domingo, 31 de janeiro de 2010

Transumância e Natureza

A transumância apresenta-se como uma partilha intrínseca entre o ser humano, os animais e a natureza em todo o seu esplendor.

Um momento de paz, reflexão e contacto directo com a essência daquilo que o rodeia.

A palavra transumância, que vem do latim trans (além de) e humus (terra, a região) significa a migração periódica de um rebanho, seja de ovinos, caprinos ou bovídeos, da planície à montanha ou da montanha à planície, e isso em função das condições climáticas, e, portanto, da sazonalidade.

O pastoreio funde as suas raízes em tempos imemoriais. Desde o Neolítico, uma vez conseguida a domesticação, o género humano orienta a guarda, criação e reprodução dos animais recorrendo a técnicas adequadas, aproveitando os pastos ao ar livre com o objectivo de obter do gado apascentado diversos produtos.

Na Península Ibérica pôde observar-se desde tempos recuados movimentos naturais e sazonais de gados herbívoros que abandonam o território de origem para se alimentarem de pastos frescos em solos de outras zonas. Esta forma de pastoreio, conhecida por Transumância, consiste fundamentalmente no deslocamento periódico de gados entre dois regimes determinados de clima diferente.

As características oro-climáticas da Península permitem aos gados utilizar os pastos de forma alternativa e sazonal. Aliás, a elevada altitude média e os contrastes entre as regiões atlânticas, continentais e mediterrâneas favorecem mais o pastoreio migratório do que o sedentário.

Sabe-se pouco da história, evolução, culturas e géneros de vida ligados a esta forma de relação do homem com o meio. Supõe-se que as mais primitivas deslocações remontem à época pré-romana, pela descoberta de vestígios de trilhos através dos quais circulavam os rebanhos.

Há quem pretenda demonstrar que a Transumância dos tempos modernos é, simplesmente, um prolongamento daqueles pretéritos e incipientes movimentos que não passariam de deslocamentos precários de curto alcance.

Durante o processo de romanização, as leis reconheciam a Transumância e protegiam as vias pastoris, as quais incluíam lugares convenientes para alimentar os rebanhos. Na época visigótica foram, também, tomadas medidas de protecção.

Foi na Idade Média que assumiu maior importância devido à difusão que atingiu. O séc. XII foi um período chave na história da Transumância, caracterizado pelo notável incremento do número de cabeças de gado.

Porém, é no séc. XVIII que se vive a época mais brilhante, devido à procura de lã de qualidade nos mercados internacionais.

Até finais do século passado, o fenómeno mantém-se pujante em toda a Península. A partir de então, assiste-se ao seu declínio generalizado, ainda que de uma forma muito desigual, consoante as regiões.

De acordo com estatísticas recentes, regista-se em Espanha uma forte diminuição dos efectivos pecuários envolvidos em movimentos transumantes desde há três décadas. Em certas montanhas, a prática foi totalmente abandonada, enquanto noutras a decadência é notória cada ano que passa.

Como causas desde declínio podem apontar-se as seguintes: envelhecimento da população activa, dificuldade de recrutamento de pastores, diminuição do número de cabeças de gado, modernos sistemas de estabulação, um certo individualismo dos criadores, os elevados custos e a nova orientação da P.A.C.

As longas viagens do gado transumante, que em Espanha chegavam a atingir largas centenas de quilómetros, passaram a fazer-se de camião ou de comboio, em virtude das vantagens de ordem económica e comodidade que estes meios de transporte oferecem. São escassos os rebanhos que na actualidade se deslocam a pé através das antigas canadas, cujo estado de conservação é muito deficiente, tendo até desaparecido em certos troços.

Estas antigas vias pecuárias constituem um valioso património histórico-cultural, a merecer revitalização.

Em Portugal, a Transumância conheceu, em tempos recuados, certa pujança. No Verão, praticava-se das terras baixas da bacia do Mondego para as serras da Estrela e de Montemuro. No Inverno, fazia-se das terras altas da Estrela para regiões mais quentes. Eram as "invernadas", que levavam os rebanhos para os campos do Mondego, para a Idanha e para o vale do Douro onde a folha da vinha servia como alimento.

