Sobre a personalidade única, singular e distincta de Maria da Fonte entre as mulheres amotinadas no concelho de Vieira, o depoimento do snr. padre Casimiro deve ser o primeiro n'este processo de investigação.
Refere o minucioso historiador que um sapateiro de Simães, da freguezia de Fonte Arcada, o avisara de que lhe maquinavam a morte; e, na mesma occasião, se mostrara receoso de que lhe matassem sua irman Maria Angelina, a quem chamavam Maria da Fonte, e fora processada e pronunciada nos tumultos da Povoa de Lanhoso.
Perguntou-lhe padre Casimiro o que fizera ella para ganhar tal nome.
— Nada, respondeu-lo sapateiro; apenas acompanhara as outras mulheres que arrombaram a cadeia da Povoa para soltar as prezas que primeiramente se levantaram contra a Junta de Saúde.
Insistiu o padre em querer saber a causa por que a distinguiam das outras.
Explicou o artista que Maria Angelina se estremava das mais por estar vestida de vermelho; e, por isso, o empregado, que fizera a lista das amotinadas, a pozéra na cabeça do rol, com tal nome, por não lh'o querer dizer alguém que elle interrogara.
Perguntou o padre Casimiro se havia alguma fonte á beira da casa de Maria.
Que não.
Chamavam-lhe da Fonte por ser da freguezia de Fonte Arcada.
O interrogador ficou satisfeito, acreditou e felicitou o sapateiro por sua irman ter conseguido nomeada tão distincta.
E, passados mezes, indo vêr a Maria da Fonte, encontrou uma mulher trigueira, de estatura mediana, desembaraçada, robusta, entre vinte e trinta annos.
D'ahi a pouco, terminada a revolução promovida pelos setembristas, uma doceira de Valbom, nas visinhanças de Lanhoso, andava pelas feiras e romarias inculcando-se a Maria da Fonte.
Padre Casimiro, estranhando naturalmente o duplicado, pediu informações ao abbade de S. Gens de Calvos, parocho e visinho da doceira.
O abbade confirmou ser ella a celebre Maria da Fonte.
Não obstante, o nosso auctor, sem apoucar os serviços da doceira — pelo contrario, os encarece — entende que a verdadeira é a de Simães, por ser de Fonte Arcada, e não a outra, visto que o nome lhe não foi dado por ter prestado maiores serviços, aliás de direito lhe pertenceria.
Acrescenta o monographo da revolução de 46, que Maria Angelina ou da Fonte, morrera, annos depois, em Villa Nova de Famalicão ou por ali perto.
- Camilo Castelo Branco, Maria da Fonte, a propósito dos Apontamentos para a Historia da Revolução do Minho em 1846, do Padre Casimiro, Celebrado chefe da insurreição popular
Refere o minucioso historiador que um sapateiro de Simães, da freguezia de Fonte Arcada, o avisara de que lhe maquinavam a morte; e, na mesma occasião, se mostrara receoso de que lhe matassem sua irman Maria Angelina, a quem chamavam Maria da Fonte, e fora processada e pronunciada nos tumultos da Povoa de Lanhoso.
Perguntou-lhe padre Casimiro o que fizera ella para ganhar tal nome.
— Nada, respondeu-lo sapateiro; apenas acompanhara as outras mulheres que arrombaram a cadeia da Povoa para soltar as prezas que primeiramente se levantaram contra a Junta de Saúde.
Insistiu o padre em querer saber a causa por que a distinguiam das outras.
Explicou o artista que Maria Angelina se estremava das mais por estar vestida de vermelho; e, por isso, o empregado, que fizera a lista das amotinadas, a pozéra na cabeça do rol, com tal nome, por não lh'o querer dizer alguém que elle interrogara.
Perguntou o padre Casimiro se havia alguma fonte á beira da casa de Maria.
Que não.
Chamavam-lhe da Fonte por ser da freguezia de Fonte Arcada.
O interrogador ficou satisfeito, acreditou e felicitou o sapateiro por sua irman ter conseguido nomeada tão distincta.
E, passados mezes, indo vêr a Maria da Fonte, encontrou uma mulher trigueira, de estatura mediana, desembaraçada, robusta, entre vinte e trinta annos.
D'ahi a pouco, terminada a revolução promovida pelos setembristas, uma doceira de Valbom, nas visinhanças de Lanhoso, andava pelas feiras e romarias inculcando-se a Maria da Fonte.
Padre Casimiro, estranhando naturalmente o duplicado, pediu informações ao abbade de S. Gens de Calvos, parocho e visinho da doceira.
O abbade confirmou ser ella a celebre Maria da Fonte.
Não obstante, o nosso auctor, sem apoucar os serviços da doceira — pelo contrario, os encarece — entende que a verdadeira é a de Simães, por ser de Fonte Arcada, e não a outra, visto que o nome lhe não foi dado por ter prestado maiores serviços, aliás de direito lhe pertenceria.
Acrescenta o monographo da revolução de 46, que Maria Angelina ou da Fonte, morrera, annos depois, em Villa Nova de Famalicão ou por ali perto.
- Camilo Castelo Branco, Maria da Fonte, a propósito dos Apontamentos para a Historia da Revolução do Minho em 1846, do Padre Casimiro, Celebrado chefe da insurreição popular
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