terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma espreitadela ...


As imagens retratam uma janela que foi descoberta, literalmente, i.e., foi colocada à vista.
Encontra-se, como se pode ver pelas imagens, de parede entre a designada Casa do Capítulo Manuelina, e a Casa do Capítulo.
Esta janela estava emparedada, com os trabalhos de prospecção que estão a ser realizados, começa a ser exposta.
Eis o início do resultado dessa exposição.

Castelo de Castelo Branco

Poderão confirmar pela leitura da cronologia, que aquilo que sinto actualmente pelas gentes de Castelo Branco é mais do que justificado: uns pusilâmes, medrosos e ingratos.



Enquadramento
Localizado num esporão granítico a uma altitude de 470 m., no Cerro da Cardoza. Para SE., domina.se a Serra de Monforte, a N., as da Gardunha e Estrela; a E., a fronteira e a NE., Idanha-a-Nova. Próximo localiza-se a casa n.º 92 da R. D'Ega , a Igreja de Santa Maria do Castelo, bem como a Casa dos Romeiros.

Descrição
Do castelo resta um troço da muralha, orientado, com adarve que liga uma torre do sistema defensivo da alcáçova e a torre de menagem do antigo palácio dos comendadores. A torre defensiva é de planta quadrangular e acede-se ao seu interior por uma escadaria. A torre que pertencia ao paço quinhentista é de planta rectangular e ameada. A fachada voltada a O. está praticamente destruída. A fachada orientada com duas janelas de balcão, uma no primeiro piso e outra no segundo, sendo esta geminada com arco em querena sobre moldura chanfrada *1. Na fachada voltada a N., uma janela no segundo piso com lintel recto e arco em querena. Recentemente foi colocada ao nível do segundo piso estrutura metálica à cota do pavimento que existiria. No interior do perímetro das muralhas existe a igreja de Santa Maria do castelo *2.

Época Construção
Séc. XII (data por mim alterada, de XIII para XII) / XVI

Cronologia
1165 -
conquista do território aos mouros e doação da zona aos Templários *3, que então se denominava Vila Franca da Cardosa;
1198 - a doação foi revista por D. Sancho I, ficando metade do território na posse de Fernando Sanches;
1213 - doação de foral, segundo o modelo de Ávila / Évora;
1214 - a totalidade da Cardosa foi doada à Ordem do Templo, confirmada pela bula de Inocêncio III, em 1245, altura em que se refere, pela primeira vez, o nome Castelo Branco;
1214-1230 - edificada a primeira muralha pela Ordem do Templo, criando, com Tomar, Monsanto, Zêzere, Almourol e Pombal uma importante linha defensiva;
1229 - D. Simão Mendes, Mestre da Ordem do Templo, mandou construir o palácio para os comendadores;
Séc. XIII, final - notícia de obras no reinado de D. Dinis; tinha quatro portas, a do Ouro, Santiago, Traição e Pelame;
1343 - construída uma segunda muralha, correspondendo a uma alargamento passando a alcáçova a ter sete portas, em vez das três primitivas; execução da torre de menagem, agora adossada à muralha; D. Afonso IV ordena que as vilas de Castelo Branco e Nisa fizessem muralhas, sendo as obras pagas com fundos da sisa sobre o cereal, vinho, carne, sobejos dos hospitais e gafarias e sobras dos Resíduos dos Testamentos, tudo da Ordem, até ao montante de 600 libras;
1357, 1 Outubro - primeira referência a um alcaide-mor no castelo, no processo da sua doação a Martim Lourenço de Figueiredo;
1408 - o palácio é descrito como tendo três câmaras, uma torre e duas cavalriças, tendo, junto ao mesmo, uma cozinha, uma vacaria, um celeiro e uma casa para guardar a prata;
Séc. XV - construção da barbacã;
1422 - no Rol dos Besteiros, é referida a existência de 6390 habitantes;
1496 - na Inquirição, é referida a existência de 839 habitantes;
Séc. XVI - edificação do Paço Quinhentista do qual resta a torre; Duarte D'Armas no seu "Livro das Fortalezas" mostra uma imponente torre de menagem e um Paço - o Palácio dos Comendadores -, com pomar, uma cinta de muralhas com pano duplo junto aos terrenos da planície defendida por cinco torres, uma delas mais alta, que constitui a torre do relógio, já referida como tal; referidas as torres com pedrarias lavradas, com juntas de cal;
1508 - Mateus Fernandes fez uma avaliação das obras necessárias;
1509 - referência a oito portas, a do Ouro, Traição, Espírito Santo, Relógio, Vila, Esteval, Santiago, Santarém; instituição de couto de homiziados;
1510, 20 Novembro - Álvaro Cardoso foi nomeado recebedor do dinheiro das obras do castelo;
1527 - no Numeramento, existe a referência a 1417 habitantes;
1535 - D. João III dá à vila o título de Notável;
Séc. XVII - os últimos comendadores a habitar o palácio foram D. Fernando e D. António de Meneses;
1704, 22 Maio - invasão hispano-francesa derrubou parte da muralha;
1706 - no tombo da vila de Castelo Branco, é referido que o palácio tinha um portal de acesso em cantaria, tendo, à direita, a estrebaria e, no oposto, a cisterna, que se enchia com as águas pluviais do telhado da Igreja de Santa Maria; o pátio encontrava-se murado, situado entre a cabeceira da igreja e o palácio, construído em cantaria lavrada; na entrada, um alpendre sobre 4 arcos de cantaria, sobre o qual surgia uma varanda forrada de madeira de castanho e com guarda de cantaria; à esquerda uma escadaria com 28 degraus, tendo ao lado a cozinha; tinha duas salas com lareiras e janelas conversadeiras; na torre, com três pisos, o sótão, a sala de guarda roupa e outra, no piso inferior, com janela conversadeira; este ligava por passadiço ameiado com a torre de menagem;
1753, Outubro - a antiga alcáçova ainda se encontrava em óptimo estado de conservação, conforme descrição da mesma *4;
1762 - saque da praça, na sequência da Guerra dos Sete Anos;
1763 - devolução da Praça pelo Tratado de Paris;
1769, 6 Novembro - um alvará extingue o cargo de alcaide-mor;
1771, 20 Março - elevada a cidade e tornando-se sede de bispado;
Séc. XIX, 1.º quartel - feitura de uma nova porta para aceder à barbacã N.;
1807 - invasão de Junot, na marcha para Lisboa, deixando o castelo bastante arruinado;
1818 - no Tombo dos Bens do Concelho, é efectuada uma medição das muralhas *5;
1821 - começavam a ser retiradas pedras do Castelo e do Paço pelos habitantes para construção das suas habitações;
1835, 17 Julho - uma Portaria do Ministério da Guarda a pedido da Câmara Municipal, efectuado no ano anterior, concede licença para se destruir os arcos das muralhas e empregar essas pedras em obras de manifesta utilidade pública; foram derrubadas as portas da Vila, do Relógio e do Espírito Santo, sendo a pedra utilizada na construção da Ponte da Granja;
1839, 9 Março - nova Portaria autoriza que fosse vendida parte das pedras das paredes do Castelo e telha e madeira do palácio; 20 Março - portaria permite a venda das telhas e dos madeiramentos; (malvados)
1851 - a Câmara estuda a possibilidade de implantar o cemitério no local, ideia abandonada em 1864 - por ser uma zona demasiado rochosa;
Séc. XIX, 2.ª metade - pela acção do governador-civil Guilhermino de Barros, algumas muralhas foram reconstruídas, bem como algumas estruturas do palácio;
1852, 15 Novembro - violento temporal fez desabar algumas paredes da alcáçova e das muralhas; 19 Novembro - o parque foi cedido à Câmara para cemitério, obra que não se concretizou;
1862 - destruição da Porta do Postiguinho;
1875 / 1876 - início das obras no palácio, para adaptação a casa do professor da escola que se achava anexa, que não se concluiriam;
1893, 18 Maio - a Câmara verifica que os muros da barbacã do Espírito Santo se encontravam arruinados ameaçando perigo, sendo pertencentes a três particulares, pelo que os obrigou a demoli-los caso não procedessem às obras necessárias;
1929 - a Câmara construíu um urinol público na muralha da R. Vaz Preto;
1930 - desaba a última torre da muralha que já se apresentava em ruína;
1933 - construção de três reservatórios de água, adjudicados a Manuel Figueira, em terreno adquirido por 6.000$00;
1936, Março - uma tempestada provocou a derrocada da torre existente no ângulo E. / N.;
1936 - é solicitada à DGEMN um vistoria ao local e inicia-se o projecto de recuperação, como miradouro; simultaneamente, a Câmara solicitou um projecto de reconstrução ao engenheiro Manuel Tavares dos Santos, mas a falta de recursos tornou o projecto inviável;
1975 - é considerada a hipótese de demolir a muralha da R. Vaz Preto;
1977 - a DGEMN faz uma prospecção nesse local, sondando vestígios de outros troços; a Câmara expropriou e demoliu casas adossadas ao troço das muralhas;
1981 - demolição de uns barracões pertencentes à GNR adossados à muralha da R. Vaz Preto;
2000 - demolição de duas casas na R. Vaz Preto pôs a descoberto parte da muralha, nomeadamente um dos torreões.

Tipologia
Arquitectura militar, medieval e quinhentista.
Castelo de que resta parcos vestígios, nomeadamente um troço da muralha com adarve e a torre de menagem do antigo palácio dos comendadores, construído no Século XVI, com vãos de expressão manuelina.

Características Particulares
Castelo integrado na linha defensiva da Raia, mantendo uma torre do primitivo paço quinhentista com janelas geminadas com decoração manuelina, de carácter fitomórfico e arco de querena. Segundo Nuno Villamariz, segue a planta da fortificação de Chastel Blanc na Síria, erguida pela Ordem dos Templários em 1171 *6.

