeroz e saída em gárgulas de granito. Caixilharia em madeira pintada. Revestimentos interiores em reboco caiado ou com pinturas em fresco. Pavimentos interiores em tijoleira e lages de xisto. Exteriores em calçada de mármore. Vivos: Palmeiras e Eucaliptos. Inertes: muros de suporte e terra batida.
Observações
*1 - parte deste revestimento foi demolido; Afonso X, o Sábio, refere-se nas cantigas de Santa Maria, ao Templo de Terena.
A cobra moura
- AA. VV., Literatura Portuguesa de Tradição OralContam que, quando houve as invasões dos Mouros, foi enterrado um tesouro no lugar das Penices, entre Balazar e Gondifelos, e que até aos dias de hoje ali está guardado por uma cobra moura. Esta cobra tem uma diferença em relação às outras.
Dizem que na parte superior do seu corpo, ela está revestida por uma espécie de cabeleira. Muitas pessoas admitem tê-la visto a deambular pelos montes.
Segundo se conta, de vez em quando ouve-se a partir da meia-noite sinos a tocar no cimo do monte, que têm um toque diferente do normal. Muitas pessoas dizem ter ouvido esse toque e tentaram descobrir o local exacto seguindo o som da melodia. No entanto, até agora ninguém conseguiu lá chegar, por mais que tentassem, já que eram detidos a meio do caminho.
Um dos casos mais conhecidos foi o de uma senhora que morava perto do local.
Certa noite, encantada pelo som melodioso dos sinos, tentou subir o monte para descobrir o que lá existia realmente. Contudo, quando chegou a meio do caminho, sem saber como, caiu, mas nem sequer apresentou ferimentos graves.
Corre o rumor de que, para descobrir esse tesouro, terá de se encontrar a cobra moura e picá-la sem a matar.
No local das Penices foram descobertos de facto vestígios sobre a vida dos Mouros. Mas o tesouro até à data não foi descoberto. E ainda hoje há moradores que afirmam ouvir o toque dos sinos a partir da meia-noite.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Castro de Ribas, Santuário Rupestre de Argeriz - Pias dos Mouros
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Rural, isolado, remate de esporão coberto com pinhal e vegetação rasteira, sobranceiro ao Regato da Quebrada.
Descrição
Povoado fortificado proto-histórico e romanizado, circundado por duas linhas de muralha, que chegam a atingir c. de 7 m de espessura, sendo o sistema defensivo complementado de NE a NO por um fosso escavado no afloramento, muito danificado. Na muralha interior regista-se uma porta virada a NE e uma outra, mais estreita, no flanco NO. Registe-se que a primeira linha de muralha possui um cotovelo com uma espessura de c. de 13 m. No pano da muralha interior encontram-se, possivelmente reaproveitados, dois silhares com ornamentações gravadas, sendo os motivos decorativos constituídos por círculos e espirais. Nas plataformas interiores, conservam-se habitações de planta rectangular e circular, assim como, a E., um lagar escavado num rochedo. Exteriormente ao povoado encontra-se uma habitação rectangular, possuindo num extremo, segundo o eixo maior, um corpo com a mesma planta, não apresentando qualquer comunicação com aquela.
Propriedade
Privada: pessoa singular
Cronologia
Pré-História - Construção do povoado;
Antiguidade - vestígios de ocupação romana.
Tipologia
Povoado fortificado proto-histórico, com habitações de planta circular e rectangular circundadas por duas linhas de muralhas reforçadas por fosso de NE a NO, revelando vestígios de ocupação em época romana.
Características Particulares
Fosso escavado no afloramento; na muralha estão incorporados silhares com motivos ornamentais; dentro do povoado encontra-se um lagar escavado na rocha.
Observações
Foram detectados um machado polido de anfibolite, dois machados em cobre, uma alfinete em cobre, uma abraçadeira de bronze, cerâmica comum indígena, cerâmica comum romana, cerâmica de importação romana, fragmentos de vidro, tegula, imbrex, fustes de coluna, mós manuárias, fíbulas, moedas e um busto humano em granito. Dois machados em cobre estão na posse de Amílcar Costa, morador em Carrazedo de Montenegro.
*1 Tendo parte das estruturas visíveis sido objecto de restauro.
*2 Embora o fosso esteja entulhado.
*3 Embora os silhares decorados estejam expostos à erosão atmosférica
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Enquadramento
Rural, isolada, plataforma em encosta de pendor suave coberta com pinhal, sobranceira a uma linha de água afluente do Ribº de Alfonge.
Descrição
Santuário rupestre constituído por dois tanques de formato rectangular cavados na superfície de um extenso rochedo granítico pouco pronunciado da superfície do solo. Estas cavidades estão dispostos paralelamente e encontram-se ladeadas por degraus debastados no afloramento, lateralmente ao eixo menor dos tanques, conduzindo à parte superior do rochedo, para assentamento de estruturas. Numa das faces laterais do penedo, encontra-se uma inscrição, provavelmente latina, muito erosionada, da qual resta a expressão APADAV.
Propriedade
Privada: pessoa singular
Cronologia
Antiguidade - Construção.
Tipologia
Santuário rupestre, romano formado por dois tanques de planta rectangular dispostos paralelamente.
Dados Técnicos
Encaixes de assentamento das estruturas escavados no afloramento.
Materiais
A estrutura assenta num bloco granítico.
Observações
Dado o carácter incompleto da inscrição desconhece-se se revestia uma natureza jurídica ou religiosa.
*1 A inscrição encontra-se exposta à erosão atmosférica.
(fonte: IHRU)
O pequeno santuário rupestre parece revelar algumas semelhanças estruturais com o Santuário de Panóias; tal, é visível a partir do cimo do monte.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Centum Cellas
Rural, isolado e destacado numa zona planáltica, no sopé da vertente S. do Monte de Santo Antão *2, junto à ribeira do Colmeal; é visível a partir da EN 18 e localizam-se, a escassa distância, construções dissonantes recentes.
Descrição
Planta rectangular. Volume único, com ausência de cobertura, evoluindo em três pisos, com cerca de 12 metros de altura. Alçado NE. possui, no primeiro registo, três portas equidistantes, encimadas por quatro pequenas janelas quadrangulares, a que se segue linha horizontal de orifícios. No segundo registo, porta ladeada por duas janelas quadrangulares. No terceiro registo, três vãos sem lintel e umbrais irregulares, com diversos orifícios. Alçado SO. tem, no primeiro registo, três portas ou vãos equidistantes com lintel a altura desigual, encimadas por três vãos dispostos irregularmente. Um friso saliente, parcialmente interrompido, separa o segundo registo, com porta ladeada por duas janelas quadrangulares, a que se segue linha horizontal de oríficios. O terceiro registo é rasgado por três janelas equidistantes, tendo a central umbral de maior altura. Alçado SE. apresenta o primeiro registo estruturado em três panos com vestígios de pilastras, tendo três portas, duas das quais de composição irregular e dois pequenos vãos ao nível térreo. Friso saliente separa o segundo registo, com três portas e duas janelas quadrangulares e simétricas, a que se segue linha horizontal de oríficios. No terceiro registo, três vãos sem lintel e umbrais irregulares, apresentando diversos orifícios. Alçado NO. tem o primeiro registo estruturado em três panos com vestígios de pilastras, duas portas, uma das quais centrada e três vãos de configuração irregular. Um friso saliente separa o segundo registo, rasgado por três portas e duas janelas quadrangulares e simétricas, a que se segue linha horizontal de oríficios. No terceiro registo, três vãos sem lintel e umbrais irregulares, com diversos orifícios. Vãos de lintel recto sem moldura. INTERIOR forma espaço único, com cornija interna. O pavimento aproveita o afloramento rochoso. O edifício encontra-se ligado a um conjunto de compartimentos dos quais apenas subsistem as fundações. Observam-se duas alas paralelas ao lado maior do rectângulo, em cujo pavimento se identificam fragmentos de elementos construtivos de cantaria, nomeadamente um fragmento de frontão, assim como um conjunto de compartimentos ainda em escavação que parecem indiciar um conjunto de grandes dimensões com planta geral em U ou com pátio central.
Cronologia
Séc. I / II - Construção do edifício de função ainda indefinida, pelo Imperador Augusto ou pelo general Agripa ( A.R. Belo ); organização de um provável povoado ou cidade ( Cristóvão Aires Magalhães Sepulveda ), numa zona de exploração mineira, na proximidade da via militar Mérida - Braga e do hipotético castro do Monte de Santo Antão;
253 - morte de São Cornélio que, segundo a tradição, teria estado encarcerado neste edifício de 100 celas;
Séc. III / IV - incêndio e sequente reconstrução do conjunto, ligado a exploração agrícola ( documentado arqueologicamente ); construção de sala com ábside e larário, onde apreceram sete aras decoradas, uma delas com referências a Vénus e Minerva; época medieval - permanência da ocupação do sítio, com construção de um templo e zona de enterramentos ( existência de nove sepulturas ); provável reconstrução do 3º piso;
1188 - concessão de carta de foral à povoação de Centuncelli por D. Sancho I;
Séc. XIII / XIV - improvável reconstrução como atalaia por D. Dinis ( Pinho Leal );
1630 - referência a ruínas da povoação;
1992, 1 Junho - o imóvel foi afecto ao IPPAR, pelo Decreto-lei 106F/92;
1993 - 1998 - campanha de escavações arqueológicas sob a direcção de Helena Frade.
