segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Sinal do Céu

"Como se estivesse pairando entre o céu e a terra, no silêncio da cela semi-obscurecida, D. Gualdim orava, profundamente entregue às suas devoções. O corpo lasso - cansado de lutas a que se havia exposto durante a famosa e difícil conquista de Lisboa - sentia um prazer físico e espiritual nessa semi-obscuridade, nessa semi-acção, nesse quase absoluto silêncio. De joelhos em terra, o rosto escondido nas mãos, o corpo inclinado para a frente, dir-se-ia a verdadeira estátua de oração. Mas porque a sua sensibilidade era profundamente apurada, o seu espírito começou a subitamente a turbar-se em ondas de alerta, como se movimenta a água parada de um lago ao ser-lhe lançada uma pequenina pedra.

D. Gualdim estremeceu. Teve a sensação de que não estava só. E, retirando do rosto as mãos, ergueu o busto e voltou-se num vagar mal contido. Os seus olhos habituados à meia-luz ambiente descortinaram logo a figura magra e alta do superior do convento, e o seu olhar indagou de tão honrosa presença. O superior, numa voz baixa e pausada, que se esforçava por ser humilde, elucidou:

- Perdoai-me, irmão. Não desejaria interromper a vossa oração piedosa... mas tenho algo de importante a comunicar-vos.
- Falai sem receio. Estava apenas dando graças a Deus pela dita deste silêncio, depois do tremendo inferno que foi a conquista de Lisboa.
- Bem mereceis este repouso, irmão. Por isso mesmo me aflige interromper-vos.
- É esta a missão de cavaleiros e monges.
- Sim, é essa a nossa missão.. Já o disse D. Sancho de Castela: "o som da trombeta transforma-nos em leões e o do sino em cordeiros..." Que se cumpra, pois, em nós, a vontade de Deus!

D. Gualdim sorriu com o respeito devido ao seu superior.
- Mas decerto não viestes aqui para nos enaltecerdes...
Foi a vez do monge sorrir também.
- Oh, não! A minha presença nesta cela deve-se a um desejo do nosso rei D. Afonso Henriques.
Os olhos do cavaleiro-monge brilharam mais intensamente. O seu busto endireitou-se com estranha altivez.
- El-rei vai sair de novo a campo?
Com um sinal de cabeça o monge confirmou:
- Sim.. .O sangue ferve-lhe nas veias.. .o fervor à causa cristã é indomável!
D. Gualdim já não parecia o mesmo homem humilde e abatido de há pouco.
- Quando precisa el-rei de mim?
- Amanhã, ao romper do dia.
- Que Deus seja louvado! Lá estarei com os meus homens.
Sorriu o monge superior do convento.
- El-rei aprecia-vos muito. Contou-me a vossa proeza, quando subistes as escarpas do monte cujo terreno parecia desfazer-se debaixo dos pés...Falou-me dos pedregulhos que iam caindo por todos os lados e só por, milagre vos não acertaram...E disse-me como fostes forte sempre avançando de armas nos dentes, para que as mãos ficassem mais livres e vos ajudassem a subir...
D. Gualdim começou a impacientar-se.
- Por Deus!.. .Nada fiz que os outros não fizessem também.
- Mas fostes o primeiro a chegar à muralha...
- Foi el-rei que vos contou tudo isso?
- Foi ele, em parte, e os outros ajudaram-no.
- Os outros?
Sorriu e respirou fundo D. Gualdim. Depois, como se falasse consigo próprio, o cavaleiro-monge declarou numa voz serena e firme:
- Com um rei como o nosso, que sempre está onde a luta se trava mais renhida, não podem haver descuidados ou cobardes.. .Eu fiz apenas o que me cumpria fazer.
- Por isso el-rei vos reclama de novo em campo...
- E lá estarei, se Deus quiser, para maior honra e glória de Deus!
- Ámen...
E silenciosamente, como chegara, o superior saiu da cela de D. Gualdim.
Só, este ficou um momento imóvel, olhando para um ponto vago no espaço. Depois os seus joelhos voltaram a roçar a terra, o seu busto esguio tornou a encurvar-se e as suas mãos mais uma vez cobriram o seu rosto, de olhar brilhante e feições vincadas. Em volta, o silêncio continuou silêncio e a penumbra, penumbra. Só o seu pensamento, feito senhor absoluto do ambiente, cresceu como único vencedor...
No horizonte, uma nesga de luz impôs a sua presença às trevas da noite. Madrugada fresca de São João. Em massa assim indefinida, caminhava o exército lusitano. D. Afonso Henriques voltou a ouvir-se. Queria falar a um dos seus cavaleiros. Foram buscá-lo sem demora.
Subiu sonora a voz do rei, como sempre que dava uma ordem.
- Aproximai-vos, D.Gualdim!
Submisso mas isento de humildade humilhante, o cavaleiro-monge curvou a cabeça.
- Dizei, Senhor.
Voltou o rei a falar com altivez:
- Vou deixar aqui o exército às ordens de D. Ordonho. Preciso, primeiramente, de fazer um reconhecimento.
Admirou-se o cavaleiro.
- Vós? Seria perigoso! Ficai, eu me sentirei honrado com a vossa mercê, se puder fazer esse reconhecimento em vosso lugar!
Franziu o rei as sobrancelhas espessas.
- Disse-vos que desejo fazer um reconhecimento. E não lego em ninguém esse meu desejo!
Arriscou ainda o cavaleiro-monge:
- Mas... ides sair do campo?
- Sim. Sairei disfarçado e acompanhado apenas por vós, D. Gualdim...
Curvou o monge a cabeça, para logo olhar de frente o seu rei.
- É grande a honra que me concedeis, Senhor! Tão grande como a responsabilidade, que me cabe, de vos trazer, de novo são e salvo.
Sorriu ligeiramente o rei.
- Nada temais! Quero apenas chegar junto do castelo dos mouros antes que o sol rompa. Preciso de descer para Alcácer, e não quero deixar mal defendidas as nossas costas, com focos que poderão perder-nos. Este castelo terá de ser nosso. Mas preciso de saber a hora de o tomar.
- O castelo será vosso, como o têm sido os outros que tendes desejado.
- Sim! - confirmou alegremente o rei - Depois de Lisboa renderam-se os castelos de Almada, Sintra, Palmela. Este fica perto de Lisboa, e também terá de ser nosso, repito!
- Eu repito também, se o permitis: sê-lo-á em breve!
A expressão dura de D. Afonso Henriques adoçou-se. Mas a sua voz soou áspera em breve, como sempre.
- Aprontai-vos e segui-me.. .Tenho pressa!

