Paisagístico, rural e urbano.
Ponto marcante do território.
Cabeço fortificado a 763 m. de altitude, situado na margem direita do Rio Ponsul e sobranceiro ao núcleo urbano da paróquia de São Salvador, dominando as planícies que se estendem a partir da Serra da Gardunha, a O., destacando-se Idanha e respectiva barragem.
Integra intramuros a Capela de Santa Maria do Castelo e, extramuros, as ruínas da Capela de São João e da Igreja de São Miguel, vestígios do antigo povoado, e antenas de telecomunicações.
Observam-se, na envolvente, sepulturas e covinhas cavadas na rocha, constituindo um espaço caracterizado por afloramentos graníticos ciclópicos e vertentes abruptas. A E., vigia a zona fronteiriça, tendo a S. E SO. os vales do Ponsul e do Aravil, bem como o Cerro da Cardoza; a N., está virado para a Serra da Estrela, avistando-se os Castelos de Penamacor e Belmonte.
Descrição
Integra três recintos muralhados, o exterior de traçado irregular ovalado, englobando os dois recintos interiores.
Troços de muralhas com lanços de escada de acesso ao adarve, desprovido de merlões.
Este recinto integra a porta principal antecedida pela denominada Casa do Guarda, compartimento de planta rectangular, com acesso através de porta E. em arco pleno no exterior e arco abatido no interior, encimada por orifício destinado ao brasão, ladeado pela esfera armilar e observando-se, do lado direito uma inscrição *1.
O alçado N. integra três bombardeiras cruzetadas, uma das quais colocada no ângulo NE.. Porta principal N. em arco pleno e coberta com abóbada de berço e, junto à torre S., porta falsa em arco pleno. O recinto compreende quatro torres adossadas pelo lado exterior da muralha, duas de planta rectangular e desprovidas de vãos no lado N., uma torre idêntica no lado E. e uma torre de planta quadrada no lado S., com acesso através de lanço de escadas perpendicular ao adarve e apresentando porta de lintel recto no alçado N..
No interior do recinto observa-se a cisterna junto a um penhasco, apresentando dois arcos plenos e ausência de cobertura.
O recinto muralhado, contíguo à entrada principal, apresenta traçado rectangular e porta em arco pleno inserida no troço S., que integra bateria com quatro canhoeiras dotadas de duas rampas. O recinto muralhado, inserido no lado O., apresenta traçado oblongo irregular, porta em arco pleno com impostas salientes e integra torre de planta quadrada no lado E. e adossada pelo exterior, bem como marco geodésico. Neste recinto observam-se, sobre os afloramentos rochosos, sulcos que poderão corresponder às fundações de outras torres ou panos de muralha *2.
A Torre do Pião está localizada extramuros, em elevação fronteira ao castelo, sobranceira às ruínas da Igreja de S. Miguel, de planta quadrada e apresentando apenas parte dos muros correspondentes ao primeiro registo incompleto. Estruturas defensivas do núcleo urbano de São Salvador, com as portas de Santo António, do Espírito Santo, o denominado baluarte ou bateria e troço muralhado anexo à Capela de Santo António e cemitério.
Porta de Santo António voltada a O., de lintel recto integrando lateralmente três frestas, sendo encimada pelas armas reais e rematada por pequeno parapeito, tendo adossada guarita de planta quadrada, com cobertura de cantaria a uma água, com porta de lintel recto a E. e fresta a O.. Porta do Espírito Santo orientada, em arco pleno no lado exterior e de lintel recto no lado interior, ladeada por duas frestas, apresentando adossada guarita de planta quadrada, parcialmente sem cobertura, com porta de lintel recto a O. e frestas a N. e a E..
Bateria sob o parque de estacionamento do Lg. do Baluarte, com planta trapezoidal, as cortinas escarpadas e porta de lintel recto, ladeada por duas janelas quadrangulares no alçado O..
Capela de Nossa Senhora do Castelo situa-se intramuros, junto à bateria, de planta longitudinal composta por dois rectângulos justaposta, com cobertura diferenciada a duas águas.
Fachada principal voltada a O., delimitada por pilastras toscanas, rasgada por portal de arco abatido com pedra de fecho saliente, ladeada por pequena abertura quadrangular.
Remate em empena com cornija.
Alçados laterais com portas de lintel recto, surgindo, no S., uma janela no corpo da capela-mor. Alçado E. cego.
Ruínas da Igreja de São Miguel com planta longitudinal composta por dois rectângulos justapostos e ausência de cobertura.
