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Este monumento, cuja construção terá sido feita entre os séculos X e XIV, caracteriza-se por uma organização planimétrica simples e pela escassez de elementos decorativos. Apresenta uma planta longitudinal composta de nave única e capela-mor quadrangular irregular. A fachada principal é coroada por um campanário de sineira única típico do período Românico Tardio.
Os painéis pintados a fresco no interior da capela, e restaurados em 1999, datam da primeira metade do século XVI.
Tratando-se do imóvel arquitectónico mais antigo do concelho, esta capela deparou-se com a necessidade urgente de obras de recuperação. Para dignificar o templo e permitir o usufruto do espaço onde se situa, a Câmara Municipal realizou, ainda, arranjos urbanísticos e beneficiou o acesso à Capela de S. Pedro de Varais.
Esta capela fica na Freguesia de Vile, bem no centro do Vale do Âncora, está situada numa área montanhosa dos contrafortes da Serra D`Arga e é desconhecida a data da sua construção, apontando-se como mais provável o final do séc. XII e o início do séc. XIII, sendo certo que já é referida numa Bula de 1320 do Papa João XXII, que concede a D. Dinis por três anos e para ajuda da guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas dos seus reinos, com excepção das igrejas, comendas e benefícios, que pertencessem à Ordem de Malta. Nessa Bula datada de Avinhão, a 23 de Maio de 1320, lá vem taxada em 180 libras a igreja de S. Pedro de Varais, ligada ao Bispado de Tui.
A Capela de S. Pedro de Varais, apesar das suas pequenas dimensões, é um monumento românico de perfeita arquitectura e rara beleza. Diz a tradição tratar-se de um Mosteiro antigo e a sua situação assim o parece indicar pois, se não fora o destino cenobítico e o caracter procurado, de eremita, para o tempo, não se teria erguido tal igreja no seio de um monte difícil de subir de ambas as partes, tanto de Vile, como de Azevedo.
(fonte: Câmara M. de Caminha)
Enquadramento
Rural, isolada, destacada em plataforma, na vertente de 2 montes escarpados, conhecido por "monte do cão vermelho", nos contrafortes da Serra de Arga. Ergue-se num adro lajeado e com "solo-cimento", acedido por rampas laterais para peões e com zona de parqueamento em terra vegetal. Fronteiro possui eucaliptos.
Descrição
Planta longitudinal composta de nave única e capela-mor quadrangular irregular. Coberturas escalonadas com telhados de 2 águas. Frontispício orientado, terminado em empena truncada por sineira, de arco pleno e rematada em empena. Portal de arco quebrado, com duas aduelas sobre imposta saliente, assente em pés direitos e tímpano com cruz hasteada ladeada por dois sinos - saimões dentro de círculos; encima-o rosácea. Fachadas laterais iguais, com pórtico de arco quebrado, de duas aduelas sobre pés-direitos e tímpano com cruz hasteada, enquadrado por duas frestas capialçadas para fora, à excepção de uma na fachada N., e com moldura curva superior. Sob as frestas, surgem dois ou três cachorros dispostos regularmente. Cornija biselada assente sobre modilhões lisos ou de motivos geométricos. INTERIOR rebocado, com as frestas capialçadas para dentro com moldura curva superior. Pavimento de lajes graníticas irregulares e tecto com forro de madeira. No lado da Epístola, arcosólio de arco quebrado chanfrado, mas já sem tampa. Arco triunfal, quebrado, sobre impostas salientes e encimado por pequena fresta entaipada. É envolvido por pinturas a fresco, desenvolvidas em três registos, separados por friso ocre liso traçado a terra sienna de traçado livre sem preocupação de esquadria. No primeiro registo figura o Martírio de São Sebastião, no segundo um monge inserido numa edícula, segurando um livro e uma cruz, e no terceiro três cenas separadas por friso: na primeira figura Cristo morto no regaço da Virgem, tendo São João à esquerda e Maria Madalena enxugando as lágrimas, à direita; na segundo, ao centro, figura uma imagem muito incompleta e ainda por identificar; e na do lado esquerdo ilegível. Mesa de altar colateral, no lado da Epístola, em pedra, com o pano lateral pintado com motivos geométricos. O intradorso do arco é pintado com motivos decorativos variados, de forma geométrica. Capela-mor com duas frestas capialçadas para o interior e arcosólio sem tampa no lado do Evangelho; na parede testeira, pinturas a fresco, enquadradas por frisos geométricos e vegetalistas separadores; uma outra cena existe à volta da fresta sobre o arco triunfal. Retábulo-mor em pedra, com embutidos de várias cores, de nicho entre pilastras e arquivoltas a pleno centro, sobrepostas por raios e mitra papal com chaves - símbolo do Apóstolo Pedro. Mesa de altar também em pedra, com sebastos, sanefa e pano central destacados.
