sábado, 17 de abril de 2010

Uma lenda de Thomar

Na região de Tomar há um lugar onde de noite os espectros aparecem em cortejo, encontram-se no Reino das Sombras com criaturas subterrâneas, e os guardas dos segredos escondidos.

Uma noite, uma mulher sensível e inspirada pretendeu seguir os passos dos espectros, e a sua sombra inquieta e curiosa juntou-se à dos peregrinos alucinados.

A mulher caminhou durante horas de um tempo inexistente, com um grupo de guerreiros armados - velhos caminheiros enrugados.

Sem ter ouvido um som, soube de repente que a marcha terminara.

O insólito cortejo parou de repente numa clareira húmida, à saida de um bosque.

Foi então que a mulher conseguiu distinguir os companheiros de caminhada.

Todos tinham uma cruz idêntica sobre o coração.

Em volta de um poço, de bordo gasto, que uma oliveira morta cobria parcialmente, e com a sombra projectada pelo luar, apareceram outras formas estranhas, quais animais ou plantas, nascidas de um outro tempo, que se juntaram às sombras.

Uma das sombras dirigiu-se à mulher:
«foi aqui que travámos uma batalha, e as pedras que vês ficaram avermelhadas devido ao sangue que correu.
Depois de termos encomendado a alma a Deus e à divina misericórdia da nossa Mãe, na capela das Oliveiras, viemos até Nabância no intuito de suster a horda dos cúmplices do mal.

Foi aqui, perto da entrada deste subterrâneo que conduz ao castelo, que todos nós sacrificámos as nossas vidas, lutando até a morte, na defesa da nossa Fé, do nosso Rei e dos nossos bens.

E já que aqui estás entre nós, vem mulher!
Verás o que nenhum outro ser vivo viu em muitos séculos.»

A mulher estava nessa altura diante da abertura.
Sem saber como, nem quando, esgueirou-se pela passagem estreita.
De cabeça baixa foi deslizando pela galeria húmida, impregnada de um cheiro enjoativo a bafio quente e a terra.
Seguiu por um caminho sinuoso e escorregadio.

De repente, a mulher ficou encadeada por uma luz súbita, quando abriu os olhos ficou fascinada com a visão!

Entre os montes de pedras preciosas viam-se tecidos de ouro e prata e muitas moedas.
As suas mãos fecharam-se sobre algumas moedas de ouro.
Guardou-as no bolso do avental.

Alguns instantes depois encontou-se de novo ao ar livre.

Mais do que correr, voou até casa.
De manhã, assim que acordou, foi ao avental procurou no bolso direito, aquele onde tinha guardado as moedas de ouro.
Uma queimadura fez com que desse um grito, o qual abafou ao mesmo tempo que retirava a mão!

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