A nesga de luz que impunha a sua presença às trevas da noite alargou-se mais. E o recorte do exército português tornou-se mais nítido na cinza rosada da manhã. A areia ensaibrada rangeu sob o metal do calçado do rei português. Do lato de todo o seu corpo imponente, D. Afonso Henriques olhava o castelo, sobranceiro e sereno. Tudo parecia calmo à volta. A própria pureza do ar, correndo como brisa, parecia um convite para tornar cristão mais aquele bocado de terra. O rei cofiou lentamente as suas barbas, enquanto lentamente, contra o seu costume, dizia ao companheiro:
- Parece um castelo de mouros encantados! Não se vê ninguém...
- Custa a crer que nem tenham vigias!
- Quem sabe?
- Cuidado, Senhor! Descobri além um vulto a mover-se...
O rei de Portugal franziu as sobrancelhas, numa concentração, enquanto dizia como se falasse consigo próprio:
- Vim aqui para saber se a hora era propícia à conquista deste castelo. Mandai-me um sinal do Céu, ó Deus Todo-Poderoso! Mandai-me um sinal!
D. Gualdim guardara silêncio. Mas vendo que o vulto corria agora direito a eles, preveniu:
- Descobriram-nos! Vão dar o alarme!
O rei semicerrou os olhos, numa tentativa de ver melhor na meia-luz da madrugada nascente.
- Reparai bem, D. Gualdim! O vulto que corre para nós é de um cão enorme!
O cavaleiro-monge concentrou todos os seus sentidos nesse vulto que corria direito a eles e se distinguia perfeitamente.
- Assim é, meu Senhor! Mas nunca vi um alão tão forte e tão grande! Teremos de o matar antes que dê o alarme...
Já o cão se dirigia na direcção do rei de Portugal. D. Gualdim gritou, quase ao mesmo tempo que puxava a espada:
- Cuidado Senhor!
Mas D. Afonso Henriques suspendeu-lhe o gesto. O alão mal chegara junto do rei conquistador começara a lamber-lhe as mãos, dando saltos de imensa e estranha alegria. D. Afonso Henriques sorriu.
- Reparai, D Gualdim: o alão rende-me vassalagem! Recebe-me como a um libertador, ou como se me conhecesse há muito...deve ser este o sinal do Céu! O avanço das nossas tropas far-se-á imediatamente e o castelo será nosso. O alão o quer!
Como num eco, D. Gualdim repetiu:
- O alão quer!
E desta frase lendária, que ficou para todos os tempos, resultou mais uma conquista de mais uma praça e o nome da terra que hoje se chama Alenquer. O sinal do Céu chegara o rei de Portugal obedecera! E quando o Sol, em toda a sua pujança, longa das lamúrias da noite, dardejava os seus raios quentes sobre a terra morena, já o estandarte do rei de Portugal flutuava no alto do que fora um castelo dos mouros!..."

Autor: Domínio Popular
Fonte: Biblioteca de Sintra
Raskolnikov - O Secreto Palácio de Sintra

domingo, 30 de maio de 2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Os Essénios

A Doutrina Pura
A Doutrina do Deserto

Issi"im

De tudo o que possa ser dito ou conjecturado, uma coisa é Verdadeira:

amavam Deus acima de tudo.

E, isso, só por isso, já faz deles:

Bons.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Cavaleiro do Amor

Certo dia, numa praça, um jovem exibia o seu coração; o mais bonito daquela cidade. Uma grande multidão aproximou-se, e admirou aquele coração, pois era perfeito.

Não havia nele um único sinal que lhe prejudicasse a beleza.

Todos reconheceram que realmente era o coração mais bonito que já haviam visto.
O jovem estava vaidoso, e o ostentava com orgulho crescente.

De repente um velho homem, montado num cavalo, surgiu do meio da multidão, desceu e bradou:

- O seu coração não é, nem de perto, nem de de longe, tão bonito quanto o meu!

O jovem e a multidão olharam para o coração do velho homem... Batia fortemente, mas era cheio de cicatrizes.
Havia lugares onde faltavam pedaços e também partes com enxertos que não se encaixavam bem.

A multidão espantou-se:

- Como é que pode dizer que o seu coração é mais bonito?!

O jovem olhou para o coração do velho homem e disse rindo:

- O senhor só pode estar a brincar! Compare o seu coração com o meu e veja. O meu é perfeito e o seu é uma confusão de cicatrizes e emendas!