Época Construção
Séc. XIII (conjectural) / XVI / XVIII
Cronologia
Séc. X / XII - Provável construção de uma ermida alto-medieval, de que a metade inferior da capela-mor parecem ser os restos subsistentes;
1128 - documentos anteriores, referem-na como simples ermida pertencente ao Convento Vitoriano das Donas;
Séc. XII / XIII - provável reconstrução ou ampliação da capela;
1258 - referida nas Inquirições; 1320, 23 Maio - Papa João XXII concede Bula a D. Dinis, por 3 anos, para ajudar na guerra contra os mouros, através da décima de todas as rendas eclesiásticas do seu reino, com excepção das igrejas, comendas e benefícios pertencentes à Ordem de Malta, onde se incluia a capela de São Pedro de Varais;
Séc. XIII / XIV - reconstrução;
1321 - o censual do cabido de Tui para o Arcediago da Terra da Vinha atribui-lhe o rendimento de 1 quarteiro de trigo e 1 libra de cera;
1551 / 1581 - O censual de Fr. Baltasar Limpo dá conta dos seus benefícios, metade na posse do mosteiro de São Salvador da Torre e outra metade na mão de senhores leigos. Refere também a confirmação duma doação do padroado ao Marquês de Vila Real por estes Senhores, feita pelo Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa;
1640 / 1641 - as povoações de Vile e Azevedo, até ali congregadas numa só freguesia e tendo-a por matriz comum, desmembraram-se noutras freguesias, cada 1 delas procurando ter matriz própria; os párocos de Vile, não se contentando apenas com a sua nova igreja de São Sebastião, obtiveram direito à posse da antiga matriz, a ponto de irem ali anualmente dizer missa no dia de São Pedro; posteriormente, os de Azevedo obrigaram à sua cedência, integrando-a na interparoquial Confraria de Santo Isidoro;
1748 - data do altar-mor;
1758 - Memórias Paroquiais referem-na já na dependência do Mosteiro de Tibães, que supria o necessário à fábrica da igreja;
1850 - reparação pela confraria de Santo Isidoro;
1995 - assinatura de protocolo entre a Região de Turismo do Alto Minho, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, a Direcção-Geral do Património e o Fundo de Turismo para recuperação, beneficiação e criação de um itenerário de visitas integradas das igrejas românicas da bacia do Alto Minho;
1997 - durante os trabalhos arqueológicos, pôs-se a descoberto, fronteiro à fachada principal, o afloramento rochoso com diversos recortes artificiais, vestígiois de afeiçoamento da rocha para receber uma estrutura, possivelmente de um alpendre; perpendicularmente ao cunhal SE. da nave identificou-se parte de um alicerce, que poderá corresponder a restos de um simples anexo ou de uma ala de um edifício mais complexo;
1998, final - lançamento público do Itinerário Românico da Ribeira Minho.
Tipologia
Arquitectura religiosa, românica. Capela rural, de planta longitudinal composta por uma só nave e cpaela-mor, mais baixa e estreita, construída num românico tardio, como atestam os portais de arco já muito quebrado. Intrega-se na 2ª fase do Românico Português e, mais concretamente, na 2ª fase do foco do Alto Minho. O arcosólio parece datar do séc. 14, época em que provavelmente sofreu algumas modificações, denotáveis na diferença de frestas e na rosácea do frontispício. Interior com cobertura de madeira, pinturas a fresco do séc. 16 na nave, envolvendo o arco triunfal, e na capela-mor. O retábulo-mor é barroco, de estilo nacional.
Características Particulares
Incluída no Itenerário do Românico da Ribeira Minho.
