sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Capela românica de São Pedro de Vir à Corça - Monsanto


Enquadramento
Rural e paisagístico. Situa-se isolada na vertente SO. do sopé de Monsanto, numa zona arborizada com sobreiros. Campanário de uma abertura sineira em arco pleno e com remate angular, assente em penedo no lado N. da capela. Sepulturas antropomórficas cavadas na rocha e de diferentes dimensões junto ao alçado N.. Bancadas em betão dispersas pelo recinto. Proximidade de nascente de água a que a tradição atribui propriedades milagrosas.

Descrição
Planta longitudinal composta por 2 rectângulos, encontrando-se o rectângulo menor inscrito no maior, do que resulta uma abside com capela-mor e 2 absidíolos.

Disposição horizontalista das massas.

Cobertura diferenciada a 2 águas.

Fachada principal voltada a O., portal em arco pleno com 2 arquivoltas e impostas salientes decoradas por motivos geométricos, entre os quais meias esferas e sulcos paralelos.
Num 2º nível uma linha de 3 mísulas cúbicas.
Segue-se rosácea com moldura decorada por motivos geométricos, com quadrifólio central e 8 arcos trilobados radiais e remate em empena com cornija.

Alçado N. possui portal em arco pleno com a arquivolta exterior decorada por sulcos paralelos e por denteado insculpido; apresenta tímpano liso e impostas decoradas por sulcos paralelos; cornija e cachorrada decorada com motivos geométricos e zoomórficos.

Alçado S.: embasamento escalonado na abside; portal em arco pleno com tímpano liso e umbrais curvos decorados por sulcos, circundado por linha de mísulas cúbicas; muro perpendicular à porta; cornija e cachorrada lisa.

Alçado E.: fresta em arco pleno na capela-mor, nos absidíolos e na empena da nave central; empena angular com cornija. Interior: 3 naves separadas por 2 colunas de cada lado; as colunas assentam em plintos altos, apresentam fuste liso e capitel jónico; iluminação por rosácea O. e fresta E.; púlpito adossado ao muro S. com balcão poligonal em cantaria.

Arco triunfal de 2 arquivoltas, sendo a interna em arco pleno e a externa em arco apontando.

Acesso aos absidíolos através de arcos plenos, que se relacionam com o arco triunfal através das impostas contínuas decoradas por meias esferas.

Capela-mor e absidíolos não intercomunicantes e iluminados por fresta E..

Pavimento lajeado e afloramento rochoso.

Cobertura em madeira, única nas naves e diferenciada na abside.

Utilização Inicial
Religiosa: capela

Cronologia
Séc. XII / XIII - Hipotética edificação da capela, desconhecendo-se se foi concluída; topónimo relacionado com lenda referente à criança salva do demónio por Santo Amador e alimentada por uma corça (Segundo tradição local, o nome da Capela prende-se com o facto do eremita Santo Amador, que a habitava, ter recolhido 1 criança, que era amamentada por 1 corça 4 vezes por dia.);

1308 - Concessão de carta de feira à ermida de São Pedro de Vila Corça, por iniciativa de D. Dinis;

Séc. XV, meados - extinção da congregação religiosa;

1450 - Acordo celebrado entre o Bispo da Guarda D. Luís da Guerra e o Cabido acerca do arrendamento da capela a Gonçalo Afonso, cónego da Sé;

Séc. XVI, início - hipotética alteração do interior, atendendo às características das colunas;

1613 - Instituição da Irmandade de São Pedro;

Séc. XVIII - Importante afluência de peregrinos à ermida.

Tipologia
Arquitectura religiosa românica. Igreja de planta longitudinal composta por 2 rectângulos, encontrando-se o rectângulo menor inscrito no maior. Abside composta por capela-mor e 2 absidíolos. Portal principal em arco pleno sem tímpano e encimado por rosácea; portais laterais em arco pleno com tímpano liso; frestas em arco pleno. Cachorrada lisa. Interior de 3 naves separadas por colunas de capitel jónico. Arco triunfal de 2 arquivoltas em arco pleno e arco apontando. Absidíolos com arcos plenos. Cobertura em madeira, única nas naves e diferenciada na abside. Motivos decorativos: quadrifólio, arcos trilobados, meias esferas, sulcos paralelos, denteado.

Características Particulares
Planta longitudinal composta por 2 rectângulos, encontrando-se o rectângulo menor inscrito no maior. Mísulas cúbicas nos alçados externos indiciam anterior existência de alpendres de feira. Interior de 3 naves divididas por 4 colunas de capitel jónico.

