sexta-feira, 15 de julho de 2011

Nos salgueiros



Gósto de estar debruçado
sobre o liquido cristal;
e da aguia ao ninho ousado
prefiro um ninho isolado
entre o verde salgueiral!

Gósto de ver a ramagem
limpido lago beijar!
É-nos mais doce a paizagem,
quando lá sob a folhagem
cantam as águas e o ar!

Sem ter lagos cristailinos,
os campos só tedio inspiram;
como os rostos peregrinos,
em cujos olhos mofinos
nunca as lagrimas fulgiram!

Coluna, a mais verdejante,
sem nas águas se mirar,
é como alma delirante,
que não tem, aberta e amante,
outra que a possa espelhar!

Tirem as ondas ao mundo!
e o mundo não tem pupilla!
reina o mysterio profundo;
e dos seus valles no fundo
nunca mais o ceo scintilla.

Se uma idéa vaporosa,
bate as azas, quer voar,
prazer, dor misteriosa,
meigo aroma d'uma rosa
que anceia por se exhalar:

Se a saudade te devora,
se tens um desejo vago,
se visão encantadora
na tua alma ri ou chora,
vae sentar-te junto a um lago.

Escuta, se o lago canta,
vê, se dorme, o que elle esconde!
espelho, em que o azul te encanta,
meiga voz, que alli descanta,
sempre a onda te responde!

No campo a andorinha inquieta
páira; a aguia vôa aos ceus;
do bosque a rôla é dilecta;
porém o meigo poeta
e o cysne, ó lago, são teus!

Gósto de estar debruçado
sobre o liquido cristal;
e da aguia ao ninho ousado
prefiro um ninho isolado
entre o verde salgueiral
!

- Tradução de Pinheiro Chagas a partir de Victor de Laprade

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