E esta torre quadrilonga, como as da época, de paredes fortissimas e de cantaria nas esquinas e alvenaria no resto, tendo uma única e pequena porta ogival que do lado da igreja dava entrada para uma escada de pedra de dois lances que levava ao pavimento superior que desapareceu em parte, tendo-se levantado, na porção que ficou uma elegante escada de caracol que conduz ao último piso, que o uso dos sinos determinou que se tizesse.
Por esta escada, dos arcos de três centros e pelas consolas donde estes se levantam todos com os caracteristicos da renascença, assim como o eirado, as suas gárgulas representantes de peças de artilharia e as falsas granadas, faz tudo crer que seja obra da renascença de D. João III, do tempo das obras que João de Castilho na igreja.
Um alpendre cobria e guarnecia a porta principal, segundo o costume religioso desses tempos, coevos com a fundação da monarquia portuguesa.
Eram as igrejas de então como que o centro ou núcleo da vida social da povoação em que a fé dos crentes as fazia levantar.
Ali não só o padre lia o velho, mas sempre novo, latim do Evangelho, baptizava os neófitos, casava os nubentes e enterrava os mortos.
Mais outras e nobres missões teve o templo cristão nessas eras de rusticidade, mas de entusiásticas crenças.
Ali foi campo aos paladinos do povo, que reclamavam os seus direitos, ali se fazia ouvir a palavra do eremita, chamando os transviados à lei de um Deus de bondade e amor, ali foi campo onde brilhavam ao mesmo círio, o pendão do rico solarengo e o da comunidade dos artífices, ali enfim foi tribunal onde se administrava justiça e onde o homem recebia asilo inviolável e sagrado.
Jamais outro edifício teve missão mais nobre, mais elevada do que a igreja da Edade-Média.
Quando ela era pequena ou não comportava a população por ter aumentado como sucedia em Thomar, faziam seguir a sua frontaria um alpendre que participava das missões do templo e, ainda mais, servia de abrigo remediável aos pobres, aos viajeiros e de cobertura às grandes multidões que em dias solenes concorriam às celebridades religiosas.
Santa Maria dos Olivais também teve essa alpendrada a que chamavam galilé, e sob a qual existia a cadeira, sede, judicial onde os templários, como senhores de quasi todas as juridições nas suas terras, mandavam pela boca do seu alvazil administrar justiça.
É nossa opinião, enquanto não vos provarem o contrário, que esta alpendurada veio a contornar a torre, pois os sinais dos cachorros, nela descobertos há pouco, a isso induz.
- Vieira Guimarães, A Ordem de Cristo
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