Observações
*1 - a forma desta janela é atribuída aos restauros efectuados pela DGEMN.
*2 - o troço da muralha descrito, fazia parte de uma cerca com a configuração de um pentágono irregular, com 5 torres, 2 delas voltadas para a Cidade velha e 3 para o exterior; junto à torre nascente, erguia-se o alcácer Manuelino demolido por determinação da DGEMN.
*3 - apesar de existirem vestígios datáveis da Pré e da Proto-história no local.
*4 - o Palácio situava-se dentro do castelo, no lado E., junto à capela-mor da Igreja de Santa Maria; a porta principal era de cantaria, com portas de madeira chapeadas a ferro, com 3 varas de altura e 2,5 de largura, que acedia a um pátio com 25x15 varas; no lado direito, um quarto com balcão com acesso por escada de pedra de 12 degraus, 2 portas e 2 janelas para o pátio, tendo 3 para o lado da vila; estava dividido em 4 dependências, 2 de telha vã e 2 com forro de madeira; por baixo do alpendre um arco de pedra de acesso à cavalariça, com 18x6 varas; no pátio, um jardim cercado por muro de cantaria com 7x9 varas com árvores e jasmineiros, situado debaixo de uma galeria com 4 janelas; no lado esquerdo do pátio, uma cisterna com guardas de cantaria e uma porta por trás da Igreja de Santa Maria, parcialmente tapada e que acedia à tribuna dos Comendadores; tem casas térreas, antigo paiol, quase todas arruinadas; por cima da porta, um patim de cantaria que leva à escada principal com 26 degraus, no cimo da qual outro patim com forro de madeira, sustentado por 3 colunas que protege a porta com 9x7 palmos; dá acesso a um recinto lajeado com abóbada, antigamente descoberto, e que era cisterna, com 4x3 varas e com duas portas, uma delas ligada à casa térrea com chaminé e forno e outra à sala de espera, com duas janelas, uma de assentos e outra rasgada, viradas a E., e uma chaminé; tem 3 portas, uma que liga a um quarto com janela, outra a uma sala com janela a N., a qual tem 2 portas, uma para o últimoquarto e outra para a última sala, com duas janelas e chaminé; a terceira porta acede a um compartimento ladrilhado com 3 portas, uma para a cozinha, da qual se vai para a varanda, uma para a varanda, ladrilhada com guarda de pedra e alegretes para flores; os quartos estão sobre 3 arcos de pedra, tapados, à excepção de um, que permite o acesso, tendo, à esquerda, um portado que liga a uma sala abobadada; em frente ao arco, porta em cantaria lavrada, de acesso a uma sala, sob a de espera, toda ladrilhada e, ao centro, florão de azulejo, abrindo a N. para um passeio ladrilhado de pedra miúda e cercado por parede com alegretes; na mesma sala, uma porta que acede à tulha e, em frentr à sala abobadada, uma tulha de azeite; as paredes são mais altas que as coberturas e cercadas de ameias.
*5 - "(...) principia a medição junto a porta de Santa Maria em a muralha e tem do norte para o sul 7 varas e dahi vai ao redor da muralha com caras ao poente ate a porta do Ouro the onde tem 231 varas e de largo 12 varas e dahi vai continuando athe a Porta da Traição tem 10 varas, e da Porta do Ouro tem 101 e 21 de Largo e dai vai athe a Porta do Esteval partindo com a muralha tem 171 varas e dahi continua athe a Porta de Sam Tiago ao canto da torre e tem 73 varas e de largura 7, e dahi vai continuando athe a Porta da Vila partindo com a muralha da banda do sul e do norte com quinta de Sua Excellencia Reverendíssima, e tem 210 varas de cumprimento" (SILVEIRA, António e outros, 2003, p. 22).
*6 - segundo este autor, estaria prevista a construção de uma torre sobre a igreja.

(fonte: IHRU)


Castelo

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Castelo de Penamacor

Castelo de Gualdim

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Enquadramento
Localiza-se no interior do país, a 12Km da fronteira com Espanha, numa pequena colina que se destaca na planície beirã. A paisagem divide-se entre a planície com diversas culturas de cereal, vinha, pequenos pomares, olival, alguns sobreiros e eucaliptos e as pequenas elevações compostas por afloramentos rochosos de granito das mais diversas dimensões. O município divide-se em 12 *1 freguesias e é limitado a N. pelo município do Sabugal, a E. por Espanha, a S. por Idanha-a-Nova e a O. pelo Fundão.

Cronologia
1189 - concessão de foral por D. Sancho I e doação da vila ao Mestre Gualdim Paes da Ordem dos Templários a quem mandou construir uma praça de armas, muralhas e castelo;

1217 - confirmação do foral por D. Afonso II;

Séc. XV - D. Afonso V faz de Penamacor cabeça de condado doa a D. Lopo de Albuquerque e seu alcaide-mor é Luís de Vasconcellos e Sousa, 3º Conde de Castelo Melhor;

1510, 1 Junho - concessão de novo foral por D. Manuel I

Tipologia
Núcleo urbano sede municipal. Vila situada em encosta na fronteira da Beira. Vila medieval de fundação de ordem religiosa militar (ordem do Templo), com castelo e cerca urbana; praça de guerra

Observações
*1 Águas, Aldeia de João Pires, Aldeia do Bispo, Aranhas, Bemposta, Benquerença, Meimão, Meimoa, Pedrógão de São Pedro, Penamacor, Salvador, Vale da Senhora da Póvoa. Penamacor está geminada com Clamart em França.

(fonte: IHRU)

Castelo

domingo, 28 de novembro de 2010

Cultura castreja

Iglesia de San Pedro de Trasalba

A igreja de San Pedro de Trasalba, foi construida no Séc. XIII, é de transição do românico para o gótico. É de destacar, em particular, o pórtico.

Tal como a Capela da Granjinha.
Sucede, porém, que a da Granjinha aparenta ser bem mais antiga que a de Trasalba.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Verdadeiro baptismo




(Iglesia San Pedro de Muros, antiga colegiada de Santa María)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Anjo amado

Um pouco de calor humano

Creio que o amor tem asas de ouro.
amém.


Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamante,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro.
amém.


- Natália Correia

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Taramundi, Eu-Návia e Nabia

Taramundi

Terras de Eu-Navia

Singularidade histórica

Na Idade Antiga, o território eunaviego estava habitado polos Albions, um povo incluído dentro da Gallaecia. Na Baixa Idade Média, a comarca fazia parte da diocese de Britónia, umha das divisons mais importantes do Galliciense Regnum. O começo do afastamento institucional começa com brigas intestinas da Igreja: no século XIII, o bispado de Lugo deixa esta comarca nas maos do bispado de Oviedo. Esta transferência administrativa nom obstaculiza a galeguidade da zona, nuns tempos onde ainda nom funcionava o esmagador aparato políticoadministrativo, educativo e económico dos estados nacionais. De facto, esta terra era conhecida como “Terra de Riba d'Eu” ao longo da Idade Média, e organizouse territorialmente sob o nome de Arcediagado de Riba d'Eu até há aproximadamente um século.

Alguns projectos de organizaçom provincial do liberalismo espanhol encaixavam de novo a comarca do leste no tronco galego. No plano do governo espanhol de 1810 –em plena convulsom revolucionária motivada pola guerra do francês– incluía-se na nossa terra. E o mesmo acontecia com os planos provinciais de 1813 e 1821. Que foi o que fanou esta reconduçom do Návia-Eu para a Galiza? A conhecida divisom territorial de Javier de Burgos, em 1833. Existírom projectos posteriores que matizavam a organizaçom proposta polo andaluz: em 1842, apresentou-se no congresso dos deputados umha nova proposta para constituir com o Návia-Eu a Província de Riba d'Eu. E ainda que nunca se materializou esta nova província galega, a transcendental desamortizaçom de Madoz já articulava disposiçons comuns para toda a Galiza, incluindo com toda naturalidade esta terra estremeira.

A comarca do Eu-Návia é, de todas as terras estremeiras, a que antes se arredou institucionalmente da Galiza. Esse feito, junto ao convívio da idiossincrasia galega com umha forte identidade astur, tem distanciado muito mais de nós esta bisbarra do Leste; enquanto umha quantidade importante de bercianos e seabreses aderem a um certo sentimento galego, nesta terra entre os dous rios a localizaçom é mais equívoca.

Algum sector do asturianismo risca de “expansom galega” a vindicaçom da cultura tradicional; frente a esta posiçom trabalha um perdurável associativismo. Parte dele sente-se plenamente galego de naçom, enquanto outro, com a mesma legitimidade, se define como “asturiano de naçom, mas de língua e cultura galegas”. No entanto, o espanholismo mais exaltado aguilhoa de Oviedo o antigaleguismo mais primário.

O Eu-Návia é umha das comarcas mais orientais da Galiza. Milhares de galegos e galegas pudérom comprovar mais graficamente o seu encaixe geográfico no resto do país graças ao mapa que a organizaçom NÓS-UP editou há seis anos, com umha tremenda acolhida social. Esta primeira imagem da Galiza completa (que polia o mapa que Domingo Fontán realizara no século XIX) incluía também as terras do Eu-Návia. A comarca parte dumha rasa costeira bem plana, sulcada de pequenos vales, que conduz para um interior mui montanhoso, de geografia abrupta, arredado de Espanha pola fronteira natural da Serra do Ranhadoiro. Ainda a dia de hoje, e apesar do absoluto desentendimento institucional, sobrevivem 40.000 galegofalantes nesta terra. Além do galego falado, o idioma floresce numha cumprida literatura comarcal, que ganha corpo ao longo dos séculos XIX e XX. Nomes como os de Antolín Santos Mediante, um dos precursores, de temática ruralista, som mui conhecidos na zona.

- Portal Gallego

Nabia

Castro de San Cibrán de Lás e Templo da Vera Cruz de San Cibrán

O Castro de San Cibrao de Lás, também conhecido como "A Ciudá", Lambrica, Lansbrica, Lanobrica é um dos povoados castrejos em processo de escavação de maior tamanho entre os localizados no território da actual Galiza. Do resultado dos estudos arqueológicos pode-se definir um período de ocupação continuada desde o século II a.C. até o século II d.C., e com possíveis ocupações esporádicas mais tardias
O nome de A Cidade é o tradicional entre as gentes das redondezas. Os nomes de Lambrica, Lanobriga e Lansbrica procedem de diversas leituras que foram feitas sobre uma ara romana dedicada ao deus Bandua, existente em uma casa particular na vizinha paróquia de Eiras.

Pelo seu tamanho pode ser comparado com o de Santa Tegra e com as Citânias do norte de Portugal, povoamentos castrejos que se caracterizam pelo seu avançado estado de romanização e pelas suas grandes dimensões. Entre os expoentes mais significativos podem-se citar a Citânia de Briteiros, Castro de Mozinho e o de Sanfins.

Templo da Vera Cruz de San Cibrán

IGLESIA PARROQUIAL: Es la más antigua de O Carballiño y desde que sus imágenes fueron trasladadas al Templo de la Veracruz permanece prácticamente cerrada al culto. Se construyó a principios de siglo en el mismo lugar que había ocupado una vieja capilla con advocación a San Antonio. La torre es el elemento más representativo de la Iglesia, sobre un cuerpo cuadrangular se alzan sus partes superiores semicirculares, siendo el tercer y cuarto cuerpos octogonales.

TEMPLO DE LA VERACRUZ: Es la obra más emblemática de O Carballiño. Su construcción se encargó en 1942 a Antonio Palacios Ramilo. Es además importante señalar la contribución hecha por el pueblo, y a dos personalidades además de su arquitecto, como son el párroco D. Evaristo Vaamonde da Cortiña y a su constructor D. Adolfo Otero Landeiro que consiguieron que la obra llegase a buen término. La construcción del templo se realizó mayoritariamente con lo que el párroco pudo ir consiguiendo a través de colectas, donativos de veraneantes y emigrantes y alguna subvención del Estado.