Praticavam-se assim dois tipos de Transumância: a estival, ou ascendente, caracterizada pela deslocação dos rebanhos até aos planaltos serranos onde abundam pastos verdejantes durante o Verão; por sua vez, no Inverno, face à escassez de pastos motivada pelas condições desfavoráveis do clima, os rebanhos desciam da serra para pastos em regiões temperadas. Era a Transumância invernal, ou descendente.

Na actualidade, apenas um rebanho que não atinge o milhar de cabeças, na sua maioria constituído por ovinos, mantém viva a tradição de, anualmente, por alturas do S. João, iniciar uma caminhada desde Barbeita, nos arredores de Viseu, localidade de reunião dos efectivos, até à serra de Montemuro, onde permanece até meados de Agosto.

Ainda há pouco mais de trinta anos, cifravam-se em 12 o número de rebanhos que subiam ao Montemuro em busca das pastagens viçosas que a serra oferece por alturas do estio.

Desde então, a decadência acentuou-se, restando apenas um rebanho que, graças à persistência de três homens, faz com que uma antiquíssima prática, com origem nos tempos de Viriato ( segundo a crença popular ), ainda não se tenha extinto.

Cremos que, se forem tomadas medidas que visem a revitalização desta forma de pastoreio, será possível manter viva uma tradição arcaica cuja origem se perde nos tempos.

- Américo Oliveira e Filomeno Silva

Uma Assoc. dedicada à Transumância e Natureza.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A fabulosa Catedral de Torre de Moncorvo

Quem diria?
(Imagens da DGEMN-IHRU)

Torre de Moncorvo já foi Comarca.

Diz-nos, o Descripçam Chorografica do Reyno de Portugal, o seguinte:
Em 41º e 2 m. de lat. e 11º e 36 m. de long. entre os rios Douro, e Sabor está assentada a nobre Villa da Torre de Moncorvo oitenta légoas distante de Lisboa.
Foy fundada por El Rey D. Sancho II, pelos annos de 1216.
El Rey D. Diniz lhe deo foral, que depois reformou El Rey D. Manoel em quatro de Mayo de 1512.
Tem voto em Cortes com assento no banco treze, e nela tem a sua habitação muita, e antiga nobreza com notavel policia, e distinção no seu tratamento.
Os edificios publicos consistem na Igreja Matriz de nobre architectura, dedicada a N. Senhora da Assumpção, hum Hospital, e extra muros o Convento de S. Antonio dos Capuchos fundado cm 1569.
Nesta Vila está o armazém, e feitoria dos linhos, e canhamos, que se criaõ nos campos da Vellariça, secundados pelas inundações do Doiro, e he a cultura de mayor importancia, que tem o Reyno para apresto das armadas, por ter qualificado o uso a sua bondade, e fortaleza.
Huns annos por outros se recolhem 160 mil arrateis de linho, e se se encanarão as aguas, que mudando frequentemente o seu curso, alagaõ, e destroem os linhos semeados, se tirará muito mayor lucro em utilidade da Provincia, e do Reyno todo.
Esta Comarca consta de vinte e seis Vilas, cento e oitenta e duas Freguezias, vinte mil fogos, e perto dc secenta mil almas.
Estendese por espaço de dezaseis legoas de Norte a Sul, e quasi outras tantas de Leste a Oeste.
Os Conventos, que nella se achaõ, saõ os seguintes:
N. Senhora do Villar da Congregaçaõ do Oratorio no termo da Torre de Moncorvo.
O Convento de Religiosos Trinos termo dc Villarinho da Castanheira fundado em 1500.
O de Religiosas de S. Bento da Vila de Murça de Panoyas.

Trata-se de um local natural de retiro espiritual - eremitismo e peregrinação (local de passagem para Santiago de Compostela).

Felices qui se praesenti saeculo nequam advenas et peregrinos exhibent, immaculatos custodientes ab eo.

