quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Os Cátaros

Eis uma versão politicamente correcta.

A expressão falada e escrita é sempre dúbia quando fala sobre os Cátaros; está sempre repleta de dogmatismo e, muitas das vezes de fundamentalismo quer por favor, quer por oposição.

Na verdade, há coisas que a palavra deturpa, e que não podem ser transmitidas sob pena de serem mal compreendidas, e mal interpretadas. Contudo, tentemos algumas palavras

A tradição assume os Antigos, o Equilíbrio, a Igualdade Desigual, a auto responsabilidade, e princípios básicos:

- faz aos outros o que queres que te façam a ti;

- ama ao próximo, como deves amar a ti mesmo;

- serve o teu semelhante, não igual, como se fosses tu mesmo;

- respeita-te e aos demais;

...

Como em cima, assim em baixo.

Aqui diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.

Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,

e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.

Me confesso
o dono das minhas horas
O dos facadas cegas e raivosas,
e o das ternuras lúcidas e mansas.

E de ser de qualquer modo
andanças
do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!


- Miguel Torga, Livro de Horas

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