Tipologia
Arquitectura militar, romana. Edifício de função indefinida, provavelmente integrado numa villa romana, de planta rectangular, de volume único, com 3 pisos. Vãos de lintel recto sem moldura. Composição dos alçados regular. Edifício integrado num conjunto arquitectónico de maiores dimensões. Apresenta algumas afinidades com a Torre de Almofala, Figueira de Castelo Rodrigo.
Características Particulares
Função indefinida. Aparelho isódomo constituído por silhares de grandes dimensões, existindo diferença de aparelho entre os pisos inferiores e o superior *4. Cornija interna. Enquadramento do edifício subsistente num conjunto arquitectónico ainda em escavação.
Observações
*1 - outras designações: Centum Cellae, Centum Celas ( estas últimas as mais correctas ), Centum Celli, Centum Caeles, Centcellas, Centum Coeli.
*2 - no Monte de Santo Antão existem vestígios de fortificações, tendo sido identificados no local achados da época romana.
*3 - funções atribuídas: praetorium de acampamento militar ( A. V. Rodrigues ), prisão ( J. Almeida ), estalagem - mansio fortificado devido à proximidade de via militar ( A. R. Belo ), templo ( V. Correia ), edifício residencial de villa atendendo à compartimentação interna do conjunto ( J. Alarcão ); possuía três pisos e 22 m. de altura; atendendo à linha de oríficios murários possuiria varanda corrida em todo o perímetro e existiria uma conduta de água construída em tijolo entre o edifício e a Ribeira de Colmeal, segundo informações locais prestadas a Aurélio Ricardo Belo.
*4 - esta diferença levou alguns historiadores a considerar a possibilidade de se tratar dum edifício do séc. 4 a.C., uma casa rica da Lusitânia Pré-Romana.
*5 - referente apenas ao edifício subsistente.
*6 - espólio confiado em 1962 a Fernando de Almeida.
*7 - espólio recolhido nas escavações dirigidas por Aurélio Ricardo Belo e depositados no Museu Francisco Tavares Proença Júnior ( Castelo Branco ): cerâmica comum; terra sigillata, cerâmica cinzenta fina polida, cerâmica pintada, numismas, fíbula zoomórfica, alfinete, pesos de tear, fragmentos de ossos incinerados e carvões; Francisco Tavares Proença Júnior terá identificado vestígios de exploração metalífera romana, de habitações e cemitério romanos.
(fonte: IHRU)
Olho para esta construção, para a sua talha, a sua forma de ser, e recordo-me de outra: uma, há muito submersa no atlântico.
Santa Leocádia
Rural, isolado, no rebordo ocidental da serra da Padrela, na periferia da aldeia, sobranceiro a um vale agrícola. Adro sobrelevado, murado com acesso frontal por portão de ferro, antecedido por cruzeiro e escadório desenvolvido em leque, e ladeado por altos ciprestes; pavimento de terra, relvada, com dois sarcófagos antropomórficos encostados à igreja.
Descrição
Planta longitudinal composta por nave única e capela-mor quadrangular, mais baixa e da mesma altura, tendo adossado a ambas na fachada lateral S. sacristia também quadrangular. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas e uma na sacristia. Fachadas com paramentos de cantaria aparente. Fachada principal virada a O., terminada em empena de cornija truncada por dupla sineira de arco de volta perfeita, ambas com sino, terminadas em cornija encimada por pináculos e cruz central. É rasgada por portal de verga recta rústica e, sobre ele, por uma janela rectangular com gradeamento de ferro; ladeia-a relógio circular. Fachadas laterais terminadas em cornija, lisa na nave e decorada com folhagens de remate boleado na capela-mor, assente em cachorrada, decorada com cabeças humanas, animais e motivos geométricos; a lateral N. é rasgada por uma fresta e dois portais entaipados: um de arco quebrado e tímpano liso e outro de arco contracurvado, e a do lado S. possui na nave duas janelas e um portal de verga recta, uma fresta de arco de volta perfeita e um portal de arco quebrado entaipado; na parede da nave, corre em plano intermédio consolas decoradas de apoio a um alpendre já desaparecido. Na parede da sacristia abre-se uma janela rectangular rústica. A fachada posterior apresenta ao centro fresta de duas arquivoltas decoradas com rosetas e enxaquetado, assentes em impostas decoradas com folhagens e em colunelos de fuste decorado com caras e folhagens de remate boleado. Sobre a empena angular uma cruz de âncora. INTERIOR de paramentos rebocados e caiados de branco, com pavimento de lajes regulares de granito, cobrindo inúmeros enterramentos, alguns deles assinalados por letras, algarismos ou molduras gravadas, coberto por soalho de madeira, e cobertura de madeira, formando caixotões pintados com flores nos ângulos e ao centro, de cores rosa e outras azuis. Coro-alto de madeira, com balaustrada de madeira, pintado a marmoreados rosa e verde, acedido por escada disposta no lado da Epístola; no coro possui escada de madeira que, através de alçapão, permite aceder à sineira; no sub-coro, pia baptismal circular protegida por balaustrada de madeira. No lado do Evangelho dispõe-se, frente ao portal lateral, púlpito rectangular sobre mísula volutada com guarda de madeira pintada; segue-se-lhe retábulo de talha dourada e policroma, de planta recta e três eixos, e, no topo da nave, um outro, igual ao existende no lado da Epístola em posição confrontante, também de talha dourada e policroma, mas de planta recta e um eixo, encimados por baldaquino rectangular pintado a marmoreados. No lado do Evangelho, desenvolvem-se pinturas murais ao longo de 5 m., destacando-se entre os dois retábulos a pintura representando a imagem de São Cristóvão, em grande escala, segurando um cajado e levando no ombro esquerdo o Menino Jesus. No lado da Epístola, onde a superfície é sensivelmente menor, destaca-se painel rectangular com moldura envolvente, criando composição independente das outras, e tendo na zona inferior a inscrição "sta imãgen Mãdou pimtar ... Ãdaes por sua..."; ao centro do painel vê-se uma figura feminina. Arco triunfal quebrado com arquivoltas pintadas com enxadrezado de óvulos, enxaquetados e dentes de serra com pérolas nos intervalos, assente em impostas lisas; inferiormente, surgem pintados acantos enrolados. Na capela-mor, paredes laterais com pinturas murais; no paramento do lado do Evangelho, mais rico, possui várias cenas pintadas, divididas, criando vários registos; uma cena da Visitação, com a figura da Virgem e de Santa Isabel, tendo como fundo porta em tromp l'oeil, na zona central uma figura que poderá corresponder à Anunciação, e depois um Menino Jesus amparado por mãos femininas, talvez a cena do "Massacre dos Inocentes"; no paramento do lado da Epístola, surge representado uma figura profana, num fundo paisagístico, um tocador de gaita de foles tendo a seu lado uma outra figura, segurando nas mãos um cajado; encima a cena um anjo segurando nas mãos filactera com inscrição "A 1?61". Na zona inferior dos paramentos, surge pintado faixa larga com motivos geométricos, tipo mosaico, e na zona superior grotescos pompeianos, com motivos vegetais, anjos, aves e outros animais. De cada lado do arco triunfal, surge uma inscrição de caracteres góticos pintada; no lado direito parece ".. esta obra mandou fazer Dom Fernando..." e do esquerdo "... El rey ... de Coimbra...outeiro...". A parede testeira apresenta pintados à direita, a figura de São Paulo e, à esquerda, a de São Pedro, ambas de grande dimensão, enquadradas numa espécie de edículas separadas por colunas de capitéis coríntios e tendo como fundo grotescos. Retábulo-mor de planta recta e três eixos delimitados por colunas torsas decoradas por pâmpanos e anjos, assentes em mísulas volutadas e, nos extremos, em plintos; as colunas centrais prolongam-se em arquivoltas, formando o ático e envolvendo o arco de volta perfeita da tribuna central, revestida a painéis de talha decorados com acantos; na zona central, sotobanco muito elevado para receber o sacrário e trono de três andares. Nos laterais, painéis com mísulas contendo imagens encimadas por entablamento encimado por dois painéis pintados, no lado do Evangelho com a figura de São Pedro e no oposto com a de São Paulo; remate com aproveitamento de elementos de talha. No banco, duas portas entalhadas de acesso à tribuna.
