terça-feira, 15 de março de 2011

Castelo Rodrigo


O Castelo de Castelo Rodrigo, designado como:

Muralhas do Castelo e Palácio de Cristóvão de Moura

Arquitectura militar e arquitectura residencial, medieval, manuelina e maneirista. Cerca de dupla muralha escalonada com cubelos e torreões ligada ao castelo, de montanha, de planta irregular, composto por castelejo e barbacã marcados por cubelos semi-circulares e torres de planta rectangular e portas em arco quebrado e pleno, com afinidades tipológicas com o castelo de Castelo Melhor. A alcáçova foi reaproveitada para Paço residencial do alcaide-mor, remodelado no período maneirista, arruinado, subsistindo algumas estruturas com pátio rectangular central, de onde parte corredor, distribuidor dos vários compartimentos. Fachadas interiores com vestígios de lançamento de vários pisos. Piso inferior com cisternas rectangulares.

Descrição
Recinto muralhado incompleto, de traçado irregular de configuração ovalada, envolvendo a povoação. Os troços de muralha existentes apresentam construções adossadas, à excepção dos lados N. e E.. A O. e S. existem cubelos ou torreões, de planta circular, observando-se quatro ainda erguidos, mas com os topos desmoronados, observando-se os anéis que os constituíam. No lado E., existe saliência quadrangular e, no lado N., uma torre de planta quadrada, parcialmente desmoronada. Subsistem três portas: a Porta do Sol, voltada a E., em arco quebrado provida de abóbada de berço quebrado, conservando os gonzos de cantaria; a Porta da Alverca, virada a N., em arco pleno e possuindo abóbada de berço e a Porta da Traição em arco quebrado, sendo o seu acesso feito a partir do Palácio, comunicando com pano de muralha envolvente, que compreende outra porta em arco quebrado e acesso a galeria subterrânea. No interior do recinto uma cisterna de planta rectangular irregular, sem cobertura, tendo a fachada N. cega e rematada por cornija, a O. possui três degraus no embasamento e é rasgada por duas portas, uma em arco quebrado e outra em arco de ferradura, que dá passagem a sequência de sessenta e três degraus de acesso ao interior da cisterna, de 13 m. de profundidade, segundo inscrição. O PALÁCIO de Cristóvão de Moura corresponde ao castelejo ou alcáçova, rodeado por panos de muralha a E. e a O., integrando este último seteiras cruciformes e, no ângulo SO., um cubelo de planta circular, encimado por torre sineira de registo único com quatro vãos em arco pleno. No lado E., um pano de muralha anexa a torreão semicircular em cantaria, de planta rectangular irregular e sem cobertura. A fachada N. é cega no primeiro registo, sendo o segundo rasgado por três janelões. A fachada O. tem, no primeiro registo, duas seteiras em arco pleno e, no segundo, vestígios do arranque de janelão. A S. duas torres de planta quadrada, que enquadram a porta principal, em arco abatido, de que apenas resta parte da moldura, com o remate das pilastras laterais, delimitando almofadas oblíquas e pedra de armas com brasão real invertido, encimado por frontão angular coroado por pináculo. Sobre este um arco pleno entaipado. Fachada E. apresenta, no primeiro registo, a Porta da Traição e, no segundo, três janelões e dois vãos abertos a toda a altura do pé-direito. INTERIOR: grande compartimento ou pátio rectangular central que comunica com as várias dependências, de que apenas se conservam parte das estruturas. Na ala E., lanço de escadas e sete compartimentos, surgindo, na O., quatro compartimentos. Um corredor longitudinal dá acesso à ala N.. Possui piso abaixo do nível do solo, integrando cisternas.

Enquadramento
Urbano. Constituem um cabeço fortificado destacado, a c. 821 m. de altitude, envolvendo a povoação, situada a O. da Serra da Marofa e da Serra da Vieira, englobando o núcleo urbano, circundadas por vasta área rural. Domina o extenso território de planalto, cujo arroteamento foi encabeçado pela comunidade monástica de Santa Maria de Aguiar, sediada a NE., abaixo do núcleo muralhado.