- Sim! - disse o velho homem.
O seu tem uma aparência perfeita, mas eu nunca trocaria o meu pelo seu.
As marcas representam pessoas a quem dei o meu amor.
Arranquei pedaços do meu coração e dei a essas pessoas e, muitas vezes, elas deram-me pedaços dos seus corações para colocar nos espaços deixados; como esses pedaços não eram do mesmo tamanho, hoje parecem enxertos feios e grosseiros, mas conservo-os como lembranças de amor que dividimos.
Algumas vezes dei pedaços do meu coração, e as pessoas que os receberam não me retribuíram pedaços dos seus corações; esses são os buracos que vê.
Dar amor é arriscar.
Embora esses buracos doam, permanecem abertos lembrando-me que dei amor.
Consegue agora ver o que é a verdadeira beleza?

O jovem ficou em silêncio, as lágrimas caíam-lhe pela face.

Caminhou em direção ao velho homem, olhou para o próprio coração e arrancou um pedaço, oferecendo-o a ele com as mãos trémulas.

O homem pegou naquele pedaço, colocou no coração e tirando um outro pedaço do seu, colocou-o no espaço deixado no coração do jovem.

Coube, mas não perfeitamente.

O jovem olhou para o seu antes tão perfeito coração, já não tão perfeito depois disso, mas muito mais bonito do que alguma vez fora, pois o amor do velho homem entrara nele.

Diante da multidão que os observava em respeitoso silêncio, abraçaram-se e saíram andando lado a lado, seguidos pelo cavalo, cujas patas batendo no solo emitiam o som de corações pulsando...

terça-feira, 25 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

A lenda do Búfalo Branco

O Cachimbo Sagrado e de como surgiu.

Trata-se de uma lenda sagrada para o Povo Lakota - Sioux.
Tem como objectivo a comunicação com o Criador, através da oração; desejo de Paz, Harmonia e Equilíbrio para todos os seres vivos e para a Mãe Terra.

A lenda conta como o Povo tinha perdido a capacidade de comunicar-se com o Criador.

Assim, o Criador enviou a Mulher Sagrada aparentando um Búfalo Branco, e assim ensinar o Povo Lakota a utilizar o Cachimbo nas suas preces.

Com o Cachimbo, foram dadas sete cerimónias sagradas, por forma a assegurar um futuro com harmonia, paz e equilíbrio.

«Há muito, muito tempo, dois homens jovens foram caçar bisontes, e quando chegaram ao cimo de uma grande colina avistaram algo.
Ao aproximarem-se gritaram: "É uma mulher!".

Quando se aproximaram viram que usava um fino vestido de pele de veado branco, que tinha longos cabelos e que era jovem e muito bela.

Um dos caçadores, estúpido, teve maus pensamentos; mas o outro disse:
"Esta é uma mulher sagrada".

Ela podia ouvir os pensamentos de ambos, e disse numa voz que era como um canto:
"Vós não me conheceis, mas se quereis fazer como pensais, podeis vir".
E o estúpido foi; à medida que se aproximava, foi surgindo uma nuvem de poeira ao redor dele e quando a poeira assentou, tudo o que restou foi uma pilha de ossos.
Enquanto andava em direcção ao caçador silencioso, explicou-lhe que havia apenas satisfeito o desejo do outro homem, permitindo-lhe, naquele breve momento, viver, morrer e decompor-se.
Instruiu o jovem caçador a voltar para o seu Povo e a dizer-lhes para prepararem-se para a sua chegada, pois iria ensinar-lhes a maneira de orar.

A Mulher apareceu junto do Povo, cantando, e enquanto entrava na tenda eis o que cantava:

"Com respiração visível ando.
Uma voz faço ouvir enquanto ando.
De maneira sagrada, ando.
Deixo pegadas visíveis, ando.
De maneira sagrada, ando."

E à medida que cantava, saía da sua boca uma nuvem branca perfumada.

Deu então ao chefe um cachimbo, com um bisonte bébé talhado de um lado, significando a terra que nos sustenta e alimenta, e doze penas de águia penduradas na haste representando o Céu e as Doze Luas; estavam amarrados com uma erva que nunca rompe.

"Olhai!, disse.
Com isto podeis multiplicar-vos e serdes uma boa nação.
Nada além do Bem poderá vir dele.
Somente as mãos dos bons podem tocar-lhe, e os maus não devem sequer vê-lo".

Dizem que aconteceu assim, se é verdade ou não, não sei. Mas, se pensarem bem, poderão ver que é verdade.

Acendo agora o cachimbo, e depois ofereço-o aos poderes que são Um Poder, e a eles envio a minha voz; podemos fumar juntos.
Ofereço a primeira pitada ao Um sobre nós -- de seguida elevo a minha voz:

He he! He he! He he! He he!

Avô, Grande Espírito, Vós exististe sempre, e antes de Vós nenhum Outro existiu.
Não há nenhum outro para louvar que Vós.
Vós próprio, tudo o que vedes, tudo o que foi feito por Vós.
As nações das estrelas por todo o universo, Vós as terminastes.
Os quatro quadrantes da terra Vós terminastes.
O dia, e nesse dia, tudo o que há, Vós terminastes.

Avô, Grande Espírito, inclinai-vos perto da Terra para ouvir a voz que Vos envio.
Vós para onde o Sol se põe, olhai-me; Seres do Trovão, olhai-me!
Vós onde o Gigante Branco vive em poder, olhai-me!
Vós onde o sol brilha continuamente, de onde vem a estrela da alvorada e o dia, olhai-me!
Vós nas profundezas dos Céus, uma Águia de Poder, olhai!
E vós, Mãe Terra, a única Mãe, vós que mostrais misericórdia para com as Vossas crianças!

