segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Origens do Natal e Festas Pagãs

Os cristãos primitivos, aqueles das catacumbas romanas e que, eventualmente, foram lançados aos leões do circo, esses, não celebravam o Natal; nem no dia 25 de Dezembro, nem em qualquer outro dia.
Datar o nascimento do meigo Rabi não tinha a menor importância.
Os eventos relevantes de sua trajectória evangélica eram a Paixão [flagelação, humilhação, crucificação e ressurreição] e o dia da sua Ascensão aos céus.
Nos dois primeiros séculos da era cristã, o 25 de Dezembro era uma grande festa pagã na qual os cristãos se recusavam participar.

Porém, durante o processo de expansão da fé/cultura cristã, não somente em Roma mas, também no Médio Oriente e na Ásia, os líderes da Igreja nascente, perceberam a necessidade de encontrar um ponto de integração entre as culturas cristã e pagã de modo a que o cristianismo se tornasse atraente para os gentios, que deviam ser convertidos; pois a conversão sempre foi a missão primordial dos apóstolos e seus sucessores.

Fazer concessões a costumes proibidos pela lei judaica, como certos hábitos alimentares e a brigatoriedade da circuncisão, enfim, a política da adaptação possível dentro da doutrina, era uma atitude endossada pela actuação e profetização dos dois apóstolos mais prestigiados: Pedro e Paulo, como está registrado nas suas cartas [nos Actos dos Apóstolos], onde defenderam o respeito a determinados costumes gentílicos.

Em 305 d.C., o imperador Constantino promulgou o Édito de Milão, e o cristianismo foi legalizado no Império Romano.
Em 380, Teodósio, adoptou a fé cristã ortodoxa como religião oficial, e era cada vez mais necessário contornar o constrangimento das festividades pagãs sem, no entanto, proibi-las. [Quem tem coragem de cancelar o carnaval?...].
Muito habilmente, os padres [os patriarcas] da Igreja adoptaram a filosofia do "se não podes vencê-los, junta-te a eles".
Foi assim que o nascimento de Jesus tornou-se o tema perfeito para justificar uma festividade cristã importante na mesma época em que eram celebrados:

A Saturnália Romana
O Solstício de Inverno
O Nascimento de Mitra


Saturnália

A Saturnália era um pacote de festividades que tomavam conta do dia-a-dia dos romanos de 17 a 26 de Dezembro.
O dia 25, chamado de bruma, era dedicado a Apolo, Natalis Solis Invict - nascimento do sol invicto.
Ponto de encontro das mais diferentes nacionalidades; na Roma antiga evidenciava-se a convergência das crenças de diferentes povos.
Em termos gerais, considerava-se que a época marcava uma transição do Tempo: o deus, envelhecido ao longo do ano, morria no começo dos dias frios e, ao mesmo tempo, renascia no sol tímido da estação, deus-menino, recomeçando o ciclo de sua existência.

As Saturnálias celebravam a renovação do Tempo, o deus Saturno, para o romanos, Cronos, para o gregos.
No inverno, os trabalhos no campo estavam concluídos e o momento era de comemorar o fruto das colheitas.
As Saturnálias eram também chamadas de Festa dos Escravos, porque era uma espécie de mistura de Natividade e carnaval, naqueles dias os papéis sociais eram quase que anulados e a condição de servo era esquecida: todos podiam divertir-se, havia grandes banquetes, públicos e privados e, eventualmente, inevitáveis orgias.
A tradição incluía a troca de pequenos presentes e alguns romanos penduravam máscaras representativas de Baco [Dionísio, deus do vinho e do teatro] em pinheiros.

O Solstício de Inverno

Os cultos bárbaros europeus, em especial o culto às árvores, reverenciavam a mãe natureza no solstício de inverno [primeiro dia do inverno, entre 22 e 23 de Dezembro, a noite mais longa do ano] no Hemisfério Norte.
Além disso, para os germanos e os escandinavos, o dia 26 de Dezembro era a data de nascimento de Frey, deus nórdico do sol nascente, da chuva e da fertilidade.
Na ocasião, enfeitava-se uma árvore representando a Yggdrasil, que na mitologia escandinava era um carvalho gigantesco, eixo do mundo - Axis Mundi, fonte da vida, localizado no centro do Universo.
Esta árvore, também chamada de "carvalho de Odin" [ou Wotan] porque nela, curiosamente, aquele que era o maior entre os deuses nórdicos, criador da Humanidade, enforcou-se num ritual mágico a fim de conhecer os segredos da morte e da ressurreição [o que faz lembrar a mitológica "Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal do Gênesis bíblico.