Época Construção
Séc. XII / XIII (conjectural) / XVI / XVII / XX

Cronologia
Séc. IV a.C. - segundo a tradição, os Túrdulos estabelecem-se no território;
Séc. I / IV - romanização do território de Castelo Rodrigo, confirmado por achados arqueológicos;
Séc. VIII / XI - provável construção de uma muralha com cubelos;
Séc. XII, início - Primeira edificação da fortaleza;
1129, 4 Agosto - notícia de um Conde Rodrigo Martim, senhor da terra de Aquilar e de outras povoações no reino de Leão;
1147 - a carta de couto concedida por D. Afonso Henriques a Santa Maria de Aguiar menciona Castelo Rodrigo;
1181 - documento que menciona o brasão de armas da povoação contendo um castelo assente em rochedo com um rio em face e uma águia de asas estendidas pousada na torre; 1209, 12 Setembro - concessão de carta de foral por D. Afonso IX de Leão;
1208 / 1210 - construção de muralhas;
1215, 1217 e 1230 - Afonso IX de Leão visita Castelo Rodrigo;
1252 - D. Afonso III, rei de Portugal, invade Ribacôa, conquistando grande parte do território, principalmente na região de Castelo Mendo e de Castelo Rodrigo;
1289 - O infante D. Pedro, filho de Afonso X de Castela, é donatário da povoação; 1297, 12 Setembro - com o Tratado de Alcanices, Castelo Rodrigo é incorporado no reino de Portugal;
Séc. XIV - D. Dinis ordena a reedificação da fortaleza e da cerca muralhada, com a construção de 13 torreões, torre de menagem, fossos e barbacã;
1301, 19 Outubro - nas Cortes de Lisboa, estão presentes, pela primeira vez, representantes de Castelo Rodrigo;
1373, 23 Maio - D. Fernando dá carta de feira e, pouco tempo depois, ordena a reparação das muralhas;
1383 / 1385 - segundo a tradição, em sequência do alcaide-mor ter jurado fidelidade a D. Beatriz, recusando a entrada do Mestre de Avis, resultou a imposição do brasão real invertido na porta da vila;
1387, Junho - D. João I assenta arraial na povoação; João das Regras tornou-se Senhor de Castelo Rodrigo;
1395 - referida nas Inquirições;
1410 - Vasco Fernandes de Gouveia era alcaide-mor;
1422 - no Rol dos Besteiros, é referida a existência de 4260 habitantes;
1438 - confirmação dos privilégios da vila;
1447 - nas Cortes de Évora, o procurador dos homens-bons do Concelho queixa-se do estado de ruína da fortaleza, tendo caído dois lanços de muralha porque era feita com pedra da região, de fraca qualidade, devendo ser reconstruída com argamassa, disso dependendo a segurança dos moradores da vila;
1449, 19 Novembro e 1451, 12 Maio - confirmações dos privilégios da vila;
1476 - a vila foi integrada na Casa de Marialva; 1480 - uma das torres da cerca servia de armaria;
1485, Janeiro - D. João II manda "pôr em recado as fortalezas e lugares da raia, de as prover e levar dinheiro para as reparar das cousas necessárias, assim do corregimento, como da provisão de alguma artilharia"; Diogo de Azambuja é encarregado da missão;
Séc. XV, década 80 - uma das torres é adaptada a armaria, sendo apetrechada com peças de artilharia;
1496 - na Inquirição, é referida a existência de 818 habitantes;
1499, 21 Novembro - início das inquirições sobre os costumes, foros e direitos, tendo em vista a reforma do foral;
1500 - reconstrução da torre de menagem, danificada durante as guerras com Castela, obra a cargo de Francisco Danzinho;
1508, 25 Junho - foral manuelino, nele constando a doação do termo da vila ao infente D. Duarte;
1508, 9 Setembro - D. Manuel I envia Mateus Fernandes, acompanhado pelo mestre pedreiro Álvaro Pires, inspeccionar as obras executadas na vila de Almeida por Francisco Danzinho, mandando que siga para as vilas de Castelo Rodrigo e Castelo Branco para avaliar as obras e respectivos materiais que eram necessários (recibo datado de 10 Novembro 1512);
1509 / 1510 - é alcaide o conde de Marialva; Duarte d'Armas representa o castelo localizado no extremo NE. da dupla cintura de muralhas, escalonada e parcialmente arruinada, reforçada por cubelos circulares e rectangulares (excepto do lado NE.), que circundava completamente a vila de casario de dois pisos onde sobressiam, na parte alta, duas igrejas com campanários duplos; a fortificação compunha-se de castelejo de planta irregular, aproximada ao rectangulo, envolvido por barbacã igualmente irregular, provida de um cubelo semi-circular do lado NO. e de um baluarte de planta em arco ultrapassado, ligado a murete que protegia a entrada, a SO.; a muralha era internamente percorrida por adarve protegido por merlões paralelepipédicos sob os quais se rasgavam seteiras cruciformes; o castelejo, igualmente provido de adarve e rematado por merlões, possuia um cubelo semi-circular e outro rectangular a NE. a ladearem a "porta falsa" em arco pleno, e um torreão rectangular e outro trapezoidal a SE. flanqueando um corpo mais estreito coberto por telhado onde se abria porta em arco pleno inscrita num grande arco cego do mesmo perfil; a torre de menagem, rectangular, adossava-se externamente a SO. e era superiormente circundada por balcões com matacães ladeados por seteiras cruciformes e coroada por merlões; no seu interior "tem três vãos e abobadada em todo cima"; o recinto muralhado tinha ao centro um pátio rectangular antecedido por átrio de topo curvo e circundado por dependências rectangulares, algumas sobradadas, uma cisterna rectangular, uma pequena capela a N. e uma arcada do lado S.; extra-muros uma pequena igreja a E., alguns redís e casebres a SO. e SE., um cercado e uma ribeira a N.;
1517, 7 Maio - os moradores do Concelho eram responsáveis pela conservação da fortaleza, contribuindo com mão-de-obra;
1517, 20 Maio - carta de quitação de D. Manuel passada a Rui de Andrade, cavaleiro da Ordem de Santiago, do desempenho do cargo de vedor e recebedor das obras das fortalezas de Almeida, Castelo Bom e Castelo Rodrigo;
1527 - no Numeramento, é referida a existência de 2097 habitantes;
1530 - após o casamento de D. Guiomar Coutinho com o infante D. Fernando, D. João III faz-lhe a doação da vila e respectivo termo;
1590 - início da construção do Palácio de Cristóvão de Moura *1;
1594 - D . Filipe I de Portugal elevou a vila a condado, provendo no título D. Cristóvão de Moura;
Séc. XVII - construção de novo reduto defensivo;
1600 / 1606 - Cristóvão de Moura habita na vila;
1640, 10 Dezembro - o Palácio de Cristóvão de Moura é incendiado pela população que apoiava a Restauração;
1662 - o duque de Osuna manda o marquês de Buncayolo, superintendente das Fortificações de Castela, fazer uma relação do sítio de Castelo Rodrigo;
1664, 7 Julho - Batalha da Salgadela, em que as tropas dirigidas por Pedro Jacques de Magalhães defrontou as tropas dirigidas pelo duque de Osuna;
1664, 26 Novembro - por alvará de D. Afonso VI, a alcaidaria-mor de Castelo Rodrigo é concedida a Pedro Jacques de Magalhães;
1675, 26 Outubro - o tenente-coronel Estêvão Leite de Carvalho toma posse do cargo de governador da Praça;
1721 - o Padre Luís Cardoso descreve o castelo e a cerca "com treze torres, seis para o Sul, três ao Nascente, duas ao Poente e duas ao Norte. Além destes muros tem seu fosso em roda. No castelo tem uma torre de cantaria, chamada de Homenagem, de extraordinária grandeza e altura: é quadrada, com seis janelas rasgadas e granadas de ferro", refere o Palácio como estando bastante arruinado, a cisterna em mármore com 63 degraus, a porta do Sol e a de Alverca e um poço de cantaria e muito fundo junto desta;
1758, 28 Abril - o Padre Reitor José Lourenço Ferreira faz uma descrição semelhante à do Padre Cardoso mas acrescenta que a cerca, parcialmente arruinada, tem um muro exterior mais baixo a que chamam "fosso" e que na torre de menagem havia a meio um sobrado de madeira, arruinado, e conserva outro mais abaixo, de tijolo; um dos torreões era conhecido por "negra"; do Palácio só restam paredes, portas e janelas e duas casas pequenas servindo de armazém; refere igualmente as portas do Sol e de Alverca e outras três entaipadas; na Praça de Armas assiste o Governador e uma guarnição de 30 soldados e oficiais provenientes de Almeida;
1762 - Ocupação pelo exército espanhol, comandado pelo Marquês de Soria, no contexto da guerra dos Setes Anos (1756-1763);
1798, 22 Março - Eugénio MacDonald, capitão de Infantaria, é nomeado governador;
1810 - com o objectivo de construir um hospital militar, as tropas britânicas provocaram danos consideráveis nas muralhas;
1834, 20 Abril - aclamação de D. Maria II na Praça de Armas;
1836, 25 Junho - a sede da freguesia é transferida para São Vicente de Figueira, depois Figueira de Castelo Rodrigo;
1874 - limpeza da cisterna por iniciativa popular;
1941 - as muralhas e o Castelo estão em estado de ruína, restando apenas uma cintura de muralha exterior;
1945, 11 Abril - a Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo delibera proibir a caiação das casas no interior da cerca;
1971, 10 Outubro - inauguração da iluminação eléctrica;
1992, 27 Fevereiro - a Câmara Municipal delibera lançar um concurso para consolidação das muralhas, instalação de equipamentos eléctricos, água e saneamento, arranjos exteriores e paisagistas;
1993 / 1994 - projecto de recuperação, efectuado pelos arquitectos João Rapagão e César Fernandes, engenheiro Óscar Prada Santos, Vítor Martins Rodrigues, engenheiro civil, e a arquitecta paisagista Luísa Genésio *2, estando a obra a cargo da STAP

