quarta-feira, 11 de maio de 2011

Raízes, Flores e Frutos



Setenta e dois anos após a batalha entre o califa Abderrahman e D. Ordonho em 922, as ruínas do Porto serviam de asilo e de reparo a uns poucos de homens esforçados, cujos senhorios tinham sido invadidos pelos moiros.

Esses homens eram D. Munio ou Muninho Viegas, rico-homem de Riba-Doiro e poderoso senhor na comarca de Entre Doiro e Minho, seu irmão D. Sesnando ou Sisnando, e seus filhos D. Egas e D. Garcia Moniz.

Estes homens ilustres acharam, por fim, ocasião de vingar-se.

Quer os gascões aportassem casualmente ao Doiro, como dizem uns, quer eles mandassem à Gasconha a convidá-los a vir combater os moiros da Espanha, como dizem outros, e como parece mais provável, o que se afigura certo é que em 988 D. Munio e os seus achavam-se à frente a uma hoste composta dos seus homens de armas e de gascões, suficiente não só para as azarias e fossados, mas, o que é mais, para empreender qualquer empresa de vulto.

Dos fidalgos que comandavam os gascões, o único de que se sabe o nome é D. Nonego, bispo de Vandoma, e que depois o foi do Porto, ignorância que parece favorecer a opinião daqueles que dizem que os gascões não vieram casualmente, ao correr d'uma empresa aventureira, de outra sorte trariam como era costume chefes distinctos, cujos nomes não esqueceriam; mas foram trazidos da Gasconha pelo proprio D. Munio, que lá os foi buscar, e que, auxiliado por D. Nonego, que como bispo tinha à sua disposição toda a influência da Igreja, pôde recrutar número suficiente para a empresa que meditava.

Seja, porém, como fôr, o que é certo é que D. Munio e os gascões apoderaram-se do Porto, depois d'uma vitória sobre os sarracenos, ganha, segundo dizem, onde hoje é a praça da Batalha, e comemorada pela capelinha que ainda lá existe.

Depois d'esta batalha, D. Munio e os franceses trataram de reedificar o Porto.

Ergueram as antigas e fortes muralhas, e na parte mais elevada da cidade fundaram um alcacer acastellado e bem afortalecido que, depois do conde Henrique, serviu de habitação dos bispos, aos quais foi doado.

A torre e a porta principal foram obra de D. Nonego, que, em memória do seu solo, a nomeou porta de Vandoma, e que na frontaria da torre fez erguer o santuário, onde meteu a imagem de Nossa Senhora, que ou já trouxera consigo de Vandoma, ou mandou cinzelar cá, em gratidão das vitórias que atribuia à sua eficácia e protecção.

Manoel de Faria e Sousa diz que: era una imagen de Nuestra Señora, de escultura mas abultada que polida, y no tan poco pulida que se haga estimable por la arte como se hace decorar por la magestad (y aun sin ella) que esta representando. Tiene embrazado el niño.

D. Munio Viegas e seus, já fora de perigo, reuniram as forças disponíveis com (as dos descendentes de D. Arnaldo de Baião e) as dos senhores de Eixo, Oil e Marnel.
Tomando vantagem da guerra civil após a morte de Almançor, resolveram atacar as áreas sarracenas principais a norte e a sul do Douro, entre as quais incluiam-se aquelas de Entre-Douro-e-Vouga. O território foi nomeado de Terras de Santa Maria em homenagem a Santa Maria de Vendôme/Vandoma.

A Armada dos Gascões

Eram os chefes d'esta armada D. Munio Viegas, D. Sesnando, seu irmão, que depois foi bispo d'esta cidade, e D. Nonego, que, para acompanhar esta empreza, tinha renunciado o seu bispado de Vandoma.

Estes fidalgos, que traziam na sua companhia muitos e distinctos officiaes, apenas desembarcaram na parte septentrional do rio Douro, dirigiram a sua marcha ao mesmo logar em que existia a cidade arruinada. Elles a reedificaram muito mais ampla e forte, cingindo-a de soberbos e elevados muros, que n'aquelle tempo eram inaccessiveis ao soldado mais intrepido. Deixaram n'ella uma escoIhida guarnição, e logo partiram, a expulsar do resto da provincia os barbaros que a dominavam; e, pela fé a que recorriam, as terras que submettiam ao seu dominio as intitulavam Terras de Santa Maria.

O famoso fr. Bernardo de Brito especifica que, edificada a fortaleza e retomada a povoação e egreja antiga, ordenado bispo do Porto dom Sesnando, em companhia do irmão, D. Munio, e dos mais cavalleiros, foi conquistando as terras de uma e outra parte do rio Douro, ate os concelhos de Rezende e Bemviver, repartindo as terras entre os fidalgos e cavalleiros que lh'as ajudaram a conquistar, a quem assignavam logares e honras em que vivessem.

- Manoel de Faria e Sousa, fr. Bernardo de Brito, Arnaldo da Gama

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