Sorte a de Adão e de Eva que somente precisaram comer do fruto para ficarem tão espertos que foram expulsos do paraíso...]

O Nascimento de Mitra

Finalmente, o Natal cristão coincidiria também com o do nascimento de Mitra, o homem-deus do mitraísmo persa, culto com mais de 4 mil anos, principal religião concorrente do cristianismo, de Roma a Constantinopla.

Mitra, que por sinal, à semelhança de Jesus, nasceu em uma gruta, filho de uma virgem, e foi adorado por pastores e magos.

Não bastassem essas convergências tão convenientes, os últimos dias de Dezembro também eram festividades em outras culturas, como a egípcia, que celebrava o deus Hórus, outro filho de uma virgem; e, a cultura dos povos pré-colombianos que, na época natalícia, período de 6 e 26 de dezembro [no mês de Panquetzaliztli], lembram o aparecimento de Huitzilopochtli, outro deus solar, este, regente da guerra.

- Lígia Cabús

5 comentários:

Criptex disse...

O «Cristianismo tb é uma «Construção». Talvez um abrigo que se quer poderoso, para a protecção de uma «mensagem»; o eco de um «Verbo» antigo, que há 2000 anos se fez «Carne»...

Haverá melhor «obreiro/guerreiro» do que aquele que dá a vida por ti? Sejas «bom», sejas «mau»...?

Sobre este Postulado, rege-se a «Imortalidade» do «Homem»...

Sigillum disse...

Meu caro Criptex,

Jesus, o Nazoreu, nunca esteve em causa. Foi um Profeta, um Homem Bom.

Exemplo.

A questão, a problemática, reside na igreja que foi construída utilizando o seu nome.

Recusas o facto de tratar-se de uma instituição podre que se aproveita daqueles que a ela aderem? Que de espiritualidade já nada tem, restando apenas um enorme vazio espiritual, e um enorme ego e interesse material?

Jesus, o Nazoreu, profetizou que sob o seu nome, ou a coberto do seu nome, seriam cometidas as maiores atrocidades.
E assim foi.

Criptex disse...

Só entendo o teu azedume para com a ICAR, tendo em conta a tua (penso) visão «reformadora»...

A ICAR não é perfeita.
Há sinais que evidenciam uma demanda «umbilical» dentro da mesma. Uma questão de tempo...

É tal o teu «azedume», que me atrevo a questionar-te:
Se tivesses o poder de a «destruir», de modo a começar tudo de novo. Eras capaz de o fazer?

Há quem tenha esse poder.
E não o faz...
Não há «Rosa» sem «espinhos»...
Da mesma maneira, não deixa de ser «Rosa», por ter «espinhos»...
Acredito nesta «Rosa», e na responsabilidade que «temos» na sua «reforma».
Uma questão de «Amor»...

Ab

Sigillum disse...

Meu caro Criptex,

Trata-se de constatação de factos.
Azedume? Eventualmente, resultante de tantas "cicatrizes", mas tal não implica fazer parte da "tribo" dos "olho por olho, dente por dente".

Não tenho qualquer visão reformadora da Igreja Católica. É-me irrelevante a ICAR; existem indivíduos dentro dessa estrutura, Bons e Verdadeiros - pessoas, essas sim valiosas, a estrutura em si, é passageira.

Não tenho qualquer interesse ou desejo em destruir a estrutura, ela mesma tratará de se auto-terminar, de passar, de acabar, assim como tantas outras já foram e terminaram.

Há Rosas sem espinhos, não são é deste mundo.

O Amor, é transversal e encontra-se em todas as religiões, e em todas as interpretações e formas de ver Deus.

Como referi, a ICAR é-me irrelevante.

simon disse...

O posicionamento do nascimento de Cristo,localizado a 25 tem realmente a ver com o culto a Mitra que se queria inviabilizar a todo o custo. Os outros, como Horus não eram importantes em Dezembro mas havia Isis e o culto que se localizava nos inícios de Janeiro e daí o festejar do Natal ortodoxo no dia 6 de Janeiro. Tal servia para "impedir" Isis e Horus nos inícios do ano. Tal acção foi bem sucedida levando a igreja de Roma a fazer a representação do Dia de Reis como sendo importante mas inferior ao nascimento de Jesus, pois este era mais importante. Enfim, uma versão antiga do "o meu é melhor do que o teu". Tal verifica-se na iconografia cujas imagens ou desenhos são de dimensões inferiores à de Jesus.