O portal de Bravães é, no contexto da arte românica portuguesa, o mais eloquente testemunho de portal como Porta do Céu ou como Porta da Salvação.
Nesse sentido, o tímpano mostra uma Maiestas Domini, ou seja, Cristo na Glória do Céu, dentro de mandorla segura por dois personagens.
Numa das arquivoltas figura-se o apostolado e, no seu seguimento, há duas estátuas-coluna onde se representa a Anunciação.
No fuste da esquerda está representada a Nossa Senhora com a mão esquerda sobre o ventre o que, iconograficamente, se reporta a Nossa Senhora do Ó (ou Santa Maria de Ante-Natal), motivo muito glosado na escultura medieval hispânica. No fuste que fica à direita do observador está representado o Anjo São Gabriel, com barba.
A estes elementos associam-se fustes onde se enroscam serpentes, outros por onde sobem quadrúpedes e ainda outros com aves tratadas à maneira de aduelas, constituindo todo este conjunto uma Porta da Salvação simbolizada pela Anunciação.
Enquanto que a cabeceira aparenta ser a parte mais antiga da igreja, sendo datável de meados do século XII, o portal deve ser enquadrado em data pouco anterior aos meados do século XIII.
Ele apresenta elementos decorativos nos capitéis que se aproximam de modelos derivados da Sé de Braga.
(fonte: Rota do Românico)
Enquadramento
Rural. Implanta-se numa zona plana do vale do Lima junto à estrada Ponte da Barca - Ponte de Lima, e tendo o adro envolvido por muro de pedra.
A S., por detrás da capela-mor, estrutura com sineira. Algumas construções dispõem-se nas redondezas.
Descrição
Planta longitudinal, composta por nave única e capela-mor rectangular, mais baixa e estreita, com sacristia anexa a N. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas.
Fachada principal orientada terminada em empena, portal aberto em alfiz, constituído por 4 colunas com capitéis apoiando arquivoltas, todos profusamente decorados. Imposta corrida e de feição zoomórfica sobre a porta.
Tímpano com Cristo em mandorla segura por 2 anjos. Fachadas laterais com cornija (enxaquetada na capela-mor) sobre cachorrada lisa, geométrica ou historiada. A S. portal de arco quebrado sobre pé-direito com impostas zoomórficas e Agnus Dei no tímpano; dupla arquivolta decorada por filete perlado e bosantes. Encima-o e ladeia-o friso de apoio a telhados das antigas dependências conventuais. A N. portal também de arco quebrado sobre pés-direitos e ombreira exterior com folhas; tímpano com cruz e 2 animais.
No INTERIOR, nave corrida por friso enxaquetado, com quatro frestas ladeadas por colunas com capitéis e impostas decoradas por motivos vegetalistas e geométricos apoiando arcos plenos.
Sobre o pórtico axial dupla arquivolta e tímpano com nó de Salomão, encimado por vão cego, possivelmente uma fresta.
Cobertura em madeira.
Arco triunfal decorado por friso com leões e folhas, colunas com capitéis e imposta corrida esculpida; bases com gripos.
É ladeado por dois frescos representando Martírio de São Sebastião e a Virgem, de pé, com o Menino nos braços.
Encima-o rosácea esculpida. Capela-mor percorrida por friso enxaquetado, com três frestas e cobertura de madeira.
Descrição Complementar
As colunas do portal axial são decoradas com macacos, figuras humanas, interpretadas como a Virgem e o anjo Gabriel, serpentes enlaçadas e águias com bicos numa cornucópia.
Os capitéis são vegetalistas ou zoomórficos. A 1ª arquivolta tem rosetas e anéis, a 2ª macacos, a 3ª misólitos e figuras humanas, a 4ª torsa e a 5ª enxaquetado e boleado.
As pinturas murais com representação do Martírio de São Sebastião, com 171 de altura e 140 de largura, do Lava-pés, com 215.5 cm de altura e 172.5 cm de largura, da Deposição no túmulo, com 216 cm de altura e 119 cm de largura, da Descida da cruz, com 216 cm de altura e 180 cm de largura, e da Sagrada Família, com 150.5 cm de altura e 130.7 de largura, datados de entre 1540 - 1550, e a do Salvador, com 172 cm de altura e 67.5 de largura, de cerca de 1500, foram transferidos para o Museu Alberto Sampaio, em Guimarães.