Descrição Complementar
Retábulo lateral do lado do Evangelho de planta recta e três eixos delimitados por, pilastras nos extremos, e colunas torsas, de espira fitomórfica, e capitéis coríntios, assentes em mísulas com anjos atlantes, e suportando entablamento de friso decorado com concheados; no eixo central, nicho de arco de volta perfeita decorado, contendo imagem em mísula e nos laterais, de fundo pintado por flores, mísula e baldaquino; tabela pintada ladeada por quarteirões, aletas laterais e pináculos no alinhamento das colunas extremas, rematado por frontão de volutas. Os retábulos laterais do topo da nave têm planta recta e um eixo, delimitado por colunas coríntias com o terço inferior decorado com acantos e querubins, assentes em plintos ornados com acantos e suportanto entablamento, sobre o qual assenta tabela rectangular ladeada por quarteirões, aletas e pináculos sobre acrotérios; remate em frontão de volutas interrompido; ao centro, nicho de arco de volta perfeita enquadrado por alfiz decorado por acantos em forma de voluta, contendo imagem.
Cronologia
Séc. XII - Provável construção da igreja românica;
1264, 28 Setembro - o rei, atendendo às queixas recebidas da parte dos abades das Igrejas de Santa Leocádia, Moreiras e São Miguel de Nogueiras, ordena aos juízes de Chaves que não obrigassem os habitantes das terras que as referidas igrejas possuiam nos termos de Chaves e Montenegro a irem em anúduva ao castelo de Chaves;
1287 - documento relativo a um acordo entre Dom Telo, Arcebispo de Braga e os monges de Castro de Avelãs, figura um "Domino Joanne Didaci - Abate Ecclesiae Sanctae Leocadie de Monte Negro";
Séc. XVI - ampliação da nave, dada a linha de "costura" evidente do lado N. e porta de arco contracurvado; realização das pinturas murais;
Séc. XVII / XVIII - data dos retábulos de talha;
Séc. XVIII - alterações na fachada principal, com abertura de novo portal e janela; provável alteamento da capela-mor e ampliação da nave para O.;
1727 - data gravada sobre o janelão da fachada S.;
1799 - tecto da sacristia;
1824 - remodelações assinaladas na padieira da primeira janela e porta da fachada S.;
Séc. XIX - pinturas do tecto;
1997 - durante os trabalhos arqueológicos, detectou-se no cunhal NE. da capela-mor um muro de aparelho romano, confirmando a existência de restos de um edifício desse período, talvez um "mutatio", alicerces que existem sob a igreja e o adro;
2002 / 2004 - visitas ao imóvel para elaboração da Carta de Risco do imóvel.
Tipologia
Arquitectura religiosa, românica. Igreja românica de planta longitudinal composta por nave única e capela-mor rectangular, mais estreita, com sacrisitia adossada à fachada lateral S.. Fachada principal terminada em empena truncada por dupla sineira e rasgada por portal de verga recta simples e janela rectangular. Interior com coro-alto, cobertura de madeira, em caixotões com flores pintadas, provavelmente do Séc. XIX, púlpito do lado do Evangelho, dois retábulos laterais de talha dourada e policroma maneiristas e um barroco e retábulo-mor de talha dourada e policroma maneirista. Pinturas murais do séc. 16 cobrindo a nave e capela-mor.
Características Particulares
Igreja de romaria com alpendre exterior. Todo o seu interior era revestido a pinturas murais, ao que parece com 2 níveis pictóricos sobrepostos, com figuras representadas em grande escala. Sabe-se que o pintor era de Coimbra e as pinturas foram feitas com base nas gravuras de Wohlgemuth, mestre do séc. 15, de Nuremberga. A figura de São Cristóvão na nave possui grande qualidade plástica, portando manto de decoração algo cuidada, imitando brocado, contrapondo-se com a figura do Menino no ombro, de traço muito menos cuidado; São Cristóvão apresenta alguns repintes ou várias mãos. Os grotescos no fundo destas são típicos do séc. 16 e surgem também nos frescos da Igreja de Vila Marim. Algumas das pinturas possuem legenda, com troços delidos, com referência ao seu promotor e / ou data de execução. Quer a pintura mural da parede testeira da capela-mor, que poderá ter constituído uma estrutura retabular, quer os dois painéis do retábulo-mor, possuem iconografia idêntica, representando as figuras de São Pedro e São Paulo. O retábulo lateral do Evangelho possui estrutura muito arcaica, maneirista, e decoração joanina, com alguns elementos rococós. O retábulo-mor é maneirista, de andares, com elementos de talha nacional, apresentando muitos elementos reaproveitados .
Observações
A Igreja de Santa Leocádia foi Reitoria e Comenda da Casa de Bragança e pertenceu ao Arcebispado de Braga até à criação da diocese de Vila Real. A realização de sondagens interiores puseram a descoberto pinturas murais na primeira parte da nave e na capela-mor. Foram executadas a têmpera, com aglutinante de gema de ovo detectando-se a presença de resina, sobre uma argamassa pouco carbonatada. A paleta é relativamente variada, sendo os pigmentos mais usados os ocres, terras, vermelhos e verdes.
(fonte: IHRU)
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Le Barde Ouvrier
AIR: Par des chansons ma mère m’a bercé.
Sur les vieux murs de la grande cité
Lorsque la nuit a déployé ses ailes,
L’esprit du barde errant en liberté
Croit entr'ouvrir les voûtes éternelles.
Ah! laissez lui ses rêves consolants;
N’étouffez pas, n’étouffez pas ses chants!
Le front penché sur un vieux manuscrit,
Miroir vivant où son âme rayonne,
Qu'entrevoit-il? un ange qui sourit,
Et l’avenir qui tresse une couronne!
Ah! laissez-lui, etc.
Pauvre, il n’a pu prendre part aux leçons
Qu’en ses bazars débite la science;
Mais cependant mùrissent des moissons
Sous le soleil de son intelligence!
Ah! laissez-lui, etc.
Savants, du haut de votre piédestal,
Croyez-vous donc effaroucher sa muse?
Votre dédain orgueiLleux et brutal
N’est qu’un hochet dom sa vcrs’e l’amuse!
Ah! laissez-lui, etc.
Ce n’est qu’un fou! dit-on de toutes parts...
Fou dévore par l’orgueil et l’envie!
Mais, de ce fou qu’importent les écarts,
Puisque de fleurs ils parsèment la vie!...
Ah! laissez lui ses rêves consolants;
N’étouffez pas, n’étouffez pas ses chants!
- Alexandre Guérin
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Solstício de Inverno ...
Com plena Lua Cheia.
E com uma particularidade: eclipse total da Lua!
Solstício de Inverno
Muita Paz, são os meus votos
A Paz é um bem que cada ser humano detém…
É uma serenidade que faz parte da nossa alma.
Fonte onde cresce o amor e se suaviza a calma…
É uma benesse dos céus para reflexão do homem!
É um apelo em forma de silêncio contra uma guerra…
Sempre tão nefasta em qualquer ponto da Terra.
É o santuário que nos abre as portas para a felicidade…
Onde baniremos a pobreza que assola a humanidade!
- Rui Pais, A Paz
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Ponte da Mizarela
Reza sobre ela, a seguinte lenda:
- Mário Moutinho e A. Sousa e Silva, O mutilado de Ruivães"Diz-se que um padre, querendo fazer uma pirraça ao Diabo, se disfarçou em salteador perseguido pelas justiças de Montalegre, e foi certo dia, à meia-noite, àquele lugar para passar o rio. Como o não pudesse passar, por meio de esconjuros, invocou o auxílio do Inimigo. Ouve-se um rumor subterrâneo e eis que aparece, afável e chamejante, o anjo rebelde:
- "Que queres de mim?" - perguntou ele.
- "Passa-me para o outro lado e dar-te-ei a minha alma."
Santanás, que antegozava já a perdição do sacerdote, estendeu-lhe um pedaço de pergaminho garatujado e uma pena molhada em saliva negra, dizendo:
- "Assina!".
O padre assinou. O Demo fez um gesto cabalístico e uma ponte saiu do seio horrendo das trevas.
O clérigo passa e, enquanto o diabo esfrega um olho, saca da caldeirinha da água benta, que escondera debaixo da capa de burel, e asparge com ela a infernal alvenaria, fazendo o sinal da cruz e pronunciando bem vincadas as palavras do exorcismo.
Santanás, logrado, deu um berro bestial e desapareceu num boqueirão aberto na rocha, por onde sairam línguas de fogo, estrondos vulcânicos e fumos pestilenciais. O vulgo das redondezas, na sua ignorância e ingenuidade, e não sabemos a origem, aproveita-se da ponte para ali exercer um rito singular.
Quando uma mulher, decorridos que sejam dezoito meses após o seu enlace matrimonial, não houver concebido, ou, quando pejada, se prevê um parto difícil ou perigoso, não tem mais que ir à Mizarela, à noite, para obter um feliz sucesso. Ali, com o marido e outros familiares, espera que passe o primeiro viandante. Este é então convidado para proceder à cerimónia, a qual consiste no baptismo in ventris do novo ou futuro ser. Para isso, o caminhante colhe, por meio de uma comprida corda com um vaso adaptado a uma das extremidades, um pouco de água do rio e com a mão em concha deita-a no ventre da paciente por um pequeno rasgão aberto no vestuário para este efeito, acompanhando a oração com a seguinte ladaínha:
Eu te baptizo
criatura de Deus,
Pelo poder de Deus,
e da Virgem Maria.