Ouvi-me, quatro quadrantes do mundo -- sou vosso parente!
Dai-me a força para caminhar sobre a terra macia, um parente de tudo o que existe! Dai-me os olhos para ver e a força para entender, que eu possa ser como vós. Unicamente com vosso poder posso encarar os ventos.

Grande Espírito, Grande Espírito, meu Avô, por sobre a Terra a face dos seres vivos são semelhantes.
Com carinho surgiram do solo.
Olhai a face de crianças sem número e já com crianças nos seus braços, que possam encarar os ventos e trilhar o bom caminho, e o dia da tranquilidade.

Esta é a minha prece; ouvi-me!
A voz que mandei é fraca, mas foi com verdade que a mandei.
Ouvi-me!

E é assim.
Hetchetu yelo!

Agora, meu amigo, fumemos juntos o cachimbo, para que apenas o Bem impere entre nós.»

- Hehaka Sapa, Oglala Sioux

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Convento de São Saturnino

Ainda que se trate de um site comercial, vale a pena explorar as potencialidades de São Saturnino - Sintra

quarta-feira, 19 de maio de 2010

São Frutuoso de Montélios


Capela de São Frutuoso de Montélios - Capela de São Salvador de Montélios

Enquadramento
Rural, adossada à fachada lateral E. da Igreja do Convento de São Francisco, situada em plano mais elevado do que esta.
O acesso principal é feito através do interior da igreja.
Encontra-se rodeada por pequeno adro, fechado por muro gradeado, apenas com acesso através igreja e da capela.
A E. situam-se as ruínas das antigas dependências conventuais e em plano mais baixo a Fonte de Santo António.

Descrição
Planta centralizada em cruz grega, exteriormente rectilínea e interiomente com os braços N., S. e E. semicirculares, e braço O. e cruzeiro quadrangular.

Volumetria de dominante horizontal, quebrada pela elevação torriforme sobre o cruzeiro.
Coberturas em telhados de duas águas nos braços e em quatro águas no cruzeiro. Fachadas em cantaria opus quadratum de granito, com embasamento escalonado, rematadas por cornija sob beiral, precedida por friso em calcário, com decoração de cordas, semicírculos, rosetas de seis pontas e flores de liz.
As fachadas dos braços são animadas por arcadas cegas, alternadamente em arco de volta perfeita e arco angular, interrompidas por estreito friso calcário com corda.

As fachadas da torre do cruzeiro são percorridas junto à cornija de remate por arcatura lombarda, usando alternadamente duplo arco em ferradura e arco angular, apresentando cada uma das faces pequena janela de iluminação, de duplo arco quebrado, sendo a janela virada a S., mainelada.

Fachada principal orientada, adossada à fachada lateral da igreja, com acesso pelo interior da mesma, através de grande arco de volta perfeita, fechado por grade de ferro, com escadaria.

Topos dos braços rematados por frontão triangular, apresentando o do braço S., ao centro, porta de verga recta e os dos restantes braços, pequena janela em arco de ferradura.

Na face N., do braço E., abre-se arcossólio, onde estariam originalmente os restos mortais de São Frutuoso.

INTERIOR com paredes em cantaria aparelhada, com os braços definidos por arcos de volta perfeita, assentes em largas pilastras percorridas superiormente por largo friso com decoração de acantos, com triplas arcadas em ferradura, sendo o arco central de maiores dimensões, assentes em colunas de fuste liso com capitel de decoração igual ao friso das pilastras.
Os braços são percorridos a meio da parede por estreito friso de calcário.
Cobertura dos braços em madeira, com o travejamento à vista, e do cruzeiro por cúpula semiesférica rebocada e pintada de branco, assente em pendentes que se unem às mísulas dos ângulos.
Pavimento em laje de granito com sepulturas com inscrição e pedra de armas.

Utilização Inicial: capela funerária

Época Construção
Séc. VII / IX / X / XX

Cronologia
C. de 560 - Segundo a tradição, existia naquele local uma villa romana e provávelmente um templo dedicado ao Deus Esculápio;

C. de 656 - São Frutuoso, Bispo de Bracara, funda naquele local o Mosteiro de São Salvador, mandando construir a capela, para seu túmulo; na descrição da vida de São Frutuoso, São Valerius menciona que o santo havia fundado um convento "ubi sanctum suum humatum est corpus";

665 / 666 - morre São Frutuoso;

Séc. IX / X - reconstrução e redecoração da capela;

883 - segundo documento datado deste ano, a igreja seria consagrada a São Salvador e teria sido construída entre os anos de 656 e 665;

Séc. XII - após a Reconquista, com o renascer do ideal neogodo, começa o culto a São Frutuoso;

1102 - o Arcebispo de Santiago de Compostela, D. Diogo Gelmires, leva os restos mortais de São Frutuoso para Compostela;(PORCO, NOJENTO)

1523 - o Arcebispo D. Diogo de Sousa funda um convento franciscano da Ordem dos Capuchos da Piedade, junto à Capela de São Frutuoso, destruindo provavelmente, o antigo Mosteiro de São Salvador;

