Arquitectura religiosa pré-românica, românica e gótica. Igreja de três naves de três tramos, nártex de compartimento único, transepto saliente e cabeceira tripartida datada, dos primeiros anos do Séc. X.
Fachada principal antecedida por nártex; alçados laterais simétricos e compostos por três corpos: o maior da nave lateral; o menor e mais elevado (único a dois registos) dos braços do transepto; o último corresponde à cabeceira. Edifício característico da corrente pré-românica do Ocidente peninsular, com abundante materiral romano reaproveitado e reelaborado, que confere um aspecto classicizante ao conjunto, estatuto reforçado pela ausência de decoração e pelo predomínio das linhas rectas. Estilisticamente relacionado com os templos de São Pedro de Balsemão, a Mesquita-Catedral de Idanha-a-Velha, a estação arqueológica do Prazo, entre outros.
Arquitectura em altura pré-românica com vestígios de influência islâmica na possível torre-cruzeiro com ajimez axial em friso de arcos cegos, semelhante à torre cruzeira de São Frutuoso de Montélios. Conjunto de sepulturas escavadas na rocha a NO. da igreja, mas em provável conexão com esta, de orientação variável e único na região do Mondego. Reforma românica estilisticamente incaracterística, sem recurso a decoração específica, com adulterações do espaço e da estrutura. Campanha gótica não especificada, materializada em dois capitéis vegetalistas, de que se conserva apenas um.
Descrição
Planta longitudinal, regular, composta por nártex, corpo de três naves, transepto saliente e cabeceira tripartida, coincidindo o exterior com a organização interna.
Volumes articulados dispostos horizontalmente, com cobertura em telhado de duas águas no nártex, nave central, braços do transepto e capela-mor e em uma água sobre as naves laterais e absidíolos, continuando estes a cobertura exterior da capela-mor.
Fachada principal orientada, organizada em três corpos, sendo o central o único a dois registos; primeiro registo (corresponde ao nártex), saliente, definido por largo arco de volta perfeita, inserindo-se as aduelas numa moldura; telhado em empena triangular, assente em dois modilhões sem decoração; segundo registo do corpo central recuado, com ajimez axial, moldurado, definindo o telhado uma empena triangular; corpos laterais simétricos e lançados no prolongamento lateral do segundo registo do corpo central, definindo o telhado uma linha oblíqua descendente; ao centro de cada corpo, uma porta de arco recto, mais baixa e de vão menor que a do arco principal.
Fachadas laterais N. e S. simétricas, compostas por quatro corpos, correspondentes ao nártex, corpo do templo (com alçado das naves laterais e, mais recuado, o da nave central), transepto e cabeceira; a dois registos, definem-se os alçados da nave central e o corpos do transepto; corpos do nártex sem qualquer elemento divisor, assim como o das naves laterais, sendo estes os mais baixos, com telhado suportado, nos ângulos, por um modilhão de rolo; corpos do transepto com arco de descarga de volta perfeita sobre lintel recto, harmonicamente dispostos no alçado e, no segundo registo, uma pequena fresta, rasgada verticalmente; corpos da cabeceira correspondentes aos absidíolos (de menor altura e profundidade) e à capela-mor, todos sem elementos divisores. Fachada posterior organizada em cinco corpos, correspondentes às paredes fundeiras da capela-mor, dos absidíolos e da nave central e ao alçado nascente dos braços do transepto, divisão que tem correspondência em altura; capela-mor com uma fresta rectangular aberta a meia altura e telhado em empena triangular; absidíolos igualmente com uma fresta, mas de menor amplitude e linha de telhado oblíqua; alçados do transepto sem qualquer decoração; nave central com ajimez axial, de perfil idêntico ao da fachada principal e telhado definindo uma empena triangular.
INTERIOR: espaços diferenciados em nártex, corpo, cruzeiro, braços do transepto e cabeceira. Nártex rectangular protegido por grade de ferro; porta principal do templo com lintel recto, sobrepujado por arco de descarga de volta perfeita. Corpo do templo tripartido, com arcarias de aduelas rusticadas e molduradas sobre saiméis de grandes dimensões, comuns a duas arcarias, e colunas cilíndricas de bases e capitéis idênticos, sem decoração; suporte para baptistério no topo O. da nave lateral N., composto por base circular irregular escavada na rocha e um pequeno canal para águas; marcas da iconostase a anteceder o cruzeiro. Cruzeiro rectangular, separando-se da nave central por uma secção de parede sem arcarias, e dos braços por arcos diafragma em ferradura. Braços do transepto rectangulares, com cinco acessos, três interiores (para o cruzeiro, naves laterais e absidíolos) de idêntica configuração, em arco em ferradura, e dois exteriores (os virados a N. e a S.), de lintel recto com arco de descarga de volta perfeita, e duas pequenas portas voltadas a O., de vão recto, semelhante às dos alçados O. das naves laterais.
Cabeceira tripartida, não inter-comunicante, com arco triunfal em ferradura e espaços rectangulares, sendo o da capela-mor mais largo e profundo. Pavimento homogéneo em lajes de granito, à excepção de uma secção da nave central a anteceder o cruzeiro, de madeira, sobre os restos de uma necrópole.
Enquadramento
Urbano, planície, isolado. Edifício localizado em pleno centro histórico da aldeia, dispondo de uma área parcialmente monumentalizada, em ligeiro declive N./ S., de que fazem parte um conjunto de sepulturas escavadas na rocha, a casa do pároco e o campanário.
Fachada principal orientada, dando para uma via pública, cujo traçado curvilíneo define grande parte do adro da igreja a S., e separa o templo de duas propriedades a O., uma habitação unifamiliar de dois pisos, imóvel de acentuado impacto urbanístico ser um dos vértices do Largo principal, e outra apenas delimitada por muro de pedra. Fachada lateral N. associada ao conjunto de sepulturas escavadas na rocha, a NO., e virada para a casa do pároco, um edifício de dois pisos com escadaria paralela à fachada principal e com loggia parcial no piso superior. Do lado esquerdo da fachada principal detaca-se um cruzeiro de grandes braços rectangulares que assenta em plinto sobre três degraus. Fachada lateral S. em posição sobranceira em relação à via pública, separando-se desta por meio de um pequeno murete de pedra.
