quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mosteiro de Santo André de Rendufe


Época de Construção
Séc. XII / XVIII / XX

Cronologia
1090 - Mencionado em documento; Provavelmente fundado por Egas Paes de Penegate num couto doado por D. Henrique aos frades beneditinos do Mosteiro de Abadia;

1151 - Data de inscrição no pavimento da capela-mor;

Séc. XV - Encerrado por relaxamento da vida religiosa e transformado em colegiada sob administração do cardeal Alpedrinha; A família deste deteve o mosteiro até meados Séc. XVI;

1551 - Mandado reformar pelo comendatário D. Henrique de Sousa; posteriormente, conheceu, sob o governo de abades trienais, uma reforma e restauração;

1629 - desmontagem e restauro do órgão;

1697 - data do arcaz da sacristia, contratado por Marceliano de Araújo;

1716 / 1719 - Remodelado, com construção da nova igreja;

1719 / 1722 - conserto dos foles do órgão e afinação;

1722 - Executado o cadeiral;

1722 / 1725 - execução de um novo órgão;

1725 / 1728 - Reformado o interior;

1728 / 1731 - Edificado o dormitório;

1738 - douramento do cadeiral;

1755 - restauro e douramento dos órgãos, com intervenção de Fr. Manuel de São Bento;

1777 / 1780 - Executada a capela do Santíssimo Sacramento;

1779 - colocação de sanefas de talha;

1833 - extinção das ordens religiosas, passando a igreja a paroquial; o mosteiro é vendido a particulares;

1877 - Edifício monástico devastado por incêndio;

1948 - uma parte era propriedade de Felisbélia Amélia Azevedo Magalhães Rebelo da Silva Malheiro;

1960, 30 Abril - derrocada da abóbada e telhado da igreja, provocando grandes danos na decoração interior;

1998, 15 Outubro - Despacho de classificação de diversas estruturas existentes na Quinta do Mosteiro;

2005 - o Estado compra aos proprietários da quinta do mosteiro parte da parcela de terrenos em redor do imóvel;

2006 - a Câmara Municipal de Amares tenta promover a instalação de um polo da Universidade do Minho e um alojamento para professores convidados nas dependências monacais de modo a garantir a recuperação e reabilitação do espaço.

Tipologia
Arquitectura religiosa, barroca.
Mosteiro beneditino masculino com igreja de planta em cruz latina e nave única com fachada principal integrando duas torres sineiras e apresentando grande sobriedade estilística.
Retábulos de talha dourada, de estilo barroco nacional.
Dependências monacais desenvolvidas a S. com restos do claustro que seria de dois pisos, o primeiro com arcada e o segundo fechado com janelas de sacada.

Utilização Inicial
Cultural e devocional: mosteiro beneditino masculino

Utilização Actual
Cultural e devocional: igreja com culto
Devoluto: dependências monacais

Propriedade -
Pública: estatal (igreja, sacristia, claustro, ala O. e terreiro de acesso Particular: pessoa singular (ala N. e cerca)

Arquitecto Construtor Autor
Frei José de Santo António Vilaça (talha); Fr. Manuel de São Bento (organeiro).

Características Particulares
As imagens de granito constituem conjunto invulgar. A igreja possui ainda uma série de pedras românicas decoradas com rica temática e boa técnica, como as palmetas completas de sabor compostelano, o que nos sugere que a igreja românica deveria ter certa imponência. Pelos temas decorativos remanescentes, que têm paralelos na região e sobretudo na Sé de Braga (v. PT010303520005), a primitiva construção devia datar entre os meados até ao fim do séc. 12.

Dados Técnicos
Paredes autoportantes e estrutura mista.

Materiais
Granito, betão, madeira, ferro, talha, azulejos. Cobertura de telha.

Enquadramento
Rural, isolado num fertilíssimo vale com a antiga cerca conventual rodeada por alto muro.
A fachada principal da igreja e do convento possui amplo espaço precedendo adro murado com balaustrada de cantaria.
Na proximidade erguem-se algumas casas particulares.

