domingo, 18 de abril de 2010

Colegiada de Nossa Senhora da Conceição dos Freires

A igreja de Nossa Senhora da Conceição, antiga sinagoga dos judeus adaptada ao culto católico, foi entregue à Ordem de Cristo pelo que ficou a ser conhecida por igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Freires.

Perto dela foi construída, em 1698, uma igreja paroquial com a mesma invocação de Nossa Senhora da Conceição.

Para as distinguir, a primeira foi chamada Conceição Velha e a segunda Conceição Nova.
A igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Freires foi destruída pelo incêndio que se seguiu ao terramoto de 1755 e demolida em 1770.

Os Freires de Cristo passaram para a igreja da Misericórdia depois de reedificada, da qual restara, depois da catástrofe, a porta travessa manuelina do lado sul.

Com os Freires, passou também o nome de Conceição Velha que ainda subsiste.

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Descrição
Igreja de planta longitudinal de 2 rectângulos justapostos, composta por nave única e capela-mor a que se adossam sacristia, arrecadações, pátios laterais e corredor. Massa de volumes articulados, horizontalizante.
Coberturas diferenciadas com telhados de 2 águas.
Frontispício de aparelho "vittatum", virado a S., pilastras nos cunhais e coroamento de frontão triangular com tímpano vazado por óculo elíptico.
Portal emoldurado por alfiz, com duplo arco mainelado com nicho inscrito, enquadrado por pilastras salientes facetadas, decoradas com relevos e com esculturas do Anjo da Anunciação e da Virgem em nichos, unidas por arco pleno, com grutescos nas ombreiras; superiormente, platibanda encimada por 2 esferas armilares e cruz da Ordem de Cristo.
No tímpano, baixo-relevo figurando Nossa Senhora da Misericórdia.
Janelões laterais enquadrados por colunas segmentadas, com grutescos nas ombreiras e nichos com imagens de santos.

INTERIOR: Nave única com coro-alto sobre pilares de cantaria, silhar de azulejos marmoreados e estuques na abóbada; Baptistério no lado do Evangelho, 6 capelas colaterais e tribunas.
As capelas têm arcos plenos e retábulos de tela envoltos por elementos vegetalistas e frontão contracurvado; a última do lado do Evangelho é mais profunda, figurando na tela a "Última Ceia" e no tecto pintura com Espírito Santo.
Teia de madeira separa as capelas da nave.
Púlpito de madeira no lado do Evangelho.
Tecto em abóbada de berço, figurando "Triunfo de Nossa Senhora da Conceição".
Arco triunfal pleno ladeado por 2 nichos com imagens de São Pedro e São Paulo. Capela-mor com paredes marmoreadas ritmadas por pilastras; portas e frestas superiores de capialços almofadados; retábulo de talha dourada; e abóbada de canhão em caixotões com almofadas geométricas. Sacristia de planta rectangular, dando para a rua a N. por estreito corredor e tendo adossado pequeno pátio quadrangular.