Fachada posterior dando para um adro rectangular a nascente do templo, delimitado a S. por murete e a E. e a N. por muros altos de propriedades contíguas; no topo NE. deste adro, em posição isolado, o campanário, de alta base granítica de silharia regular, de dupla sineira e acesso pelo lado E.. A toda a volta do edifício corre um pequeno pavimento de calçada portuguesa negra, que reforça a monumentalidade do imóvel. Para NO. da igreja desenvolve-se o Largo principal, em forma de quadrilátero irregular, onde passa a principal via da aldeia (que liga à EN. 17) e onde desemboca a Rua a S. do templo.
Descrição Complementar
Fragmento de friso da torre cruzeira, no nártex: peça horizontalmente disposta, integrando a parte superior de três arquinhos cegos. Fragmento de clípeo (medalhão) de tradição asturiana, no nártex: peça de perfil trapezoidal, decorada numa das faces por um círculo moldurado por incisão, que integra uma composição estrelada de seis pontas.
Inscrição fundacional sobre o lintel do portal principal, em regra única; fragmentos de inscrições góticas no nártex; capitel gótico, com decoração vegetalista sumária e definindo volutas nos ângulos. Abundante material disperso no adro (restos de frisos; cabeceiras de sepultura; material incaracterístico).
Inscrição românica na imposta do arco formeiro que separa as naves central e S., na face voltada a S., em duas regras.
Época Construção
Séc. X / XII / XIV / XV / XVI / XVIII / XX
Cronologia
910 - morte de Afonso III; divisão do reino asturiano pelos seus três filhos; transferência da capital de Oviedo para León;
912 - Construção; data inscrita numa epígrafe actualmente colocada sobre o lintel da porta principal; morte do bispo Nausto de Coimbra; subida ao poder do emirato de Córdova de Abd al-Rahmann III;
1055 - Conquista do castelo de Seia por D. Fernando, o Magno;
1080 - Concílio de Burgos, em que se aboliu a liturgia hispânica;
1119, 13 de Maio - Doação de Lourosa à Sé de Coimbra, feita pela Condessa D. Teresa;
1121, 8 de Fevereiro - D. Gonçalo Pais, bispo de Coimbra, doa Lourosa ao presbítero Osório, "com a obrigação de este edificar, plantar e povoar" (BARROCA, 2000, vol.2, t.1: 33);
1122 - Demarcação das Terras de Sena;
1132, 2 de Novembro - D. Afonso Henriques coutou a povoação;
1188 - Inscrição apontada como indicadora da reforma românica *1;
1258 - Nas Inquirições, Lourosa é referida como propriedade da Ordem do Hospital;
1282, 14 de Agosto - primeira referência à comenda de Oliveira do Hospital como pertença da Ordem do Hospital;
1347, 6 de Fevereiro - primeiro foral da localidade, passado pelo Bispo de Coimbra*2;
Séc. XV-XVI - datação provável de quatro fragmentos de inscrições, alguns associados a uma capela de São Martinho, que terá existido "para a parte da cabeceira" (GONÇALVES, 1980: 43, 50);
1514, 12 de Setembro - foral manuelino;
Séc. XVI - construção de um retábulo maneirista, de que apenas se conhecem fragmentos (PESSANHA, 1927: 67);
1677 c. - Instituição da Capela de Nossa Senhora da Piedade, por Simão Tavares e Susana de Bárquia;
Séc. XVIII, primeira metade (prov.) - campanha de obras *3; existência de uma capela dedicada aos Mártires, de difícil localização (GONÇALVES, 1980: 51);
1811, Março - ataque napoleónico, com incêndio e destruição de imagens, pedras de ara e capelas privadas (CAETANO, 1989: 30);
1909 - Primeiras fotografias, da autoria de Marques de Abreu *4;
1911, Agosto - Visita de Vergílio Correia;
1911, Outubro - Visita de Joaquim de Vasconcelos; Data da primeira tentativa de reconstituição do plano original *5;
1912 / 1916 - picagem de paredes, pondo a descoberto arcos em ferradura e outros elementos de aparelho;
1916, Maio - segunda tentativa de reconstituição do plano original, por José Pessanha *6; primeira aproximação da igreja de San Pedro de la Nave *7;
1919 - Terceira tentativa de reconstituição do plano original, por Manoel Gómez Moreno *8;
1929, Abril - criação da DGEMN;
1929, Novembro - Primeiro projecto de José Vilaça *9;
1929 - Início das sondagens arqueológicas na cabeceira, com vista ao restauro;
1930 - Visita de José Vilaça à Galiza (Santa Comba de Bande; San Miguel de Celanova; San Pedro de Rocas);
1930, 1 de Junho - Discurso solene diante da igreja, com o objectivo de se iniciar o restauro *10;
1930 - Baltazar de Castro alarga a área de sondagem e encontra outros alicerces na zona da cabeceira; conclusão pela não adequação do projecto de Vilaça; Baltazar de Castro fica encarregue de apresentar novo plano;
1931 - arranque das obras; 1931 - conclusão de que as propostas de Baltazar de Castro não correspondiam à totalidade dos alicerces originais;
1931, Junho - Segundo projecto de José Vilaça *11;
1931, 28 de Julho - envio de cópia do projecto a Manoel Gómez Moreno, para parecer;
1931, 2 de Agosto - Resposta de Gómez Moreno, com indicações e propostas pontuais*12;
1931, Setembro - Projecto definitivo de José Vilaça *13;
1931, 22 de Setembro - João de Moura Coutinho, debatendo-se com problemas no restauro de São Frutuoso de Montélios, convida Manoel Gómez Moreno a visitar Portugal;
1931, 11 de Outubro - Carta de Gómez Moreno a Vilaça dando conta do convite de João de Moura Coutinho; Ruptura entre Marques de Abreu e Baltazar de Castro;
1931, Dezembro - Publicação do projecto definitivo de José Vilaça;
1932, Março / Abril - Baltazar de Castro ainda não havia apresentado o plano de restauro;
1932 - Data constante das plantas e alçados do projecto de Baltazar de Castro *14;
1934 - Monografia de Aguiar Barreiros, criticando erros do restauro, em particular as cérceas; reconstituição do possível arco triunfal original *15;
1938, 30 de Janeiro - Presidente da Junta de Freguesia de Lourosa queixa-se a Baltazar de Castro pelo lamentável estado do pavimento, em consequência da chuva que ultrapassa o telhado;
1948 - Direcção de Serviços de Lisboa da DGEMN pede à 4ª secção os desenhos e plantas para publicação do Boletim de Restauro;
1952 - António Nogueira Gonçalves propõe a existência de uma torre sobre o cruzeiro;
1953, 25 de Outubro - Homenagem da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital a Joaquim de Vasconcelos, realizada em Lourosa;
1953, 23 de Novembro - Fausto Lopes da Silva dá conta à DGEMN de que o pároco havia vendido um número incerto de imagens;
1966, 15 de Novembro - Pároco de Lourosa reclama obras;
1992 - Manuel Luís Real reconstitui hipoteticamente o friso de arquinhos cegos da torre cruzeira;
2002 - nova proposta de reconstituição do projecto original *16.
