quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Cerca dos Sete Montes

A CERCA DOS SETE MONTES.

A ORDEM DE CRISTO, DO SÉCULO XIV AO SÉCULO XVI.

Segundo Amorim Rosa, em "Anais do Município de Tomar", já no Reinado de D. Dinis o maciço montuoso que integra o monte castrejo de Tomar, era chamado o lugar de "Sete Montes e Sete Vales", e era profícuo na cultura da oliveira.

Estes Sete Montes, são um sistema de morros colinares de relevo acentuado, que se desenvolvem em forma de arco de ferradura, partindo, junto às várzeas do rio, de norte para poente, para depois inflectirem para sul, e virem de novo findar nas várzeas ribeirinhas. Encerram no seu seio, um extenso valado, que desce de poente para nascente, até à várzea do Nabão: o Vale da Riba Fria.

Amorim Rosa, na obra supracitada refere um outro documento, da época de D. Manuel I, indicando, já então, a existência de um recinto murado no lugar e referencia o ribeiro que descia o Vale; é citado como o "ribeiro que vem da Cerca, e do Vale da Riba Fria, pelo pé dos Montes".

É provável que a cerca a que refere este documento, seja a primeira cerca conventual, coeva da Reforma que D. Manuel I fez na Ordem de Cristo, pela qual consignou definitivamente o Castelo de Tomar a Convento, desalojando, os moradores da "Cerca da Villa".

Notícia da cerca do Convento, situada no Vale da Riba Fria nos dá também Amorim Rosa, nos seus "Anais", pela mão do escrivão que relata a "operação imobiliária" que Frei António de Lisboa, realizou no lugar dos Sete Montes e Vales, para o transformar numa grande cerca conventual.

Sobre a vastidão da Cerca e da operação imobiliária que a consumou, assim regista o escrivão da Ordem em 1529(Tombo das Rendas e Bens do Convento, Arquivos Nacionais - Torre do Tombo):

"...Comprou todo o Lugar de S. Martinho e assí todas as casas que nele tinha João de Castilho, Mestre das Obras do Convento, com todas as cerradas, terras e chãos que o dito João de Castilho tinha ao redor, e assi pessoas que o todo se include ora no cerco das obras novas e no da Riba Fria, com muitas outras heranças que dentro do cerco Riba Fria foram havidos por Frei António. E houve o dito Frei António para o dito Convento todas as propriedades de olivais e terras de pão, cerradas, matos, montes e vales que se includem no Cerco da Riba Fria que está a conjunto da banda à Cerca do dito Convento, o qual está todo cercado de parede de pedra e cal com altura de braça e meia, e começa da banda do Norde do dito Convento (cerca) e vai correndo por esta banda do Norte ao longo da estrada que vai para Ourém e para Torres Novas até à Cruz de S. Martinho, onde se aparta o caminho de Torres Novas do de Ourém, e dai volve contra o Sul, partindo logo com o dito caminho que vai para Torres Novas, e vai seguindo até vir dar na Calçada que vai da Vila para Santa Maria dos Anjos e para Torres Novas, e daí desce ao longo da dita calçada e desce ao Ribeiro que vem da Riba Fria e passa além por trás das casas dos moradores da Vila, que são as Olarias, que vai cerrar com o cerco ao redor e fica dentro dela a propriedade de Sete Montes e Vales, que já dantes era da Ordem e pertencia à Comenda de Cem Soldos. Para isto fez muitas trocas de propriedades da Ordem com os seus donos, para assi ficar tudo pegado."

A CERCA CONVENTUAL, DOS FINAIS DO SÉCULO XVI AOS FINAIS DO SÉCULO XIX

Independentemente das referências bucólicas emanadas da "Lusitânea Transformada", não conhecemos outras fontes que, de concreto, nos informem do conteúdo da paisagem da Cerca dos Sete Montes, No entanto, Amorim Rosa, na obra citada, refere um documento da Ordem, de 1590 que faz menção dos "Olivais dos Sete Montes que ficavam dentro da Cerca que se fez de novo".

Durante todo o século XVII e até meados do século XVIII, a Cerca terá sido exclusivamente local de lazer e recolhimento, no meio da natureza, dos freires de Cristo. Porém, a partir do terceiro quartel do século XVIII, a Cerca terá perdido esse carácter de lugar conventual, para surgir como uma propriedade da Ordem destacada da própria estrutura espacial do Convento de Cristo, isto é, uma Quinta.
É como Quinta dos Sete Montes que ela é referida em documentos de arrendamento do século XVIII.

Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, por D. Maria II, os bens da Ordem de Cristo são anexados à Coroa, para posteriormente serem desbaratados quer por dons, quer por vendas em hasta pública. No Diário do Governo n° 265, de 9 de Novembro de 1837, é anunciada uma lista de propriedades da Ordem de Crista que serão postas à venda em 4 de Maio do ano seguinte.
Nessa lista consta a . . ."Cerca do Convento de Cristo, denominada dos Sete Montes, que se compõe de terras de pão, vinha, oliveiras, pomares, hortas, terras de mato; e é toda murada em circunferência." ... Foi à praça por cinco mil réis...

Foi adquirida, bem como a parte sul/poente do Convento, a horta dos frades e a antiga Cerca da Vila, por António Bernardo Costa Cabral, ministro do Reino e Conde de Tomar, por graça da Rainha.

A CERCA DO CONVENTO DE CRISTO COMO MATA NACIONAL DOS SETE MONTES

A Cerca, foi propriedade do Conde de Tomar e dos seus herdeiros durante quase um século, os quais mantiveram a vocação agrícola da quinta; até que, em 1936, os bens que a família Costa Cabral detinha no Convento de Cristo, (a propriedade urbana e a rural), foram vendidos em hasta pública e... comprados pelo Estado.

A Cerca ou Quinta dos Sete Montes foi então arrematada por um representante do Ministério das Finanças por quinhentos e sessenta mil escudos, o que para a época fora uma quantia muito generosa.

Foi a seguir transformada, a Cerca, em campo experimental hortícola pela Brigada Agrícola de Tomar, entidade que durante dois anos ficou responsável por este património do estado.

Em 1938, por vontade da Edilidade Tomarense, foi transformada em Parque Florestal e Jardim Municipal. Para o efeito, foram encaregues pelo Governo, os Serviços Florestais de Sintra (delinear e plantar a Mata, bem como o Jardim Municipal
que veio a ocupar grande parte do "Vale da Riba Fria", isto é, o valado que discorre por entre os Sete Montes.

Com a intervenção dos Serviços Florestais de Sintra, foram abertos novos caminhos no interior da Cerca, plantadas numerosas árvores, sobretudo pinheiros a coníferas, por entre o olival existente na Cerca.

Os valados e as suas hortas desapareceram, à excepção da parte já referida, do "Vale da Riba Fria", cujas hortas deram lugar ao Jardim Municipal.

Em 1986, a "Mata dos Sete Montes", como passou a ser designada, a cerca do Convento, foi integrada no Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservaçao da Natureza. Desde então passou a fazer parte do património natural, classificado.

- ICN (Historial: Álvaro Barbosa)

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