Descrição Complementar
Portal rasgado entre 2 pilastras esculturadas e constituído por grande arco de volta inteira sobreposto por conopial diminuto, contendo 2 arcos menores do mesmo perfil, que se intersectam e sustentam num mainel. Subindo de uma base lisa e de um tambor multifacetado com anéis, as pilastras são trifacetadas, decoradas com meios-relevos e estatuária: nas faces externas grutescos (urnas, animais fantásticos, cabeças de anjo, tarjas, cornucópias, medalhões e motivos vegetalistas estilizados); nas faces internas 6 querubins ajoelhados volvidos para a porta; na frente 2 nichos com mísulas e baldaquinos rendilhados contêm o Anjo S. Gabriel, à dir., e Nossa Senhora, à esq. As pilastras são superiormente semi-circulares e estriadas, rematadas por pináculos com esferas armilares e unidas por cimalha festonada, decorada com pequenas folhas de acanto, sobre friso vegetalista com torsal, formando o enquadramento periférico do portal em alfiz. O extradorso do arco principal é ornamentado por decoração fitomórfica onde assentam cogulhos de acanto, elevando-se ao centro pequeno conopial que contém pedra de armas com escudo real, e é rematado por pilarete com florão e cruz da Ordem de Cristo, a cortar a cimalha. O intradorso, de 2 arquivoltas, é esculpido com grutescos que se prolongam nos pés-direitos da arquivolta interna. O duplo-arco é delimitado externamente por colunelos e molduras de secção rectangular e decorado com motivos fitomórficos. O mainel contém nicho com imagem em alto-relevo da Justiça (ou de S. Miguel), que segura uma balança na mão dir. E uma espada na mão esq., e é decorado lateralmente com motivos geométricos. O tímpano tem 2 registos: no 1º dois semi-círculos invertidos com grutescos (urnas, cornucópias e figuras animalescas), tangentes aos arcos da porta e formando ao centro losango curvo com medalhão com busto clássico; perifericamente, nas enjuntas, relevos com grutescos; no 2º registo, semi-circular, encaixa-se grupo escultórico alusivo à Misericórdia ("Mater Omnium") sobre friso saliente, com ressalto central cilíndrico, sobreelevado, com anéis, tendo ao centro Nossa Senhora com o manto aberto, seguro por 2 anjos, sobre as figuras do Papa Alexandre VI, Fr. Miguel Contreiras, um Bispo e um cardeal (à dir.), e a rainha D: Leonor, o rei D. Manuel e 2 prelados (à esq.). Os janelões que ladeiam o portal são em arco pleno decorado com grutescos e encimado por florão. Lateralmente possuem colunelos do tipo candelabro, com segmentos fusiformes atados por cordões e cintas vegetalistas, sobre bases torsas sustidas por mísulas zoomórficas e vegetalistas unidas por friso torso de folhagem. Em cada ombreira um nicho com mísulas vegetalistas e zoomórficas e baldaquinos de concha, com imagem de Santo André e S. Tiago (janela dir.) e S. Bartolomeu e S. Jerónimo (esq.). AZULEJO: Azulejos de composição ornamental formando silhar. Bicromia: azul cobalto e manganês em fundo branco. Motivos ornamentais: molduras imitando cantaria e motivos vegetalistas (flores e folhas). Cercadura imitando friso arquitectónica. Barra com motivos vegetalistas (flores) sobre fundo marmoreado. 9 azulejos de altura. ESTUQUE: Decoração: figurativa e simbólica. Iconografia: vertente mariana retratando o "Triunfo de Nossa Senhora da Conceição". Policromia: azul, dourado e ocre. Medalhão central: anjo com uma lança mata o dragão que se encontra sobre um globo; a Virgem encontra-se sobre um crescente lunar, coroada de estrelas, sendo abençoada por Deus; nuvens e cabeças de anjo preenchem o fundo. A cena central é enquadrada por motivos arquitectónicos e por cabeças de anjo e em redor arcos plenos unidos por friso arquitectónico. O intradorso dos arcos é decorado por florões, e no seu centro abrem-se cartelas com motivos vegetalistas (folhas), sendo a que encima a capela-mor a mais elaborada: possui a inscrição "M" e uma coroa. Entre os arcos surgem representados: um anjo de olhos vendados com balança na mão dir., e espada na mão esq.; a lua; anjos com flores; anjos com trompetas; o sol; a custódia e um anjo segurando o turíbulo na mão dir. Festões com flores em todo o redor. TALHA: Retábulo de planta côncava e estrutura vertical tripartida. Sotobanco: decoração geométrica (rectângulos).
Corpos laterais: apresentam decoração vegetalista (plumas, flores e folhas) simples e plana, que se prolonga para o ático.
Corpo central: mais recuado, com banco simples decorado apenas por figuras geométricas (rectângulos com os cantos truncados e curvos), e emoldurado por um friso plano decorado por rectângulos e trapézios (na arquivolta). Comporta a tribuna e o trono escalonado em 3 níveis, que não recebe decoração.
Ático: formado por arco contracurvado, motivos vegetalistas (grinaldas e folhas) e friso arquitectónico que segue a forma contracurvada do arco*1.