Características Particulares
Raro exemplar de arquitectura pré-românica, de carcácter tardo-asturiano, de plano basilical e cabeceira tripartida. Nártex bastante longo (maior que os dos templos asturianos áulicos), e de dois andares (dando o superior para o interior da igreja). Nave central mais do dobro das laterais.
Transepto saliente mas tripartido, sendo o cruzeiro antecido por iconostase de feição desconhecida; compartimentos laterais do transepto separados do cruzeiro e das naves laterais através de arcos-diafragma que reforçam o isolamento destes compartimentos em relação à nave central e cruzeiro. Iluminação e configuração original da cabeceira desconhecidas. Friso de arcos cegos sobre a torre cruzeira, com ajimez axial, semelhante ao identificado na torre de São Frutuoso de Montélios. Portas com lintel recto e arco de descarga de volta perfeita, solução comum na primeira metade do Séc. X, com exemplos em San Pedro de la Nave, São Gião da Nazaré, Santa Maria de Melque, Santiago de Peñalba, San Xés de Francelos, etc. Interessante relação de um edifício pré-românico em associação com uma necrópole de sepulturas ao ar livre, cujas sepulturas não possuem orientação única.
Edifício bastante intervencionado no Séc. XX, com reconstrução integral da cabeceira, nártex e partes altas do corpo e do transepto, constituindo o seu processo de restauro um dos melhor documentados da História do Restauro em Portugal, com três projectos distintos e numerosos investigadores envolvidos. Abundante material no adro e nas imediações, resultante do restauro.
Campanário trasladado para as traseiras do edifício.
Observações
*1 - Praticamente desconhecida. Admite-se que possa ter sido uma reforma estrutural e não decorativa, incidindo sobre as partes altas e sobre a organização espacial pré-românica: supressão da tribuna ocidental; supressão da iconostase; nova configuração da cabeceira, que terá passado a ser escalonada e quadrangular; destruição da torre cruzeira; adossamento de uma torre campanário à secção N. do nártex, ou prolongando o corpo da igreja, suprimindo-se também o nártex, que passou a estar integrado no corpo (FERNANDES, 2002: 217 e 220 - 227);
*2 - Apesar de Tarquínio Hall equacionar um foral anterior, cujo conteúdo e data se desconhece (HALL, 1993: 50);
*3 - Diversos trabalhos no interior do templo, com renovação de capelas e construção de um coro alto, de madeira. Terá sido nesta altura que se reformulou parte da cabeceira, hipótese ainda não inteiramente provada;
*4 - Informação de VASCONCELOS, Outubro de 1911: 78. Esta data é contrariada pelo próprio Marques Abreu (1930: 140), que dá a Primavera de 1811 como a das primeiras fotografias. PESSANHA, 1927: 76 indica que a data da visita de Marques Abreu é 1908;
*5 - Planta igual à de São Pedro de Balsemão, com três naves e cabeceira de dependência única, quadrangular. Diferia pelo maior prolongamento do corpo e pelo menor comprimento da capela-mor (em oposição às proporções de Balsemão);
*6 - Corpo de três naves (reduzido a metade do comprimento da proposta de Vasconcelos), transepto saliente e cabeceira tripartida escalonada de dependências quadrangulares, com a capela-mor mais larga e mais comprida que os absidíolos. Não coincidência da cabeceira com os muros existentes: arco triunfal situado mais a nascente; redução dos braços do transepto a um/quarto e desenho de dois absidíolos a ladear a capela-mor;
*7 - Então datada de época visigótica, embora hoje se equacione uma cronologia em plena primeira metade do Séc. X;
*8 - Corpo de três naves como proposto por Pessanha, antecedido por nártex de duplo compartimento (o central, mais largo e correspondendo à nave central e uma escadaria a N. dando para uma eventual tribuna superior); transepto e cabeceira idênticos aos propostos por Pessanha, com a adição de uma iconostase a separar a nave central do cruzeiro;
*9 - Manutenção do corpo de três naves escalonado proposto por Pessanha; nártex de compartimento único correspondente à largura da nave central e de altura idêntica à das naves laterais; ausência de transepto; cabeceira tripartida quadrangular, não saliente, com capelas intercomunicantes; pequeno presbitério a E. da capela-mor, de dimensões muito reduzidas e com acesso através de um arco em ferradura de menor vão que o triunfal. Ajimez axial sobre o nártex, no prolongamento da fachada principal; iluminação lateral da nave central através de três frestas harmonicamente dispostas e das naves laterais por duas frestas e por porta no tramo mais próximo da cabeceira; iluminação E. através de três janelas correspondentes aos três volumes (presbitério, capela-mor e nave central);
*10 - Discurso de Marques de Abreu. Estiveram presentes Alfredo Magalhães (Ministro das Obras Públicas), Henrique Gomes da Silva (Director Geral da DGEMN), Baltazar de Castro (Director dos Monumentos Nacionais do Norte), Manuel de Aguiar Barreiros e José Vilaça;