1696 - segundo Frei Manuel de Monforte, na sua Crónica da Província da Piedade, a capela "he em Cruz para todas as partes igual; cujas pontas fazem quatro Capellas, que as paredes fecham em meyo circulo. Huma das Capellas, que podemos chamar o pé da Cruz, serve de entrada onde està a porta; outra que direitamente responde a esta, como cabeça das hastes da Cruz, serve de Capella principal, onde està o Altar mayor; nas outras duas, que ficam nos braços, estam os dous Altares collateraes; & tendo cada huma só dezasete palmos, & meyo de largo, neste tão pequeno espaço tem a Egreja vinte & quatro collunas: quatro naquella primeira entrada da porta, seis em cada Capella collateral, & oito na principal de todas...";

1728 - por ordem do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, dá-se início à reconstrução e remodelação da igreja do convento de São Francisco, sendo a Capela de São Frutuoso integrada na igreja e passando a ter acesso principal através do interior desta; é destruida a fachada principal, os baldaquinos internos e respectivas colunas, e são modificados os braços E. e N;

1897 - o Arquitecto Ernesto Korrodi projecta restabelecer a planta original da capela e publica uma pequena nota intítulada "Um Monumento Latino-Bizantino em Portugal";

1931 - início dos trabalhos de restauro conduzidos por João de Moura Coutinho e Sousa Lobo orientado pela tese de que o monumento teria sido mandado construir por São Frutuoso para sua sepultura no Séc. VI, segundo o modelo do mausoléu de Gala Placídia de Ravena.

Tipologia
Arquitectura religiosa, visigótica e moçárabe.

Capela funerária de planta centralizada, em cruz grega, exteriormente rectilínea e interiomente com os braços N., S. e E. semicirculares, e braço O. e cruzeiro quadrangular.

Fachadas animadas por arcadas cegas, em arcos de volta perfeita e arcos quebrados.

Torre do cruzeiro com banda lombarda em arcos de ferradura alternados com arcos quebrados.

No interior, os braços são delimitados por triplas arcadas em ferradura, que originalmente, se estenderiam e percorreriam os braços semicirculares.

Coberturas em madeira com travejamento à vista, nos braços e cúpula semiesférica no cruzeiro.
A primitiva edificação visigótica segue o modelo bizantino da cruz grega, com torre elevada sobre o cruzeiro, idêntico ao mausoléu de Gala Placídia, em Ravena. Segundo alguns autores, os braços de planta semicircular, triplas arcadas, em ferradura e a presença geometrizante das arcadas cegas e da banda lombarda, denotam a influência moçárabe.

Utilização de frisos em calcário de Coimbra, contrastando com o granito, com decoração de rosetas de seis pontas, à semelhança do que acontece na Igreja de São Torcato, em Guimarães.

Características Particulares
A emblemática Capela de São Frutuoso, continua a ser um enigma para vários autores, mas com a certeza que é um dos raro exemplares visigóticos, que chegaram aos nossos dias, e o único de planta em cruz grega que possivelmente segue o modelo bizantino do mausoleú da Gala Placídia, em Ravena.
No interior a decoração dos capitéis das triplas arcadas é igual ao friso que remata as pilastras do cruzeiro.

Materiais
Estrutura e pavimento em cantaria de granito;
frisos e capitéis em Pedra de Ançã;
colunas de mármore;
porta e estrutura da cobertura em madeira de castanho;
cúpula em tijolo de burro;
cobertura em telha de canudo.

(fonte: IHRU)

São Frutuoso

Monge e bispo godo do século VII, venerado como Santo.

640

terça-feira, 18 de maio de 2010

sábado, 15 de maio de 2010

Presença

Entra-me em casa o murmúrio do mar
e ao fim da tarde assoma na janela
uma gaivota que me vem deixar
a mensagem mais simples, mais singela,
que podia na vida desejar:
esta certeza de que estás comigo
mesmo quando te ausentas e eu invento
mil e uma formas de escutar no vento
o eco das palavras que te digo.


- Torquato da Luz, Espelho Íntimo

sexta-feira, 14 de maio de 2010

"Visita guiada"

Façamos uma visita guiada ao Convento, conforme com a sua aparência descrita na letra iluminada da Leitura Nova de D. Manuel ...


(clicar na imagem para aumentar)

Ao fundo, poderão ver a Charola como então era - com cúpula e chama.
Verão ainda, as alterações introduzidas pelo Infante, com as duas torres que lhe incorporou.
Se espreitarem para dentro do oratório, terão uma agradável surpresa.
Já a actual janela, apresenta-se como um grande arco plenamente aberto para acolher os seus.

Ainda ao fundo, puderão ver os portões em ferro que davam para aquilo que hoje designam por Horta dos Frades.
Ampliando a imagem, pode ver-se o detalhe da muralha que circunda muito além da Horta dos Frades ...

Também ao fundo, à esquerda, puderão contemplar a famosa Casa do Capítulo Completa - designam-na por Incompleta, mas como puderão ver, está completa, com telhado e tudo ...
Ainda na Casa do Capítulo Completa, uma Torre, a célebre ...

Ainda à esquerda, podem ver os aposentos dos frades, também designados por Claustros.

Já do lado direito, os Claustros Henriquinos (do Infante) (com uma fachada diferente da actual, considerando o adro ...), e por trás da fachada Henriquina e na mesma linha paralela à Charola, habitações do Arrabalde de S. Martinho?

Já o adro, é aquele que se vê, com alfaias agrícolas, e frades de hábito branco e capelo preto ...

(Pena é o anjinho tapar a vista)
Um monumento, esta letra iluminada

quinta-feira, 13 de maio de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Arco-íris

Simboliza a união entre o Céu e a Terra; na mitologia associava-se a Íris, mensageira dos deuses.