El emplazamiento de La Veracruz no fue fruto del azar, se pretendía que sirviese de enlace de tres puntos fundamentales: la estación del ferrocarril, la nueva Iglesia y la Casa Consistorial.

Su estilo es difícil de definir porque es una mezcla de distintas formas arquitectónicas y escultóricas. Los materiales que se emplearon para su levantamiento son en su totalidad de la comarca, en especial granito y pizarra

Su torre tiene 52 metros de altura. El elemento central del Templo es la rotonda que según Antonio Palacios: “Es el elemento más grandioso de toda la concepción interior del templo, novísima sí, pero también muy vieja y tradicional. La rotonda está abierta por un cimborrio constituido por cúpulas semiesféricas de 15 metros de diámetro, cortadas por ocho chaflanes (...) Sirven de apoyo al conjunto ocho fuertes columnas monolíticas en granito pulimentado de 4´5 metros de altura y 0´7 metros de diámetro. Sobre ellas se voltean –en los chaflanes mayores- arcos parabólicos, forma esencialmente gallega que repugna el arco apuntado...”

Carballiño:
I
II
III
IV
V

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Bandua, São Brás, os São Torcato e o torque

Bandua é um Deus supremo da cultura castreja (dos Galaicos, portanto), mas também dos Lusitanos, considerado o Deus da guerra e vinculado à tradição céltica centro europeia.
Geralmente aparece com diferentes epítetos - Bandua Aposolego, Bandua Cadogus, Bandua Aetobrigus, Bandua Roudeacus, Bandua Isibraiegus - que fazem referência ao seu carácter militar.
Nas fontes romanas aparece associado a Marte.
Apareceram menções em gravuras de numerosos lugares do noroeste peninsular, com menor frequência no resto da península. Uma ara dedicada a este Deus descobriu-se-se no Castro de San Cibrao de Lás, no concelho de San Amaro, uma ara particularmente importante, já que menciona o nome do castro, sendo este um dos poucos castros dos quais se conhece o nome: Lansbricae.
(fonte: Wikipedia)


São Torcato I -
S. Torcato (bispo) Séc. I
São Torcato é considerado o primeiro dos Varões Apostólicos, bispos enviados ainda no século I para evangelizar a Península Ibérica. A sua história está envolvida em lenda. Aparentemente, terá aportado a Cádis, no sul de Espanha, onde teria morrido e sido sepultado.
O seu corpo terá sido trazido para o norte da Península no século VIII, quando os cristãos de Cádis fugiram da invasão dos mouros, e depositado no mosteiro de Celanova, perto de Ourense. Mais tarde, as suas relíquias foram distribuídas por vários mosteiros da Galiza e do norte de Portugal. No ano de 1059 (cerca de cem anos antes da independência de Portugal), já existia o mosteiro de S. Torcato, perto de Guimarães, o mais célebre centro português da devoção ao santo bispo, o qual veio a dar o nome a muitas aldeias no Minho.
São Torcato II

Ladislao Castro sinala que a figura de San Brais - un bispo armenio martirizado en tempos do emperador Diocleciano, segundo as crónicas dá Igrexa - ofrece bastantes semellanzas con San Torcuato, outra figura tradicional que é obxecto de culto popular en diversos lugares de Galicia e do norte de Portugal e ó que tamén se atribúen poderes curativos.
Ambos os personaxes «parecen ir paralelos e ás veces substitúense», explica ou historiador. En certas representacións antigas, vos dous santos teñen ou torque como atributo e ou propio nome de Torcuato significa etimoloxicamente «portador do torque».
As dúas figuras, en opinión do prehistoriador ourensán, parecen estar relacionadas directamente cunha divindade do panteón castrexo, chamada Bandua.
Na localidade ourensán de
Santa Comba de Bande, onde tamén hai un culto tradicional a San Brais, vos arqueólogos encontraron unha ara ou altar dedicada a este deus adorado polos habitantes dous castros prerromanos, que seguiu recibindo culto despois dá romanización de Galicia.
(
Eiras, San Amaro)
Ou soado arqueólogo Florentino López Cuevillas, por outro lado, sinala que ou deus Bandua tamén debeu de ser obxecto de culto non castro ourensán de San Cibrán de Lás, situado cerca dun lugar que se chama Couto de San Trocado.
Este último nome é unha variante popular de Torcuato presente en diversos lugares de Galicia.
A teoría de Castro é que tanto San Brais como San Torcuato herdaron en parte as funcións e os atributos do deus Bandua, que probablemente tamén tinga virtudes curativas e ó que se lle debían de ofrendar
torques.

(fonte: La Voz de Galicia)

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domingo, 21 de novembro de 2010

Roger la Flor, 2ª parte


(...)

Qué os diré? Con tales presas abasteció Siracusa, el castillo de Agosta, Lentini y todos los demás lugares que se tenian por el señor rey al rededor de Siracusa, donde trató de hacer un gran mercado de viveres, y de enviar para Mesina, habiendo pagado luego, con el dinero que hizo, álos soldados que habia en todos los puntos referidos. Es decir, que pagó todo el mundo, en dinero ó en viveres, por seis meses, con lo que logró dejarlo todo bien provisto. Hecho esto, le sobraron todavia de sus ganancias mas de ocho mil onzas, y pasando á Mesina, entregó al señor rey, que recorria la Sicilia, mil onzas en carlino, y pagó tambien en dinero ó viveres, y asimismo por seis meses, á los soldados que estaban con el conde de Squilace, y en Calana, la Mota el castillo de Santa Agata, Pentedatilo, Mandolela (Amandolea) y en Guirays (Gersei).

Armó despues quatro galeras, ademas de la suya, las cuales tomó de la atarazana, y armadas que las tuvo, hizo outra vez rumbo hacia la Pulla, y apreso en Otrento la nave de En Berenguer Samuntada de Barcelona, que hiba cargada de trigo y pertenecia al rey Carlos, cuya nave, que era de tres puentes, enviaba este á Catania. Tripuló Roger la mencionada nave, y la envió á Mesina, proporcionando grande abundancia á la ciudad con las otras naves y leños que apresó, pues fueron mas de treinta las que allí envió cargadas igualmente de viveres; de suerte, que fué infinito lo que él vino á ganar, como fué grande el bien que hizo á Mesina, á Reggio y a todo el país.

Luego que hubo hecho todo esto, en que mas de cincuenta caballerias, todas buenas, las hizo montar por escuderos catalanes y aragoneses, que recibió en su compañia, - á sua casa cinco caballeros, tambien catalanes y aragoneses, y provisto de gran cantidad de dinero, fué alli donde estaba el señor rey, que era en Piazza, donde le encontró, y en aquel punto entrególe mas de mil onzas em dinero, habiendo hecho donativos á D. Frederico, á En G. Galcerán, y á En Brenguer.

Entenza especialmente, con los cuales se hacera íntimo, reinando tal amor, que parecia tratarse de hermanos, y en que --- entre elles lo que hubiesen. Que os ---. No habia rico hombre ni caballero que no aceptase sus dones, y en todos los --- que hiba á visitar, daba á los soldados por seis meses; así que, fortalecio al señor rey, y refrescó de modo á su gente, que cada uno valia por dos de lo que antes eran --- señor rey, viendo lo que Roger valia, le nombrou vicealmirante de Sicilia, nombróle del consejo, y le dió el castillo de Trip, el de Alicata y las rentas de Malta.

Viendo asimismo Roger el honor que el señor rey le habia dispensado, dejóle su compañia de á caballo, con sus respectivos jefes, que eran En Berenguer de Montroig, catalan, y micer Roger de la Matina, á quienes entregó el suficiente dinero para subvenirse y para lo demás que hubiesen menester. Despidióse luego del señor rey, y pasando á Mesina, donde armó cinco galeras y un leño, trató de batir todo el Principado, la playa romana y la ribera de Pisa, Génova, Provenza, Cataluña, España y Berberia. En tal viaje, apoderábase de todo cuanto encontraba, así de amigos, como de enemigos, con tal que fuese dinero ó mercaderia buena que pudiese meter en sus galeras, con la diferencia, que á los amigos les daba un debitorio, diciéndoles que cuando habria paz se les satisfaria, y á los enemigos les quitaba todo cuanto bueno llevaban, dejandoles, sin embargo, los leños y las personas, pues á ninguna hacia mal.

De este modo, al apartarse de él cada cual marchaba satisfecho, y así ganó en tal viaje una infinidad de oro, plata y buenos géneros, tanto como pudieron llevar sus galeras.
Con tal ganancia, volvióse á Sicilia, donde todos los soldados, así a caballo como de á pié, le esperaban, como los judios al Mesias. Cuando estuvo en Trápani oyó decir que el duque habia ido contra Mesina, cuya ciudad tenia sitiada por mar y por tierra, y dirigiéndose Roger á Siracusa, desarmó en tal punto, mas, si era grande la confianza con que le aguardaban los soldados, no lo fué menos el modo como trató de socorrerles, pues á todo el mundo, fuese quien fuese el que encontraba, ya fuesen de á caballo, ya de á pie, ó guardias de castillo, y lo mismo en Sicilia que en Calabria, á todos pagaba por seis meses, y así era tal la buena voluntad de los soldados, que cada uno valia por dos.

Mandó venir luego su compañia, y dándola asimismo igual paga, envió en seguida al señor rey gran refresco de dinero, no menos que á todos los ricos hombres.

(*) Flor es el apellido traducido, pues el verdadero era Blum, que significa aquella palabra en aleman.

- Rámon Muntaner

Roger la Flor, 1ª parte

Reflere el principio de fray Roger, que despues fué tan ensalzado, y las grandes proezas que hizo durante su vida.

Es el caso, que el emperador Federico tuvo un halconero de Alemania, que tenia por nombre Ricardo de Flor (*), bellisimo sujeto, al que dió por esposa, en la ciudad de Brindis, una doncella, hija de un propietario de dicha ciudad, que era á la vez rico hombre, de modo, que entre lo que le dió el emperador, y lo que le sobrevino por su mujer, vino a ser tambien un gran rico hombre. Tuvo con ella dos hijos, el mayor, que se llamava Jacobo de Flor, y el menor, que tenia por nombre Roger de Flor. Cuando Conradino fué al reino de Sicilia, tenia el mayor de dichos dos hermanos no mas que cuatro años, y Roger solamente uno. Quiso su padre, que era buen guerrero, asistir a la batalla de Conradino contra el rey Carlos, y en ella murió; mas, como el rey Carlos, despues de haberse apoderado del reino, se apoderó asímismo de todo cuanto perteneciese á los que hubiesen estado en la batalla, ó hubiesen pertenecido a la familia del imperador y del rey Mamfredo, resultó que esos dos muchachos y a su madre no les quedó mas que lo quo ella habia aportado en dote, pues de lo demas fueron desheredados.