(fonte: IHRU)

6 comentários:

Criptex disse...

Sobre a lenda...
Imaginemos agora o Mito, que qual «eco» da palavra perdida, se faz entender na transfiguração da mensagem, imortalizando no tempo, o sentido do arcano oculto.
É aqui, nas fragas que ocultam as «trevas sagradas», que o «Cavaleiro Monge» vai da montanha ao vale, e do vale, ao Mons Sanctum...

Ab

Sigillum disse...

Esta, que de S. Pedro só muito tarde foi apelidada, foi Casa Primeira em Monsanto do Templo.

Trata-se de um templo antiquíssimo, o seu nome original perde-se nas brumas da memória.

Criptex disse...

De facto assim é.
Ainda assim, o nome é revelador de uma vontade.
Com tudo o que de «herético» aqui se encontra escondido; é pois entender bem - S.Pedro vira Corça, ou talvez, S.Pedro vir ver a Corça.
Bem entendido é: o «laço», ou «nó», que os une, ainda que, de forma arcana e oculta.

Sigillum disse...

Não gosto de S. Pedro, considero-o um traidor.

O facto de muito posteriormente terem colocado tal "prefixo" ao templo, foi apenas para agradar ao poder eclesiástico; deste modo, o templo não seria destruído.

Quanto à simbologia subjacente, a "lenda" descreve parte da razão de ser.
Embora já existisse templo antes disso - antes da Era Cristã.

Criptex disse...

Entendo. Mas falamos de Templários.
Vejamos o seguinte; em algumas «ligas» nada é ao acaso.
"antes que o Galo cante hoje, tu me terás negado três vezes..."

S.Pedro tinha (tem?) um sentido iniciático para os Templários. Será mesmo uma das «chaves» iniciáticas.

E não negava o Templário (no acto iniciático) 3x Jesus Cristo?

São Pedro tinha o hábito de se levantar de madrugada (ao cantar do Galo) cantar este que lhe desperta (tal como a nós) a consciência adormecida, pois de madrugada fazia o seu exame e, chorava...
Ainda assim, tinha o dia a nascer, Uma nova vida (a possibilidade de mudar), garantida pelo perdão...

Quantas vezes o Galo (Abraxas) não acompanha as iconografias de S.Pedro?

Uma «ideia»: Terão Judas e Pedro, sido instrumentalizados por Jesus de modo a que o Verbo se imortalize na mensagem. Ambos terão compreendido com angustia e dor, a necessidade de uma «encenação dramática» para que uma mensagem sublime se possa sub-entender. Terão os Templários assim entendido?

Qual «Abraxas» com cabeça de Galo que figura no selo secreto da ordem do templo, em cada mão uma serpente, pois em cada mão tb S.Pedro tem uma Chave, um caminho...

Tb aqui em Monsanto há um Galo (simbolico)de Prata! Colocado recentemente na torre sineira. Certamente, por acaso...

Sigillum disse...

Ponto a ponto, que o teu comentário encerra muito interesse.

Pedro tem interesse sim, mas enquanto dicotomia com Judas, os extremos invertidos.

Os Templários negavam 3x Jesus no seu acto de tomada de Cavaleiro, sim. Jesus entronizado pelos Vaticanistas; pela Igreja imposta ao comum dos mortais, enquanto Deus.

Jesus, o Nazoreu, filho de Deus, como qualquer outra pessoa, não era Deus, mas como qualquer outra pessoa, tinha a capacidade de alcançar a Consciência de Deus = Cristo.
E conseguiu; era um Homem Bom. Um Exemplo para os demais.
Canal de Amor.

Sim, a morte e ressureição a cada dia; uma oferta de Deus à sua Criação de Amor.
E sim, uma nova oportunidade.

Sim, o Galo acompanha Pedro, mas terá de ser sempre, lido em conjunto com Judas.

Foram instrumentos, sim.
Actores numa 'peça' mundial que está em cartaz há mais de 2000 anos.
Se me perguntares se era importante: era. Vivemos num mundo de dualidade, e essa dualidade Pedro - Judas, são um puzzle invertido, onde os papéis aparentes são inversos à Realidade.

O Galo da Torre de Monsanto é uma cópia de um Prémio de 1939.
E colocado na Torre com o orgulho de quem o pode envergar.

Mais uma vez, o Galo/Abraxas só o é quando entendido nessa dicotomia invertida, e compreendido.

Agradeço o teu comentário