sexta-feira, 1 de julho de 2011

Igreja de São Martinho de Mouros

Diz-se que no lugar onde hoje reside a Igreja de S. Martinho de Mouros, foi em tempos Castelo

Descrição
Planta longitudinal composta por nave, capela-mor mais estreita, sacristia adossada à fachada lateral direita e torre sineira quadrangular na fachada principal, de volumes articulados e escalonados e disposição verticalista das massas, com coberturas diferenciadas em telhados de uma, duas e quatro águas. Fachadas em cantaria de granito aparente, percorridas por embasamento, com excepção da fachada E., rematadas em cornijas assentes em cachorrada, excepto na fachada O., onde a cobertura se apoia directamente no pano mural; no corpo da torre, o remate processa-se em banda lombarda, assente em cachorros com decoração zoomórfica, possivelmente cabeças de bovinos. As fenestrações ostentam vidros do tipo catedral. Fachada principal, voltada a O., constituída pelo corpo da torre, com a zona da sineira mais estreita e vazada por duas sineiras de volta perfeita, assentes em impostas salientes, em cada uma das faces, possuindo dois sinos de bronze; o corpo é escorado por dois contrafortes nos cunhais. É rasgado por portal axial escavado, em arco apontado, com quatro arquivoltas, envolvidas por uma faixa axadrezada, que assentamem três colunelos de bases simples e capitéis esculpidos com decoração vegetalista e zoomórfica; o tímpano assenta em impostas salientes e, dos ábacos dos colunelos, parte um friso, que se prolonga até aos contrafortes nos cunhais; sobre o portal, à altura do gume do arco, a espaços regulares, surgem quatro mísulas, que suportariam uma estrutura anterior, talvez um alpendre. Sobre o portal, uma fresta. Fachada lateral esquerda, virada a N., com quatro frestas estreitas, correspondendo, três delas, à nave, seccionada por um contraforte, e uma à capela lateral. O corpo da capela-mor tem duas fenestrações rectangulares e outra quadrada de reduzidas dimensões. Na última fila da cantaria mais antiga, silhar com inscrição. Fachada lateral direita, virada a S., composta por vários corpos, sendo o da nave rasgada por portal de verga recta, flanqueado por pilastras e entablamento, sobre o qual é visível o perfil de um antigo arco de volta perfeita; o portal está encimado por fresta rectilínea em capialço. No corpo da capela, é visível o vestígio de outro arco de volta perfeita e, no corpo adossado da sacristia, surge uma janela rectilínea em capialço e, na face O., uma porta de verga recta, encimado por janela semelhante à anterior. Na nave, surge um contraforte, ostentando uma estreita fresta. A fachada posterior, virada E., é cega, rematada em empena e encimada por cruz latina de pedra. Sobre esta é visível o corpo da nave, rasgado por um óculo com uma cruz pomeada vazada. INTERIOR em cantaria de granito aparente, com cobertura em falsa abóbada de berço de madeira de castanho, formando 49 caixotões e pavimento em taburnos de madeira. O corpo da torre é sustentado, por três arcos de volta perfeita, apoiados em altos pilares com capitéis esculpidos, o central bastante mais elevado, subindo até ao apainelado do tecto; dão origem a um espaço com cobertura em abóbadas de berço, em cantaria. No lado da Epístola, uma escada de ferro dá acesso ao torreão. O portal axial está protegido por guarda-vento com duas portadas de madeira, com lemes e fechos de ferro. No lado do Evangelho, capela lateral, rasgada por duplo arco quebrado. No lado da Epístola, púlpito quadrangular, assente em bacia de cantaria, com guarda balaustrada de madeira e marchetados de bronze, com acesso por porta de verga recta, de madeira almofadada e pintada de vermelho, encimado por guarda-voz, também de madeira. Sucede-se uma capela lateral em arco de volta perfeita, revestida a talha e contendo retábulo, dedicada à Sagrada Família. Arco triunfal apontado, formando três arquivoltas, a última decorada com denticulado, assentes em colunelos embebidos na parede, com capitéis decorados por elementos vegetalistas. A ladear o arco triunfal, no lado do Evangelho, existe uma pintura mural representando São Martinho com vestes de bispo, com mitra e báculo, abençoando com a mão direita e, no lado da Epistola, em muito mau estado, uma figura feminina religiosa e um cavalo*1. Ascende-se à capela-mor através de dois degraus, com cobertura em falsa abóbada de berço de madeira, com caixotões pintados com cenas religiosas, emoldurados com talha dourada, decorados com torcidos e motivos fitomórficos, assente em friso e cornija, com mísulas equidistantes e reforçada com tirante metálico. No lado da Epistola, abrem para a sacristia, porta e amplo arco abatido, ornamentado com bozantes*2. Sobre supedâneo de três degraus de cantaria, o retábulo-mor, de talha dourada, de planta côncava e três eixos definidos por seis colunas torsas, ornadas por pâmpanos e assentes em consolas e numa ordem inferior de cariátides, que se prolongam em três arquivoltas torsas, unidas no sentido do raio e formando apainelados ornados por acantos e querubins; ao centro, tribuna de volta perfeita, com a boca ornada por friso rendilhado, contendo trono expositivo de três degraus, na base do qual surge o sacrário, envolvido por acantos e tendo, na porta, a imagem de Cristo Redentor. Os eixos laterais formam apainelados com mísulas. Altar paralelepipédico, com frontal tripartido, ladeado pelas portas de verga recta e almofadadas, de acesso à sacristia.