Caracteriza-se pela sua simplicidade, quase sem decoração, a qual reserva exclusivamente para os tímpanos, com grafitos de valor apotropaico, e para os modilhões, quase todos rudes e arcaicos, embora os da capela-mor, ainda que lisos, acusem um maior cuidado. Planimetricamente o eixo central da capela-mor desvia-se cerca de 10º para S. do eixo longitudinal da nave, sem qualquer razão de ordem topográfica.
O facto do aparelho apresentar diferenças construtivas entre a nave e a metade inferior da capela-mor, os entablamentos serem mais cuidados e com cachorros na capela-mor e mais irregular e com cachorros grosseiros na nave, as diferentes modinaturas das frrestas, umas simples e capialçadas para o interior, e outras serem mais elaboradas, com fecho moldurado e capialçadas para o exterior, mas claramente rasgadas em fase posterior às primeiras, indiciam diferentes épocas construtivas.
Possui pinturas murais do Séc. XVI na nave, envolvendo o arco triunfal e organizando-se em três registos com várias imagens enquadradas por frisos, e na capela-mor. As pinturas do primeirro registo na nave utilizam mais recursos cromáticos o que, juntamente com a análise estilística, leva a crer serem posteriores às restantes. O friso lembra as pinturas da Igreja de Midões, datadas de 1536 e assinadas por Arnaus, embora esta seja de melhor execução.
Observações
Segundo a tradição, foi inicialmente uma igreja conventual, contudo nem os documentos fazem qualquer alusão ao facto, nem os vestígios materiais são suficientes para atestá-lo. Os cachorros dispostos nas duas fachadas laterais serviriam para suporte de alpendre, como era comum na época. Durante os desaterros no adro, afloraram à superficíe algumas ruínas, designadamente partes de sepulturas nas proximidades do portal lateral S., o alicerce de uma parede e entalhes escavados na rocha. O alicerce, descoberto perpendicularmente ao cunhal SE. da nave, é constituído por alvenaria de blocos graníticos de várias dimensões, toscamente afeiçoados e alinhados em duas fiadas paralelas. Sobre ele elevar-se-ia uma parede com 90 cm de espessura, como revelam as marcas do seu arranque no cunhal da nave. Aí são visíveis os silhares partidos que "engatavam" na parede da igreja denunciando uma contemporaneidade construtiva dos vestígios, que poderão corresponder a restos de um anexo ou da ala de um edifício mais complexo. Frente à fachada principal identificaram-se diversos recortes artificiais na rocha, de planta quadrada, paralelamente à parede, inflectindo em ângulo recto para esta fachada no topo N. Este embasamento poderá ter pertencido a um alpendre / pórtico, que antecederia a estrada. Segundo os autores do artigo "Capela de São Pedro de Varais" in "Monumentos" nº 13 ( p. 140 ) a diferença de aparelho entre a nave e a metade inferior da capela-mor, das cornijas e cachorros e das frestas poderão ser justificadas por três fases construtivas distintas; 1) Séc. X a XII - como ermida alto-medieval, de que a metade inferior da capela-mor parece ser o resto subsistente; 2) Séc. XII - XIII - reconstrução / ampliação românica; Séc. XIII - XIV - reconstrução gótica. As pinturas a fresco foram realizadas com pigmentos minerais de terras vermelhas, ocres, ocres amarelos naturais, vermelhão e negro. Os rebocos são constituídos por cal e areia fina e com muitas partículas de origem marítima como crustáceos. São compactados e finos não tendo havido preocupação de nivelamento exaustivo da superfície.
4 comentários:
... dos mesmos construtores.
Pena que desde o século original estes monumentos tenham sido significativamente alterados.
A rosácea, por exemplo. A antiga tinha um pentagrama invertido.
Um abraço
Percebe-se o traço.
Infelizmente houve muita deturpação dos monumentos originais, a mensagem que inscreviam não agradava, e por tal trataram de a deturpar e adulterar para servir os fins que entendiam. Veja-se o Selo de Santa Maria, andaram com escopro, mas ainda assim não conseguiram o que queriam ... "é a vida"!
Já quanto ao Selo invertido, não sou favorável à sua inversão, nem de outros Selos, muito menos deste.
Beijos
Imagina, visto de cima, um anjo de braços abertos, com as asas semi-recolhidas, de pés juntos e a olhar para baixo (para o mundo).
Aí tens o pentagrama invertido.
Amiga, o que tu desconheces!
"Muito esquece a quem não sabe"
Agradeço a tua disponibilidade; obrigada.
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