Se for rapaz, será ‘Gervás’;
se for rapariga, será Senhorinha.
Pelo poder de Deus e da Virgem Maria,
um Padre-Nosso e uma Avé-Maria. "
O barulhar iracundo da cachoeira no abismo imprime a estas cenas um cunho de tétrica magia. Segue-se depois uma lauta ceia, assistindo, geralmente, o improvisado padrinho. E o êxito é completo: um neófito virá alegrar a família. Claro que se na primeira noite não passar o viandante desejado, a viagem à Mizarela repetir-se-á até o cerimonial se realizar nas condições devidas.
De um dos lados ergue-se um enorme rochedo que o povo denominou "Púlpito do Diabo", por crer que o Demo vai ali pregar à meia-noite, quando as bruxas das redondezas se reunem em magno concílio…
domingo, 19 de dezembro de 2010
Britonia, Altar de Britonia
Bretões e a Diocese Britoniarum
Britonia, mais do que uma referência, é um desafio à procura. À procura da 'antiga magia'.
- Francisco Silveira, Mapa Breve da Lusitania Antiga[No mais alto da Serra de Arga] ... para a parte do norte há sinais de sepulturas, e de Altar Christão, no qual (conforme a tradição dali) celebrava um Bispo fugitivo [um britão? ...]; e assistiam ao Tremendo Sacrifício os afligidos cristãos, no tempo da invasão dos árabes. Cremos era o de Britonia, situada ali perto. Em uma quebra dela, virada para o nordeste, esteve um antigo Mosteiro, da invocação do Baptista, cuja igreja ainda hoje adornada, demonstra muita antiguidade.
sábado, 18 de dezembro de 2010
Lenda da Serra de Arga
Preparado para montar de repente no seu cavalo veloz — caso surgisse qualquer complicação ou a sua bem-amada aparecesse, tal como estava combinado — Egica encheu o peito de ar para combater a respiração difícil que lhe causava o desespero em que se encontrava. Eulália — o seu grande amor — dissera-lhe dos projectos de seu pai, o rei Ervígio: casá-la com o guerreiro Remismundo. E logo o par amoroso planeou a fuga que lhes daria a liberdade. Mas Eulália não chegava no momento combinado. Eulália demorava-se. Porquê? Teria o rei descoberto o plano que haviam arquitectado com tanta minúcia?
O Sol avançava na sua linha de movimento aparente. E a impaciência de Egica avançava também pelo seu corpo, transmitindo-a ao próprio cavalo, que batia com as patas no solo.
De súbito, reteve a respiração. Alguém contornava a esquina murada, com passo leve e apressado. Era Eulália, finalmente! Ele correu para ela. Tomou-a nos braços.
— Querida! Tenho a sensação de ter esperado uma eternidade!
Ela tremia e falou em voz baixa, como se temesse ser ouvida:
— Egica! Partamos imediatamente! Os soldados de meu pai perseguem-me! Deram pela minha fuga!
O jovem ajudou-a a subir para o cavalo e recomendou-lhe, enquanto montava também:
— Segura-te a mim. O cavalo é veloz...
E, sem mais explicações, Egica esporeou o alazão e partiu como uma seta.
No ar ficou por um momento o eco desse galope desenfreado...
Entretanto, os soldados de Ervígio procuravam o par em fuga. Não se atreviam a regressar sem a missão cumprida. Contudo o dia ia-se prolongando, os cavalos enchiam-se de cansaço e espuma, e o próprio cheiro a Primavera parecia cúmplice na fuga de Eulália e do jovem Egica, envolvendo-os no seu manto de mistério para que não fossem encontrados...
A tarde já ia em meio quando o jovem fez descer a sua noiva e a conduziu junto a um regato, para descansarem.
Receosa, ela olhou em volta.
— Teremos levado grande dianteira?
Ele beijou-lhe a testa coberta de pó.
— Querida, nada receies! Eles perderam-nos de vista e julgam que seguimos para o norte, onde me era fácil encontrar gente amiga. Porém... troquei-lhes as voltas...
— E para onde vamos?
— Vou tentar atravessar a Galiza e procurar refúgio seguro no Mosteiro Máximo, onde sei que se encontra um grande amigo de meu pai. Ele nos ajudará!
Com voz ansiosa, Eulália perguntou:
— Ainda estamos longe?
O braço forte do jovem guerreiro ergueu-se, apontando o horizonte.
— O recorte do Monte Medúlio já se divisa além. E só mais um esforço!
— E é nesse monte que existe o mosteiro que procuras?
— Sim, meu amor. Verás que tudo correrá bem!
Ela sorriu-lhe. Um sorriso quase infantil. Mas logo a sua expressão entristeceu.
— Só por ti receio, Egica!
— Por mim? E por ti? Já pensaste bem o que viria a acontecer se os soldados de teu pai nos apanhassem e conseguissem arrancar-te dos meus braços? Confesso-te que preferiria a morte, mil vezes!
Ela levantou-se como quem descobre de súbito um fantasma.
— Continuemos a cavalgar! Tenho medo! Detesto Remismundo. É traiçoeiro, feio e irascível. Se te apanham, matam-te! Ele odeia-te. Odeia-te porque te inveja!
Egica sorriu, numa tentativa para acalmar a sua bem-amada. Passou-lhe o braço pelo ombro. Puxou-a para si docemente. Mas como ela olhasse em redor com o medo estampado no rosto, ajudou-a de novo a montar, declarando-lhe:
— Na verdade é melhor seguirmos viagem quanto antes. Teremos de chegar ao mosteiro primeiro que a noite desça sobre a montanha.
O cavalo abrandou a marcha. Estava visivelmente cansado. A penumbra que antecede a noite envolvia completamente aquele estranho grupo no cenário grandioso do Monte Medúlio. Lá estava o Mosteiro Máximo, meta dessa carreira que durava há algumas horas. O silêncio naquele local e àquela hora era impressionante. Ouviam-se as próprias respirações, alteradas pelo cansaço e pela emoção.
Descendo da montada, o par fugitivo dirigiu-se para o mosteiro e bateu à porta, discretamente. Um homem com o rosto quase tapado veio abrir. Egica tivera o cuidado de colocar Eulália fora do alcance visual do monge. E perguntou, com certa ansiedade na voz:
— Irmão, perdoai se venho molestar-vos a esta hora. Mas precisava de falar com urgência ao irmão Gondemaro.
O monge porteiro fechou o postigo por onde espreitara. O silêncio voltou a envolver a serra. A espera foi curta, mas o coração de Egica bateu mais forte quando o postigo voltou a abrir-se. Desta vez, porém, assomou um outro rosto, que abriu os olhos num espanto incontido.
— Louvado seja Deus! Quem vejo na minha frente!
Egica sorriu.
— Sim, irmão Gondemaro! Sou eu... o filho do homem que convertestes em Salinas!
— E que me quereis?
— Preciso do vosso auxílio. Trago comigo alguém a quem muito quero e que corre perigo neste momento.
Chamou, com doçura:
— Eulália! Aproxima-te.
A jovem apareceu ante os olhos ainda mais espantados do velho monge. Com voz quase velada, ele perguntou a Egica:
— Quem é esta dama?
O jovem elucidou:
— É Eulália, a filha do rei Ervígio.
O monge levou uma das mãos ao peito.
— Santo Deus! Entrai para onde vos não vejam aqui e contai-me o que neste momento vos aflige.
E, abrindo com precaução singular a grande porta do mosteiro, o monge introduziu na santa morada o casal fugitivo.
Lá fora, a noite começava a cair...
Quando o jovem Egica acabou o relato da sua odisseia, raptando a filha do rei Ervígio para vir ao Mosteiro Máximo de Monte Medúlio procurar um amigo que os casasse, o irmão Gondemaro olhou-os fixamente, num ar aflito.
— Que o Senhor Deus dos Exércitos me inspire, pois não sei que hei-de fazer!
Egica sobressaltou-se.
— Não sabeis... porquê?
O monge explicou:
— A noite envolve agora os campos e isto aqui é deserto! Todavia, no mosteiro não podem ficar mulheres e muito menos a filha do rei Ervígio!
Eulália levantou-se com dignidade.
— Não desejo ser uma sombra para a vossa consciência. Aceito a expulsão e só desejo que a morte me encontre depressa!
Egica protestou, magoado:
— Eulália! Enquanto o meu braço puder erguer-se, nenhum mal te acontecerá! Continuemos descendo a terra lusitana até aos Hermínios e talvez os contrafortes dessa serra sejam mais generosos que este mosteiro!
O monge tapou o rosto com as mãos. Silenciou durante alguns segundos. Depois murmurou, como em oração:
— Que Deus se amerceie de mim!
Destapou o rosto e encarou os jovens.
— Se vos deixo partir, os lobos ou os salteadores poderão matar-vos. Se vos recolho... atraiçoo uma das nossas regras! Que hei-de fazer? Que Deus me inspire!