Época Construção
Séc. 16 / 18

Cronologia
1498 - instituição da Confraria da Misericórdia por iniciativa de D. Leonor e Frei Miguel Contreiras, aprovada por D. Manuel e confirmada pelo Papa Alexandre VI, sediada numa capela do claustro da Sé de Lisboa;
1502 - após ter doado a Ermida do Restelo à Ordem de São Jerónimo, D. Manuel dá em troca à Ordem de Cristo a Casa da Judiaria Grande, uma sinagoga situada no lugar de Vila Nova (entre as actuais Rua Dos Fanqueiros e da Madalena), feita de novo e consagrada a Nossa Senhora da Conceição, designando-se por igreja da Conceição dos Freires e posteriormente por Conceição Velha (por oposição à Igreja da Conceição Nova, construída na Rua Nova dos Ferros); a actual igreja da Conceição Velha era primitivamente a Igreja da Misericórdia *2;
1516 - D. Manuel faz publicar o compromisso da Santa Irmandade da Misericórdia que, segundo autores coevos, era em pedraria com abóbada polinervada decorada com bocetes contendo emblemática sacra e régia, apoiada em colunas de mármore lavradas, que a dividiam em 3 naves, e meias-colunas embebidas na caixa-murária; a capela-mor localizava-se a E, no eixo portal principal, conforme plantas e gravuras anteriores ao terramoto; na fachada a S rasgava-se um portal flanqueado por pilastras esculpidas e 3 janelas (1 à esquerda e 2 à direita), a cornija era encimada por platibanda rendilhada e, de cada lado, adossava-se uma torre, sendo a de O a da "Escrivaninha", segundo é visível na "gravura de Leyden"; junto da igreja erguia-se a Casa da Misericórdia, provida de hospital, recolhimento de orfãos, cartório, casa do despacho, oficinas e pátios;
1533 - carta de D. João III autorizando a construção de um tabuleiro que o Provedor e irmãos da Misericórdia queriam fazer defronte da porta principal, com consentimento da Câmara;
1534, 25 Março - conclusão da campanha de obras manuelina e instalação da Confraria da Misericórdia, segundo inscrição do portal N, hoje no Museu do Carmo;
1568 - D. Sebastião cria, com o aval do Cardeal Infante, a paróquia de Nossa Senhora da Conceição;
1576 - instituição do modelo das bandeiras dos portais das misericórdias: ao centro Nossa Senhora, à direita o Papa, um Cardeal e um Bispo, um religiosos da SS Trindade e o instituidor, à esquerda o Rei, a Rainha e 2 companheiros do instituidor, conforme figurado no tímpano, que datará desta época;
1594 - entaipamento do portal principal por adossamento do recolhimento dos orfãos; D. Simôa Godinho manda construir uma capela do lado do Evangelho, doando os seus bens à Misericórdia;
1598 - abertura de pequena porta a N;
1626 - uma descrição de Lisboa refere que nas escadas do portal S. havia um mercado de flores e ervas aromáticas; aberta outra porta a N., de arco duplo, com imagem de Nossa Senhora do Pópulo no mainel;
1650 - uma planta de Lisboa, de João Nunes Tinoco, mostra um estreito adro defronte da fachada S;
Séc. XVII, 2ª metade - execução do órgão por Fr. Francisco de Santo António;
1670, Agosto - encomenda do retábulo para a igreja, pelo Provedor da Misericórdia, o Marquês de Marialva, ao entalhador Pedro Álvares Pereira, utilizando colunas torsas, provavelmente as primeiras que se executaram em Lisboa;
1684 - começa a funcionar outro recolhimento de orfãos do lado E;
1721 - Fr. Agostinho de Santa Maria descreve a porta S. com duplo-vão de arco "ao antigo", sobre o qual, debaixo de um grande arco, a imagem de Nossa Senhora da Misericórdia;
1729 - pintura do tecto da capela-mor por Brás de Oliveira Velho e António Pimenta Rolim (f. 1751);