*11 - Nártex maior que no primeiro projecto; manutenção do corpo em três naves, com acrescento de uma sacristia a N., sensivelmente com as mesmas proporções que as naves laterais; transepto saliente; iconostase a separar a nave central do cruzeiro (de dois andares, o primeiro de tripla arcada e o segundo com três janelas em arco em ferradura harmonicamente dispostas em relação aos vãos inferiores); cabeceira tripartida e escalonada, quadrangular; colocação da torre sineira no prolongamento N. da fachada O. da sacristia, com ligação através de um arco em ferradura inventado; inexistência de frestas laterais na nave central, mas duas em cada alçado das naves laterais; inexistência de vãos de iluminação nos topos superiores do transepto; arco triunfal inserido em alfiz; capela-mor com telhado de três águas;
*12 - Recusa do local da torre e da construção de uma sacristia; recusa em construirem-se novas aduelas rusticadas; supressão de janelas nas naves laterais; colocação de aximezes nos braços do transepto; configuração tripartida da janela da cabeceira, à maneira asturiana;
*13 - Em relação ao anterior, supressão da torre, arco em ferradura e sacristia; colocação do altar a meio da capela-mor e não adossado à fachada E.; alteração do segundo registo da iconostase, passando a ter três séries de três arcos em ferradura; supressão de vãos de iluminação nas naves; colocação de aximezes nos torpos do transepto; capela-mor com telhado de duas águas; maior abertura do arco triunfal e supressão do alfiz que o envolvia; janela tripartida na fachada E. da capela-mor;
*14 - Nártex de compartimento único, maior que o proposto por Vilaça; manutenção do corpo de três naves; transepto saliente com arcos diafragma a separar o cruzeiro dos braços e estes das naves laterais; cabeceira tripartida escalonada e quadrangular, de capela-mor e dius absidíolos muito pequenos. Inexistência de solução a dar à iluminação E. da capela-mor e da nave central; ajimez no alçado O. da fachada principal; arco do nártex com aduelas inseridas numa moldura; arco da porta principal e das portas do transepto de volta perfeita, com lintel recto; inexistência de frestas nos alçados laterais; recusa de um museu no narthex; abandono da iconostase;
*15 - Composto por colunas classicizantes, com grandes impostas de rolos, material fotografado por Marques Abreu e ainda visível no local na altura do restauro;
*16 - FERNANDES, 2002: Igreja de planta longitudinal, antecedida por nártex de duplo compartimento em altura (com dependência térrea e tribuna superior dando directamente para a nave central), mas planimetricamente correspondendo à nave central. Corpo tripartido em naves de três tramos, separadas entre si por arcarias de tripla arcada em ferradura, com iluminação lateral para a nave central, através de janelas de arco em ferradura harmonicamente dispostas nos alçados e axialmente em relação ao fecho de arco das arcarias formeiras. Cruzeiro separado da nave central através de uma iconostase, de que se desconhece a configuração. Braços do transepto separados das naves laterais e do cruzeiro através de arcos-diafragma em ferradura. Cruzeiro rectangular com cobertura em madeira e abundante iluminação, através de quatro (ou dois) ajimezes integrados ao centro do friso de arcos cegos que decorava a torre cruzeira. Cabeceira tripartida, mas de configuração desconhecida, aceitando-se a forma escalonada actual ou, ao invés, de parede nascente única, correspondendo a uma maior profundidade dos absidíolos. Em altura, nártex e nave central deveriam estar à mesma altura, apenas superada pela torre cruzeira, espaço volumetricamente mais proeminente; naves laterais e braços do transepto mais baixos que a nave central; cabeceira desconhecida, sendo de aceitar uma gradação volumétrica entre capela-mor (mais elavada) e absidíolos;
*17 - processo contrariado pelo Arquitecto Chefe da 4ª Secção dos Monumentos Nacionais que, em informação de 13 de Outubro de 1941, opta por um "lageamento de forma irregular".
(fonte: IHRU)
Fachada principal antecedida por nártex; alçados laterais simétricos e compostos por três corpos: o maior da nave lateral; o menor e mais elevado (único a dois registos) dos braços do transepto; o último corresponde à cabeceira. Edifício característico da corrente pré-românica do Ocidente peninsular, com abundante materiral romano reaproveitado e reelaborado, que confere um aspecto classicizante ao conjunto, estatuto reforçado pela ausência de decoração e pelo predomínio das linhas rectas. Estilisticamente relacionado com os templos de São Pedro de Balsemão, a Mesquita-Catedral de Idanha-a-Velha, a estação arqueológica do Prazo, entre outros.
Arquitectura em altura pré-românica com vestígios de influência islâmica na possível torre-cruzeiro com ajimez axial em friso de arcos cegos, semelhante à torre cruzeira de São Frutuoso de Montélios. Conjunto de sepulturas escavadas na rocha a NO. da igreja, mas em provável conexão com esta, de orientação variável e único na região do Mondego. Reforma românica estilisticamente incaracterística, sem recurso a decoração específica, com adulterações do espaço e da estrutura. Campanha gótica não especificada, materializada em dois capitéis vegetalistas, de que se conserva apenas um.
Descrição
Planta longitudinal, regular, composta por nártex, corpo de três naves, transepto saliente e cabeceira tripartida, coincidindo o exterior com a organização interna.
Volumes articulados dispostos horizontalmente, com cobertura em telhado de duas águas no nártex, nave central, braços do transepto e capela-mor e em uma água sobre as naves laterais e absidíolos, continuando estes a cobertura exterior da capela-mor.