Características Particulares
O palácio maneirista foi construído sobre pré-existência medieval do castelejo, facto visível na estruturação do espaço interno. Porta em arco de ferradura na grande cisterna revestida de mármore.

Observações
*1 - Cristóvão de Moura nasceu em Lisboa, em 1538, filho de Luís de Moura, alcaide-mor de Castelo Rodrigo e de D. Beatriz de Távora; foi educado por Lourenço Pires de Távora, embaixador em Espanha; regressou a Portugal no séquito da princesa D. Joana e foi nomeado embaixador de Filipe II em Lisboa, onde chega a 25 Agosto 1578; a 1 de Junho de 1600 recebe o cargo de governador e vice-rei de Portugal; morreu em Madrid a 28 de Dezembro de 1613.
*2 - "A acção estabelece (...) princípios para a valorização do Palácio do Marquês de Castelo Rodrigo com a criação e dinamização de uma estrutura espacial e funcional que se disponibiliza para animar Castelo Rodrigo, reforçando a leitura dos seus espaços e procurando a glorificação e exaltação da ruína. A proposta de intervenção observa e interpreta o registo de Duarte Darmas criando um acesso capaz de dignificar e enriquecer a leitura do monumento e do documento que se revela com carácter didáctico e lúdico. Este acesso multiplica e prolonga o tempo e a leitura de aproximação ao imóvel, estimulado pelo desenho monumental da porta principal do Palácio do Marquês de Castelo Rodrigo orientada para a Porta do Sol. O percurso proposto, criado com demolições efectuadas a S. do monumento, permite, ainda, a recriação do acesso indirecto ditado pelas regras defensivas do imóvel. Assim, a concepção propõe a consolidação das estruturas e a pavimentação dos espaços que acolhem e materializam esta ideia recorrendo ao granito e ao ferro, entre a tradição e a transformação dos elementos naturais e artificiais, assinando a contemporaneidade da acção. A planta revela um espaço doméstico, organizado a partir de um eixo estruturador longitudinal quebrado por uma diferença de cotas que percorre os dois pátios para os quais se voltam e com os quais se relacionam os sucessivos espaços que ocupavam, antes, dois pisos. O desenho proposto reforça a concepção do espaço existente, denunciado pelas estruturas encontradas em 1992."

(fonte: IHRU)

E pertinho do Castelo, a Igreja Matriz de: Nossa Senhora do Rocamador e Igreja e Mosteiro de Santa Maria de Aguiar

Sem comentários: