sábado, 20 de março de 2010

A propósito da tríade ...

António José Alves teve a amabilidade de comentar o artigo: D. Frei Papinhas - a explicação.

Refere:

Olá, boa noite.
Julgo que aqui não é o caso de fazer parte de uma tríade. Trata-se de uma questão de poder e da sua aplicação como monarca. A Ordem de Cristo tem de facto muito poder, ainda mais graças à regência de D. Henrique. É esse poder que mata D. Diogo. Este morre por ser duque ou por ser Mestre da Ordem de Cristo? Certo é que estava à frente de um plano de revolta contra D. João II. Quando o monarca dá a regência a D. Manuel é uma forma de manter a Ordem calma pois terá à frente alguém que sabe quanto custa uma revolta. Mas é alguém que também sabe quanto vale aquela Ordem. Quando D. Manuel sobe ao trono, já não tem a percepção, mas antes a certeza, do poder que por ali passa, dado que é regente da mesma há 11 anos. O rei não pode ser desautorizado e esta Ordem pode ajudar um rei ou condená-lo. Opta então por lhe cortar um pouco do seu poder na capital. Este poder na capital era recente dado que os Templários não foram grandes fundiários em Lisboa mas mais nas antigas zonas de marca. A Ordem de Cristo na expansão não faz grande coisa, mas servirá num futuro próximo para obtenção de benesses. A componente militar há muito que estava aniquilada. Agora quase que só era honorífica. Mas apesar disso detinha poder e isso não pode ser tolerado num Estado que se está a modernizar.Aliás as Ordenações Manuelinas provam isso mesmo entre outras formas públicas como os pelourinhos manuelinos. E esta centralização de poder já vinha, de uma forma muito visível, dos tempos de D. João II e era mesmo mais anterior. O rei D. Manuel encarna muito naturalmente essa corrente de centralização que começa a percorrer a Europa. A Ordem mantém todos os privilégios mas tem realmente que obedecer (conforme consta no normativo) ao Mestre ou governador/administrador e é isso que vai acontecer. Ainda estamos longe da pequena "rebelião" de 1566. Muito obrigado e boa noite. Finalmente blogs a sério e não brincadeiras. Muito obrigado.

19 de Março de 2010 22:42

A minha réplica vai neste sentido:

Boa noite, antes do mais permita-me agradecer-lhe as suas amáveis, depois e ainda que discordando de si, o qual já de seguida tratarei de fundamentar, ter tido a gentileza de aqui expressar a sua opinião.

Quanto à súmula, tendo em conta que é extensa, e a caixa de comentários permite apenas o máximo de 4,096 caracteres, irei replicar-lhe em artigo.

- Trata-se de facto de uma tríade, se não vejamos - D. Manuel, Pai de D. João III (que lhe sucedeu) e do Prior António de Lisboa do Convento de Cristo, sede da Ordem e Executor no terreno, aplicou o princípio mais puro da conquista e manutenção do poder; conquistou o poder conquistando o título de Mestre da Ordem primeiramente, e de seguida tendo chegado a Rei (já com a "escola toda" de como funcionava a Ordem), passou a aplicar o princípio do poder absoluto - controle do espiritual e do temporal. Não mais a Ordem tem opção, aliás, os seus elementos mais valiosos, ou se retiraram definitivamente por iniciativa própria ou foram terminantemente afastados.
De seguida, D. João III continuou a estratégia delineada por D. Manuel, que não teve tempo de colocá-la, totalmente, em prática, e o seu dilecto e «ilegítimo" filho Prior António de Lisboa, colocou em prática no terreno todas as maldades arquitectadas pelo esmerado Pai, meio-irmão e "confrades".
Verdade é, que cada um deles tentou ao máximo ser pior que o outro ... Inquisição?!!!!

- Sim, a Ordem tinha muito poder. E D. Manuel não tolerava que o poder estivesse "noutra mão" que não na sua própria.

- A regência do Infante foi 'apenas' mais um marco na História da Linha; é que, não foi o Infante que fez a Obra, foi a Obra que criou o "Infante". Para ser mais clara, os planos e projecto de descobrimentos et al, já exisitiam, o Infante apenas teve a sagacidade de não os obstar.

- No tocante a D. Diogo, o Rei D. João II nunca foi de meias medidas, cortava o problema pela raiz. E tal sucedeu não por este ser Mestre da Ordem, mas pelas intenções 'tout cour'.
Já o elemento estranho volta a recair sobre D. Manuel que, sendo irmão de D. Diogo - e considerando que tanto prezava os laços familiares próximos, continuou a "sabugar" D. João II, que estranhamente diga-se, aceitou como boa a atitude de "descaso" de D. Manuel ...

- De facto a Ordem era e foi muito poderosa, e foi manipulada a partir do momento em que D. Manuel assumiu o trono. Desvirtuou-se, deixou de ser Livre.
Passaram a ser "gatos de lareira", cujo único intento era saber quanto iriam receber de rendas, e o que é que seria o menu do almoço e do jantar, mais uns cantochões bem afinadinhos para sua alteza avaliar ... ora, isto de Ordem nada tinha;

- Quanto a serem fundiários em Lisboa, por difícil que possa ser, tinham bastante mais do que é commummente conhecido!
Um dia destes publico alguns bens em Lisboa;

- De facto a centralização do poder temporal já vinha de D. João II, mas foi D. Manuel que se fez inscrever na História como o grande impulsionador da positivização, daí as Ordenações; mas também, quis fazer-se presente em todos os recônditos do país, como forma de apagamento das memórias ...

- A Ordem passa a fazer-se representar pelo Rei, ou Rainha, aliás é-lhe passada Procuração por parte de todos, mas mesmo todos, os elementos da Ordem! Não lhe bastava a Bula ... (um espertalhão...).
A 'rebelião' foi imediatamente abafada; D. João III tinha não só a "escola do Pai", como foi enriquecido com a do meio-irmão e de todo um conjunto de elementos inquisitivos ... subjugar um Povo e uma Ordem à base de "Chicote Inquisitivo ... não é de ser-humano.

Deixe-me finalizar esta minha, longa, réplica com as últimas palavras do Conde D. Henrique (de saudosa memória) a D. Afonso Henriques (Homens, pois) - é esta a medida de um Líder:

“sei companheiro aos fidalgos e dá-lhes todos seus direitos; aos concelhos faze-lhes honra, e faze de guisa que todos hajam direito, assi os grandes como os pequenos”

“e nom consentas aos teus homens de ser sobervosos e atrevudos em mal fazer nem faça[m] força a nenhum, ca perderás teu bom preço se tais coisas nom castigares”

8 comentários:

Anónimo disse...

he he he
pio!

...e o frei papinhas voltou !!!

Sigillum disse...

Infelizmente

Criptex disse...

Saudações,
Parabéns pelos textos; tanto o primeiro como a «réplica».

Sigillum,
Não consigo compreender o «azedume» histórico, em torno da figura de D.Manuel.

Achei o txt do António Alves mt interessante. Destaco uma frase: "A componente militar há muito que estava aniquilada. Agora quase que só era honorífica. Mas apesar disso detinha poder e isso não pode ser tolerado num Estado que se está a modernizar."

De facto assim deve ser. Importa agora saber a razão de existir deste tipo de «poderes». D. Manuel conhecia bem a ordem e o seu sentido de «pátria». Quero com isto dizer que o sentido iniciático deste tipo de «sociedades» mais reservadas, moldava, e continua a moldar, o carácter do «iniciado» no que respeita à sua percepção de elementos de substancia como por exemplo; a «igualdade».

Ab

Sigillum disse...

Olá Criptex,

Não percebes-te o azedume histórico em relação a D. Manuel e à sua prole?!

Aniquilaram a Ordem.
Transformaram-na numa coqueluche. Num objecto, numa coisa de somenos.
E não tem nada a ver com poder, ou com o controle do poder; há de facto uma grande confusão, quando consideram que a intenção era de controlar o poder. Não era.

A Ordem respeitava e aceitava o Rei e o(s) poder(es) do Rei.
A César o que é de César ...
Também é pacífico que já não existiam cruzadas, embora tanto D. Manuel, quanto D. João III, tenham queriam "armar uma". Não.

E também não era "iniciática" (palavrinha traiçoeira ...).
Era um repositório de conhecimento, esse era o "poder". De fazer bem ao próximo, e de ser activo; não uma amálgama passiva de gatos amestrados.

Estado que se está a modernizar?! Modernizar?!!
A Inquisição é modernização?!!
Valha-nos Deus, que os homens esqueceram-se.

O azedume.
Destruíram o que era verdadeiro, e inverteram o real significado.
Teria sido melhor extingi-la definitivamente, ao invés que a terem transformado num "objecto de entretenimento".

Ab.

Criptex disse...

Entendo o teu ângulo. Mas...
Acervo da biblioteca do Supremo Conselho da Maçonaria de França:
Manuscrito do séc.XIX: "Grade Subl.Du Souv.Grand Commandeur du T. sous le titre distinctif de l´Órdre du Christ [O.1318].
Ver: Miguel António Dias.Lx.1853
A Ordem de Cristo tinha vários graus de «Iniciação». É compreensível que tenham orientação nos altos graus da maçonaria templária francesa, e escocesa.
Reforço que se tratou sim, de uma questão de poder. D. Manuel conhecia a ordem a ponto de saber que não a podia destruir, nem lhe podia «virar as costas». Em todo o caso sabia bem que não queria «partilhar» o poder...

«Inquisição/Expulsar Judeus» seriam certamente temáticas «quentes», nos Capítulos da Ordem.

Ab

Sigillum disse...

Criptex,

Já só cá falta mesmo a Maçonaria ...

Criptex disse...

Tens razão. «Temos» a obrigação intelectual de continuar a ignorar e «escamotear» esta realidade e suprimir as suas evidencias...
A Historia repete-se.
Nada de novo portanto...

Sigillum disse...

A cada qual a sua visão do mundo; a que expressei é a minha, bem clara - assim o considero, sem rodeios ou subterfúgios.