En aquel tiempo, acudian las naves de todas las casas de comercio á Brindis, donde iban a invernar las de Pulla, que querian sacar del reino peregrinos ó víveres, pues tenian allí las casas grandes establecimientos, como los tienen todavía en Brindis, por toda la Pulla y lo demás del reino, de modo que las naves que alli invernaban, empezaban a cargar por la primavera , para pasar a Acre, llevándose peregrinos, aceite, vino, y de toda suerte de grasa y de trigo. A buen seguro que es el tal lugar el mas á proposito para pasar á Ultramar, que ningun otro de cristianos, pues es la tierra mas abundante y fértil entlodo, y la mas cercana á Roma, siendo, además, el mejor puerto del mundo, de modo que las casas están construidas dentro del mar.

Mas adelante, cuando el mozo Roger tuve ocho años, sucedió que un prohombre del Temple, que era fray sargento, llamado fray Vassayll, natural de Marsella, y que se encontraba de comendador de una nave del Temple, marino experto, fué a invernar en Brindis con su nave, haciéndola lastrar y recorrer en la Pulla. Mientras se componia la nave, el muchacho Roger andaba por ella y por la jarcia tal lijeramente como si fuese um mono, y pasaba todo el dia con los de la embarcacion, por el motivo de estar la casa de su madre cerca del punto donde aquella tenia el lastre.

Con esto, el mencionado prohombre fray Vassayll prendóse tanto del mozo Roger, que le amaba lo propio que si fuese hijo suyo, y pidiéndolo á sua madre, dijole, que si se lo entregaba, emplearia todo su valimiento para que fuese algun dia hombre de provecho en el Temple. La madre, pareciendole que era un honrado sujeto el que tal le pedia, entregóselo gustosa, y él lo recibió, saliendo, con esto, el muchacho el mas experto en cosas de mar que imaginar se pueda, pues maravilla era verle encaramar, y otras cosas que hacia; así sucedió, que á los quince años fué reputado como uno de los mejores marineros del mundo, y á los veinte fue buen marinero, así por su discurso como por práctica, de suerte que el tal prohombre fray Vassayll le dejaba ya la direccion de la nave á su libre voluntad. Viendo el maestre del Temple que era Roger fogoso y capaz al mismo tiempo, dióle el manto de la órden, haciéndole fray sargento, y á poco de ser fraile, compró el Temple una gran nave á los genoveses, la mayor que se hubiese fabricado en aquellos tiempos, la cual tenia por nombre el Halcon, y entrególa al mencionado fray Roger de Flor.
Con ella navego largo tiempo Roger, dando pruebas de su conocimiento y gran valor, como se encontró con ella en Acre, entre las del Temple que allí habia, y de todas cuantas allí estaban, ninguna era tan querida como aquella, debiendo entenderse que era el tal fray Roger el hombre mas generoso de cuantos hayan nacido, pudiendo solo compararse con un rey joven, como que cuanto ganaba lo repartia y daba luego á los principales caballeros del Temple, y á los muchos amigos que se sabia conquistar.

Perdióse en aquel tiempo Acre, en cuyo puerto se hallaba con su nave, y en admitiendo en ella á damas y doncellas con grandes tesoros, y á otra mucha gente de importancia, los transportó luego á Montpelegrin, con lo que vino á ser infinito lo que ganó en tal viaje. Cuando hubo pasado el mar, y se halló otra vez á la parte de acá, hizo grandes donativos al maestre y á todos cuantos mandaban en el Temple; mas, no bien lo hubo hecho, cuando algunos envidiosos lo acusaron al maestre, diciendo que del suceso de Acre era grande el tesoro que le habia quedado, resultando de aqui que el maestre se apoderó de cuanto le pertenecia, y luego hasta quiso prenderle. Al saberlo Roger, desamparó la nave, que estaba en el puerto de Marsella, y se fué á Génova, donde encontró á micer Ticino Doria y á otros muchos amigos que habia sabido granjearse; pidióles prestada una cantidad, con la que compró una buena galera, cuyo nombre era la Oliveta, y armaándola muy bien, paso con ella á Catania, y se presentó al duque, para ofrecersele, y ver en lo que estimaria así su galera, como á su persona. Mala acogida le dió el duque, de hecho y de palabras, y así estuvo aguardando tres dias, sin haber podido pbtener respuesta alguna favorable, mas el cuarto dia, fuése á su presencia, y le dijo:
- Ya veo, señor, que no os place emplearme en servicio vuestro; quedad, pues, con Dios, y yo iré en busca de otro señor a quien plazca mi servicio. - A lo que el duque contestó, que fuese en buena hora.

Con esto, embarcose al punto Roger, y se fué á Mesina, donde encontró al señor rey Federico; fué a su presencia, ofreciósele, así como habia hecho al duque, y acogiendole muy agradablemente el señor rey, dióle gracias por su oferta, le hizo, en seguida, de su casa, y le señaló buena y conveniente paga, prestándole homenaje Roger, con todos los que le habian acompañado. Viendo Roger la bella y honrosa acogida del señor rey, dióse por muy satisfecho, y habiendo estado ocho dias á su lado, despues de haber resfrescado á su gente, despidióse de él, é hizo rumbo hácia la Pulla, donde apresó una nave del rey Carlos, que hiba á Catania, cargada de viveres para el duque, la que tripuló en seguida con gente de los suyos, y pasando los de la nave á la galera, envió aquella, que era de tres puentes, á Siracusa, cargada de trigo y otros viveres, Apresó luego diez taridas, cargadas asimismo de viveres, que el rey Carlos enviava al duque, y con ellas pasó á Siracusa, cuya ciudad reanimó, pues en tal ocasion habia en ella gran escases, llevando luego viveres con la misma galera al castillo de Agosta.

sábado, 20 de novembro de 2010

04 de Dezembro de 1149

Mas o homem, se é certo que o conduz,
Por entre as cerrações do seu destino,
Não sei que mão feita d’amor e luz
Lá para as bandas dum porvir divino…

Se, desde Prometeu até Jesus,
O fazem ir — estranho peregrino,
O Homem, tenteando a grossa treva,
Vai… mas ignora sempre quem o leva!

(Continua no livro)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Castelo de Monforte de Rio Livre


Enquadramento
Rural, isolado, no alto de um outeiro da serra do Brunheiro, a 849 metros de altitude, com vasto domínio visual sobre a Veiga de Chaves, permitindo avistar as fortificações de Chaves e Monterrey, em Verin, Espanha.
O acesso ao castelo faz-se por escadaria de vários lanços, desde a zona de estacionamento, onde existe também espaço de lazer, com mesas e bancos.
O interior da vila muralhada encontra-se coberto por uma densa vegetação que esconde o que resta das ruínas dos arruamentos e habitações, da casa da câmara, cadeia, igreja matriz, capela de Nossa Senhora do Rosário e da fonte do Cubo.
A cerca, em grande parte, encontra-se parcialmente encoberta por vegetação. Nas imediações do castelo, existem restos de aldeamentos romanos.

Descrição
Fortificação composta pelo castelo propriamente dito, implantado na zona mais elevada do outeiro, e pela cerca da antiga vila medieval, que se estende para NE., ao longo da encosta declivosa.
CASTELO de planta rectangular irregular, de eixo interno S. - N., e tendo torre de menagem quadrangular adossada exteriormente a O., em cantaria de aparelho regular; a muralha, elevada e de silhares bem aparelhados, não apresenta remate nem adarve pelo interior, o qual era, no entanto, acedido por escadas, subsistentes a O., estruturadas na espessura da muralha, e a E., onde tem dois lanços divergentes, sendo um lanço igualmente estruturado na espessura da muralha e um outro em escada salta cão. O acesso directo ao interior do castelo faz-se apenas por uma porta, estreita, virada a S., em arco de volta perfeita, de aduelas simples, sobre impostas salientes, com porta de madeira.
Interiormente, o pátio de armas apresenta alicerces visíveis de antigas construções rectangulares, correspondendo às casas para o governador e aos quartéis de cavalaria, na face O. e na N.. Na face N. abre-se ainda porta, larga, interiormente em arco de volta perfeita e exteriormente de arco quebrado sobre impostas salientes, ligando directamente o pátio do castelo à antiga vila.
A torre de menagem, avançada relativamente à fachada principal do castelo, tem dois pisos, igualmente sem o remate, mas conservando os cachorros recortados que o sustentavam, bem como duas gárgulas de escoamento de águas pluviais; no topo, apresenta cobertura em placa de betão coberta por um telhado de quatro águas, também de betão, revestido com telha de aba e canudo, circundada por adarve, acedido por vão rasgado numa água furtada, virada a N.. Na fachada virada a E., com pisos separados por cornija corrida saliente e com duas mísulas, de sustentação de alpendre desaparecido, abre-se sobrelevado portal em arco de volta perfeita, sobre os pés direitos, acedido pelas escadas dispostas a O. a partir do pátio de armas.
Na fachada S., a torre é rasgada em cada um dos pisos por uma seteira, na fachada O. por uma seteira estreita apenas no primeiro piso e na virada a N. por uma seteira estreita no primeiro piso e por janela de dois lumes, em arco quebrado no segundo.
INTERIOR de três pisos, correspondendo o inferior à cisterna, abobadada e acedida por vão rectangular situado no centro do pavimento do primeiro piso. Este é iluminado por duas frestas abertas ao centro das paredes, a abrir para o interior em arco de volta perfeita e já não possui tecto a separá-lo do piso superior, ainda que conserve as mísulas de apoio; o segundo piso, iluminado pelas frestas a abrirem igualmente para o interior em arco e pela janela mainelada, a N., apresentando o arco quebrado com chanfro e conversadeiras, é coberto por abóbada de berço; a partir do ângulo NO. desenvolve-se, no intradorso da caixa murária, uma escada de caracol, de granito. Adossada à torre de menagem, pelo lado exterior do pátio, subsistem os alicerces de construções.
A CERCA, de planta sub-elíptica, e já sem alguns troços, apresenta o seu traçado bem visível em fotografias aéreas; parte a O. da torre de menagem, prolongando-se mais nessa orientação, até que contorna para N., depois para E. e, por fim, fecha o circuito quase no cunhal SE. do castelo. Interiormente a cerca é subdividida por uma outra muralha, formando sensivelmente ângulo recto. Das três portas, conserva apenas a do Galeão.