8A seguir, Deus disse a Noé e a seus filhos: 9*«Vou estabelecer a minha aliança convosco, com a vossa descendência futura 10e com os demais seres vivos que vos rodeiam: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, todos aqueles que saíram da arca.
11Estabeleço convosco esta aliança: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a Terra.» 12E Deus acrescentou: «Este é o sinal da aliança que faço convosco, com todos os seres vivos que vos rodeiam e com as demais gerações futuras: 13*coloquei o meu arco nas nuvens, para que seja o sinal da aliança entre mim e a Terra. 14Quando cobrir a Terra de nuvens e aparecer o arco nas nuvens, 15recordar-me-ei da aliança que firmei convosco e com todos os seres vivos da Terra, e as águas do dilúvio não voltarão mais a destruir todas as criaturas. 16Estando o arco nas nuvens, Eu, ao vê-lo, recordar-me-ei da aliança perpétua concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na Terra.» 17Dirigindo-se a Noé, Deus disse: «Esse é o sinal da aliança que estabeleci entre mim e todas as criaturas existentes na Terra.»

- Genesis

O Arco-íris é sinal da Fidelidade, da Promessa e da Misericórdia de Deus para com o Homem.
Deus de Aliança.

Este símbolo aparece apenas em dois livros biblícos:
o Génesis e o Apocalipse.
O Primeiro e o último.
O Alfa e o Omega.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Lenda dos Corvos de S. Vicente

Em tempos muito antigos, quando o rei Rodrigo perdeu a batalha de Guadalete e os Mouros ocuparam a Península Ibérica, ordenaram que todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas muçulmanas, os cristãos de Valência, entre eles um deão, quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S. Vicente que estava guardado numa igreja.

Com intenção de chegarem às Astúrias por barco, fizeram-se ao mar levando consigo o corpo do santo.
Cruzaram o Mediterrâneo sem perigo, mas quando chegaram ao Atlântico o mar estava mais turbulento e foram forçados a aproximar-se da costa.

Perguntaram então ao mestre da embarcação que terra era aquela tão bela, e aquele cabo que avistavam.
O mestre respondeu-lhes que a terra se chamava Algarve, e que o cabo se chamava promontório Sacro.

Foi então que os cristãos de Valência consideraram a hipótese de desembarcar, construir um templo em memória de S. Vicente e dar o nome do santo ao cabo mais ocidental, junto ao promontório de Sagres.
Mas enquanto estavam nestas considerações, o barco encalhou, o que os forçou a passar ali a noite.
Na manhã seguinte, quando se preparavam para retomar viagem, avistaram um navio pirata.
O mestre da embarcação propôs-lhes afastar-se com o navio para evitar a abordagem dos corsários, enquanto os cristãos se escondiam na praia com a sua relíquia.
Depois viria buscá-los.
Mas o barco nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele lugar, construíram o templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena aldeia à sua volta, isolados naquele lugar ermo.

Entretanto D. Afonso Henriques entrou em guerra com os mouros do Algarve e estes vingaram-se dos cristãos de S. Vicente, arrasando-lhes a aldeia e levando-os cativos.
Passados cinquenta anos um cavaleiro veio avisar D. Afonso Henriques que existiam cativos cristãos entre os prisioneiros feitos numa batalha contra os Mouros. Chamados à presença do Rei, o deão, já muito velho, contou-lhe a sua história e confidenciou-lhe que tinham enterrado o corpo de S. Vicente num local secreto.
Pedia ao rei que resgatasse o corpo do mártir para um local seguro.

D. Afonso Henriques aproveitando um período de tréguas na sua luta contra os Mouros, zarpou num barco com o deão a caminho de S. Vicente.
Mas o deão morreu durante a viagem, e sem saber o local exacto onde estava enterrado o santo, D. Afonso Henriques aproximou-se do cabo e das ruínas do antigo templo.
Foi então que avistou um bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar onde os seus homens escavaram e encontraram o sepulcro de S. Vicente, escondido na rocha.

Trouxeram o corpo de S. Vicente de barco para Lisboa, e durante toda a viagem foram acompanhados por dois corvos, cuja imagem ainda hoje figura nas armas de Lisboa em testemunho desta história extraordinária.

Um Princípe Indiano no Convento de Thomar

Em 1 de Dezembro de 1603, D. Frei Diogo Medeliar, índio de nação, professou no Convento de Cristo, em mãos do Dom Prior Frei Silvestre.

- Torre do Tombo, Mç. 70

Esquadrão Alfa

sexta-feira, 7 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Plenitude

Fora de mim, e deslumbrada,
fui-te chamar, p'ra repartir,
- vinha de um nada,
esse prodígio do céu se abrir,
- como se fora grande mistério,
um novo mundo novo e profundo,
- angelical, e sublime,
- senti um vácuo que me elevava,
fora de mim, fora mundo,
- adormeci, junto de ti,
- mas foi p'ros dois,
tudo o que vi.


- Nina Pontes

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Lenda do Cervo Rei

Conta a lenda da terra que houve uma vez um cervo, que os Deuses do Olimpo quiseram que fosse Rei.
Escolheu estas terras outrora desabitadas pelo homem e aqui reuniu a sua colónia de cervos, de tal modo que nas redondezas toda a gente passou a chamar a estes lugares "terras de cervaria".
Muitos anos correram.
Lutas e refregas, calamidades que foram dizimando a colónia, até que ficou só o Rei Cervo.