Egica retorquiu:
— Escolhei, irmão, entre as nossas vidas e a tranquilidade da vossa consciência.
— Ai de mim! A tranquilidade foi-se com o pôr do sol e a vossa aparição. Não há, pois, por onde escolher. Ficai! Vou casar-vos. Agora mesmo e secretamente. Depois emprestarei um hábito à filha do rei Ervígio para que pernoite aqui. Todavia, logo que a luz do dia desponte, dar-vos-ei um salvo-conduto para que possais ir à presença da dama que vive num castelo próximo. Só ela poderá abrigar-vos.
Egica apertou a mão do monge.
— Que Deus vos recompense, irmão Gondemaro!
Quando a manhã voltou a banhar de luz os campos, onde os passarinhos saltitavam cantando e brincando alegremente, encontrou os noivos já prontos para a nova jornada, aliás curta.
Com a alma gritando alegrias, o par enamorado despediu-se do monge Gondemaro. No rosto dos jovens espalhava-se a felicidade. O monge reparou neles e disse, olhando a filha de Ervígio:
— Pareceis outra, esta manhã!
Ela sorriu-lhe.
— Sou feliz, irmão Gondemaro! E não esquecerei quanto vos devo dessa felicidade.
O monge meneou a cabeça.
— Não canteis hossanas antes de tempo! A tempestade ainda não passou. Há que informar vosso pai da decisão que tomastes e obter o seu perdão. Felicidade é o reflexo da paz nos vossos corações. Sem essa paz, nada fará sentido. Mas ide. Deus vos abençoará! Vou enviar ao rei vosso pai um mensageiro de confiança, pedindo-lhe perdão para vós dois... e para mim, que vos uni na presença de Deus sem o consentimento do rei Ervígio.
O jovem godo sorriu para o monge.
— Quanto vos ficamos devendo! Só Deus poderá pagar-vos!
Eulália olhava agora o estranho habitante do mosteiro com certa ansiedade. Egica depressa deu por essa repentina mudança.
— Que tens, meu amor?
Ela fitou o horizonte distante. A sua voz fraca, de menina, esclareceu num suspiro:
— Meu pai era tão meu amigo! E tudo isto por causa de um guerreiro ambicioso que fingiu amar-me e jurou coisas incríveis... Gostava de saber o que fará meu pai depois de escutar o vosso mensageiro, irmão Gondemaro.
Ele prometeu:
— Irei procurar-vos e far-vos-ei ciente da sua resposta, seja ela qual for. Ide, pois, descansada na paz do Senhor, porque a luz do dia já é clara!
Eulália olhou em volta, como se visse aquele cenário pela primeira vez.
— Como é linda esta serra! Os Romanos chamaram-lhe Monte Medúlio? Pois eu penso que ela mais parece uma enorme agra. Quem a cultiva, irmão Gondemaro?
— Os monges do nosso mosteiro e alguns particulares. Todos aqui trabalham. Esta é uma terra abençoada por Deus!
Egica sorriu, repetindo:
— Serra de Agra! Eis um bom nome, com o qual a baptizo.
O monge sorriu também.
— E julgais que assim ficará chamada a serra, só porque vós assim a denominais?
Egica sentenciou, teimoso, com aquela energia que punha em todas as suas palavras e actos:
— Daqui por diante os nossos filhos só conhecerão esta serra como a de Agra. Os nossos netos falarão dela aos seus netos. E assim por diante, através dos séculos!
No rosto do monge nasceu uma expressão de dúvida. Mas sorriu, incitando:
— Experimentai... se isso vos apraz. Tudo é possível quando Deus quer!
E despedindo-se:
— Adeus, irmão. Que o Senhor vos acompanhe!
Alguns meses passaram. Eulália e Egica continuavam no castelo onde o salvo-conduto do monge Gondemaro os abrigara. Não mais tiveram novas dos soldados de Ervígio. Mas a saudade do lar paterno punha uma secreta mágoa no coração de Eulália, horas esquecidas espreitando, do mirante do castelo, o horizonte mudo, para lá da serra de Agra.
Certo dia, Eulália descobriu um vulto caminhando em direcção ao castelo. Desceu a correr, com o coração batendo tão forte que lhe estremecia a túnica alvíssima.
Chegada à porta larga, abriu-a e viu na sua frente o irmão Gondemaro. Sem hesitar, correu para ele.
— Trazeis-me notícias de meu pai?
Ele sorriu e falou num ar descansado:
— Recebi-as ontem ao anoitecer e pus-me a caminho logo de manhã.
— E que novas me trazeis?
— Vosso pai enviou esta resposta: «Se me derem um neto varão, perdoar-lhes-ei a fuga e a desobediência e nomearei Egica meu sucessor. Se me não derem um neto no prazo de um ano, esquecerei que tive uma filha chamada Eulália!»
A jovem uniu as mãos em muda acção de graças. O seu rosto transfigurou-se quase e a tremura das pernas obrigou-a a sentar-se numa pedra da entrada. Entretanto Egica chegava de um passeio a cavalo e, vendo o monge, correu também para ele.
— Muito me alegro em ver-vos!
Eulália não lhe deu tempo a prosseguir. Precisava exteriorizar a sua felicidade:
— Egica! Meu pai perdoa-nos se lhe dermos um neto dentro de um ano e nomeia-te teu sucessor!
Egica olhou a jovem esposa com enleio.
— Querida! Teremos de pedir a Deus que o filho que esperamos seja um rapaz! Nascerá nesta serra de Agra e será um dia rei dos Visigodos!
Como num eco, o monge ajuntou:
— Que Deus vos oiça!
Eulália voltou a olhar o horizonte, que desta vez parecia mais claro, menos fechado. Egica passou-lhe o braço pelos ombros e beijou-a nos cabelos. Esqueceram por momentos a presença do monge. E quando se lembraram dele, viram-no já, amparado ao seu bordão, a caminho do Mosteiro Máximo.
Eles riram, contentes.
Egica murmurou:
— Pobre velho! Nem sequer lhe agradecemos! E deve ser-lhe difícil, esta viagem a pé.
Eulália encostou a sua linda cabeça ao braço forte do marido.
— Levar-lhe-emos o nosso filhinho logo que nasça, para que ele o abençoe!
Ele acariciou-lhe os cabelos.
— E depois?
Eulália suspirou fundo:
— Depois... depois...
A voz sumiu-se-lhe quase, de emoção:
— Depois... partiremos, de novo, mas desta vez… sem medo de sermos perseguidos pelos soldados do rei Ervígio !
- Gentil Marques, Lendas de Portugal
Medulio. El Norte contra Roma
Um livro de Fernando Lillo Redonet.Medulio. El Norte contra Roma se recrean las guerras de cántabros, astures y galaicos contra el invasor romano y su heroica resistencia final en el mítico monte Medulio. A través del cántabro Laro y del galaico Camalo el lector se sumerge en las costumbres y la civilización del Norte de Hispania. Pero también se presenta la visión romana de la conquista por medio de los recuerdos del joven Décimo Junio Bruto. Dos mundos muy diferentes (o no tanto) que aportan cada uno sus mitos y su forma de ser y que configuraron a partir de entonces las características del Norte. Roma impuso su visión del mundo, ciertamente civilizadora, pero no pudo acabar totalmente con lo que ya existía. Como dice el romano Décimo en la novela: “Nunca podrá la fiera del Norte ser domesticada. Su lugar está fuera de nuestro mundo de orden. Aguardará su momento, permanecerá oculta en el territorio de los sueños, del mito o la leyenda. Vivirá de un modo paralelo para completarnos, para recordarnos otro mundo y decirnos que la razón de Roma puede necesitar de la sinrazón de lo desconocido y lo ajeno.
Recomenda-se
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
O dia do Medulio
Francisco Silveira, em Mapa Breve da Lusitania Antiga, fala de um episódio ocorrido por volta de 22 a.C., em que os galaicos tendo perdido a batalha contra os romanos, preferiram o suicídio à escravatura. Na parte mais alta da Serra, na freguesia de S. Lourenço da Montaria, os agricultores comentavam que, no arado, ainda a terra mostrava o sangue de tais homens, mulheres e crianças.
O día do Medulio
con sangue quente e roxa
mercámo-lo dereito
á libre honrada chouza!
El día del Medulio,
con sangre caliente y roja,
compramos el derecho
a la libre, honrada choza!
- Ramón Cabanillas, En pé!
Contributo
Retratos a óleo de D. Sebastião - Colecções particulares
(Contributo para o "Núcleo de Amigos do Elmo de D. Sebastião")
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Templo de S. João de Longos Vales
Longos Vales terá correspondido na sua origem a parte da paróquia sueva da diocese de Tui, denominada "Lucoparre" ou "Loncoparre".
À instituição visigótica ali existente, sucedeu o mosteiro dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, fundado pelo rei D. Afonso Henriques.
Cerca de 1199, D. Sancho I coutou o mosteiro em sinal de apreço pelos serviços que lhe prestaram o prior D. Pedro Pires e os seus cónegos, construindo à sua custa a torre e fortaleza de Melgaço.
