terça-feira, 9 de agosto de 2011

Templo

Templo de crenças e d’amores puros!
Comunhão de verdade! onde não há
Bonzo à porta a estremar fiéis e impuros,
Uns para a luz… e os outros para cá…
Ali parecerão os mais escuros
Brilhantes como a face de Jeová,
Comungando no altar do coração
No mesmo amor de pai e amor d’Irmão!

Oh! este amor é doce
Como ambrósia e como um beijo casto!
Orvalho santo, que chovido fosse,
E o lírio absorve como etéreo pasto!…
Dilúvio suave, que nos toma posse
Da vida e tudo, e que nos faz tão vasto
O coração minguado… que admira
Os sons que solta esta celeste lira!

Só ele pode a ara sacrossanta
Erguer, e um templo eterno para todos…
Sim, um eterno templo e ara santa,
Mas com mil cultos, mil diversos modos!
Mil são os frutos, e é só uma a planta!
Um coração, e mil desejos doudos!
Mas dá lugar a todos a Cidade,
Assente sobre a rocha da Igualdade.

É desse amor que eu falo! e dele espero
O doce orvalho com que vá surgindo
O triste lírio, que este solo austero
Está entre urze e abrolhos encobrindo.
Dele o resgate só será sincero…
Dele! do Amor!… enquanto vais abrindo,
Sobre o ninho onde choca a Unidade,
As tuas asas d’águia, ó Liberdade!


- Antero de Quental

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