Época Construção
Séc. XIII / XIV
Cronologia
70 d.C. - possível construção de um forte romano no local do actual castelo; pensa-se que ali foi subsistindo população ao longo dos séculos, até às invasões muçulmanas e depois até à reconquista cristã;
Séc. XI - consta que já existia no local uma Civitas com o nome de Batocas ou Troia;
Séc. XII - provável construção do castelo;
1273, 4 Setembro - data do primeiro foral à povoação de Monforte de Rio Livre por D. Afonso III, reservando para si o padroado, não dispensando os moradores do serviço militar; o rico homem quando quisesse ir à vila e ali comer tinha de pagar e o meirinho da coroa não podia exercer justiça; foi dado ainda a concessão de uma feira franca com duração de dois dias, e os moradores ficaram dispensados do anúduva; a este concelho ficou submetido um vasto termo densamente povoado com várias aldeias, entre os Rios Mente e Rabaçal *1;
1280 - reconstrução do castelo e das muralhas após a sua quase destruição aquando das guerras com Leão;
Séc. XIII - referência ao castelo e ao seu "tenente" D. Gonçalo Mendes;
1312, cerca - construção da torre de menagem;
Séc. XIII / XIV - conclusão da reconstrução do castelo durante o reinado de D. Dinis, ali residindo o alcaide; a povoação já se encontrava, muralhada numa área de 180 x 120 m e teve um crescimento florescente;
1383 - Monforte tomou o partido por Castela durante a crise dinástica;
1420 - D. João I institui couto de homiziados; Idade Média, finais - era já notória a tendência preocupante da população de abandonar o local, levando os monarcas a conceder repetidos privilégios a quem ali permanecesse;
1483, 16 Dezembro - carta ao alcaide-mor de Bragança ordenando-lhe que fizesse em Monforte as obras que lhe indicava; os moradores das aldeias e casais, numa légua antiga ao redor, deveriam ir morar permanentemente dentro dos muros de Monforte, sob pena de perderem nessa área os bens que possuíssem da coroa, caso tais ordens não fossem cumpridas dentro do prazo de 1 ano; todas as terras e propriedades das aldeias que nessa zona ficassem desertas seriam dados aos mesmos a título de sesmarias; D. João II enviou um cavaleiro da casa real a Monforte para ouvir os moradores da vila e termo e se documentasse das medidas que deveriam ser adoptadas pelo soberano; D. João II chegou mesmo a oferecer um prémio de mil reais por cada pessoa que, de qualquer parte, viesse habitar na vila, continuamente, tal era a necessidade de povoamento para defesa do território junto à fronteira;
1500, 1ª década - construção da barbacã e fosso;
Séc. XVI, início - segundo os desenhos de Duarte D'Armas, o castelo possuía, em frente da porta, uma barbacã com troneiras e era antecedida por fosso; segundo a legenda do códice de Madrid dos desenhos de Duarte D'Armas, a vila não tinha mais de dez ou doze vizinhos e todas as outras casas estavam derrubadas e feitas em pardieiros, nem tendo portas, nem se podendo andar pelas ruas por causa do esterco do gado;
1512, 1 Junho - foral novo de D. Manuel dado em Santarém;
1557 - a vila tinha 14 fogos;
Séc. XVII / XVIII - construção de um meio baluarte junto à porta e de uma outra estrutura a E. da torre e corpo principal do castelo, de que subsistem vestígios, e que servia para aquartelamento da cavalaria;
Séc. XVIII - o concelho de Monforte pertencia à Casa do Infantado, de que era donatário o infante D. Francisco, irmão do rei D. João V; por ocasião da sua visita ao domínio, os homens bons do concelho quiseram presenteá-lo com produtos da região, mas como a terra era pobre, só conseguiram obter figos e pinhas, cujas colheitas e recolha se faziam na altura; o infante considerou tal oferta como uma afronta e mandou amarrar o autor de tal ideia a um poste, ordenando que os soldados lhe atirassem, um a um, todos os figos; consta que, no final, o vereador desabafou: "Olha se lhe tínhamos oferecido as pinhas!!";
1753 - data de uma planta do castelo, assinada pelo ajudante de e engenharia José Monteiro de Carvalho, assinalando no pátio de armas os quartéis de cavalaria, e tendo outras construções adossadas à torre e à cerca a O.; a NO. a cerca integrava um cubelo, rasgando-se um pouco antes, a O., e um pouco depois, a E., uma porta, a última das quais dava acesso à fonte da vila, protegida por revelim;
1755, 1 Novembro - segundo as Memórias Paroquiais não padeceu ruína com o terramoto;
1758, 12 Abril - queda de um troço de 15 / 16 varas das muralhas do castelo que corria de S. para O. durante a ocorrência de um terramoto; 24 Abril - segundo o relato do abade António Luís Nogueira, a vila situava-se num alto da serra, e tinha como donatário o Conde de Atouguia; tinha muros fortes em circuito com uma só porta a E. e uma outra, mais a S., chamada de Barroso, a qual havia sido tapada pelo Governador Pedro Aires Soares; era praça de armas tendo então como governador interino Simão Teixeira, capitão de infantaria, com 14 soldados, um sargento e um cabo de esquadra que eram rendidos mensalmente pelo Regimento da Guarnição de Chaves, distante légua e meia; tinha um castelo na zona alta da vila, corpo de guarda e seis cortaduras, a E. e outros 3 a S., onde havia artilharia, as peças sem carregos; no meio "bojo" do castelo, em frente da porta do governador, existia um meio torreão de cantaria e junto deste outro mais demolido, onde tinha havido duas grandes peças de artilharia em direcção a E. e com engenho que "virotava" ao N. e S. e que foram levados para Chaves *2;
1796 - referência à vila estar quase despovoada e arruinada, não tendo mais de cinco moradores, três no interior dos muros, demolidos, e dois no exterior dos mesmos, razão que levou os moradores a mudarem-se para o lugar de Águas Frias; não tinha, já por muito tempo, alcaide, e conservava-se na vila quatro canhões, de calibre 24, três dos quais ainda em bom uso, mas o outro estava arruinado e com ferrugem;
1804, 28 Dezembro - informação de que a Província de Trás-os-Montes não tinha praça, forte ou fortaleza ou artilharia alguma de préstimo, devido à invasão espanhola de 1762 ter arruinado a Praça de Chaves, a de Bragança e a de Miranda, assim como alguns castelos;
Séc. XIX, princípio - a vila encontrava-se completamente desabitada;
1801 - data de uma planta do castelo, marcando a localização das bocas de fogo;
1811 - era governador do castelo João de Mesquita Teixeira;
1836 - transferência da sede do município para Lebução, a aldeia mais importante do concelho;
1853, 31 Dezembro - extinção do concelho de Monforte de Rio Livre; criação da comarca de Valpaços;
1861, 23 Setembro - circular do Ministro da Guerra sobre a situação das fortificações da Província;
1863 - o castelo ainda tinha governador e alguns veteranos;
1874 - a cerca da vila estava desmantelada e apenas o castelo se conservava em melhor estado; ainda tinha a antiga casa da Câmara, cadeia e pelourinho;
Séc. XIX - extinção do concelho por falta de moradores, sendo transferido para Lebução;
Séc. XX, início - ainda se realizava uma feira junto ao castelo;
Séc. XX, segunda metade - desenvolvimento de vários projectos de adaptação a empreendimentos hoteleiros, mas sem qualquer viabilidade;
1992, 1 Junho - o imóvel foi afecto ao IPPAR, pelo Decreto-lei 106F/92.

Tipologia
Arquitectura militar, medieval.
Castelo de planta rectangular irregular, em cantaria, composto por muralha sem remate nem adarve, mas que era acedido por escadas estruturadas na espessura da muralha e em salta cão, e por torre de menagem, quadrada, adossada exteriormente, sem remate, mas que seria em parapeito ameado saliente, assente em cachorros escalonados, que conserva, com acesso sobrelevado por portal em arco de volta perfeita, sobre os pés direitos.
O principal acesso ao interior do castelo faz-se por porta a S., em arco de volta perfeita, sobre impostas salientes, tendo no pátio de armas vestígios de várias construções e, a O., portal de ligação à vila muralhada. Interiormente, a torre de menagem possui piso rebaixado com cisterna, abobadada, e dois outros, iluminados por seteiras a abrir para o interior, o último coberto por abóbada de berço.
A cerca urbana, em cantaria, tem planta sub-elíptica, com os topos NO. e NE. curvos, sem remate nem adarve, e conservando apenas uma das portas, em arco.

Características Particulares
Castelo integrado na linha estratégica da defesa de Trás-os-Montes, constituindo um ponto de vigia em frente do castelo de Monterrey e do de Chaves, construído não muito longe da via romana que, de Bracara Augusta (Braga) ia a Asturica (Astorga, em Espanha). De planimetria pouco comum nas fortificações medievais, o facto de possuir a torre de menagem adossada exteriormente ao pátio de armas, ainda que parcialmente protegida pela cerca urbana, revela uma certa evolução na defesa. Aliás a sua construção é apontada para cerca de 1312. A torre constitui um exemplo interessante, não só por integrar cisterna abobada, no piso rebaixado relativamente ao portal de acesso, mas também pelo remate em parapeito avançado corrido, assente em cachorros escalonados, e ameias piramidais, provovelmente de construção gótica. É rasgada regularmente por seteiras a abrir para o interior, e por duplo vão em arco quebrado, com conversadeiras, ao nível do andar nobre, onde se desenvolve, no intradorso da caixa murária, escada de acesso à cobertura. O castelo de Monforte constitui o melhor exemplar transmontano de uma vila medieval desertificada protegida por cerca urbana. A cerca é bastante extensa, mas era apenas reforçada por um cubelo, nas imediações do qual se abriam duas portas, uma delas de acesso à fonte da vila. Interiormente, a cerca era seccionada por duas outras muralhas, separando a zona de construções junto ao castelo do restante da vila. A antiga barbacã com troneiras desenhada por Duarte d'Armas já não é representada nos desenhos do séc. 18, no entanto fotografias aéreas parecem denunciar ainda alicerces de um troço. Nas imediações do castelo existem restos de um antigo aldeamento romano.