Nas Inquirições de 1258, em que se diz que o rei não detinha o padroado da igreja, encontrava-se enquadrada neste couto a freguesia de Santo André da Torre. Em 1371 D. Pedro confirmou-lhe os privilégios do couto.
Por volta de 1520, o direito de apresentação pertencia ao Papa, estando-lhe anexas Barbeita e Santa Maria de Cales.
Em 1539, Paulo III concedeu o priorado a D. Duarte, filho natural de D. João, que faleceu em 11 de Novembro de 1543.
No registo da avaliação dos benefícios da comarca eclesiástica de Valença do Minho, a que se procedeu entre 1545 e 1549, no arcebispado de D. Manuel de Sousa, Longos Vales tinha como anexa Santa Eugénia de Barbeita.
Em 1551, o mosteiro foi anexado ao Colégio da Companhia de Jesus de Coimbra por bula do Papa Júlio III, tendo-lhe sido anexadas as igrejas de Cambeses, Messegães, Pias e Sago.
Passou então a vigairaria da apresentação deste Colégio até à extinção da Companhia. Os bens passaram depois para a Universidade de Coimbra.
Pertence à Diocese de Viana do Castelo desde 3 de Novembro de 1977.
(fonte: TT)
Enquadramento
Rural, isolado, integração harmónica na periferia da povoação, tendo adossado o edifício do antigo Convento de Longos Vales. Possui amplo adro, parcialmente delimitado por muro em alvenaria de granito, pontuado por árvores de grande porte, envolvido por construções de vocação agrícola, com pavimento em terra batida, com cubo granítico e com lajes de granito a contornar parcialmente as fachadas E. e N. da igreja. No sector N. e NE. do adro, existe uma necrópole de 4 sepulturas escavadas na rocha, de contorno subrectangular e antropomórfico, detectada aquando das obras de demolição da Capela de Santa Catarina, bem como 4 sarcófagos e um conjunto de 8 tampas sepulcrais, monolíticas, 7 planas e uma de duas águas, lisas e algumas insculturadas, sendo uma com cruz florenciada de pé alto, outra em cruz semelhante inserta num círculo e uma terceira com duas espadas e epitáfio, proveniente do pavimento da antiga sacristia. Em frente do portal principal da igreja, ergue-se um cruzeiro.
Descrição
Planta longitudinal, composta por nave única, rectangular, capela-mor, de três tramos, o último semicircular, com torre sineira, quadrangular, e sacristia, rectangular, adossadas à fachada lateral N.. Volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja, de três na sacristia e de quatro na torre sineira. Fachadas em alvenaria de granito aparente, percorridas por embasamento avançado e terminadas em cornija, tendo ainda cruzes latinas de cantaria, sobre plintos paralelepipédicos, coroando os cunhais e no remate das empenas. Fachada principal, orientada a O. e terminada em empena, coroada por cruz decorada com custódia e a data de 1990 inscrita no plinto, com contrafortes nos cunhais, os quais são superiormente salientes e têm consola que suporta as cruzes; é rasgada por portal de verga recta, moldurado, com chave saliente, encimado por frontão triangular, sobrepujado por rosácea circular, com moldura de capialço e orla torada. Fachadas laterais, rasgadas por vãos confrontantes, abrindo-se na nave portal de verga recta, moldurado, de fecho saliente, encimado por cornija, o da fachada S. sublinhado por duas mísulas de suporte de antigo alpendre, e duas janelas rectangulares laterais, com moldura de capialço. A N., a torre sineira, parcialmente integrada na fachada, tem três registos, abrindo-se no segundo frestas a N., E. e O., e no terceiro, sineira de três ventanas, em arco de volta perfeita, albergando duas sinetas de metal; a sacristia é rasgada a O. por portal em arco de volta perfeita, sobre impostas e tímpano liso, e a N. por fresta de topo semicircular, moldura com capialço e enquadrada por arco de volta perfeita. A capela-mor, com aparelho em fiadas pseudo-isódomas, alguns silhares inscritos com siglas alfabéticas, termina em cornija biselada sobre cachorros esculpidos com enrolamentos, figuras antropomórficas e zoomórficas. No 1º tramo, possui contrafortes rectangulares e apresenta, exteriormente, a S., algumas irregularidades na zona de ligação do templo à antiga ala conventual; o 2º tramo, tem adossado quatro colunas, sobre plintos e com capitéis esculpidos com acantos e figuras zoomórficas, bastante volumosos. No pano central rasga-se fresta, esguia e alta, abrindo para o interior, enquadrada por arco de volta perfeita, de três arquivoltas, a segunda enchaquetada e a exterior em toro, sobre colunelos com capitéis esculpidos com elementos fitomórficos e antro e zoomórficos, tendo no tímpano leque de enxaquetado. Na fachada posterior da sacristia, abre-se pequena fresta de perfil curvo. INTERIOR em alvenaria de granito aparente, com pavimento lajeado e tecto em madeira, de perfil curvo, sobre cornija saliente, tendo, centralmente, cartela elipsoidal, com moldura fitomórfica, pintada com a imagem de São João Baptista. Coro-alto assente em arco abatido, em madeira, com guarda em balaustrada de madeira, acedido no lado do Evangelho por porta em arco de volta perfeita, através da torre sineira, e por escada de dois lanços, colocada no lado da Epístola. No sub-coro, com guarda-vento de madeira, tem a ladear o portal, no lado da Epístola, pia de água benta, e, no do Evangelho, baptistério sobrelevado por degrau, cerrado por grade de ferro forjado, com motivos geométricos e vegetalistas, com pia baptismal de aresta boleada e taça decorada com motivos geométricos. Lateralmente, do lado Evangelho, dispõem-se três retábulos, os dois que ladeiam a porta travessa em talha policroma a branco, azul, marmoreados azuis, laranja, rosa e dourado, de planta recta e um eixo, e um em madeira encerada, de planta recta e três eixos, e dois confessionários, articuladas, em madeira; no lado da Epístola, surge um retábulo de talha policroma, de planta recta e um eixo, semelhante ao oposto, dois confessionários, articuladas, em madeira, também iguais, pia de água benta, de rebordo boleado a ladear a porta travessa, e púlpito de bacia semicircular, com molduras escalonadas em toro e escócia, sobre mísula de recorte concheado, e guarda em balaustrada de madeira, sobrepujado por sanefa em talha policroma. No topo da nave, dispõem-se, de ângulos, dois retábulos colaterais, em talha policroma a branco, rosa, azul e dourado, de planta recta e um eixo. Arco triunfal, de volta perfeita, de três arquivoltas, duas delas sobre colunas, as exteriores com friso geométrico a meio, e a exterior do lado da Epístola tendo em baixo relevo a figura de São Pedro, com as chaves penduradas ao peito, de capitéis esculpidos; é encimado por fresta em arco de volta perfeita de três arquivoltas. Capela-mor, sobrelevada por um degrau, lajeada, abrindo-se, do lado do Evangelho, porta em arco quebrado para a sacristia. Cobertura em abóbada de berço nos dois primeiros tramos e em quarto de esfera no terceiro, cada um deles marcado por arcos torais assentes em colunas com unhão e escócia nas bases e de capitéis decorados com acantos e figuras zoomórficas e antropomórficas bastante volumosos.