Diz a lenda que na Reconquista, quando os Senhores de pendão e caldeira desceram dos cerros asturianos à conquista do que seria mais tarde o "Condado Portucalense", um jovem fidalgo desafiou o Rei Cervo para uma luta frente e frente.
E o velho senhor aceitou.
A luta seria travada entre arvoredos e ervas daninhas e num local onde existiam pequenas valas no lugar de Valinha (Cornes ?).

E sem apelo nem agravo conta-nos a "estória", o Rei Cervo venceu!
Ficou com o pendão do fidalgo e, a partir daí, seu brasão de armas foi a bandeira conquistada.
Mas os Deuses enganaram o velho Rei. Ele não seria imortal …
Cansado da vida, doente, na solidão das fragas, o velho Senhor morreu. E com ele desapareceu para sempre a "Terra da Cervaria" (…).

Ainda hoje e para que a "estória" se não perdesse, as "armas" de Vila Nova de Cerveira têm um cervo em campo verde, passante de ouro, armado de prata, contendo entre as hastes um escudete de azul carregado de cinco besantes de prata.
E, também, no cimo dos montes deste Município mandou construir "in memoriam" o Rei Cervo, que numa notável escultura em ferro, de José Rodrigues, atesta a longevidade das "Terras de Cervaria".

(Vila Nova de Cerveira)

Mosteiro de Ázere e Igreja de São Cosme e São Damião


Igreja de São Cosme e São Damião de Ázere foi mosteiro templário
A história desta igreja está ligada ao mosteiro de Ázere.

Junto à igreja paroquial, casa que foi residência paroquial.
No interior de pátio murado abrem-se vãos do antigo edifício monástico.
Na fachada oposta, ampla varanda em madeira domina em larga extensão campos e em fundo, área de bouça que integram a propriedade.

A parede O. da antiga residência paroquial ostenta no piso térreo a N. uma porta em arco ogival de silhares graníticos, com 6 aduelas de cada um dos lados, largas e curtas e com pedra de fecho.
A S. rasga-se uma fresta com mainel formado por dois cilindros adossados sobrepujados por imposta.
As ombreiras apresentam impostas, ao nível da imposta central, decoradas por motivo semelhante constituído por duas molduras horizontais paralelas.
O pilar é decorado na base com um motivo vegetalista em relevo, um trifólio.
Os vãos, de cada um dos lados do mainel, receberam um pilar vertical férreo de secção circular e pequeno diâmetro.
No piso superior rasga-se um vão amplo de silhares graníticos, de sacada, arco abatido e ombreiras com ângulos facetados. Este vão é flanqueado de ambos os lados por uma janela situando-se uma sobre a porta e outra sobre a fresta mainelada.
A porta de arco em ogiva apresenta pelo interior arco abatido com cinco aduelas apoiadas num someiro de cada um dos lados.
Alguns silhares são siglados.
Uma porta de características semelhantes, com arco em ogiva e silhares siglados, dá passagem para uma segunda dependência no interior do piso térreo.

1125 - o Mosteiro é coutado;

Séc. XIV - construção de edifício gótico;

Séc. XV - supressão do Mosteiro;

1664, anterior a - o mosteiro é reduzido a igreja paroquial;

Épocas moderna e contemporânea - alterações no edificado designadamente com abertura de vãos e adaptações dos espaços interiores a novas funções;

1909 - notícia de ser residência do Pároco.

Arquitectura religiosa, gótica.
Elementos de mosteiro Beneditino, de fábrica gótica posteriormente adaptado a residência paroquial.

(fonte: IHRU)

Em 1125, D. Teresa coutou este mosteiro, tendo-o depois doado à Sé e bispo de Tui, que ficou com a obrigação de conferir ordens e crismar aqui todos os anos.

Na divisão das igrejas e arcediagados de Tui, feita em 1156, o mosteiro, em conjunto com o couto e a igreja ficaram a pertencer ao bispo.
Paçô, Parada e Rio Cabrão eram-lhe anexas.

No catálogo das igrejas pertencentes ao bispado de Tui, do território de Entre Lima e Minho, mandado elaborar em 1320, pelo rei D. Dinis, Ázere foi taxada em 500 libras.

Em 1444, a comarca eclesiástica de Valença, compreendida nos territórios entre os rios Lima e Minho, foi desmembrada do bispado de Tui, passando a pertencer ao bispado de Ceuta, até ao ano de 1512.

Quando, em princípios do século XVI, as freguesia deste território foram incorporadas na diocese de Braga, D. Diogo de Sousa, mandou avaliar os 140 benefícios da comarca eclesiástica de Valença.
O mosteiro de Ázere, enquadrado então no julgado de Valdevez, rendia 5808 réis.
Em 1546, na avaliação que o arcebispo D. Manuel de Sousa mandou efectuar, aparece com um rendimento de 90 mil réis.
No documento elaborado para o efeito, o Memorial, do vigário da comarca de Valença, Rui Fagundes, diz-se que o mosteiro tinha anexas Santa Maria de Paçô, São Lourenço de Cabrão e São João de Parada.

O Memorial anota ainda que "Ázere era vigairaria confirmada de que se desconhecia o estipêndio".
O Censual de D. Frei Baltasar Limpo, na cópia de 1580 que o padre Avelino Jesus da Costa analisou para a elaboração do seu trabalho "A Comarca Eclesiástica de Valença do Minho", refere que esta igreja tinha anexas ao tempo, "in perpetuum", São Lourenço de Cabrão, São João de Parada e Santa Maria de Paçô.
O aludido documento regista que "São Cosmade de Ázere" pertencia "in solidum" ao prelado, sendo comenda havia pouco tempo.