Observações
*1 - A vila de Monforte de Rio Livre era cabeça de um concelho que abrangia a área de várias freguesias: Vicente, Roriz, Travancas, Mairos, Paradela, Sanfins, Castanheira, Águas Frisa, Tronco, Bobadela e Oucidres, Lebução, Bouçoais, Fiães, Tinhela, Alvarelhos, Sonim, Barreiros, Santa Valha e Fornos do Pinhal.
*2 - O relato do abade António Luís Nogueira nas Memórias Paroquiais da freguesia é bastante pormenorizado. Diz que sobre a porta interior do castelo havia uma grande inscrição dizendo: "eu D. Dinis, este castello fiz, quem depois de mim vier se dinheiro tiver fará o que quiser; subia-se à primeira sala do castelo por uma escada de cantaria de 42 degraus, largamente bem feita, disposta a O. da parede do castelo, mas sem guardas para E. correndo ela de N. para S.; no topo da escada corria rua para o S. que ia rodando o castelo e dela se podia descer aos muros da vila, que tinha passagem livre até às portas que estavam em direcção a E., com inclinação ao S., onde do lado de dentro, havia ainda vestígios de uma escada de cantaria que ficava no corpo da guarda e que em 1758 servia para os soldados da guarnição, onde havia camas e tarimbas para elas (do corpo) para tornar a meter a muralha se atravessa a praça donde estava o pelourinho e casa da câmara e cadeia que era bastante forte, com duas enxovias; e se entra outra vez na rua que seguia o muro que ali metia um espigão que mediava de N. e S., no recinto do qual tinha a fonte do Cubo, sem utilidade, e na ponta do tal espigão tinha uma guarita, contínua à mesma rua até se meter às portas do castelo, findando no corpo da guarda alto. A torre do castelo tinha três pisos; a primeira sala era quadrada e tinha mais de 40 passos e de altura 28; era "de ladrilho o lastro" e debaixo com mais de 60 palmos de altura, sem porta alguma, telhado de cantaria, assentos da mesma pedra em roda de uma mesa quadrada; a segunda sala era sobrada de madeira, tinha menos largura por causa de uma escada de pedra que subia para ela; à terceira sala acedia-se por escada de madeira, a qual tinha a mesma largura e altura da segunda, mas era de abóbada muito "bem obrada"; no alto do castelo, sobre cachorros de cantaria, tinha uma varanda com 2 côvados de largura, de onde para N. se via Monterrei. A S., contíguo ao alto que batia na muralha, havia um grande campo e ao fundo dele uma fonte de arco que permanentemente lançava mais de uma telha de água, que no rigor do Inverno era tão "cálida" como se estivesse ao fogo, sendo esta a única fonte que tinham os moradores. A vila tinha apenas 14 moradores, 12 homens casados, 6 solteiros dos 14 aos 20 anos, 4 de 8 até aos 12 anos, 9 moços solteiros, 5 mulheres viúvas e 3 raparigas de 6. A paróquia ficava dentro da vila e contígua aos muros dela, sendo obrigados a ela os moradores de Águas Frias que distava 1/4 de meia légua. A igreja, tendo de padroeiro São Pedro, era Matriz e tinha como filiais as igrejas de Nossa Senhora da Natividade de Aullelos, Nossa Senhora da Expectação de Mairos, Santo António de Curral de Vacas e Santa Maria de Casas. A igreja tinha quatro altares: na capela-mor, primorosamente adornada, o retábulo-mor formoso, com tribuna, à moderna, bem dourado, com o Santíssimo, adornado de cruz e seis castiçais, albergando as imagens do Menino Deus, no alto da tribuna, e, lateralmente, as de São Pedro e São Paulo; o tecto era pintado com tintas finas e as paredes com tintas menos finas. Os retábulos colaterais, dedicados à Senhora da Graça e a São Bernardino, estavam pouco decentes pela pobreza dos moradores. Do lado da Epístola tinha ainda uma capela de arco, mandada fazer pelo padre João de Prada, com grades, albergando retábulo dedicado ao Senhor Jesus crucificado, e junto à qual se fizera sepultar e para a capela deixara fábrica para rezarem anualmente 104 missas (faleceu a 17 Janeiro 1717). A capela permanecia na penúria e notável indecência. Exteriormente, a igreja tinha pouca altura e estava enterrada mais de 2 côvados. Não tinha porta travessa a O. devido aos ventos fortes. Era de cantaria com campanário de dois sinos pequenos e o campanário muito baixo, mas forte, tudo ao antigo. Fora dos muros no campo que serviu de arraial, havia uma capela dedicada à Senhora do Rosário, e que então se refazia de novo devido à ruína que padecia, tendo-se cortado muito numa das paredes findas, sobre as quais o padre mandara, à sua custa, colocar cornija, e o frontispício de cantaria bem lavrada. Ao pároco da freguesia chamavam de abade. A vila não tinha convento, hospital ou misericórdia, mas apenas choupanas de colmo, meio enterradas. O senado da vila constava de dois juízes ordinários, três vereadores, um procurador e escrivão da câmara, que eram providos pelo corregedor de Torre de Moncorvo, fazendo-se a sua eleição três em três anos. A eles estavam sujeitas 42 juízes pedaneos de que se compunha o distrito da vila.

(fonte: IHRU)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Capela de S. Pedro de Varais ou Varães


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A capela de São Pedro de Varais, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1950, localiza-se na freguesia de Vile, na vertente de dois montes nos contrafortes da Serra d' Arga.

Este monumento, cuja construção terá sido feita entre os séculos X e XIV, caracteriza-se por uma organização planimétrica simples e pela escassez de elementos decorativos. Apresenta uma planta longitudinal composta de nave única e capela-mor quadrangular irregular. A fachada principal é coroada por um campanário de sineira única típico do período Românico Tardio.

Os painéis pintados a fresco no interior da capela, e restaurados em 1999, datam da primeira metade do século XVI.

Tratando-se do imóvel arquitectónico mais antigo do concelho, esta capela deparou-se com a necessidade urgente de obras de recuperação. Para dignificar o templo e permitir o usufruto do espaço onde se situa, a Câmara Municipal realizou, ainda, arranjos urbanísticos e beneficiou o acesso à Capela de S. Pedro de Varais.

Esta capela fica na Freguesia de Vile, bem no centro do Vale do Âncora, está situada numa área montanhosa dos contrafortes da Serra D`Arga e é desconhecida a data da sua construção, apontando-se como mais provável o final do séc. XII e o início do séc. XIII, sendo certo que já é referida numa Bula de 1320 do Papa João XXII, que concede a D. Dinis por três anos e para ajuda da guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas dos seus reinos, com excepção das igrejas, comendas e benefícios, que pertencessem à Ordem de Malta. Nessa Bula datada de Avinhão, a 23 de Maio de 1320, lá vem taxada em 180 libras a igreja de S. Pedro de Varais, ligada ao Bispado de Tui.

A Capela de S. Pedro de Varais, apesar das suas pequenas dimensões, é um monumento românico de perfeita arquitectura e rara beleza. Diz a tradição tratar-se de um Mosteiro antigo e a sua situação assim o parece indicar pois, se não fora o destino cenobítico e o caracter procurado, de eremita, para o tempo, não se teria erguido tal igreja no seio de um monte difícil de subir de ambas as partes, tanto de Vile, como de Azevedo.

(fonte: Câmara M. de Caminha)

Enquadramento
Rural, isolada, destacada em plataforma, na vertente de 2 montes escarpados, conhecido por "monte do cão vermelho", nos contrafortes da Serra de Arga. Ergue-se num adro lajeado e com "solo-cimento", acedido por rampas laterais para peões e com zona de parqueamento em terra vegetal. Fronteiro possui eucaliptos.

Descrição
Planta longitudinal composta de nave única e capela-mor quadrangular irregular. Coberturas escalonadas com telhados de 2 águas. Frontispício orientado, terminado em empena truncada por sineira, de arco pleno e rematada em empena. Portal de arco quebrado, com duas aduelas sobre imposta saliente, assente em pés direitos e tímpano com cruz hasteada ladeada por dois sinos - saimões dentro de círculos; encima-o rosácea. Fachadas laterais iguais, com pórtico de arco quebrado, de duas aduelas sobre pés-direitos e tímpano com cruz hasteada, enquadrado por duas frestas capialçadas para fora, à excepção de uma na fachada N., e com moldura curva superior. Sob as frestas, surgem dois ou três cachorros dispostos regularmente. Cornija biselada assente sobre modilhões lisos ou de motivos geométricos. INTERIOR rebocado, com as frestas capialçadas para dentro com moldura curva superior. Pavimento de lajes graníticas irregulares e tecto com forro de madeira. No lado da Epístola, arcosólio de arco quebrado chanfrado, mas já sem tampa. Arco triunfal, quebrado, sobre impostas salientes e encimado por pequena fresta entaipada. É envolvido por pinturas a fresco, desenvolvidas em três registos, separados por friso ocre liso traçado a terra sienna de traçado livre sem preocupação de esquadria. No primeiro registo figura o Martírio de São Sebastião, no segundo um monge inserido numa edícula, segurando um livro e uma cruz, e no terceiro três cenas separadas por friso: na primeira figura Cristo morto no regaço da Virgem, tendo São João à esquerda e Maria Madalena enxugando as lágrimas, à direita; na segundo, ao centro, figura uma imagem muito incompleta e ainda por identificar; e na do lado esquerdo ilegível. Mesa de altar colateral, no lado da Epístola, em pedra, com o pano lateral pintado com motivos geométricos. O intradorso do arco é pintado com motivos decorativos variados, de forma geométrica. Capela-mor com duas frestas capialçadas para o interior e arcosólio sem tampa no lado do Evangelho; na parede testeira, pinturas a fresco, enquadradas por frisos geométricos e vegetalistas separadores; uma outra cena existe à volta da fresta sobre o arco triunfal. Retábulo-mor em pedra, com embutidos de várias cores, de nicho entre pilastras e arquivoltas a pleno centro, sobrepostas por raios e mitra papal com chaves - símbolo do Apóstolo Pedro. Mesa de altar também em pedra, com sebastos, sanefa e pano central destacados.