1755, 1 Novembro - o terramoto destruiu parcialmente a igreja, caindo parte da abóbada do cruzeiro e um campanário sobre a porta lateral; o incêndio que deflagrou posteriormente arruinou o recolhimento e a igreja, exceptuando a capela do SS. Sacramento (antiga capela de D. Simôa) e o retábulo da capela do Santo Cristo dos Padecentes; a igreja da Conceição dos Freires também se arruinou, não sendo viável a sua reconstrução em virtude do novo plano da cidade;
1768 - por carta de D. José, a Irmandade da Misericórdia instalou-se na Igreja de São Roque, então vaga na consequência da expulsão dos Jesuítas;
1770 - a igreja é reconstruída com outra orientação e outro risco, reaproveitando-se materiais e algumas estruturas, conforme projecto de Francisco António Ferreira e Honorato José Correia; a capela do SS. Sacramento foi transformada em capela-mor e o que subsistia do portal S em portal principal, passando a igreja a orientar-se segundo um eixo N.-S.; os freires da Ordem de Cristo transferem-se para a igreja reconstruída, trazendo consigo o orago de Nossa Senhora da Conceição e a denominação de Conceição Velha;
Séc. XVIII, finais - o conjunto pétreo do tímpano esteve protegido por um vidro e iluminado;
1818 - 1880 - o relevo da Misericórdia foi retirado e substituído por vidraça gradeada, figurando numa capela em altar próprio após ter sido pintado e dourado;
1834 - extinção das Ordens Religiosas, ficando a igreja desabitada e ao abandono;
1837 - a igreja esteve na eminência de ser vendida a um particular e destruída para dar lugar a edifícios; 1880 - a Irmandade de Leigos que geria a igreja fez obras, repondo o grupo escultórico do tímpano, limpo da tinta que o cobria;
1936 a 1940 - o vigário e a Irmandade da Santa Cruz dos Passos informam que a igreja e anexos carecem de obras, pois há infiltrações de águas pluviais que estão a arruinar as coberturas, cantarias, estuques e soalhos, slicitando à DGEMN as reparações necessárias;
1946 / 1947 - a Irmandade chama a atenção para o estdo em que se encontra o portal e o guarda-vento, a necessitar de obras de beneficiação, assim como a sacristia, que tem as paredes salitradas e a esboroarem-se em virtude da capilaridade do terreno e de canalizações defeituosas; as 2 janelas que dão para o trono estão a desfazer-se, o estuque da abóbada está a cair e a clarabóia do coro está degradada;
1948 - as águas da chuva invadiram a igreja e um cano roto na Sacristia fez apodrecer o soalho;
1952 - Realizado inventário das imagens da igreja: existem cerca de 40 imagens de madeira e pedra localizadas em nichos e altares no sub-coro, nave, capela-mor e dependências anexas;
1953 - infiltrações de humidade com degradação dos pavimentos e cantaria da capela-mor;
1959 - o prior denuncia o estado de degradação da sacristia, do corredor de acesso à Rua dos Bacalhoeiros e do soalho da capela-mor;
1969 - necessária vistoria técnica por chover em diversos locais;
1975 - o imóvel é proposto para ser objecto de estudo por parte do L.N.E.C. e do I.J.F. na área de tratamento de pedras deterioradas;
1978 - o painel da fachada está parcialmente destruídos, devendo ser restaurado pelo I.J.F.

Observações
*1 - a simplicidade deste retábulo deve-se possivelmente ao facto de ter sido inicialmente uma capela lateral da anterior igreja, transformada em capela-mor após o terramoto. O vocabulário decorativo parece antecipar o estilo barroco, o que pode avançar a sua datação para uma época posterior à instituição da capela.
*2 - quase todos os autores confundem esta com a Igreja da Conceição, para onde foram transferidos os freires da Ordem de Cristo quando os Jerónimos foram para Belém.
*3 - as telas estão em mau estado de conservação, sendo numa delas impossível identificar com segurança a temática.
(fonte: DGEMN/IHRU)

2 comentários:

Jose disse...

Engraçado, lê-se tudo mas fica sem se saber onde é...

Sigillum disse...

Uma Arte ...

Trata-se da Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha, Lisboa