Descrição
Planta composta por igreja cruciforme de nave única, capela-mor rectangular, capela adossada a N. e dependências monacais com claustro quadrangular desenvolvidos a S.. Volumes articulados e escalonados de dominante horizontal, quebrados pelo verticalismo das torres sineiras, integradas na fachada pincipal.
Coberturas diferenciadas a duas águas na igreja, quatro nas dependências conventuais e cúpulas bolbosas nas torres.
IGREJA com fachadas rebocadas e pintadas de branco.
Fachada principal de um pano flanqueado por duas torres sineiras, com pilastras nos cunhais sobrepujadas por pináculos e ventanas em cada face.
Ao centro, abre-se portal de verga recta e cornija larga saliente encimada por três nichos com imagens ladeados por volutas e tendo os dois laterais inferiormente cartelas de perfil recortado. Sobrepujam-nos outra cornija e três janelões ovais interligados a meio por elemento decorativo.
A fachada é rematada por frontão triangular com vários elementos no tímpano.
A capela adossada a N. ao braço do transepto tem corpo quadrangular com cobertura coroada por lanternim.
No INTERIOR da igreja, coro-alto sobre arco abatido com amplo cadeiral em U de 2 filas e com espaldar decorado por painéis pintados e remates em talha dourada.
Junto ao coro, tem do lado do Evangelho um órgão e fronteiro tribuna semelhante. Lateralmente possui quatro capelas com retábulos de talha encimados por janelas, todos com sanefas de talha, dois púlpitos quadrados e quatro mísulas com imagens. Braços do transepto com sanefas de talha e capelas.
A capela adossada, no lado do Evangelho, é de cantaria, decorada com almofadas geométricas, tendo retábulo pétreo com colunas apoiando frontão curvo de lanços tendo ao centro trono.
Possui várias peanhas com imagens.
Arco triunfal de volta perfeita, coberto por sanefa.
Capela-mor rasgada por seis janelas laterais com sanefas de talha. Retábulo-mor de talha dourada com três nichos com imagens encimados por trono.
Cobertura em abóbada de berço pintado.
O corpo principal das DEPENDÊNCIAS MONACAIS, junto à igreja, tem separados por frisos dois ou três registos, consoante o nível do terreno.
A fachada principal é ritmada por pilastras sobrepujadas ao nível da cobertura por pináculos, tendo ao centro escada de acesso ao segundo piso.
O CLAUSTRO conserva apenas as arcadas toscanas de arcos plenos, do primeiro piso. Quadra com canteiros de cantaria de perfil recortado e chafariz central com tanque quadrilobado sobre um soco de 2 degraus, coluna galbada com diferentes níveis de decoração diversificada terminada em tronco-piramidal e taça quadrilobada com carranças em cada face.
Adossado à casa paroquial, ergue-se um corpo quadrado mais alto de três registos, com remate em empena, o qual possui ao nível do segundo varanda com alpendre de colunelos sobre plinto encimado por três óculos.
O superior é cego. No terreiro abre-se no muro da cerca, FONTE de espaldar, delimitada por pilastras suportando cornija coroada por cartela entre volutos e frontão quadrangular.
Ao centro da fonte, vão trilobado com bica aberta numa pedra de armas da Ordem. Inferiormente tanque circular.

Descrição Complementar
Junto ao arco triunfal, existe um órgão positivo de armário de 16 registos.

Observações
*1 - DOF: Mosteiro de Santo André de Rendufe, bem como as ruínas do seu claustro, incluindo o chafariz;
*2 - DOF: Sequeiro e Eira bem como das estruturas hidraúlicas em pedra, designadamente minas, aqueduto subterrâneo e aéreo, tanque e levadas, existentes na Quinta do Mosteiro de Rendufe.

(fonte: IHRU)

3 comentários:

Criptex disse...

«Séc. XV - Encerrado por relaxamento da vida religiosa e transformado em colegiada sob administração do cardeal Alpedrinha; A família deste deteve o mosteiro até meados Séc. XVI;»
Cardeal de Alpedrinha - D.Jorge da Costa...
Por cá desentendeu-se com D.João II e, teve que fugir. Em Roma foi admirado o suficiente para ser sepultado na Igreja de Santa Maria del Popolo. Ainda tem familia pelas bandas da «Gardunha»...

Sigillum disse...

Qual a razão que levou D. João II a não gostar do Cardeal?

Criptex disse...

Como já deves ter reparado, tenho um gosto especial pelos bastidores enigmáticos da historia; mas tb não ponho de parte as análises convencionais à luz de fontes pouco isentas, e talvez por isso, feridas na verdade (ainda que nem sempre), como as de Garcia de Resende.

Nas minhas demandas, busco sempre as contradições: as peças que não se encaixam...

Talvez por isso, não compreenda muito bem a separação dos dois alegadamente por razões vagas "hum cardeal tão mal ensinado, desagradecido, e de má condição, mandalo tomar por quatro moços de esporas, e afogalo em hum rio»
"sempre se podia propalar que ele caira por acidente..."

O Cardeal era um homem querido por D.Afonso, pai de D.João II e era poderoso, sim, bastante. Mas tb era inteligente e depressa percebeu que não haveria lugar para os dois (ele e D.João II).
"A sua influencia era tremenda na corte pontifícia, sendo considerado pela comunidade portuguesa de Roma como benfeitor e patrono(...)astuto,erudito, eloquente, artista, versátil, o Cardeal Alpedrinha encontrou-se perfeitamente à vontade entre os príncipes e os prelados do Renascimento Italiano.(...)
Humm...
Não discuto as oportunas ousadias centralizadoras de D.João II. Ainda assim, acredito que de forma oculta se entendiam muito bem. Ao ponto de - (...)As relações entre esta personagem eminente e D.João II eram peculiares. à distancia, cada um lançava sobre o outro olhares apreciadores e concluía, com igual convicção, que num só pais não podia haver lugar para os dois.(...)

Carta do Cardeal D.Jorge da Costa para o principe D.João. Bibliot. de Évora, Cod.CIII (2-20 fl.62)
«eu são homem de muita boa fé - escreveu de Itália ao Principe D.João - e per tal me tenho em as couzas do serviço del Rey vosso pay E vossas, postoque me vos sempre ouvessees e tinhaes per homem doutra ley»

No tempo de D.João II a influência portuguesa na Santa Sé era poderosíssima, na sua maior parte foi sempre exercida por este velho Cardeal, e dizem os doutos «inimigo do Rei». Seria mesmo? Na versão oficial acredito que sim. Mas as evidencias são outras...
Em breve vou acrescentar mais algumas coisas no Forum dos Cav.G. Thomar.

Entre algumas preciosidades tenho uma de Elaine Sanceau (1959) - D.João II. Gostei bastante.
Abraço

HM
criptex sub Rosa


abraço