Época Construção
Séc. XIII (conjectural) / XVI / XVIII

Cronologia
Séc. X / XII - Provável construção de uma ermida alto-medieval, de que a metade inferior da capela-mor parecem ser os restos subsistentes;
1128 - documentos anteriores, referem-na como simples ermida pertencente ao Convento Vitoriano das Donas;
Séc. XII / XIII - provável reconstrução ou ampliação da capela;
1258 - referida nas Inquirições; 1320, 23 Maio - Papa João XXII concede Bula a D. Dinis, por 3 anos, para ajudar na guerra contra os mouros, através da décima de todas as rendas eclesiásticas do seu reino, com excepção das igrejas, comendas e benefícios pertencentes à Ordem de Malta, onde se incluia a capela de São Pedro de Varais;
Séc. XIII / XIV - reconstrução;
1321 - o censual do cabido de Tui para o Arcediago da Terra da Vinha atribui-lhe o rendimento de 1 quarteiro de trigo e 1 libra de cera;
1551 / 1581 - O censual de Fr. Baltasar Limpo dá conta dos seus benefícios, metade na posse do mosteiro de São Salvador da Torre e outra metade na mão de senhores leigos. Refere também a confirmação duma doação do padroado ao Marquês de Vila Real por estes Senhores, feita pelo Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa;
1640 / 1641 - as povoações de Vile e Azevedo, até ali congregadas numa só freguesia e tendo-a por matriz comum, desmembraram-se noutras freguesias, cada 1 delas procurando ter matriz própria; os párocos de Vile, não se contentando apenas com a sua nova igreja de São Sebastião, obtiveram direito à posse da antiga matriz, a ponto de irem ali anualmente dizer missa no dia de São Pedro; posteriormente, os de Azevedo obrigaram à sua cedência, integrando-a na interparoquial Confraria de Santo Isidoro;
1748 - data do altar-mor;
1758 - Memórias Paroquiais referem-na já na dependência do Mosteiro de Tibães, que supria o necessário à fábrica da igreja;
1850 - reparação pela confraria de Santo Isidoro;
1995 - assinatura de protocolo entre a Região de Turismo do Alto Minho, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, a Direcção-Geral do Património e o Fundo de Turismo para recuperação, beneficiação e criação de um itenerário de visitas integradas das igrejas românicas da bacia do Alto Minho;
1997 - durante os trabalhos arqueológicos, pôs-se a descoberto, fronteiro à fachada principal, o afloramento rochoso com diversos recortes artificiais, vestígiois de afeiçoamento da rocha para receber uma estrutura, possivelmente de um alpendre; perpendicularmente ao cunhal SE. da nave identificou-se parte de um alicerce, que poderá corresponder a restos de um simples anexo ou de uma ala de um edifício mais complexo;
1998, final - lançamento público do Itinerário Românico da Ribeira Minho.

Tipologia
Arquitectura religiosa, românica. Capela rural, de planta longitudinal composta por uma só nave e cpaela-mor, mais baixa e estreita, construída num românico tardio, como atestam os portais de arco já muito quebrado. Intrega-se na 2ª fase do Românico Português e, mais concretamente, na 2ª fase do foco do Alto Minho. O arcosólio parece datar do séc. 14, época em que provavelmente sofreu algumas modificações, denotáveis na diferença de frestas e na rosácea do frontispício. Interior com cobertura de madeira, pinturas a fresco do séc. 16 na nave, envolvendo o arco triunfal, e na capela-mor. O retábulo-mor é barroco, de estilo nacional.

Características Particulares
Incluída no Itenerário do Românico da Ribeira Minho.
Caracteriza-se pela sua simplicidade, quase sem decoração, a qual reserva exclusivamente para os tímpanos, com grafitos de valor apotropaico, e para os modilhões, quase todos rudes e arcaicos, embora os da capela-mor, ainda que lisos, acusem um maior cuidado. Planimetricamente o eixo central da capela-mor desvia-se cerca de 10º para S. do eixo longitudinal da nave, sem qualquer razão de ordem topográfica.
O facto do aparelho apresentar diferenças construtivas entre a nave e a metade inferior da capela-mor, os entablamentos serem mais cuidados e com cachorros na capela-mor e mais irregular e com cachorros grosseiros na nave, as diferentes modinaturas das frrestas, umas simples e capialçadas para o interior, e outras serem mais elaboradas, com fecho moldurado e capialçadas para o exterior, mas claramente rasgadas em fase posterior às primeiras, indiciam diferentes épocas construtivas.
Possui pinturas murais do Séc. XVI na nave, envolvendo o arco triunfal e organizando-se em três registos com várias imagens enquadradas por frisos, e na capela-mor. As pinturas do primeirro registo na nave utilizam mais recursos cromáticos o que, juntamente com a análise estilística, leva a crer serem posteriores às restantes. O friso lembra as pinturas da Igreja de Midões, datadas de 1536 e assinadas por Arnaus, embora esta seja de melhor execução.

Observações
Segundo a tradição, foi inicialmente uma igreja conventual, contudo nem os documentos fazem qualquer alusão ao facto, nem os vestígios materiais são suficientes para atestá-lo. Os cachorros dispostos nas duas fachadas laterais serviriam para suporte de alpendre, como era comum na época. Durante os desaterros no adro, afloraram à superficíe algumas ruínas, designadamente partes de sepulturas nas proximidades do portal lateral S., o alicerce de uma parede e entalhes escavados na rocha. O alicerce, descoberto perpendicularmente ao cunhal SE. da nave, é constituído por alvenaria de blocos graníticos de várias dimensões, toscamente afeiçoados e alinhados em duas fiadas paralelas. Sobre ele elevar-se-ia uma parede com 90 cm de espessura, como revelam as marcas do seu arranque no cunhal da nave. Aí são visíveis os silhares partidos que "engatavam" na parede da igreja denunciando uma contemporaneidade construtiva dos vestígios, que poderão corresponder a restos de um anexo ou da ala de um edifício mais complexo. Frente à fachada principal identificaram-se diversos recortes artificiais na rocha, de planta quadrada, paralelamente à parede, inflectindo em ângulo recto para esta fachada no topo N. Este embasamento poderá ter pertencido a um alpendre / pórtico, que antecederia a estrada. Segundo os autores do artigo "Capela de São Pedro de Varais" in "Monumentos" nº 13 ( p. 140 ) a diferença de aparelho entre a nave e a metade inferior da capela-mor, das cornijas e cachorros e das frestas poderão ser justificadas por três fases construtivas distintas; 1) Séc. X a XII - como ermida alto-medieval, de que a metade inferior da capela-mor parece ser o resto subsistente; 2) Séc. XII - XIII - reconstrução / ampliação românica; Séc. XIII - XIV - reconstrução gótica. As pinturas a fresco foram realizadas com pigmentos minerais de terras vermelhas, ocres, ocres amarelos naturais, vermelhão e negro. Os rebocos são constituídos por cal e areia fina e com muitas partículas de origem marítima como crustáceos. São compactados e finos não tendo havido preocupação de nivelamento exaustivo da superfície.


(fonte: IHRU)

Irmãos da Misericórdia activa


(...) Na Escritura sagrada temos dois corvos muito célebres: o de Noé, e o de Elias.
E a este diz o Santo que se comparam os cabelos de um ou outro Sansão, depois de comparados às palmas. E por quê?
Porque a este corvo o escolheu Deus para se servir dele como de seu Irmão da Misericórdia.
Muitos neste mundo alcançam os cargos só pelo merecimento do seu vestido: e este merecimento não lhe faltava também ao corvo de Elias pela cor das penas, e semelhança da veste preta: Nigrae quasi corvus: mas Deus, posto que tão amigo das proporções, não o elegeu só por esta para ministro e Irmão da sua Misericórdia, senão porque o era nas obras dela: Ille pascendi Prophatae memor.
Andava Elias no tempo daquela grande fome, pobre, fugitivo e desterrado, e o corvo, com admirável pontualidade e perpétua assistência, todos os dias pela manhã e à tarde, lhe levava não só o necessário senão também com muita abundância: Panem, et carnes mane, similiter panem, et carnes vespere. E como este corvo era também Irmão da Misericórdia (e Irmão da Mesa) por isso Salomão à comparação das palmas ajuntou a do corvo, para que se veja quão devidas são, e quanto se devem aos Irmãos da Misericórdia as vitórias.
A propósito da nossa e deste corvo me lembra a diligência e valor do outro tâo famoso e conhecido, que foi o primogenitor daqueles, cuja memória e descendência se conserva na nossa Sé de Lisboa. Saiu às praias de Portugal o corpo defunto do nosso Padroeiro S. Vicente, voou logo o corvo como Irmão da Misericórdia aos ofícios da sepultura, e porque um lobo naquela ocasião lhe quis dar outra bem diferente na sua voracidade, o valente e animoso corvo ferindo-o com o bico, e sacudindo-o com as asas, lhe fez tal guerra que com mais sangue que a fome que trazia dele, deixou a presa e a empresa, e com tanto medo, como se fora de um Leão, se retirou fugindo. Isto quanto aos Irmãos da Misericórdia activa.
(...)

- Padre António Vieira, Sermões

domingo, 14 de novembro de 2010

Congregação de RocAmador, em Portugal

Roca-Amador, ou Reca-Amador; e Rocamador , ou Recamador
Religião Heremitica e Hospitalaria de Santo Amador, que de França chegou a Portugal no anno de 1193.
Foi a sua Capital a Villa de Sosá ; extinguio-se no Reinado do Senhor Rei D. Affonso V.

(clique na imagem)

sábado, 13 de novembro de 2010

S. Pedro de Vir-a-Corça, Rocamadour e D. Sancho I

Um dia vendo-se uma matrona aflita com dores de parto, no seu desespero rogou que a criança mal nascesse, fosse levada, por todos os demónios, pelos ares. Assim aconteceu no meio de um estrondo enorme. O ermitão Amador, que ali vivia, apercebendo-se do que acontecia, pediu a S. Pedro que lhe entregasse a criança e a libertasse do poder infernal. Foi ouvido o santo homem, que começou então a preocupar-se, sem saber como havia de alimentar o menino. Como por milagre surgiu uma corça, que passou a sustentar o menino com o seu leite, quatro vezes por dia. A criança cresceu tendo-se feito anacoreta como o seu protector e foi o fiel companheiro do ermitão até à sua morte, depois do que teria sido sepultado sob o altar da capela, onde se lhe juntou mais tarde o seu protegido.

- Maria Manuela de Campos Milheiro, Monsanto

Esta é uma versão da lenda de S. Pedro de Vir-à-Corça/ S. Pedro de Ver-a-Corça/ Vira Corça, há contudo outras versões da lenda, algumas bem diferentes.
Em comum, parecem associar os ermitões à assistência aos enfermos e a locais ermos onde se supõe existirem poderes mágicos ou assistência milagrosa.

A autora desta versão da lenda sustenta que a mesma é uma duplicação de lenda idêntica de um outro santo também de nome Amador, que terá vivido em Narbonne.

As duas lendas cruzam-se, pelo facto de no reinado de D. Sancho I ter entrado em Portugal a congregação de RocAmador (ou Rocamadour) para ajudar o rei a conquistar Silves.

Posteriormente, a congregação fundou vários hospitais para tratar os enfermos, normalmente nas imediações de fontes tidas por milagrosas, como será o caso de uma fonte que existe nas imediações da capela de S. Pedro.

Nossa Senhora da Ínsua: Convento e Forte

A cerca de 200 m. da costa encontra-se situada a Ilha de Nossa Senhora da Insua, uma formação rochosa junto à foz do rio Minho a Poente, e em frente à Mata do Camarido.

Esta pequena ilha foi primitivamente utilizada como local de culto.

Em época cristã, nela erguia-se uma pequena ermida sob a invocação de Nossa Senhora da Ínsua.

Segundo Rufo Avieno, na sua descrição das costas europeias no limiar do século IV, existiria na Ínsua um templo dedicado a Saturno do panteão mitológico romano deus da agricultura, justiça e força, correspondente a Cronos do panteão grego; pai de Zeus - Júpiter.