- Bernardo de Claraval, Sermo sextus

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Inda que eu ria e me cale,
que me eu faça surdo e cego,
bem vejo eu porque o da Vale
correu tanto ao meu galego!
Como cum leão fez festa!
Mas inda mal, a la fé,
porque um escrito na testa
não traz cada um de quem é.

Antre craros e escuros,
ladrões de seiscentas cores
andam por aqui seguros,
não lhe saem tais corredores.
Após quem toma por si
e primeiro mata ou morre
não corre o da Vale assi,
que após um tolo assi corre.

Bom matador, bom ladrão
que fugindo arma entretanto,
deixou acolher bastião,
que pica e não rende tanto!
Vive pola tua pena,
outrem prenda, outrem condene,
não me toque no da pena
em que te as barbas depene.

Escreves polo Ribeiro,
anda após o mais proveito.
Hás-de pagar o dinheiro,
ganham a torto ou a dereito.
Deixa andar os encartados,
deixa-os, que tem os caminhos
de palhetos ouriçados,
que andam como porcos espinhos.

Come e bebe, pois te presta.
Não cures das assoadas
que se vem juntas à festa
e vos têm todos em nadas.
Onde vires um coitado
que, em te vendo, perde a cor,
dá após ele, homem ousado!
Não se vá tal malfeitor!

Executores da lei,
havei vergonha algum dia!
Este chama: aqui del-rei!
estoutro chama: a valia!
outro chama: Portugal!
De varas não há i míngua.
Desata a bolsa, que val,
traze sempre atada a língua.


- Francisco de Sá de Miranda, Sobre a prisão de um seu galego

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ermida de Santo António da Ussa

Ou, Capela de Santo António na Barroca d'Alva

Cada vez que penso nesta Ermida ou Capela, lembro-me sempre da Quinta da Cardiga.
Aliás, faço naturalmente confusão!
A primeira vez que vi uma fotografia, pensei imediatamente na Cardiga ...

Diz a Cronologia da IHRU que a data, conjectural sim mas aceite pela entidade, de construção é o Séc. XVI.
Ora, uma análise da construção diz-nos que é muito anterior ao Séc. XVI.
Terá sofrido, isso sim, alterações (ou antes, e como em todos os locais, "deformações").

Tantos pombais perdidos ...

Capella de Santo António na Barroca d'Alva

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mosteiro de Santa Maria de Seiça

O Mosteiro de Santa Maria de Seiça era masculino e pertencia à Ordem de Cister.

Teve origem numa pequena comunidade de eremitas ou monges já existente em 1175, ano em que D. Afonso Henriques lhe outorgou carta de couto.
Este rei foi o fundador de Seiça, enquanto doador do domínio inicial do mosteiro, mas foi D. Sancho I que mandou construir a abadia e introduziu os monges do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça na comunidade, a partir de 1 de Março de 1195, data da doação do Mosteiro ao abade de Alcobaça, D. Mendo.

No "Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros que havia nos reinos de Portugal e Algarves, pelos anos de 1320 e 1321" surge taxado em 550 libras, e pertencendo ao bispado de Coimbra.

No início do século XVI, o beneditino D. João Chanones, monge originário de Montserrat e reformador dos cistercienses em Portugal, foi abade comendatário de Seiça.

Por ocasião da visita do abade de Claraval, em 1532, havia no mosteiro dezasseis monges e dois conversos pertencentes à comunidade de Seiça e onze monges e cinco conversos de Alcobaça, que tinham sido enviados no início da reforma da sua abadia.

Em 1532, Seiça não era uma abadia de costumes decadentes, situação confirmada pelo facto de esta ter sido uma das casas a que os monges aragoneses se dirigiram em busca de apoio para reformar as abadias masculinas consideradas relaxadas.
De Seiça os visitadores aragoneses enviaram monges para os Mosteiros de São Cristóvão de Lafões, de Santa Maria de Aguiar e de São Pedro das Águias.
Não obstante a regularidade em que a comunidade vivia, a 26 de Maio de 1555, por bula de Paulo VI, o Mosteiro de Seiça foi extinto e os seus rendimentos e dependências aplicados à Ordem de Cristo, que tomou posse dos bens, a 20 de Junho de 1556.