Fachada principal orientada, organizada em três corpos, sendo o central o único a dois registos; primeiro registo (corresponde ao nártex), saliente, definido por largo arco de volta perfeita, inserindo-se as aduelas numa moldura; telhado em empena triangular, assente em dois modilhões sem decoração; segundo registo do corpo central recuado, com ajimez axial, moldurado, definindo o telhado uma empena triangular; corpos laterais simétricos e lançados no prolongamento lateral do segundo registo do corpo central, definindo o telhado uma linha oblíqua descendente; ao centro de cada corpo, uma porta de arco recto, mais baixa e de vão menor que a do arco principal.
Fachadas laterais N. e S. simétricas, compostas por quatro corpos, correspondentes ao nártex, corpo do templo (com alçado das naves laterais e, mais recuado, o da nave central), transepto e cabeceira; a dois registos, definem-se os alçados da nave central e o corpos do transepto; corpos do nártex sem qualquer elemento divisor, assim como o das naves laterais, sendo estes os mais baixos, com telhado suportado, nos ângulos, por um modilhão de rolo; corpos do transepto com arco de descarga de volta perfeita sobre lintel recto, harmonicamente dispostos no alçado e, no segundo registo, uma pequena fresta, rasgada verticalmente; corpos da cabeceira correspondentes aos absidíolos (de menor altura e profundidade) e à capela-mor, todos sem elementos divisores. Fachada posterior organizada em cinco corpos, correspondentes às paredes fundeiras da capela-mor, dos absidíolos e da nave central e ao alçado nascente dos braços do transepto, divisão que tem correspondência em altura; capela-mor com uma fresta rectangular aberta a meia altura e telhado em empena triangular; absidíolos igualmente com uma fresta, mas de menor amplitude e linha de telhado oblíqua; alçados do transepto sem qualquer decoração; nave central com ajimez axial, de perfil idêntico ao da fachada principal e telhado definindo uma empena triangular.
INTERIOR: espaços diferenciados em nártex, corpo, cruzeiro, braços do transepto e cabeceira. Nártex rectangular protegido por grade de ferro; porta principal do templo com lintel recto, sobrepujado por arco de descarga de volta perfeita. Corpo do templo tripartido, com arcarias de aduelas rusticadas e molduradas sobre saiméis de grandes dimensões, comuns a duas arcarias, e colunas cilíndricas de bases e capitéis idênticos, sem decoração; suporte para baptistério no topo O. da nave lateral N., composto por base circular irregular escavada na rocha e um pequeno canal para águas; marcas da iconostase a anteceder o cruzeiro. Cruzeiro rectangular, separando-se da nave central por uma secção de parede sem arcarias, e dos braços por arcos diafragma em ferradura. Braços do transepto rectangulares, com cinco acessos, três interiores (para o cruzeiro, naves laterais e absidíolos) de idêntica configuração, em arco em ferradura, e dois exteriores (os virados a N. e a S.), de lintel recto com arco de descarga de volta perfeita, e duas pequenas portas voltadas a O., de vão recto, semelhante às dos alçados O. das naves laterais.
Cabeceira tripartida, não inter-comunicante, com arco triunfal em ferradura e espaços rectangulares, sendo o da capela-mor mais largo e profundo. Pavimento homogéneo em lajes de granito, à excepção de uma secção da nave central a anteceder o cruzeiro, de madeira, sobre os restos de uma necrópole.
Enquadramento
Urbano, planície, isolado. Edifício localizado em pleno centro histórico da aldeia, dispondo de uma área parcialmente monumentalizada, em ligeiro declive N./ S., de que fazem parte um conjunto de sepulturas escavadas na rocha, a casa do pároco e o campanário.
Fachada principal orientada, dando para uma via pública, cujo traçado curvilíneo define grande parte do adro da igreja a S., e separa o templo de duas propriedades a O., uma habitação unifamiliar de dois pisos, imóvel de acentuado impacto urbanístico ser um dos vértices do Largo principal, e outra apenas delimitada por muro de pedra. Fachada lateral N. associada ao conjunto de sepulturas escavadas na rocha, a NO., e virada para a casa do pároco, um edifício de dois pisos com escadaria paralela à fachada principal e com loggia parcial no piso superior. Do lado esquerdo da fachada principal detaca-se um cruzeiro de grandes braços rectangulares que assenta em plinto sobre três degraus. Fachada lateral S. em posição sobranceira em relação à via pública, separando-se desta por meio de um pequeno murete de pedra.
Fachada posterior dando para um adro rectangular a nascente do templo, delimitado a S. por murete e a E. e a N. por muros altos de propriedades contíguas; no topo NE. deste adro, em posição isolado, o campanário, de alta base granítica de silharia regular, de dupla sineira e acesso pelo lado E.. A toda a volta do edifício corre um pequeno pavimento de calçada portuguesa negra, que reforça a monumentalidade do imóvel. Para NO. da igreja desenvolve-se o Largo principal, em forma de quadrilátero irregular, onde passa a principal via da aldeia (que liga à EN. 17) e onde desemboca a Rua a S. do templo.
Descrição Complementar
Fragmento de friso da torre cruzeira, no nártex: peça horizontalmente disposta, integrando a parte superior de três arquinhos cegos. Fragmento de clípeo (medalhão) de tradição asturiana, no nártex: peça de perfil trapezoidal, decorada numa das faces por um círculo moldurado por incisão, que integra uma composição estrelada de seis pontas.
Inscrição fundacional sobre o lintel do portal principal, em regra única; fragmentos de inscrições góticas no nártex; capitel gótico, com decoração vegetalista sumária e definindo volutas nos ângulos. Abundante material disperso no adro (restos de frisos; cabeceiras de sepultura; material incaracterístico).
Inscrição românica na imposta do arco formeiro que separa as naves central e S., na face voltada a S., em duas regras.
Época Construção
Séc. X / XII / XIV / XV / XVI / XVIII / XX
Cronologia
910 - morte de Afonso III; divisão do reino asturiano pelos seus três filhos; transferência da capital de Oviedo para León;
912 - Construção; data inscrita numa epígrafe actualmente colocada sobre o lintel da porta principal; morte do bispo Nausto de Coimbra; subida ao poder do emirato de Córdova de Abd al-Rahmann III;
1055 - Conquista do castelo de Seia por D. Fernando, o Magno;
1080 - Concílio de Burgos, em que se aboliu a liturgia hispânica;
1119, 13 de Maio - Doação de Lourosa à Sé de Coimbra, feita pela Condessa D. Teresa;
1121, 8 de Fevereiro - D. Gonçalo Pais, bispo de Coimbra, doa Lourosa ao presbítero Osório, "com a obrigação de este edificar, plantar e povoar" (BARROCA, 2000, vol.2, t.1: 33);
1122 - Demarcação das Terras de Sena;
1132, 2 de Novembro - D. Afonso Henriques coutou a povoação;
1188 - Inscrição apontada como indicadora da reforma românica *1;
1258 - Nas Inquirições, Lourosa é referida como propriedade da Ordem do Hospital;
1282, 14 de Agosto - primeira referência à comenda de Oliveira do Hospital como pertença da Ordem do Hospital;
1347, 6 de Fevereiro - primeiro foral da localidade, passado pelo Bispo de Coimbra*2;
Séc. XV-XVI - datação provável de quatro fragmentos de inscrições, alguns associados a uma capela de São Martinho, que terá existido "para a parte da cabeceira" (GONÇALVES, 1980: 43, 50);
1514, 12 de Setembro - foral manuelino;
Séc. XVI - construção de um retábulo maneirista, de que apenas se conhecem fragmentos (PESSANHA, 1927: 67);
1677 c. - Instituição da Capela de Nossa Senhora da Piedade, por Simão Tavares e Susana de Bárquia;
Séc. XVIII, primeira metade (prov.) - campanha de obras *3; existência de uma capela dedicada aos Mártires, de difícil localização (GONÇALVES, 1980: 51);
1811, Março - ataque napoleónico, com incêndio e destruição de imagens, pedras de ara e capelas privadas (CAETANO, 1989: 30);
1909 - Primeiras fotografias, da autoria de Marques de Abreu *4;
1911, Agosto - Visita de Vergílio Correia;
1911, Outubro - Visita de Joaquim de Vasconcelos; Data da primeira tentativa de reconstituição do plano original *5;
1912 / 1916 - picagem de paredes, pondo a descoberto arcos em ferradura e outros elementos de aparelho;
1916, Maio - segunda tentativa de reconstituição do plano original, por José Pessanha *6; primeira aproximação da igreja de San Pedro de la Nave *7;
1919 - Terceira tentativa de reconstituição do plano original, por Manoel Gómez Moreno *8;
1929, Abril - criação da DGEMN;
1929, Novembro - Primeiro projecto de José Vilaça *9;
1929 - Início das sondagens arqueológicas na cabeceira, com vista ao restauro;
1930 - Visita de José Vilaça à Galiza (Santa Comba de Bande; San Miguel de Celanova; San Pedro de Rocas);
1930, 1 de Junho - Discurso solene diante da igreja, com o objectivo de se iniciar o restauro *10;
1930 - Baltazar de Castro alarga a área de sondagem e encontra outros alicerces na zona da cabeceira; conclusão pela não adequação do projecto de Vilaça; Baltazar de Castro fica encarregue de apresentar novo plano;
1931 - arranque das obras; 1931 - conclusão de que as propostas de Baltazar de Castro não correspondiam à totalidade dos alicerces originais;
1931, Junho - Segundo projecto de José Vilaça *11;
1931, 28 de Julho - envio de cópia do projecto a Manoel Gómez Moreno, para parecer;
1931, 2 de Agosto - Resposta de Gómez Moreno, com indicações e propostas pontuais*12;
1931, Setembro - Projecto definitivo de José Vilaça *13;
1931, 22 de Setembro - João de Moura Coutinho, debatendo-se com problemas no restauro de São Frutuoso de Montélios, convida Manoel Gómez Moreno a visitar Portugal;
1931, 11 de Outubro - Carta de Gómez Moreno a Vilaça dando conta do convite de João de Moura Coutinho; Ruptura entre Marques de Abreu e Baltazar de Castro;
1931, Dezembro - Publicação do projecto definitivo de José Vilaça;
1932, Março / Abril - Baltazar de Castro ainda não havia apresentado o plano de restauro;
1932 - Data constante das plantas e alçados do projecto de Baltazar de Castro *14;
1934 - Monografia de Aguiar Barreiros, criticando erros do restauro, em particular as cérceas; reconstituição do possível arco triunfal original *15;
1938, 30 de Janeiro - Presidente da Junta de Freguesia de Lourosa queixa-se a Baltazar de Castro pelo lamentável estado do pavimento, em consequência da chuva que ultrapassa o telhado;
1948 - Direcção de Serviços de Lisboa da DGEMN pede à 4ª secção os desenhos e plantas para publicação do Boletim de Restauro;
1952 - António Nogueira Gonçalves propõe a existência de uma torre sobre o cruzeiro;
1953, 25 de Outubro - Homenagem da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital a Joaquim de Vasconcelos, realizada em Lourosa;
1953, 23 de Novembro - Fausto Lopes da Silva dá conta à DGEMN de que o pároco havia vendido um número incerto de imagens;
1966, 15 de Novembro - Pároco de Lourosa reclama obras;
1992 - Manuel Luís Real reconstitui hipoteticamente o friso de arquinhos cegos da torre cruzeira;
2002 - nova proposta de reconstituição do projecto original *16.
Características Particulares
Raro exemplar de arquitectura pré-românica, de carcácter tardo-asturiano, de plano basilical e cabeceira tripartida. Nártex bastante longo (maior que os dos templos asturianos áulicos), e de dois andares (dando o superior para o interior da igreja). Nave central mais do dobro das laterais.
Transepto saliente mas tripartido, sendo o cruzeiro antecido por iconostase de feição desconhecida; compartimentos laterais do transepto separados do cruzeiro e das naves laterais através de arcos-diafragma que reforçam o isolamento destes compartimentos em relação à nave central e cruzeiro. Iluminação e configuração original da cabeceira desconhecidas. Friso de arcos cegos sobre a torre cruzeira, com ajimez axial, semelhante ao identificado na torre de São Frutuoso de Montélios. Portas com lintel recto e arco de descarga de volta perfeita, solução comum na primeira metade do Séc. X, com exemplos em San Pedro de la Nave, São Gião da Nazaré, Santa Maria de Melque, Santiago de Peñalba, San Xés de Francelos, etc. Interessante relação de um edifício pré-românico em associação com uma necrópole de sepulturas ao ar livre, cujas sepulturas não possuem orientação única.
Edifício bastante intervencionado no Séc. XX, com reconstrução integral da cabeceira, nártex e partes altas do corpo e do transepto, constituindo o seu processo de restauro um dos melhor documentados da História do Restauro em Portugal, com três projectos distintos e numerosos investigadores envolvidos. Abundante material no adro e nas imediações, resultante do restauro.
Campanário trasladado para as traseiras do edifício.
Observações
*1 - Praticamente desconhecida. Admite-se que possa ter sido uma reforma estrutural e não decorativa, incidindo sobre as partes altas e sobre a organização espacial pré-românica: supressão da tribuna ocidental; supressão da iconostase; nova configuração da cabeceira, que terá passado a ser escalonada e quadrangular; destruição da torre cruzeira; adossamento de uma torre campanário à secção N. do nártex, ou prolongando o corpo da igreja, suprimindo-se também o nártex, que passou a estar integrado no corpo (FERNANDES, 2002: 217 e 220 - 227);
*2 - Apesar de Tarquínio Hall equacionar um foral anterior, cujo conteúdo e data se desconhece (HALL, 1993: 50);
*3 - Diversos trabalhos no interior do templo, com renovação de capelas e construção de um coro alto, de madeira. Terá sido nesta altura que se reformulou parte da cabeceira, hipótese ainda não inteiramente provada;
*4 - Informação de VASCONCELOS, Outubro de 1911: 78. Esta data é contrariada pelo próprio Marques Abreu (1930: 140), que dá a Primavera de 1811 como a das primeiras fotografias. PESSANHA, 1927: 76 indica que a data da visita de Marques Abreu é 1908;
*5 - Planta igual à de São Pedro de Balsemão, com três naves e cabeceira de dependência única, quadrangular. Diferia pelo maior prolongamento do corpo e pelo menor comprimento da capela-mor (em oposição às proporções de Balsemão);
*6 - Corpo de três naves (reduzido a metade do comprimento da proposta de Vasconcelos), transepto saliente e cabeceira tripartida escalonada de dependências quadrangulares, com a capela-mor mais larga e mais comprida que os absidíolos. Não coincidência da cabeceira com os muros existentes: arco triunfal situado mais a nascente; redução dos braços do transepto a um/quarto e desenho de dois absidíolos a ladear a capela-mor;
*7 - Então datada de época visigótica, embora hoje se equacione uma cronologia em plena primeira metade do Séc. X;
*8 - Corpo de três naves como proposto por Pessanha, antecedido por nártex de duplo compartimento (o central, mais largo e correspondendo à nave central e uma escadaria a N. dando para uma eventual tribuna superior); transepto e cabeceira idênticos aos propostos por Pessanha, com a adição de uma iconostase a separar a nave central do cruzeiro;
*9 - Manutenção do corpo de três naves escalonado proposto por Pessanha; nártex de compartimento único correspondente à largura da nave central e de altura idêntica à das naves laterais; ausência de transepto; cabeceira tripartida quadrangular, não saliente, com capelas intercomunicantes; pequeno presbitério a E. da capela-mor, de dimensões muito reduzidas e com acesso através de um arco em ferradura de menor vão que o triunfal. Ajimez axial sobre o nártex, no prolongamento da fachada principal; iluminação lateral da nave central através de três frestas harmonicamente dispostas e das naves laterais por duas frestas e por porta no tramo mais próximo da cabeceira; iluminação E. através de três janelas correspondentes aos três volumes (presbitério, capela-mor e nave central);
*10 - Discurso de Marques de Abreu. Estiveram presentes Alfredo Magalhães (Ministro das Obras Públicas), Henrique Gomes da Silva (Director Geral da DGEMN), Baltazar de Castro (Director dos Monumentos Nacionais do Norte), Manuel de Aguiar Barreiros e José Vilaça;
*11 - Nártex maior que no primeiro projecto; manutenção do corpo em três naves, com acrescento de uma sacristia a N., sensivelmente com as mesmas proporções que as naves laterais; transepto saliente; iconostase a separar a nave central do cruzeiro (de dois andares, o primeiro de tripla arcada e o segundo com três janelas em arco em ferradura harmonicamente dispostas em relação aos vãos inferiores); cabeceira tripartida e escalonada, quadrangular; colocação da torre sineira no prolongamento N. da fachada O. da sacristia, com ligação através de um arco em ferradura inventado; inexistência de frestas laterais na nave central, mas duas em cada alçado das naves laterais; inexistência de vãos de iluminação nos topos superiores do transepto; arco triunfal inserido em alfiz; capela-mor com telhado de três águas;
*12 - Recusa do local da torre e da construção de uma sacristia; recusa em construirem-se novas aduelas rusticadas; supressão de janelas nas naves laterais; colocação de aximezes nos braços do transepto; configuração tripartida da janela da cabeceira, à maneira asturiana;
*13 - Em relação ao anterior, supressão da torre, arco em ferradura e sacristia; colocação do altar a meio da capela-mor e não adossado à fachada E.; alteração do segundo registo da iconostase, passando a ter três séries de três arcos em ferradura; supressão de vãos de iluminação nas naves; colocação de aximezes nos torpos do transepto; capela-mor com telhado de duas águas; maior abertura do arco triunfal e supressão do alfiz que o envolvia; janela tripartida na fachada E. da capela-mor;
