Está ligado ao processo de Reconquista cristã, sob o comando do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques que em reconhecimento pelo seu mérito o nomeou alcaide-mor do castelo de Porto de Mós.
D. Fuas Roupinho comandava a frota templária.
A frota foi responsável por várias contendas vitóriosas, mas a primeira vitória marítima verdadeiramente contundente contra uma esquadra muçulmana, deu-se ao largo do cabo Espichel em Julho de 1180.
Reza a lenda que no sítio da Nazaré, ao perseguir um cervo, foi salvo de cair num precipício pela própria Virgem Maria que lhe apareceu fazendo o cavalo parar.
- ANCCabo de Espichel - Julho de 1180
Depois da conquista de Lisboa em 1147, levada a cabo com o auxílio de uma armada de cruzados, é natural que o objectivo seguinte de D.Afonso Henriques fosse a conquista de Alcácer do Sal, uma vez que não seria confortável ter tão perto de Lisboa uma importante base naval muçulmana de onde a qualquer instante podia partir uma armada a assolar a orla marítima portuguesa.
Em 1151 é feita uma primeira tentativa, sem êxito, de assalto a Alcácer do Sal com o auxílio de uma pequena armada recrutada em Inglaterra. Em 1157 tem lugar uma segunda tentativa, igualmente infrutífera, desta vez com o auxílio de uma armada de cruzados que aportara ao Tejo. No ano seguinte, cercada por terra e por mar pelas forças portuguesas, desta vez sem auxílio estrangeiro, a cidade acaba por render-se quando um exército de socorro é derrotado à sua vista.
Embora não existam documentos históricos relativos à marinha militar portuguesa nestes anos é de admitir que nos dez anos que decorrem entre a conquista de Lisboa e a de Alcácer do Sal, em que a actividade militar marítima na zona entre Tejo e Sado deve ter sido intensa, o número de galés portuguesas se tenha mantido, pelo menos, na casa das dez unidades.
É também muito natural que depois da conquista de Alcácer do Sal as acções de corso dos Muçulmanos na costa portuguesa tenham diminuído.
Subitamente, vinte anos mais tarde, provavelmente na Primavera de 1179, quando nada o fazia prever, entrou no estuário do Tejo a frota de Sevilha, num total de nove galés, sob o comando de Ganim ben Mardanis, que capturou duas galés portuguesas que, estariam de vigia, e assolou os arredores da cidade, regressando a Sevilha com um riquíssimo despojo.
Na sequência deste ataque terá D. Afonso Henriques encarregado um fidalgo chamado D. Fuas Roupinho de reactivar a nossa frota e reorganizar a vigilância costeira.
Terá então este proposto ao rei uma acção de retaliação contra Sevilha que merceu a sua aprovação. E, possivelmente no Verão de 1179, largou do Tejo a frota portuguesa, sob o comando de D.Fuas Roupinho, em que, possivelmente, iria embarcado o príncipe D.Sancho, a qual, depois de ter saqueado Saltes, nas proximidades de Huelva, subiu o Guadalquivir até Sevilha onde destruiu várias galés muçulmanas e saqueou o arrebalde da cidade, regressando triunfante a Lisboa.
Uma retaliação perfeita em relação á acção realizada meses antes pelos Muçulmanos!
Não se conformaram estes com a ousadia dos cristãos e logo no ano seguinte, 1180, ripostaram, enviando de novo a sua frota para a costa portuguesa, ainda sob o comando de Ganim ben Mardanis, ao que parece com ordem de destruir a frota portuguesa e, se possível, capturar D. Fuas Roupinho.
Depois de, mais uma vez, ter saqueado o arrebalde de Lisboa, a frota muçulmuna dirige-se para São Martinho do Porto onde desembarca a gente de armas que, por terra, se dirige a Porto de Mós, o lugar de residência de D.Fuas Roupinho. Porém, nas proximidades desta vila, os muçulmanos são derrotados pelas forças que D.Fuas conseguira apressadamente reunir tendo sido todos êles, muito provavelmente, mortos ou feitos prisioneiros. Entre estes últimos contava-se Ganim ben Mardanis.
O que nos parece mais provável é que na sequência desta acção a frota muçulmana se tenha recolhido a Alcácer do Sal, que era então a principal base naval dos Árabes na costa ocidental da península Ibérica, a fim de se refazer antes de seguir viagem para Sevilha. Por seu turno, ao que parece, D.Fuas Roupinho ter-se-á dirigido para Coimbra a fim de dar conta ao Rei, que aí se encontrava, do desfecho do combate que tivera com os muçulmanos. Sabendo já D.Afonso Henriques das depredações que a frota de Ganim ben Mardanis tinha feito nos arredores de Lisboa e talvez até que a mesma se achava em Alcácer do Sal, ordenou a D.Fuas Roupinho que reunisse de imediato a frota portuguesa e fosse tentar destruí-la.
É natural que D.Fuas tenha começado por reunir todas as galés que se encontravam nos portos do Norte e com elas se tenha dirigido para Lisboa onde se terá reforçado com as galés e a gente de armas que ali havia. Depois, a 15 ou 20 de Julho, saiu para o mar, talvez com a intenção de se ir colocar sobre a barra do Sado. Porém, ao dobrar o cabo Espichel, tropeçou com a frota muçulmana que, possivelmente por meros acaso, iniciava a viagem de regresso a Sevilha, envolvendo-se com ela numa encarniçada batalha.
O número de galés portuguesas andaria à roda da dezena, talvez dez ou onze (conforme se poderá deduzir dos acontecimentos posteriores), o que daria a D. Fuas uma ligeira superioridade numérica sobre o seu adversário. Por outro lado é natural que as guarnições dos navios muçulmanos estivessem bastante desfalcadas e consideravelmente desmoralizadas, com a derrota sofrida em Porto de Mós. Seja como fôr, a batalha terminou com uma vitória estrondosa dos Portugueses que capturaram todas as galés inimigas e entraram com elas triunfalmente em Lisboa.
Segundo as fontes árabes, D. Afonso Henriques terá então conferido a D. Fuas Roupinho, como prémio pela vitória que alcançara, o título de almirante.
Vês este que, saindo da cilada,
Dá sobre o Rei que cerca a vila forte?
Já o Rei tem preso e a vila descercada:
Ilustre feito, digno de Mavorte!
Vê-lo cá vai pintado nesta armada,
No mar também aos Mouros dando a morte,
Tomando-lhe as galés, levando a glória
Da primeira marítima vitória.
É, Dom Fuas Roupinho, que na terra
E no mar resplandece juntamente,
Com o fogo que acendeu junto da serra
De Abila, nas galés da Maura gente.
Olha como, em tão justa e santa guerra,
De acabar pelejando está contente:
Das mãos dos Mouros entra a feliz alma,
Triunfando, nos céus, com justa palma.
— Os Lusíadas, Canto VIII, estrofes 16 e 17
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