Em 1557, com a morte de D. João III e, principalmente, com a bula "Hodie a nobis emanarunt littere" do papa Pio IV, dada em Roma, a 22 de Janeiro de 1560, os abades de Cister, veriam os seus intentos satisfeitos, pois foram anuladas as que extinguiam os Mosteiros de Seiça e de São João de Tarouca, e aplicavam as suas rendas ao Mosteiro de Nossa Senhora da Luz (da Ordem de Cristo) e ao Colégio de São Bernardo de Coimbra. Esta bula confirmava ainda a separação de alguns bens do Mosteiro de Seiça a favor da Ordem de Cristo, e restituía aos abades de Seiça a sua antiga dignidade passando a ser eleitos em capítulo provincial.

Em 1564, foi eleito frei Pedro de Rio Maior.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.
Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.

(fonte: Torre do Tombo)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Thomar

Da Chorographia Moderna, um precioso memorando


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Leptis Magna

Leptis Magna (ou Lepicis Magna pcomo às vezes é soletrado), também chamada de Neapolis, foi uma prospera cidade do Império Romano. Suas ruínas estão situadas em Al-Khums, Líbia, 130 quilômetros ao leste de Tripoli. Era uma das mais belas cidades do Império Romano devido a Septimus Severus, que a aumentou e embelezou, erigindo imponentes edifícios públicos, um porto, um mercado, armazens, lojas e bairros residenciais.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

sábado, 2 de janeiro de 2010

Libro de la Ynclita Caualleria de Cristo en la Corona de Portugal

Os Anais da U.A.M.O.C. prestam serviço público ao transcreverem da Obra existente de Frei Jeronimo Román, a descrição do Convento de Tomar.

Existente porque, o Códice começa a folhas 51 do volume. Está incompleto, faltando-lhe todas as folhas anteriores; e quais são essas folhas?
Nem mais, nem menos do que as folhas respeitantes à Ordem do Templo.

Este Códice faz parte do Vol. 648 da Colecção Pombalina da Biblioteca Nacional de Lisboa: Papéis antiguissimos. Mordomias da caza da Rainha a senhora D. Catharina.

Del templo y yglesia del conuento de Thomar com todo loque haze al proposito.
(Cap. 22)

Cierto es q la yglesia del conuento de Thomar tiene lamas particular traça ynuencion q yo hevisto ni ay en españa ysupe muchos años a pasando por este monasterio q estatraça se hallo porque asi estava la iglesia delsepulchro delsalvador yqloscavalleros templarios como uiuian en Jerusalem en muchas partes hazian sus yglesias aaquelmodo yquesta fue una de ellas mas hazeseme aspero decrer esto porque losque descriuen lacapilla del sancto sepulchro norresponde conesta traça y enlosmonesterios que yo heuisto antiguos desta orden sea en francia y por diuersas partes despaña no hallo cosa q parezca aeste en fin sea loq fuere q laprimera traça del templo q yo heusito aeste talle eselque yoquiero aqui pintar lomejor q yo supiere.

Primeramente estaesobra delprimero maestre deltemple en los reynos de Portugal llamado don Gualdin paez quees elquemas illustro loqueoy es Thomar. Labroseprimero unacomodigamos capilla ydentro se le traço otraobra que hiziese capillamayor olugar adondestuuiese el altar mayor yaesta llamn charola q propriamente es comounasandas otauernaculo com sus columnas y chapitel q lacubre pero pintemos primero lacapilla q propriamente es la yglesia ydespues hablaremos de laotra diuision que haze lafigura destacapilla es sesagona queesuocabulo proprio de Architectos quedando le enuio lenguaje suppiedad espreza quetiene diez y seys compartimientos enygual distancia los unos de los otros sualturaterapoco mas omenos sesentapalmos y decircunferencia mill yquatrocientos. Estos diez y seys angulos juntase unosaoutros counos pilares de medio reliene deobra toscana conpuesta yantigua y lospilares uancontinuando se astaloalto adonde lavoveda comienza abolver.
(...)