*14 - Nártex de compartimento único, maior que o proposto por Vilaça; manutenção do corpo de três naves; transepto saliente com arcos diafragma a separar o cruzeiro dos braços e estes das naves laterais; cabeceira tripartida escalonada e quadrangular, de capela-mor e dius absidíolos muito pequenos. Inexistência de solução a dar à iluminação E. da capela-mor e da nave central; ajimez no alçado O. da fachada principal; arco do nártex com aduelas inseridas numa moldura; arco da porta principal e das portas do transepto de volta perfeita, com lintel recto; inexistência de frestas nos alçados laterais; recusa de um museu no narthex; abandono da iconostase;
*15 - Composto por colunas classicizantes, com grandes impostas de rolos, material fotografado por Marques Abreu e ainda visível no local na altura do restauro;
*16 - FERNANDES, 2002: Igreja de planta longitudinal, antecedida por nártex de duplo compartimento em altura (com dependência térrea e tribuna superior dando directamente para a nave central), mas planimetricamente correspondendo à nave central. Corpo tripartido em naves de três tramos, separadas entre si por arcarias de tripla arcada em ferradura, com iluminação lateral para a nave central, através de janelas de arco em ferradura harmonicamente dispostas nos alçados e axialmente em relação ao fecho de arco das arcarias formeiras. Cruzeiro separado da nave central através de uma iconostase, de que se desconhece a configuração. Braços do transepto separados das naves laterais e do cruzeiro através de arcos-diafragma em ferradura. Cruzeiro rectangular com cobertura em madeira e abundante iluminação, através de quatro (ou dois) ajimezes integrados ao centro do friso de arcos cegos que decorava a torre cruzeira. Cabeceira tripartida, mas de configuração desconhecida, aceitando-se a forma escalonada actual ou, ao invés, de parede nascente única, correspondendo a uma maior profundidade dos absidíolos. Em altura, nártex e nave central deveriam estar à mesma altura, apenas superada pela torre cruzeira, espaço volumetricamente mais proeminente; naves laterais e braços do transepto mais baixos que a nave central; cabeceira desconhecida, sendo de aceitar uma gradação volumétrica entre capela-mor (mais elavada) e absidíolos;
*17 - processo contrariado pelo Arquitecto Chefe da 4ª Secção dos Monumentos Nacionais que, em informação de 13 de Outubro de 1941, opta por um "lageamento de forma irregular".
(fonte: IHRU)
4 comentários:
Boa tarde. As imagens a preto e branco são de onde? Acredito que sejam da igreja mas de que período? Qual o contexto delas? O texto que publica não adianta a sua origem. Muito obrigado
Boa tarde 'Ernesto',
As imagens a preto e branco, como não poderia deixar de ser, são do templo em questão. Do final do Séc. XIX. Como compreenderá ainda não existiam fotografias a cores.
O período em que foram tiradas foi o do momento em que a tutela de então dos monumentos procedeu a demolições no dito templo. Daí serem a preto e branco. E daí, a sua relevância - quanto mais antigas as fotos, mais interesse podem ter devido à sua maior riqueza de detalhes, e de existência, ainda, física de determinadas peças.
O contexto, é o de dar a conhecer que para além das estruturas actuais, que desde o momento em que foi possível obter fotografias do local e do que nesse momento ocorreu, e das peças que foram (pelo menos as que foram fotografadas, estavam naquele momento a salvo, num local a céu aberto é certo, mas) salvas, aí estão para serem apreciadas por quem assim o entenda fazer.
De facto, não adianto a sua origem, nem o irei fazer, deixo à imaginação, conhecimento e capacidade dos demais.
Tenho efectivamente a minha opinião, mas não irei publicá-la.
Penso que uma observação atenta dirigirá de imediato a atenção de quem ler para a conclusão a que eu chego sem sequer influenciar quem quer que seja. As imagens falam por si; e a preto e branco, pois foram tiradas no final do Séc XIX, apresentam menos menos intromissão humana.
Não tem de quê, bom carnaval
Cara "Sigillum"
Achei este seu blog sobre a Igreja de Lourosa muito interessante, até porque estou ligada a Lourosa por laços familiares e, como historiadora e musicóloga (para além de residente ocasional nessa aldeia) integro a Comissão das comemorações do seu próximo jubileu (o dos seus 1100 anos), que se celebra em 2012. Permita-me, contudo, corrigi-la numa das suas informações relativas à data das fotos que apresenta: elas não poderão ser do século XIX, visto que já assistimos a peças do desmantelamento da igreja devido às obras, e essas só começaram no século XX...
De algumas informações que refere, particularmente na Cronologia, gostaria de conhecer a proveniência, nomeadamente as referências de que Lourosa teria pertencido à ordem do Hospital, quando as informações que conheço é de que teria tido ligações, sim, à Ordem de Cristo.
Atendendo à sua política de "sigillum", se me quiser contactar pessoalmente para o meu email, teria muito gosto em trocar opiniões e quem sabe, eventuais colaborações, se for uma das estudiosas de Lourosa na área da História de Arte, como parece, para o próximo ano.
O meu nome é Maria José Borges e o meu mail
mjborges3@gmail.com
Cara Maria José,
Agradeço o seu comentário.
Como verificará no final do texto, a fonte ou proveniência é da IHRU, antiga DGEMN.
As fotos, são do final do Séc. XIX e início do Séc. XX.
Esta é a versão oficial, i.e., é a versão que as entidades públicas pretendem "anunciar ao público", quanto a ter sido pertença da Ordem do Hospital, essa é a versão oficial.
A verdadeira, essa, encontra-se bem expressa nas fotos. Aí, não há entidade oficial e propaganda suficiente que apague a Memória.
Como em tantos e tantos outros sítios, a verdade foi 'apagada' ou pelo menos a tentativa de apagamento da verdade tem sido uma constante das entidades públicas e privadas, também.
Mas a Verdade, essa, nunca será apagada.
Lourosa, pertenceu ao Templo, e passou posteriormente para a Ordem de Cristo, sim.
As Restantes, andaram aos restos, e chamaram a si aquilo que não lhes pertencia, e que muito menos lutaram ou combateram, e que no entretanto muitos perderam a vida para que existe um país, um realidade própria e única ...
Lourosa, é um desses exemplos.
Saudações,
Sigillum
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