Américo Costa descreve-a como reitoria da apresentação da Mitra e comenda da Ordem de Cristo.

Cerca de 1584, com Filipe II, o convento com todas as suas rendas passou a comendatários seculares.

Ao tempo da Restauração, o rei D. João IV deu esta comenda a D. António Luís de Menezes, conde de Marialva, retirando-a da posse do filho de Fernão Teles, seu proprietário, por este ter tomado o partido de Filipe IV.

A doação veio a ser anulada por D. Luísa de Gusmão, a pedido do próprio D. António, e a comenda oferecida a Rui Pereira Sotto-Mayor pelos serviços que prestara na guerra contra os castelhanos.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Viriato

No comando foi mais amado
do que alguma vez alguém antes dele.


- Diodoro da Sicília



Este que vês, pastor já foi de gado
Viriato sabemos que se chama
Destro na lança mais que no cajado
Injuriada tem de Roma a fama,
Vencedor invencibil, afamado
Não tem co'ele, nem ter puderam
O primor que com Pirro já tiveram.


- Lusíadas, VIII, 6
Puta que pariu Roma

Do primeiro olhar

É aquele momento em que a Vida passa da sonolência para a alvorada.

É a primeira chama que ilumina o íntimo mais profundo do coração.

É a primeira nota mágica arrancada das cordas de prata do sentimento.

É aquele momento instantâneo em que se abrem diante da alma as crónicas do Tempo, e se revelam aos olhos as proezas da noite, e as vozes da consciência.

Ele é que abre os segredos da Eternidade para o futuro.

É a semente lançada por Ishtar, deusa do Amor, e espargida pelos olhos do ser amado na paisagem do Amor, depois regada e cuidada pela afeição, e finalmente colhida pela alma.

O primeiro olhar vindo dos olhos do ser amado é como o espírito que se moveu sobre a face das águas e deu origem ao céu e à terra, quando o Senhor sentenciou:

"E agora, vivei!"

- Khalil Gibran

Myrtus communis

Murta

Excelente toma em ambientes húmidos e invernosos.

Lenda de Dona Branca ou da Tomada de Silves aos Mouros

Reinava em Silves o inteligente e corajoso Rei mouro Ben-Afan, que numa noite de tempestade, no intervalo das suas lutas contra os cristãos, teve um sonho extraordinário.

Um sonho que começou por ser um pesadelo, com tempestades e vampiros, mas que se tornou numa visão de anjos, música e perfumes e terminou pelo rosto de uma mulher, divinamente bela, com uma cruz ao peito.

No dia seguinte, Ben-Afan procurou a fada Alina, sua conselheira, que lhe revelou que tinha sido ela própria a enviar-lhe o sonho e que a sua vida iria mudar.

Deu-lhe então dois ramos, um de flor de murta e outro de louro, significando respectivamente o amor e a glória.

Consoante os ramos murchassem ou florissem assim o Rei deveria seguir as respectivas indicações.

Enviou-o ao Mosteiro de Lorvão e disse-lhe que lá o esperava aquela que o amor tinha escolhido para sua companheira: Branca, princesa de Portugal.

Para entrar no mosteiro, Ben-Afan disfarçou-se de eremita e o primeiro olhar que trocou com a princesa, uniu-os para sempre.

O Rei mouro voltou ao seu castelo, e preparou os seus guerreiros para o rapto da princesa.

Branca de Portugal e Ben-Afan viveram a sua paixão sem limites, esquecidos do mundo e do tempo.

O ramo de murta mantinha-se viçoso, até que um dia D. Afonso III, pai de Branca, cercou a cidade de Silves e Ben-Afan morreu com glória na batalha que se seguiu.

Nas suas mãos foram encontrados um ramo de murta murcho e um ramo de louro viçoso.

domingo, 2 de maio de 2010

Asilo sagrado

A Obra de Assistência e Protecção tem de tão antigo, quanto de verdadeiro na Linha Templária. A sua continuação, mais ou menos integral na Ordo Christo.

Esta semana ocorreu o impensável:

Uma mulher apontando uma faca a uma funcionária, roubou o valor das entradas.

Desconheço os contornos, mas naquilo que aqui importa - são irrelevantes.

Foi quebrado um vínculo, e tanto mais grave é, quanto ter sido praticado por uma mulher. E talvez por isso mesmo.

O Mal, transvestiu-se e penetrou onde seria menos provável ...
Há recados, que de tão silenciosos, são capazes de ensurdecer.
Às armas.

sábado, 1 de maio de 2010

Sursum Corda

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam

Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.
Sursum corda! Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,

Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.

Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!
Mãe verde e florida todos os anos recente,
Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal,
Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adônis
Num rito anterior a todas as significações,
Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales!
Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões,
Grande voz acordando em cataratas e mares,
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,
Em cio de vegetação e florescência rompendo
Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso
A tua própria vontade transtornadora e eterna!
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,
Que perturba as próprias estações e confunde
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!

Sursum corda! Reparo para ti e todo eu sou um hino!
Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima
Volteia serpenteando, ficando como um anel
Nevoento, de sensações reminescidas e vagas,
Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso.
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!
Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático,
Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos,
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre,

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte ...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,
Cruzando-se em todas as direções com outros volantes,
Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.

Dentro de mim estão presos e atados ao chao
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,

A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!


- Álvaro Campos