segunda-feira, 27 de abril de 2009

Igreja/Mosteiro de São Pedro de Cete



O Mosteiro de Cete, ou S. Pedro de Cete, no vale do rio Sousa, é um testemunho tardio da arquitectura românica do Entre Minho-e-Douro.

Iniciado por meados do século XII -- embora alguma tradição aponte que tenha sido fundado no século IX, a crer no que pretensamente se atesta num documento do ano de 882 citado por Jorge Rodrigues (Rodrigues, 1995, p. 245) --, é um vasto templo que se ergueu por iniciativa dos beneditinos cluniacenses e que, no início do século XIV, ainda era objecto de uma campanha ao nível da ábside, atestável no tipo de frestas, similares às de Paço de Sousa.

A solidez volumétrica da construção, de óbvia sugestão bélica, bem patente na torre ameada e nas escassas frestas, permanece como memória dos sucessivos ataques e devastações a que o mosteiro foi sujeito.

Após uma reconstrução efectuada em finais do século X, o mosteiro conhecerá, ao longo dos séculos XII e XIII, uma época de paz, conquistando independência tutelar entre 1121-1128 e concretizando ainda um sólido florescimento patrimonial nos primórdios da fundação do território nacional.
Das reconstruções efectuadas por intervenção do abade Estevão I em inícios do século XIV resulta a permanência do traço românico da igreja, que se mantém até hoje; contudo, os elementos estruturais mais antigos remontam ainda ao século XII e estão perfeitamente documentados na simplicidade decorativa do tímpano no portal sul do mosteiro.

A fachada principal é rasgada por um portal de arco apontado que mantém a sugestão românica ao nível da decoração geometrizante composta por motivos circulares que decoram as três arquivoltas assentes em colunelos de capitéis ornamentados com temática vegetalista. No segundo registo rasga-se uma rosácea, fruto de uma posterior intervenção de restauro, a cargo da DGEMN, ao qual se sobrepõe uma empena rematada por uma cruz em formato de flor de lis.

A torre, adossada ao lado Norte, e perfeitamente integrada na fachada (tal como na igreja Colegiada de Barcelos), é consolidada por um denso contraforte escalonado decorado por dois pináculos torsos, ornatos decorativos frutos de uma campanha quinhentista. Desta campanha subsiste ainda uma pia baptismal, a abóbada polinervada que cobre a capela funerária no interior da torre, o arcosólio manuelino do túmulo de D. Gonçalo Óveques enquadrado entre azulejos também quinhentistas, bem como algumas intervenções no claustro e na sala capitular. A espacialidade interior da igreja denota um forte comprometimento com análogas tipologias românicas, possuindo nave única com cobertura de madeira, em que a capela-mor (com dois tramos) termina em quarto de esfera, sendo percorrida no primeiro registo por uma arcada cega, características que também podem ser encontradas nas igrejas medievais de Longos Vales ou de Sanfins de Friestas, paradigma arquitectónico que atinge o seu auge com a igreja de Paço de Ferreira.

O exterior da ábside é percorrido por fortes contrafortes, que corrobam a linguagem arquitectónica dominante. Contudo, em Cete, encontramos um vocabulário decorativo que atesta o explorar de propostas alusivas a um formulário goticizante, expostas na rosácea do arco apontado e na decoração vegetalista e antropomórfica da capela-mor, bem como no arco apontado do portal no lado Norte.

Na actualidade, o mosteiro é objecto de um programa de recuperação e valorização, pelo IPPAR, que visa, entre outros objectivos, restituir a integridade do espaço monacal adjacente (não apenas o edifício, mas também a antiga cerca), restaurar diverso património móvel e integrado, bem como dotar o conjunto de levantamentos arquitectónicos e de estudos específicos de história da arte.

IPPAR

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