Fachada principal voltada a O., com porta em arco pleno com quatro arquivoltas, impostas toreadas e capitéis com decoração zoomórfica.
Apresenta a medida padrão do côvado na coluna N..
Remate em empena com cornija.
Alçado N. possui três arcossólios em arco quebrado, dois na nave e um na capela-mor, com porta em arco pleno com tímpano liso e lintel recto, tendo cornija decorada por esferas e cachorrada decorada por motivos geométricos. Alçado S. cego, com cornija, decorada por esferas na capela-mor, e cachorrada decorada por motivos geométricos. Alçado E. com fresta na empena da nave e da capela-mor, com cornija simples.
INTERIOR de nave única, com desnível de sete degraus, conservando mesa de altar rectilínea, fragmento da pia baptismal em forma de cálice, base de coluna e outros fragmentos em cantaria aparelhada.
Arco triunfal de volta perfeita com impostas decoradas por esferas.
Torre sineira assente sobre penedo granítico, com dois arcos plenos geminados. Proximidade de treze sepulturas trapezoidais e antropomórficas escavadas na rocha isoladas e em grupo.
Ruínas da Capela de São João com arco pleno isolado na vertente E. do Castelo *3.
Época Construção
Séc. XIII / XIV / XVI / XVII
Cronologia
Época pré-histórica - provável localização de um povoado fortificado;
Séc. II a.C. - cerco (lendário?) do castro localizado no cabeço de Mons Sanctus pelo pretor romano Lúcio Emílio Paulo; provável destruição do castro e fixação progressiva da população em Idanha-a-Velha;
Séc. V / XI - ocupação visigoda e árabe;
1165 - tentativa de repovoamento e doação a D. Gualdim Pais, Mestre dos Templários, por D. Afonso Henriques, de uma vasta área, que se estendia do território da Egitânea ao Rio Erges;
1171 - os castelos de Monsanto e Idanha-a-Velha já se encontravam construídos; doação de foral à povoação, seguindo o modelo de Ávila / Évora;
1172 - na sequência de um litígio com a Ordem do Templo, o Castelo foi doado à Ordem de Santiago, com a condição de não nomear comendador desconhecido;
1174 - concessão de carta de foral aos habitantes do Monsanto, por D. Afonso Henriques; armamento relativo;
1190 - confirmação da carta de foral por D. Sancho I;
Séc XIII - provável construção do actual castelo;
Séc. XIV - obras de reconstrução nos reinados de D. Dinis e de D. Fernando;
1383 - 1385 - Monsanto tomou partido por Castela;
1476 - instituição de couto de homiziados;
Séc. XV - obras de renovação no reinado de D. João I, tendo sido introduzidas uma barbacã e troneiras, bem como uma couraça, que protegia o poço, constituída por uma grande câmara, um corredor com cerca de 15 metros, o cubelo terminal a envolver o poço e um porta de ligação ao mesmo; pertencia à família Castro;
1496 - na Inquirição, existe a referência a 309 habitantes;
Séc. XVI, início - levantamento gráfico efectuado por Duarte de Armas; o castelo integrava duas portas de acesso, a mais antiga aberta entre dois penedos, protegida por dois altos torreões; quatro torres, torre de menagem e cisterna; a Torre do Pião (torre de vigia) encontrava-se em ruínas; tinha alcaidaria; observa-se núcleo urbano da paróquia de São Miguel e da paróquia de São Salvador; obras de renovação no reinado de D. Manuel; o poço é definido como tendo quatro palmos e como tendo boa água em abundância;
1527 - no Numeramento, é referida a existência a 494 habitantes;
Séc. XVII, 2ª metade - adaptação das estruturas defensivas à artilharia; construção de terraplenos, baterias e abertura de canhoneiras; construção de muralha urbana;
1704 - cerco montado pelo exército franco-espanhol, comandado pelo duque de Berwich, de origem irlandesa, e libertado pelo Marquês de Minas;
1758, c. - uma das torres encontra-se arruinada;
Séc. XVIII, 2ª metade - reconstrução da cerca muralhada ordenada pelo Conde de Lippe Schaumburg;
1801 - criação de um desnível para colocação de canhões;
1813 - o major Eusébio Furtado foi encarregado de instalar uma guarnição militar e fazer obras no castelo;
1815 - explosão de um paiol e destruição parcial do castelo devido à acção de um raio; levantamento do castelo efectuado pelo engenheiro militar Maximiano José da Serra; a Capela de Santa Maria encontra-se em ruínas;
1823 - descrição militar e relação das obras efectuadas pelo engenheiro militar Eusébio Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado *4;
1831 - desabamento de um penedo arrastando troço de muralha exterior;
1834 - a Igreja de São Miguel ainda se encontrava aberta ao culto;
1853 - extinção definitiva do estatuto concelhio, mas conservando a categoria de praça segunda ordem com uma milícia;
1887 - o Regimento de Infantaria 12 da Guarda destacou uma guarnição para a praça do Monsanto.
Tipologia
Arquitectura militar, medieval.
Castelo com três recintos muralhados, de defesa passiva, o englobante de traçado irregular ovalado, recinto lateral de traçado oblongo irregular e recinto interior de traçado rectangular integrando bateria com canhoneiras e respectivas rampas. Muralhas desprovidas de merlões. Casa do guarda de planta rectangular com porta em arco pleno e bombardeiras cruzetadas. Portas em arco pleno e cobertura com abóbada de berço. Torres de planta rectangular e quadrada adossadas pelo exterior. Cisterna com dois arcos plenos. Torre de vigia de planta quadrada. Estruturas modernas do núcleo urbano com portas de lintel recto ou em arco pleno com guarita de planta quadrada. Bateria de planta trapezoidal e cortinas escarpadas.
Características Particulares
Implantação do Castelo e impacto paisagístico de Monsanto. Três recintos muralhados integrando bateria. Bombardeira cruzetada de ângulo e cisterna. Sulcos existentes na rocha indiciando prováveis fundações de muralha. Ruínas do núcleo urbano de São Miguel e respectiva igreja localizados entre o Castelo e a Torre do Pião. Estruturas defensivas do núcleo urbano de São Salvador restritas a duas portas e bateria.
Materiais
Granito, cantaria, aparelho isódomo, revestimento inexistente.
Observações
*1 - a inscrição parece truncada e ainda não foi interpretada: IIIATSA (?).
*2 - exteriormente nos lados S. e E. parecem existir vestígios semelhantes e que poderão estar relacionados com a adequação das estruturas actualmente existentes e aquelas que foram representadas por Duarte de Armas, nomeadamente no que se refere à localização exacta da torre de menagem, que se situava entre a torre S. e a cisterna no lado interior do perímetro muralhado.
*3 - os materiais arqueológicos provenientes de Monsanto encontram-se dispersos por vários museus, entre os quais o Museu Francisco Tavares Proença Júnior em Castelo Branco.
*4 - "Encontrei no castelo sete torres de varias alturas de que demoli cinco, tanto por serem de nenhuma vantagem para a defesa como pela precisão que tinha de sua pedraria ja lavrada para restabelecimento de todos seus parapeitos e mais obras construi. (...) Tem o castelo duas entradas, a primeira e principal que olha para a vila e a segunda fronteira a esta. A primeira é coberta por um tambor, em roda do qual construi uma banqueta ou andaime para mosqueteria e fora da porta deste tambor estabeleci sobre a calçada 3 baterias para mosqueteria dominantes umas as outras e que servem para proteger a retirada dos defensores da vila (...) Alem destes fogos exteriores construi na distancia de 168 palmos no terreno mais alto do interior do castelo uma bateria paralela à muralha de entrada apoiada de um lado e outro lado a penedos, e nela servem duas canhoeiras (...) esta bateria tem uma altura regular de 15 palmos, a sua grossura é de 10 palmos e do parapeito é de 4, tudo revestido interior e exteriormente de cantaria, e de um e outro lado sobre os rochedos estabeleci parapeitos e muralha que ligam os intervalos dos mesmos penedos, ficando desta maneira inteiramente fechada toda a comunicação com o interior do castelo (...) Dentro da pequena cidadela se vêm os edificios que servem de depósito da pólvora, que é uma grande torre quasi quadrada e cujas muralhas têm 8 palmos em toda a sua grossura, a sua altura exterior é de 50 palmos e a interior é de 70, foi dividida em três pavimentos mui sólidos e neles se acham recolhidas todas as munições (...) Junto ao Hospital há uma cisterna bem vedada que tem um vão de 100 palmos cubicos, para onde estão encaminhadas todas as águas dos telhados. Além de uma port anova que fecha esta cidadela, construi na sua frente em toda a sua largura um travez de cantaria, e fechado com uma forte barreira, cuja comunicação é feita por uma ponte levadiça" (GOMES, Rita Costa, pp. 91-92).
(Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Monsanto)
(fonte: IHRU)