sexta-feira, 2 de abril de 2010

São Pedro das Águias


Antigo Mosteiro de São Pedro das Águias - Igreja de São Pedro das Águias
Foi mosteiro masculino da Ordem de São Bento, e posteriormente, mosteiro masculino da Ordem de Cister.

Local: Rural, isolado, a meia encosta, em terreno acidentado, adaptando-se ao declive do terreno, sobre pequeno socalco de afloramentos rochosos, destacado em zona de interesse paisagístico, limitado a O. por maciço rochoso e a E. pela ravina do rio Távora.

Planta longitudinal composta por nave única e capela-mor rectangulares, de volumes articulados e disposição horizontalista das massas, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas, encimados, nas empenas, por cruzes de pedra. Fachadas em cantaria de granito aparente, percorridas por embasamento saliente na capela-mor, com estreitas fenestrações protegidas por vidro tipo catedral, que iluminam a nave e a capela-mor, rematadas por cornija, assente em cachorrada decorada por motivos antropomórficos, zoomórficos e alguns sem decoração, exceptuando as fachadas E. e O., onde a cobertura se dispõe directamente sobre o muro.
O corpo da capela-mor é percorrido, sensivelmente a meio, por cornija de decoração simples.
Fachada principal, voltada a O., rematada em empena, encimada por cruz pátea vazada; a fachada forma um ressalto na zona inferior, onde se rasga portal principal em arco de volta perfeita, com três arquivoltas, a interior com animais afrontados e palmetas, a central com motivos fitomórficos e a exterior com acantos estilizados, que assentam em dois colunelos de fuste liso em cada lado, apoiados em bases decoradas com ziguezagues e ondulados, tendo a interior, do lado esquerdo, decoração simples e uma carranca no ângulo exterior.
Os capitéis que encimam as colunas apresentam, no lado direito, motivos antropomórficos e zoomórficos e, os do lado do esquerdo, decoração vegetalista.
Sobre estes, imposta decorada com folhas de acanto, que suporta dois leões de cada lado, que sustentam o tímpano, decorado com uma "Croix Nouée" vazada entre laçaria serpentiforme.
O vão é protegido por porta de madeira com lemes e fechos em ferro, ladeada por friso decorado com quadricula ao nível da imposta.
Sobre este e ao centro uma pequena fresta.
Adossado ao lado esquerdo, ligando-se ao maciço rochoso, existe um arco de volta perfeita, que dava acesso ao antigo claustro, actualmente inexistente, que tem no tímpano do lado interior, decoração de linhas entrançadas terminando uma delas em cabeça de animal, talvez uma serpente, encimada por uma cruz pátea em baixo relevo.
Fachada lateral esquerda voltada a N., com portal em arco de volta perfeita, composto por duas arquivoltas, a primeira com três cabeças de lobo trincando o toro, envolvidas por decoração geométrica, e a segunda com folhas de acanto, tendo, na pedra de fecho, uma inscrição.
Assentam numa coluna de fuste liso em cada lado, sobre bases simples, erguendo-se entre elas uma soleira elevada que protege a porta de madeira, com lemes e fechos em ferro; os capitéis apresentam, no lado esquerdo, um motivo zoomórfico (corpo serpentiforme com escamas) e, frente a ele, do outro lado, um com folhas de lança.
Por cima deste, encontra-se um elemento zoomórfico (sem cabeça) com semelhanças com os do portal principal.
No lado esquerdo, ao mesmo nível, está um bloco pétreo sem definição, talvez colocado em substituição do original.
O tímpano é decorado com um Agnus Dei crucífero, em fundo de motivos geométricos.
A ladear o portal, duas estreitas fenestrações.
Perto destas, e, também em ambos os lados, aproximadamente a meio da parede, observam-se algumas mísulas que suportariam uma estrutura primitiva.
No ângulo entre o corpo da igreja e o da capela-mor, cego, existe desenhado num silhar, rente ao chão, um entrançado que termina em cabeça de animal, talvez uma serpente.
A fachada lateral direita, voltada a S., apresenta, no corpo da igreja, duas pequenas frestas e, no da capela-mor, uma pequena fenestração rectilínea central, acima da cornija que percorre o corpo.
Fachada posterior em empena, tendo, no vértice, um cordeiro sobrepujado por cruz vazada, rasgada por uma fresta estreita; sobre a empena da capela-mor, é visível a da nave, sobrepujada por uma cruz de Malta (há quem "não saiba ler" ...) e rasgada por uma fresta estreita sob uma pequena arquivolta decorada por elemento em ziguezague .
INTERIOR em cantaria de granito aparente, com cobertura em travejamento de madeira, com acesso através de escadaria descendente em ambas as entradas e pavimento em lajeado de granito.
No lado do Evangelho, a ladear o portal, nicho de moldura rectangular.
Arco triunfal de perfil ultrapassado, compondo duas arquivoltas com bozantes, sustentadas por friso decorado com quadricula, que termina nos ângulos, assentes em dois colunelos de fuste liso, apoiados em bases de decoração geométrica e coroadas por capitéis vegetalistas.
De ambos os lados, no pano mural, estão representadas duas cruzes páteas em baixo relevo.
Capela-mor de pequenas dimensões, tendo altar-mor e plinto paralelepipédico, ambos em cantaria e sem decoração.
No lado da Epístola, existe um nicho em arco de volta perfeita e no lado oposto, uma inscrição.