Descrição Complementar
O cruzeiro do adro apresenta um soco de planta quadrangular, constituído por quatro degraus, sobre o qual assenta plinto paralelepipédico, com as faces de almofadas côncavas insculturadas, cornija e moldurada saliente, encimado por fuste, monolítico de secção circular, estriado, com estrias mais apertadas na metade inferior, sobrepujado por capitel coríntio que suporta cruz latina, moldurada, de secção quadrangular. No interior, a escada do sub-coro de acesso ao coro, é pétrea no primeiro lanço e em madeira no segundo. A pia de água benta do sub-coro, tem taça circular, exteriormente decorada com torçal a meio e motivos tipo cabeças de cravos, sobre pé paralelepipédico. As portas da nave são encimadas por sanefa em talha policroma. Os dois primeiros retábulos laterais, em disposição confrontante, são semelhantes, apresentando planta recta e um eixo definido por duas pilastras pintadas a marmoreados fingidos a azul, assentes em plintos paralelepipédicos decorados com motivo fitomórfico, coroadas por urnas; ao centro, abre-se nicho em arco de volta perfeita, envolvido por motivo festonado, e com voluta pintada na chave, albergando painéis pintados, o do lado do Evangelho dedicado às Almas, tendo superiormente a Santíssima Trindade, e o oposto com flagelação de São Sebastião; ático em espaldar pintado de azul com cartela central entre elementos fitomórficos, sobrepujado por acantos relevados, e terminado em frontão de volutas interrompido por acanto recortado; sotobanco com painel pintado a marmoreado fingido rosa. Altar tipo urna com frontal ornado com elementos vegetalistas. O segundo retábulo lateral do Evangelho, em talha policroma a branco, azul, rosa e dourado, tem planta recta e um eixo, definido por duas colunas de fuste canelado no terço inferior, assentes em plintos paralelepipédicos, decorados com motivos fitomórficos, e de capitéis coríntios, coroados por urnas; ao centro, abre-se nicho, alteado, integrado já na estrutura do ático, em espaldar rectangular, terminado por cornija sobreposta por folha de acanto relevada e de onde parte festão; interiormente, o nicho é pintado de azul com firmamento e possui mísulas com imaginária; sotobanco com apainelados ornados por grinalda, tendo ao centro sacrário tipo templete, terminado em cúpula gomeada e pinha, e porta pintada com pelicano. Altar tipo urna com frontal decorado com motivos vegetalistas. O terceiro retábulo lateral do Evangelho, em madeira envernizada, tem planta recta e três eixos de apainelados sobrepostos por mísulas com imaginária, o central sensivelmente mais avançado e de perfil polilobado ladeado por fragmentos de pilares terminados em pináculos de cogulhos, e os laterais de arco apontado; termina em cornija, formando empena sobre o painel central e recta sobre os laterais, com cogulhos, sendo coroado ao centro por cruz latina. Altar tipo urna, com moldura no frontal. Os retábulos colaterais, semelhantes, têm planta recta e um eixo, definido por duas pilastras com fuste de almofada côncava, pintada de rosa no lado do Evangelho e de azul no da Epístola, sobreposta por elementos fitomórficos, assentes em plintos paralelepipédicos, com face frontal ornada de elementos fitomórficos, suportando o entablamento; ao centro, abre-se nicho de perfil curvo, com chave em acanto e interiormente pintado com firmamento e albergando imaginária sobre mísulas; ático em espaldar, ornado com cartela e elementos vegetalistas, terminado em cornija contracurvada, sobreposta por motivos dourados vazados, e, no alinhamento das pilastras, fogaréus; sotobanco formado por apainelados. Altar tipo urna, com frontal ornado por cartela central de onde partem festões. Sacristia rebocada e caiada, com pavimento lajeado e tecto tipo "saia e camisa", em madeira, possuindo, dois armários encastrados nas paredes e grande arcaz, em castanho.
Época Construção
Séc. XII / XIII / XVI / XVII / XIX / XX
Cronologia
Séc. XII - Fundação do mosteiro no tempo de D. Afonso Henriques pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho;
1197 - D. Sancho I doutou e coutou-a devido aos serviços prestados pelo prior de D. Pedro Pires na causa nacional;
Séc. XII, finais / Séc. XIII, inícios - reconstrução da igreja; posteriormente passou a ser administrada por comendatários;
Séc. XV / XVI - os comendatários usufruíam as rendas e extraviavam-lhe os bens, emprazando-os por diminutos foros;
1540 - vagando a comenda, D. João III deu-a ao Infante D. Duarte, que a possuiu nos 3 anos seguintes antes de morrer;
1548 - a Congregação de Santa Cruz de Coimbra requereu a posse do convento; o cardeal D. Henrique metendo-se de permeio, conseguiu a renúncia do prior Manuel Godinho e anexou-o ao padroado da Companhia de Jesus, do Colégio de Coimbra; da quinta de São Fins, os monges tinham apenas a obrigação de dar para a Companhia o azeite para a lâmpada de alumiar o Santíssimo, dois cabaços de vinho para as missas e dois alqueires de trigo para o pároco;
1551 - Breve do Papa Júlio III confirmando a posse do mosteiro pela Companhia;
1558 - data da construção lateral;
1585 - data inscrita em silhar colocado sobre a rosácea da frontaria;
Séc. XVII - reforma da igreja;
1705 - o vigário recebia 100$000 e o coadjutor 70$000; rendia, juntamente com o de São Fins, 4 mil cruzados;
1758, 6 Maio - segundo as Memórias Paroquiais, a paróquia ficava fora do lugar e junto às casas de residência dos padres da Companhia de Jesus; a igreja, de uma nave, tinha orago de São João Baptista e tinha três altares: o altar-mor, onde estava o Santíssimo Sacramento e as imagens de um Santo Crucifixo muito "bem avultada", a de São João Evangelista e a de Santo Inácio de Loiola, do lado do Evangelho, e a de São Brás e de São Francisco Xavier, no da Epístola; no altar colateral do Evangelho, dedicado a Nossa Senhora, estava a imagem de Nossa Senhora da Purificação, e o colateral da Epístola era dedicado a Santo António; na Igreja não existiam Irmandades; o pároco era vigário anual e tinha coadjutor, ambos apresentados anualmente pelo reverendo superior de São Fins, como procurador do reitor de Coimbra da Companhia de Jesus; a freguesia rendia para o vigário 92$000 e para o coadjutor 30$000 um ano por outro;
1759, 12 Fevereiro - os Padres da Companhia foram presos e enviados para Braga e depois para Lisboa; 3 Setembro - expulsão da Companhia de Jesus, revertendo os seus bens para o erário régio;
1774, 4 Julho - provisão de D. José incorporando todos os bens da extinta Companhia de Jesus no património da Universidade de Coimbra, que assumiu a sua administração; o visitador da Universidade de Coimbra refere que a freguesia era grande, com 496 fogos, tendo uma igreja com residência de Jesuítas, colégio e Quinta; a igreja era grande, de cantaria e bem conservada, com a capela-mor pequena e mais antiga, tendo um retábulo antigo, bem conservado e dourado, com um painel pintado e um Crucifixo; o tecto era de abóbada e o pavimento de cantaria; a nave tinha dois altares toscos, com tábuas mal unidas e com pinturas grosseiras, tendo tecto de madeira de castanho, novo, e pavimento de cantaria; o coro era amplo; para N., tinha uma torre com dois sinos e a sacristia era baixa e escura, mandando-se fazer uma janela; não existiam casas para o pároco, mas existiam umas pequenas para o coadjutor; o Passal pouco rendia; a Universidade recebia os dízimos da freguesia e apresentava o cura, devendo fazer obras em toda a igreja, pagar 10$000 réis de côngrua ao padre e 8$000 a coadjutor e pagar ao arcebispo $714 réis; o visitador mandou levantar a planta do colégio, que tinha um amplo corredor com uma sala, cinco cubículos, refeitório e cozinha, tendo contíguas a abegoaria, dois celeiros grandes, uma adega, armazém de azeite, lagar de vinho e casas para o gado e moços; estava bastante arruinado, sobretudo nas coberturas, deixando o visitador a obra a lanços; a Quinta era constituída por terras de milho, vinha, olivais, carvalhos e castanheiros;
1798 - feitura de quatro confessionários, dois de castanho e dois de pinho;
1834 - a igreja passou a paroquial;
1835, 5 Maio - decreto incorporando nos Bens Próprios Nacionais os bens pertencentes à Universidade de Coimbra, que continuava, no entanto, a usufruir dos seus rendimentos;
1844 - fundição de sino da torre, pelo mestre sineiro de Monção, de sobrenome Santos;
1848, 21 Novembro - decreto delimitando como bens da Universidade de Coimbra apenas os edifícios estritamente necessários para o seu funcionamento, situados em Coimbra;
1900 - data inscrita no acrotério da cruz que remata a empena da frontaria;
1942 - colocação do sacrário, por acção da benemérita Maria Amélia Fernandes;
1954 - colocação do retábulo de Nossa Senhora de Fátima, por acção dos beneméritos Fraternidade Barroso Amorim e Joaquim Amorim.
Tipologia
Arquitectura religiosa, românica, maneirista e neoclássica. Igreja de planta longitudinal composta por nave única, seiscentista, e capela-mor de três tramos, o último semicircular, românica, da 1ª fase do foco do Alto Minho, interiormente cobertas com tecto de madeira e abóbada de berço e quarto de esfera, respectivamente, com torre sineira e sacristia adossada à fachada lateral esquerda. Fachada principal terminada em empena e rasgada por portal de verga recta, moldurado, encimado por frontão triangular, sobrepujado por rosácea circular. Fachadas laterais semelhantes, terminadas em cornija e rasgadas por porta travessa de verga recta, com moldura encimada por cornija, e duas janelas rectangulares, de capialço. Cabeceira com contrafortes e zona semicircular ritmada por colunas com capitéis de decoração fitomórfica, zoomórfica e antropomórfica, terminada em cornija biselada sobre modilhões igualmente esculpidos. No interior, possui coro-alto, púlpito e retábulos de talha policroma neoclássicos e um neogótico.