Cronologia
1080 - Data apontada por alguns autores para a sua fundação;
1140 / 1141 - o seu prior Egeas figura como notário na carta de couto passada por D. Afonso Henriques a favor do mosteiro de Vila Nova de Muia, o que mostra que o mosteiro já gozava de certo prestígio;
1180, antes de 28 Julho - segundo Avelino de Jesus da Costa, deve ter sido coutado por D. Afonso Henriques;
1258 - declara-se nas Inquirições que Bravães é Couto e que ouviram dizer que D. Afonso Henriques o dera a D. Pelágio Velasquez;
Séc. XIII, finais - segundo inscrição, prior D. Rogrigo manda construir torre no lado N.;
Séc. XIV - Comenda de Bravães transita da Ordem dos Templários para a de Cristo, que ali se manteve até o 1º quartel do Séc. XV;
1420 - por Breve de D. Martinho V, o mosteiro foi secularizado pelo arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra, que ali fundou uma reitoria vulgar;
1434, 12 Fevereiro - mosteiro reduzido a igreja paroquial;
1500, cerca - execução da pintura mural com representação do Salvador;
1540 - 1550, entre - execução das pinturas murais, com representação do Martírio de São Sebastião;
Séc. XV, último quartel - provável entaipamento da fresta testeira da capela-mor e execução de composição pictórica com imagens do orago, bem como pinturas na nave;
Séc. XVI - pinturas em forma de tríptico sobre as já existentes na capela-mor e outras sobre as da nave; 1535 - provável pintura dos grotescos à romana, semelhantes aos de Nossa Senhora da Azinheira, em Outeiro Seco;
1639 - natural da terra anexa à capela-mor capela particular;
1755, 27 Novembro - escritura de contrato da obra de madeiramento da igreja feita por Francisco Vieira Pinto, homem de negócios, morador em Lisboa e procurador meirinho do reino e o carpinteiro Tomás de Araújo, morador em Ponte da Barca, e Jerónimo da Costa, morador no lugar do Pedreiro, freguesia de Bravães, por 147$000; o ajuste incluía os telhados da igreja, escadas de acesso ao coro, forro do coro e de todo o corpo da igreja, usando madeira de castanho; a pintura do forro do tecto da igreja era da obrigação dos carpinteiros;
1843, 12 Janeiro - requerimento da Junta da Paróquia de Bravães, acompanhando um orçamento destinado às obras da igreja da freguesia.
Tipologia
Arquitectura religiosa, românica.
Igreja rural da 2ª fase do românico português, que adopta, entre outros elementos, cabeceira quadrangular e portais mais profundos; insere-se na 1ª fase do românico do Alto Minho e, pela sua decoração, nas construções típicas da Ribeira Lima, exceptuando-se a decoração do arco triunfal que, segundo Lourenço Alves, é inspirada no foco bracarense.
Características Particulares
Ao contrário do que acontece normalmente no românico da Ribeira Lima, aqui os cachorros têm pouca decoração.
O portal é talvez o melhor exemplo de um portal retábulo, "porta da salvação" ou "porta do céu". A sua leitura simbólica continua bastante incipiente e falha. Para além dos elementos vegetalistas e geométricos, é notório uma certa preocupação catequista, elucidando os fiéis sobre as virtudes e os vícios *1.
Os capitéis têm temas tradicionais e o tímpano é 1 dos 4 do Alto Minho onde surge o tema do Cristo em Magestade, em mandorla. Como outras igrejas do Norte, este pórtico tem duplo tímpano tendo o do interior decoração semelhante ao da fachada N., onde as folhas da arquivolta se repetem no arco triunfal e suporte. O Agnus Dei do tímpano S. é também um tema muito frequente. Os frescos devem ser do séc. 14 e, segundo Jaime Catarino, possuem muitas semelhanças com os de Castro Marim e os de Penacova.
Observações
*1 - Caso da astúcia, pelo macaco, o pecado original ou a volúpia pelas serpentes, a graça inesgotável pelas águias com os bicos em cornocópias de flores, a universalidade da redenção do homem pelas figuras da arquivolta que, contudo, são interpretadas por outros autores como sendo os Apóstolos. De leitura problemática são também as 2 figuras hieráticas e sem módulo das colunas, normalmente tidas como a Virgem e anjo Gabriel na cena da "Anunciação", mas que Lourenço Alves interpreta como 2 monges.
*2 - Do antigo mosteiro de Bravães resta apenas a igreja, ao que parece reconstruída na 1ª metade do séc. 13 com granito mais áspero e duro, em dente de cavalo, como se vê na cabeceira e na parte superior da nave, mas utilizando elementos da construção anterior.
*3 - O frontespício devia ser fenestrado, possivelmente por uma fresta de que ainda vemos vestígios no interior. *4 - A Câmara Municipal de Ponte da Barca estuda, neste momento, a hipótese de criação de um núcleo museológico, junto à igreja, onde seriam integrados, eventualmente, alguns frescos retirados do imóvel e que, presentemente, se encontram no Museu Nacional de Arte Antiga.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
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