quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Miragens das éras"

Como a taça do velho rei de Thule
Que dá vigor nos apagados annos,
E, no exhalar o alento derradeiro,
Se atira ao revoltoso mar profundo:
Tambem as gerações, uma após uma,
Levadas na voragem das edades,
Arrojam sobre o pélago fremente
Do tempo imensuravei que as absorve,
Taça dourada—a Tradição, por onde
Da vida o travo, o goso e a dor provaram.
É largo oceano o Tempo: ondas sobre ondas
Parecem n'elle as gerações passando,
Como o curso fatal dos grandes rios
Que vão perder-se no insondado estuario.
Ah, não é só a vida o que se finda!
Esgotam-se as copiosas catadupas,
Ai torrentes caudaes, os fundos mares.

D’esses rios e mares que mais resta
Além da móle de areiaes immensos,
Feitos d’arestas soltas, diamantinas,
Confundindo os detritos de outros sêres,
Sêres extranhos, que evocou o terra,
A mãe fecunda que devora os filhos?
De tantas gerações, baixeis submersos,
Das civilizações mudas, vetustas
Alguma cousa resta,— e persistente
Como esses areiaes diamantinos,
Mysteriosa como esse informe esboço
Que a natureza sem cessar amolda:
Tal é a infinda tradição das éras,
Lotus pairando sobre o largo oceano.
Bem vinda a Tradição! Oh fórma errante
Que andas de cyclo em cyclo sempre em busca
De quem um novo espirito te insufle;
Como alma do passado que transmigra,
Vens ao homem trazer-lhe mais coragem.
Dar mais ardor ao seu combate longo.


(...)

- T. B.

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