Características Particulares
Igreja conventual conservando a capela-mor românica, de três tramos interiores marcados por arcos torais e exteriormente apenas com dois, de volumes escalonados, marcados por contraforte no primeiro e o outro por colunas. Segundo Carlos A. F. Almeida, a potência da sua arquitectura, a veemência, volumosa e a exuberância da sua escultura nos cachorros, capitéis, quer exteriores, quer interiores, e bases das colunas, fazem da cabeceira da igreja um dos cumes do românico nacional, constituindo-se um espaço onde há um grande delírio de formas, a que o granito empresta vida especial. As quatro colunas externas da capela-mor apresentam uma iconografia de particular relevância pelo valor iconográfico dos seus capitéis. Segundo o mesmo autor, o capitel historiado com harpa e centauro pronto a disparar o arco retesado é único no nosso românico. Na capela-mor, destaca-se ainda o baixo-relevo representando São Pedro na coluna interior do lado da Epístola, a qual poderá constituir um reaproveitamento e provir do primitivo portal principal. A solução adoptada na organização do templo e na sua altura é a mesma que encontramos em Sanfins de Friestas, com a qual mantém muitas semelhanças também a nível decorativo, tendo, igualmente, grande similitude com a Igreja de Tominho, na Galiza, na esteira da sua matriz galega. O corpo da igreja, reformado no Séc. XVII, apresenta grande sobriedade nos vãos, sendo o portal da fachada principal encimado por frontão triangular e os das fachadas laterais por cornija recta. A torre sineira deverá ser de construção medieval, dado o tipo de fenestração. A pia de água benta junto ao portal axial, de pé, e a pia baptismal deverão datar do Séc. XVI, realçando-se ainda a bacia do púlpito, circular com base côncava formando concheado, colocado no lado da Epístola. Nos retábulos, muito repintados e transformados, destacam-se os painéis com representação das Almas e o martírio de São Sebastião. No adro existem sepulturas escavadas na rocha, de contorno subrectangular e antropomórfico, sarcófagos e tampas sepulcrais, algumas insculturadas, medievais.
Materiais
Estrutura em cantaria de granito aparente; paredes interiores da sacristia rebocadas e pintadas; coro-alto, guarda do púlpito, 2º lance de escadas para o coro, portas e caixilharia em madeira; 1º lance de escadas para o coro, bacia do púlpito em cantaria de granito; retábulos em talha policroma e em madeira envernizada; confessionários em madeira envernizada; janelas com grades de ferro e vidros simples; pavimentos em lajes graníticas e soalhado; tecto de madeira na nave e sacristia e cobertura em abóbada pétrea na capela-mor; sinetas de metal; cruzeiro em granito; cobertura de telha.
(fonte: IHRU)
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Thomar e a maravilhosa solidariedade humana
Com o Coração cheio de uma maravilhosa esperança nesta nova humanidade.
O ciclone foi 'altamente' selectivo. Num mesmo sítio foi capaz de arrancar pela raiz uma determinada árvore, e ao lado dela em nada tocar.
Foram 55 segundos que alteraram "o curso do rio".
Uma das amadas figueiras, já não é.
Os 3 ciprestes junto da Casa do Capítulo, já não são.
No Capítulo de D. Manuel, uma selectiva parte dos vitrais esquerdos, partiram.
No Castelo tudo bem.
No Oratório tudo bem.
Na "Horta", uma pequena queda do muro para a Mata, com queda de árvores de fora para dentro.
Mais as laranjeiras fortemente espanadas, e as árvores de acesso à "Horta", partidas. Já estão a ser removidas com todo o respeito e cuidado.
Na estrada para o Conjunto, várias árvores partidas e esgaçadas; a maior parte já foi serrada para não causar ainda mais incómodos à passagem.
A solidariedade fez-se e faz-se sentir, e o empenho e boa vontade do quadro de pessoal do Conjunto Imemorial mostrou-se à altura dos acontecimentos.
Depois da tempestade, vem a bonança; e vem também, a limpeza, e a delicada tarefa da remoção das árvores de grande porte caídas em locais sensíveis.
A Mata foi a mais combalida; encontra-se interdita devido à queda de muitas árvores - umas partidas, as outras arrancadas pela raiz.
O som das motoserras varre os dias numa intensa e esforçada tentativa de limpeza (estava a necessitar, sim).
Em Santa Maria está tudo bem.
Em São João Baptista está tudo bem.
Na cidade e seus termos, vinga e vigora a solidariedade e a inter-ajuda; a prática e a concretização de mãos dadas.
Uma imagem bela ... Será que a imaginação imaginaria tanto? ... Ei-la aí, como prova e penhor de um mundo melhor.
A mudança, qual rio, inicia-se com uma gota, e que gota ...
A União faz a Força.
Uma linda lição de Vida.
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos desuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço…
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
- Miguel Torga, A Beleza
domingo, 12 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Gil Vicente: o dramaturgo, e, o ourives
Manteve sempre uma forte ligação a Tomar, na medida em que na sua qualidade de ourives, foi fiscal de todas as obras de ouro e prata do Convento de Cristo, nomeado por D. Manuel. Esta peça, pode ser o resultado da sua capacidade de ourives (recorde-se que Gil Vicente nasceu na região da ourivesaria por excelência; a filigrana portuguesa).
Foi no Convento de Cristo, e perante D. João III, que levou à cena pela primeira vez a Farsa de Inês Pereira.
A peça teatral contaria as aventuras de uma tomarense do século XVI, tão bonita quanto cabeça de vento. Tinha dois namorados: um, sério e trabalhador, mas calado e antiquado; e o outro, um doidivanas, mas bom dançarino e cantor.
Inês acabou por escolher o mais divertido para casar-se. Contudo, o dançarino era muito ciumento e violento; batia-lhe e fechava-a a sete chaves. A pobre Inês pensava ter desposado uma festa contínua, e acabou trancafiada.
Valeu-lhe que o marido era escudeiro, e que acabou por ter de partir para a guerra no norte de África, onde acabou por morreu em combate contra os mouros.
Inês Pereira tornou-se o modelo da víuva alegre, e não tardou a casar-se com o seu primeiro pretendente.
Já tinha a sua cota parte de ciúmes e sovas.
Soía dizer: "Antes quero asno que me leve, do que cavalo que me derrube."
O Guardião de Azinhoso
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Subscrevo na íntegra
Mosteiro de Leça do Balio - Comenda Templária.
Um comentário:
Não é exemplo único da 'usurpação da propriedade' da Ordem do Templo em Portugal, infelizmente é um facto 'corriqueiro' na História deste País, mas aquilo que deveras tolhe é a falta de Honra e Dignidade por parte dos beneficiários dessa usurpação na não reposição da verdade ....
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Anão e servos, menestrel e bardos,
o árabe narrador e as bailarinas
desertaram das salas do banquete.
Haydea e seu amante, a sós, estavam,
vendo o sol que em desmaio no ocidente
bordava o céu de franjas cor-de-rosa.
Ave-Maria! estrela do viandante,
tu conduzes ao pouso o peregrino
que anda, longe dos seus, na terra estranha.
Salve, estrela do mar; em ti se fitam
olhos e coração do marinheiro
que no oceano te saúda agora.
Salve, rainha excelsa, Ave-Maria!
Ei-la que chega a hora do teu culto,
à tardinha, em céu meigo, à luz do ocaso!
Bendita seja est'hora tão querida,
e o tempo, e o clima, e os sítios suspirados,
onde eu gozava na manhã da vida
o enlevo, - o santo enlevo, - deste instante!
Soava ao longe, - bem me lembro ainda, -
na velha torre o sino do mosteiro;
subia ao céu em notas morredouras
o harmonioso cântico da tarde;
era tudo silêncio, - e só se ouvia
a natureza a suspirar seus hinos
de arroubo e fé, - de devoção e pasmo.
Hora do coração, do amor, das preces,
Salve, Maria. Enlevo a ti minha alma,
Como é formoso o oval de teu semblante!
Amo teu rosto feiticeiro e belo,
amo o doce recato de teus olhos,
que se cravam na terra, enquanto adejam
sobre tua puríssima cabeça
cândidas asas de celeste anúncio!
Será isto um painel da fantasia?
Um quadro, um canto, uma legenda, um sonho?
Não! somente me prostro ante a verdade.
Aprazem-se uns obscuros casuístas
em criminar-me de ímpio. - Eles que venham
ajoelhar-se e suplicar comigo...
Veremos qual de nós melhor conhece
o caminho do céu. - São meus altares
as montanhas, as vagas do oceano,
a terra, o ar, os astros, o universo,
tudo o que emana da sublime Essência,
de onde exalou-se, e aonde irá minh'alma.
Hora doce do trêmulo crepúsculo!
quantas vezes errante, junto à praia,
na solidão dos bosques de Ravena,
que se alastram por onde antigamente
flutuavam as ondas do Adriático,
Bosques frondosos, para mim sagrados
pelos graciosos contos do Boccácio,
pelos versos de Dryden; - quantas vezes
aí cismei aos arrebóis da tarde!
Tudo o que há de mais grato, a ti devemos,
oh Héspero: - ao romeiro fatigado
dás a hospedagem: - a cansado obreiro,
a refeição da tarde; - ao passarinho,
a asa da mãe; - ao boi, o aprisco:
toda a paz que se goza em torno aos lares,
o quente, o meigo aninho dos penates,
descem contigo à hora do repouso,
tu coas n'alma o doce da saudade;
moves o coração, que a vez primeira
sai da terra natal, deixa os amigos,
e anda à mercê das ondas do oceano:
enterneces, enfim, o peregrino
ao som da torre, cuja voz sentida
como que chora o dia moribundo.
- Lord Byron