No entanto, antes da fundação do Convento de Nossa Senhora da Ínsua, o templo referido já tinha dado lugar a uma ermida.

Para os portugueses a ermida era dedicada à Nossa Senhora da Ínsua, para os galegos a Santa Maria de Carmes, e para os mareantes a Santa Maria da Boa Viagem ou Santa Maria da Salva.

Nela está construído o Forte da Ínsua, cuja planta forma uma estrela irregular, composta por 5 baluartes, sobre embasamento saliente, de coroamento boleado e altura variável, atingindo nalguns pontos 2.80m, funcionando quase como quebra-mar das muralhas mais expostas, ou seja, as viradas a E. e a S.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mosteiro do Santo Sepulcro de Penha Alva

Obrigada Pedro, local muito especial

Enquadramento
Rural, isolado, implantado a meia-encosta, na margem esquerda do Rio Dão.
Encontra-se rodeado por terrenos agrícolas e por algumas casas de habitação.
Junto à fachada principal, surgem vários edifícios de habitação e antigos currais, que seriam anexos do antigo mosteiro.

Descrição
Planta rectangular irregular, de volumes articulados em volta de um pátio interior, quadrangular, com pavimento por afloramentos graníticos, onde se localizam várias sepulturas escavadas na rocha, uma delas parcialmente encoberta pela fachada principal da capela, localizada no lado direito do pátio, tendo adossados dois currais e um anexo que serviu de forno; no lado esquerdo, outros currais e um telheiro, surgindo, ao fundo do pátio, as construções de dois pisos que serviam de habitação ao caseiro da Casa da Ínsua.
A CAPELA tem planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita, de volumes articulados e escalonados, a capela-mor mais baixa, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas.
Fachadas em cantaria e alvenaria de granito aparente, a principal com cunhais perpianhos e remate em beirada simples. Fachada principal em empena assimétrica, truncada por sineira de volta perfeita, rematada em cornija, pináculos de bola e cruz latina central; apresenta aparelhos distintos, com a zona inferior em cantaria e a superior em alvenaria; descentrado, rasga-se o portal axial, em arco dobrado levemente apontado, assente em impostas salientes, tendo numa aduela do lado esquerdo uma flor-de-lis, símbolo de propriedade da Casa da Ínsua, e Cruz Patriarcal, símbolo da Ordem do Santo Sepulcro. Fachadas laterais semelhantes, cegas. Fachada posterior em empena, com janela rectilínea descentrada.
INTERIOR em alvenaria irregular, com as juntas preenchidas a cimento, parcialmente rebocada, tendo pavimento em lajeado grosseiro e cobertura em telha vã, assente em estrutura de vigamento de asnas. Na nave, é visível uma antiga sepultura. Arco triunfal de perfil apontado, assente em impostas salientes e com as arestas biseladas, flanqueado por vãos rectilíneos. Capela-mor com paredes e pavimento semelhantes aos da nave, tendo parte da cobertura, em telha vã, arruinada. Adossado perpendicularmente à capela, um CURRAL, rectangular, com cobertura homogénea em telhado de duas águas, tendo fachadas em alvenaria de granito e duas portas de verga recta, com molduras irregulares, em cantaria. No lado esquerdo, surge um segundo CURRAL, composto por edifício de dois pisos, com cobertura em telhado de duas águas, em alvenaria de granito. Tem a face principal rasgada por duas portas de verga recta, uma no piso inferior e outra superior, com acesso por escalinata de cantaria. Adossado, um telheiro com estrutura de madeira, assente num muro e em dois pilares de cantaria, surgindo adossadas à face lateral, várias capoeiras de madeira.
A CASA DE HABITAÇÃO é de planta rectangular irregular, com cobertura irregular, em telhado de três águas. Tem fachadas em alvenaria de granito aparente, com cunhais em cantaria, evoluindo em dois pisos, tendo, na face virada ao pátio, balcão de cantaria, de acesso à zona residencial, na base do qual se situa uma porta de verga recta, de acesso à loja. O balcão forma alpendre de madeira.
A fachada é rasgada por pequena janelas de peitoril quadrangular.

Época Construção
Séc. XII (conjectural) / XIV / XVII / XIX

Cronologia
Séc. XII - provável construção do primitivo mosteiro, patrocinado pelo rei D. Afonso Henriques;

1258 - segundo as Inquirições de D. Afonso III, o Mosteiro tinha propriedades em Paços, Alvelos, Carpena e Conchoso, Lourosa, Vila Cova do Covelo, São Romão, Currais e Sezures;

Séc. XIV - provável reforma da igreja;

Séc. XVII - provável colocação da sineira na empena;

1768, 9 Maio - certidão de medição e demarcação do Mosteiro *2;

1844, 10 Junho - aquisição por João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, senhor da Casa da Ínsua; adaptação das dependências a edifícios de apoio agrícola;

1997, 17 Junho - surge proposto pelo PDM de Penalva do Castelo, publicado em Diário da República 137, para classificação como Valor Concelhio;

1999, 21 Setembro - despacho da Vice-Presidência do IPPAR, reconhecendo o imóvel em vias de classificação;

2000, 18 Outubro - relocalização pela Extensão de Viseu do IPA.

Tipologia
Arquitectura religiosa, gótica e vernácula.
Mosteiro desenvolvido em torno de um pátio interno, de planta quadrada, onde se situam a igreja e várias dependências, adaptadas a funções agrícolas.
Capela de planta longitudinal, composta por nave e capela-mor mais estreita, com coberturas internas diferenciadas em telha vã, escassamente iluminado.
Fachada principal em empena, truncada por sineira, rasgada por portal em arco levemente apontado, duplo.
Arco triunfal de arco apontado.
Os anexos são simples, de plantas rectangulares, de um ou dois pisos, em alvenaria de granito, com vãos rectilíneos, ostentando molduras de cantaria. Um deles, a casa de habitação, apresenta um balcão tipicamente beirão, em cantaria, com lojas no piso inferior e zona residencial na superior.

Características Particulares
Mosteiro muito adulterado, pela adaptação dos anexos a funções agrícolas, mantendo a igreja, com vãos apontados, revelando uma reforma no período gótico.
O arco triunfal apresenta as arestas biseladas, talvez fruto de um afeiçoamento posterior, provavelmente do Séc. XVII, altura em que a sineira foi colocada na empena, que se apresenta assimétrica, revelando profundas alterações, nomeadamente uma hipotética ampliação.
No portal, são visíveis símbolos da Ordem e da Casa da Ínsua, que adquiriu o edifício no Séc. XIX.

Observações
*1 - em vias de classificação conjunta com a Ponte de Trancozelos e Nicho
*2 - neste documento, do Arquivo da Casa da Ínsua e transcrito por Valente, em 1924, consta a seguinte descrição: "Tem esta quinta umas casas que estão no meio della telhadas e sobradas, que todas se servem por huma porta grande que fica para a parte do Sul defronte da Igreja subindo por huma escada de pedra, no cimo da qual esta hua Abranda telhada e sobrada e à mão direita está a caza grande que serve de cozinha com sua chaminé; e logo junto a esta se segue outra caza partida pelo meio com parede e porta, que serve de despensa, e da dita abranda para a parte do poente se segue huma caza piquena forrada, e o forro muito arruinado com sua janella para a parte do sul, e logo se segue outra caza pouco maior a que chamão caza da Tulha sobrada e forrada, e o forro alguma coisa arruinado com huma janella para o Poente, que tem duas grades de ferro, e no cimo da Escada para a parte do Nascente está huma Caza telhada e sobrada aonde vive o Caseiro António da Costa que tem a porta para o Poente sem repartimento; tem sua loja, e nas costas desta Caza está outra Caza terreira que serve de despejos e tem a porta para o Poente e junto a esta está hum coberto com seu forno, e tem a serventia para o Norte; nas costas della está outra caza piquena que serve de curral e tem a porta para o Norte; e junto a estas e nas costas das casas chamadas da Tulha para a parte do Sul está huma caza grande que serve de curral com dois portaes toscos sem porta alguma; hum portal destes está para o Nascente, e outro para o Sul, e tem seu pateo tapado sobre si com porteiras toscas tapado sobre si, e de parte de fora do dito Pateo está huma parreira alta para a parte do Sul e a dita abranda tem sua loja debaixo com sua mangeroura. (...) Junto às casas desta Quinta acima confrontada está huma Igreja, que he tradição antiga que foi Parrochia e nella se costumavão antigamente enterrar os caseiros d'ella quando falecião nella se ve serem obrigados a ir a Parochia enterrar-se, cuja invocação he de Santa Maria de Aguas Santas de Villa Nova do Mosteiro, e tem de cumprido do Nascente ao Poente quinze varas e de largo dos Norte ao Sul cinco varas e meia; as paredes são de alvenaria, e o Frontespicio de cantaria de meio engaste. O Corpo da Egreja he forrado com forro novo a que chamão guarda-pó, e tem seis linhas que atrevessão de parede a parede. A Capella Mór forrada com forro novo que mandou fazer o presente Commendador, chamado de escama, e tem hum Campanário sobre a Porta principal com hum sino mediano de muito boas vozes; tem hum só altar dentro da Capella Mós e humas grades de pau para dentro e nella hum Retábulo de madeira de pintura muito desbotada, o qual tem para a parte do Evangelho pintada a Imagem do Bem-aventurado São João Baptista, e para a parte da Epistola a Imagem do Glorioso São João Evangelista, e por baixo as Almas do Purgatório; tem hua Imagem de Nossa Senhora de Águas Santas em hum nicho do mesmo Retábulo, e outra no altar também de Nossa Senhora feita ao moderno; e no remate do Altar está hum Painel em que finda o Retábulo com a Imagem do Salvador pintada, e as Imagens da Senhora, ambas são de vulto, e tem mais huma Campainha grande de tanger os Santos, e tem para a parte do Evangelho huns caixoens novos com duas gavetas com suas argolas e fechaduras bem preparadas que mandou fazer este Commendador; e para a parte da Epistola huns caixoens novos que servem de credencia que também mandou fazer o mesmo Commendador; no Altar tem huma Cruz de pau nova sem estar pintada nem dourada: mais huma Alampada de metal amarello sem bom uso mais hum Confissionario de pau usado, e a dita Campainha acima declarada não tem badallo (...) Tem as terras da Quinta e seu circulo de cumprido do Nascente ao Poente começando no cimo do penedo da Boca, aonde está huma cruz de Malta até o penedo da extrema aonde está outra Cruz de Malta, que ambos elle dito juiz mandou reformar ao picão tem sete centos e noventa e duas varas de cinco palmos cada huma; de largo e do Norte ao Sul começando desde o Rio Dão até o Cimo da Varzea e outro que ahi há tem sete centos e vinte varas. (...)".

(fonte: IHRU)