Inscrições:
Exterior
-
(CEMP. nº 241), inscrição do Salmo 121,8, gravada na pedra de fecho da arquivolta exterior do arco do portal lateral N., linhas auxiliares gravadas. Granito (diferente do que foi utilizado para as restantes aduelas, este tem um grão mais fino). Fracturada nos cantos superiores. Dimensões: a altura a que se encontra impede obter medidas.
Inicial Capitular. Leitura modernizada e reconstituída:
DOMINUS EXERCITUM CUSTODI AT HUIUS TEMPLI INTROITUM ET EXITUM. Tradução: o Senhor guarda as tuas idas e vindas, agora e para sempre.

Interior:
1. (CEMP. nº 242), gravado em silhar de pequenas dimensões, colocado na face interna da parede E. da capela-mor.
Granito.
Dimensões: 32,5 x 56.
Inicial Capitular. Leitura modernizada: BENEFU […].
2. (CEMP. nº 243), inscrição funerária gravada na metade inferior de uma tampa de sepultura avulsa, linhas auxiliares gravadas. Granito. Dimensões: 63 x 51 x 10.
Inicial Capitular Carolino-Gótica.
Leitura modernizada: GUNDISALVUS GARCIA. Tradução: Gonçalo Garcia.

Arquitectura religiosa, românica.
Convento masculino cisterciense, de pequena dimensão, eventualmente eremitério, de que resta a igreja de planta longitudinal, orientada, composta por nave única e capela-mor rectangular, com coberturas internas diferenciadas em travejamento de madeira, iluminada escassamente por estreitas frestas, protegidas com vidro tipo catedral, existentes em todas as fachadas.
Fachada principal em empena, rasgada por portal em arco de volta perfeita, com várias arquivoltas decoradas. Fachadas rematadas por cornija sustentada por cachorros, a lateral esquerda rasgada por porta travessa em arco de volta perfeita. Interior com arco triunfal em arco ultrapassado, tendo um simples altar-mor na abside.

Devido à norma litúrgica, que obrigava a orientação da cabeceira dos templos para nascente, esta igreja apresenta a fachada principal a uma curta distância do maciço rochoso e, foi implantada no sentido do declive, o que justifica o desnível existente entre a capela-mor e o corpo da igreja. Os portais apresentam profusa decoração, marcados por arquivoltas assentes em colunelos capitelizados e tímpanos decorados, distinguindo-se pela decoração figurativa e simbólica, com elaborada combinação de motivos geométricos, fitomórficos, zoomórficos e antropomórficos, a que se junta um Agnus Dei e uma "Croix Nouée".

Os leões que se encontram no portal axial surgem também na Igreja de São Pedro de Rates, apresentam cabeça virada para fora e os olhos bem abertos, o que significava no período medieval a vigilância.

A função destes animais nos portais era a guarda da entrada dos templos e do seu interior sagrado.

Existência de inscrição no fecho do arco do portal N..

991, cerca de - construção da Igreja pelos cavaleiros D. Tedon e D. Rausendo e, por alguns eremitas fugidos aos mouros;

1117, 17 Julho - escritura passada por D. João e D. Pedro, conferindo aos monges as terras do couto, o que lhes deu o título de fundadores;

1145, 14 de Junho - abade D. Mendo, reforma a comunidade trocando o hábito negro de São Bento, pelo hábito branco de São Bernardo;

1170 - a igreja consta como pertencendo à Ordem de Cister;

Séc. XII, 2ª metade - os monges mudam-se para o convento de São Pedro das Águias, na freguesia de Távora;

1832 - com a extinção das ordens religiosas, o edifício foi abandonado, caindo em ruínas;

1953 / 1954 - restauro total do edifício pela DGEMN.


(fonte: DGEMN/IHRU)

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