- Santa Rosa ViterboDepois que Resende, no Liv. IV, Antiqut. Lusit., aduziu as inscrições dedicadas ao deus Endovelico, que se acham no frontíspicio do convento dos Agostinhos de Vila Viçosa, e outra que se vê no castelo da Vila do Alandroal, extraídas todas das ruínas do famoso templo, que a esta divindade falsa se erigiu num outeiro não longe da vila de Terena: depois que Brito tratou largamente do mesmo assunto no Tomo I da Mon. Lusit., nada mais resta, que assentirmos aos que dizem, que fora este templo fundado por Maharbal, capitão Carthaginez, e dedicado a Cupido; pois a figura do ídolo, com os olhos fechados, o coração na boca, e asas nos pés, bem claramente nos mostram a natureza do amor profano, que em nada repara, tudo descobre, e n’um instante se remonta, foge, e desaparece, deixando frustrados, e iludidos os seus devotos.
Diogo Mendes de Vasconcellos, nos seus escholios a Resende, desaprovando a conjectura fraca, de que alguma povoação chamada Endovelia désse o nome a Endovelico; e mesmo que este fosse o deos dos caminhos; se convence de que a gentilidado cega lhe dera aquele nome, persuadida que ele tivesse particular virtude para ele arrancar e extrair do corpo setas, dardos, ossos, pedras, ferros, e quaisquer outras coisas estranhas, que nele se aferravam, e intrometiam. Porém icado o Amor a divindade mais poderosa para arrancar os segredos do coração humano, não havendo já mais reservas entre os que muito, e profanamante se amam: foi muito natural chamar-se Endovelico, aquele deus, que poderosamente arrancava os segredos mais intimos, e os mais recatados pensamentos: quasi valde, aut intus avellens. Du Cange. v. Endo, diz o seguinte: «Veteriubus Latinis Endo, vel Indu, idem erat quod Intus a Graeco ENDON: unde voces pler aeque v.g. Endoclusus, Endofestare, Endortium, Endopetitus, Endorigus, etc, por Inclusus, Infestare, Initium, Impetitus, Irriguus, etc.» Digamos pois que Endovelico era o mesmo, que Endoavellens, ou Intusavellens.
A sua primeira estátua foi de prata maçiça; mas roubada com todas as mais preciosidades raras do seu templo pelos soldados de Julio César quando conquistaram Hespanha: outra de fino mármore substítuiu a primeira, a qual os Cristãos meteram depois no grosso da parede da Igreja de S. Miguel (como tendo o diabo aos pés) onde, quase todos os nossos dias, foi achada, e feita em pedaços por gente rústica, e que não sabia estimar esta maravilha da escultura, como diz a Chronica dos Eremitas da Serra d'Ossa.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Endovélico
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