Cronologia
Séc. XII, finais - XII, início - fundação da igreja;
Séc. XVI - obras de pintura por Cristóvão de Utrecht, Garcia Fernandes e Gregório Lopes, por ordem de D. Fernando de Meneses Coutinho;
1537, 14 Março - com a morte de D. Guiomar Coutinho, último membro da Casa de Marialva, a que a igreja pertencia, o padroado foi transferido, para a Universidade de Coimbra por D. João III, através do Breve CIRCA OFICII QUOD, do Papa Paulo III; Séc. XVI - feitura das pinturas murais a ladear o arco triunfal;
Séc. XVII - provável abertura de porta lateral na fachada S., execução de algumas talhas e do púlpito;
Séc. XVIII - feitura do retábulo-mor;
Séc. XVIII, final - segundo testemunho de D. Joaquim Azevedo, a igreja era uma colegiada com 8 beneficiados simples e 1 reitor;
1920 - retirado do exterior o alpendre que cobria a porta de entrada, tendo ficado apenas as mísulas que lhe serviam de suporte;
1944, 18 Novembro - desmoronamento de uma parte da parede N. da igreja;
1958, Maio - caiu a cruz exterior do arco da capela-mor e estilhaçou o telhado;
1960 - devido ao mau tempo a igreja sofreu alguns danos, nomeadamente entrada de chuva;
1962 - tecto, altar-mor e parede lateral S. ameaçavam ruína; a capela-mor estava isolada do corpo da igreja por uma "tapagem" de madeira e a sacristia estava completamente obstruída com pedra apeada da parede lateral e, o restante espaço, estava ocupado com os caixotões do tecto que ainda não tinham sido colocados;
1963, 14 Fevereiro - ruiu o corpo superior externo da parede testeira da capela-mor;
1976 - exposição de Arte Sacra do Arcebispado de Resende, por ocasião das celebrações centenárias da diocese.

Características Particulares
Fachada principal marcada por corpo rectangular formando uma torre medieval o que lhe confere um aspecto defensivo, constituindo um verdadeiro templo fortificado, que se explica pela necessidade das populações cristãs se defenderem contra ataques dos muçulmanos refugiados nas vizinhanças após a reconquista (COSTA, 1979). Esta estrutura é suportada, interiormente por arcos de volta perfeita, que descarregam em pilares, sustentados, exteriormente, por contrafortes. O portal principal apresenta características semelhantes ao da Igreja de Santa Maria de Almacave em Lamego (v. PT011805010002) e que segundo alguns autores (FURTADO, 1986 / 1987 e COSTA, 1979), tem à sua esquerda dois traços feitos na pedra correspondendo à medida padrão da vara e do côvado, antigas medidas de comprimento equivalentes respectivamente a 110cm e a 70cm. Siglas sobre silharia. No interior, surge estranho vão de volta perfeita, na capela-mor, constituindo o reaproveitamento de uma estrutura de outra zona do templo. De destacar a capela lateral, profunda, totalmente revestida a talha dourada, com retábulo de planta côncava, contendo sacrário em forma de templete. Existência de pinturas murais quinhentistas a ladear o arco triunfal, alusivas ao orago do templo. A capela-mor apresenta cobertura em caixotões pintados com temática hagiográfica, que sobreviveu à intervenção de restauro purista dos anos 50 do Séc. XX. Arco triunfal de perfil abatido, formando várias arquivoltas com capitéis decorados, assentes em colunas embebidas nas paredes.

Observações
*1 - Existiam aqui dois altares laterais, que foram levados para o Santuário do Senhor do Calvário, para se poderem ver as pinturas murais, que na época estavam ocultas pela talha.
*2 - Este arco é provavelmente do séc. XVI, dava acesso ao coro e abre agora para a sacristia. Esteve entaipado pelo menos até ao séc. XVII, quando os painéis que o cobriam foram destruídos.

(fonte: IHRU)

Sem comentários: