sexta-feira, 23 de julho de 2010

Vibra clarim, vibra ...


Vibra, clarim, cuja voz diz.
Que outrora ergueste o grito real
Por D. João, Mestre de Aviz,
E Portugal!

Vibra, grita aquele hausto fundo
Com que impeliste, como um remo,
Em El-Rei D. João Segundo
O Império extremo!

Vibra, sem lei ou com lei,
Como aclamaste outrora em vão
O morto que hoje é vivo — El-Rei
D. Sebastião!

Vibra chamando, e aqui convoca
O inteiro exército fadado
Cuja extensão os pólos toca
Do mundo dado!

Aquele exército que é feito
Do quanto em Portugal é o mundo
E enche este mundo vasto e estreito
De ser profundo.

Para a obra que há que prometer
Ao nosso esforço alado em si,
Convoco todos sem saber
(É a Hora!) aqui!

Os que, soldados da alta glória,
Deram batalhas com um nome,
E de cuja alma a voz da história
Tem sede e fome.

E os que, pequenos e mesquinhos,
No ver e crer da externa sorte,
Convoco todos sem saber
Com vida e morte.

Sim, estes, os plebeus do Império;
Heróis sem ter para quem o ser,
Chama-os aqui, ó som etéreo
Que vibra a arder!

E, se o futuro é já presente
Na visão de quem sabe ver,
Convoca aqui eternamente
Os que hão de ser!

Todos, todos! A hora passa,
O gênio colhe-a quando vai.
Vibra! Forma outra e a mesma raça
Da que se esvai.

A todos, todos, feitos num
Que é Portugal, sem lei nem fim,
Convoca, e, erguendo-os um a um,
Vibra, clarim!

E outros, e outros, gente vária,
Oculta neste mundo misto.
Seu peito atrai, rubra e templária,
A Cruz de Cristo.

Glosam, secretos, altos motes,
Dados no idioma do Mistério —
Soldados não, mas sacerdotes,
Do Quinto império.

Aqui! Aqui! Todos que são.
O Portugal que é tudo em si,
Venham do abismo ou da ilusão,
Todos aqui!

Armada intérmina surgindo,
Sobre ondas de uma vida estranha.
Do que por haver ou do que é vindo —
É o mesmo: venha!

Vós não soubesses o que havia
No fundo incógnito da raça,
Nem como a Mão, que tudo guia,
Seus planos traça.

Mas um instinto involuntário,
Um ímpeto de Portugal,
Encheu vosso destino vário
De um dom fatal.

De um rasgo de ir além de tudo,
De passar para além de Deus,
E, abandonando o Gládio e o escudo,
Galgar os céus.

Titãs de Cristo! Cavaleiros
De uma cruzada além dos astros,
De que esses astros, aos milheiros,
São só os rastros.

Vibra, estandarte feito som,
No ar do mundo que há de ser.
Nada pequeno é justo e bom.
Vibra a vencer!

Transcende a Grécia e a sua história
Que em nosso sangue continua!
Deixa atrás Roma e a sua glória
E a Igreja sua!

Depois transcende esse furor
E a todos chama ao mundo visto.
Hereges por um Deus maior
E um novo Cristo!

Vinde aqui todos os que sois,
Sabendo-o bem, sabendo-o mal,
Poetas, ou Santos ou Heróis
De Portugal.

Não foi para servos que nascemos
De Grécia ou Roma ou de ninguém.
Tudo negamos e esquecemos:
Fomos para além.

Vibra, clarim, mais alto! Vibra!
Grita a nossa ânsia já ciente
Que o seu inteiro vôo libra
De poente a oriente.

Vibra, clarim! A todos chama!
Vibra! E tu mesmo, voz a arder,
O Portugal de Deus proclama
Com o fazer!

O Portugal feito Universo,
Que reúne, sob amplos céus,
O corpo anónimo e disperso
De Osíris, Deus.

O Portugal que se levanta
Do fundo surdo do Destino,
E, como a Grécia, obscuro canta
Baco divino.

Aquele inteiro Portugal,
Que, universal perante a Cruz,
Reza, ante à Cruz universal,
Do Deus Jesus.


- Fernando Pessoa, 5º Império

quarta-feira, 21 de julho de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Lenda do Milagre das Rosas

Esta é uma das mais conhecidas lendas portuguesas que enaltece a bondade da rainha D. Isabel para com todos os seus súbditos, a quem levava esmolas e palavras de consolo.

Conta a história que um nobre despeitado informou o rei D. Dinis que a rainha gastava demais nas obras das igrejas, doações a conventos, esmolas e outras acções de caridade e convenceu-o a por fim a estes excessos.

O rei decidiu surpreender a rainha numa manhã em que esta se dirigia com o seu séquito às obras de Santa Clara e à distribuição habitual de esmolas, e reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço.

Interrogada por D. Dinis, a rainha informou que ia ornamentar os altares do mosteiro ao que o rei insistiu que tinha sido informado que a rainha tinha desobedecido às suas proibições, levando dinheiro aos pobres.

De repente e mais confiante D. Isabel respondeu:
"Enganais-vos, Real Senhor. O que levo no meu regaço são rosas..."

O rei irritado acusou-a de estar a mentir: como poderia ela ter rosas em Janeiro? Obrigou-a, então, a revelar o conteúdo do regaço.

A rainha Isabel mostrou perante os olhares espantados de todos, o belíssimo ramo de rosas que guardava sob o manto.

O rei ficou sem palavras, convencido que estava perante um fenómeno sobrenatural e acabou por pedir perdão à rainha que prosseguiu na sua intenção de ir levar as esmolas.

A notícia do milagre correu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a Rainha Isabel de Portugal.

domingo, 18 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cavaleiro da Eternidade

Herveu de Glanvill não quis entrar na praça conquistada.

Desembaraçou-se das armas, desceu lentamente o monte, por entre cinzas e escombros.

As riquezas não lhe interessavam.
Uma angústia vaga e indefinível sufocava-lhe a garganta.

Caminhou sozinho e a cada passo que dava, ia entrando no seu labirinto de sonhos e visões.

A missão estava cumprida, então porque experimentava aquele vazio?

Olhou Lisboa mais uma vez.
Era inacreditavelmente bela.
Fechou os olhos.
Era a cidade mais bela do mundo, e era sua, e por isso não a conseguia olhar, nem tocar, nem imaginar.
A fraqueza da cidade, a sua suavidade e delicadeza eram-lhe insuportáveis.
O seu sofrimento era-lhe contíguo e irmão, intolerável.

Caminhou sozinho e a cada passo tropeçava em cadáveres.

Caiu, levantou-se, sentiu um exército de mortos cavalgando sob o seu comando.

Olhou a toda a volta. Pareceu-lhe haver pedaços de ouro no rio, âmbar e madrepérola a reluzir nas encostas. Pareceu-lhe que nenhum tesouro da Terra o poderia satisfazer.

Pareceu-lhe ter regressado à juventude, à manhã chuvosa e fria de Glanvill em que se armou cavaleiro, depois de ter velado as armas durante toda a noite, ardendo em paixão mística e em febre e em raiva e em desespero.

Sentiu-se um cavaleiro da Eternidade, um irmão de Cristo, uma sombra errante, um anjo proscrito e vagabundo, um eremita confuso e enlouquecido, um homem, um homem sozinho.

Chorou.

Caminhou, e a cada passo que dava avançava montanhas e mares, cruzava reinos e cidades.
Chegou a Edessa, a Antioquia, a Jerusalém, e as cidades rendiam-se-lhe, mas ele prostrava-se a seus pés.

Pensou em Tarsis, a poetisa-guerreira, o seu anjo da guarda.
E o seu coração golpeou mais forte.
E uma música de flautas abrasou as colinas.
E um bando de gaivotas despedaçou o céu.
Pensou em Tarsis, a prostituta, a princesa que lhe fora prometida.
Não nas infantas com que sonharia de direito, mas com quem não sonhava de facto.
Tarsis era o seu facto, o seu sonho.

Caminhou como sonâmbulo, mergulhado num mundo fantástico, e quando chegou ao acampamento, Tarsis esperava-o como se sempre o tivesse esperado, pegou-lhe na mão e ele não precisou de acordar.
- 1147, O Tesouro de Lisboa

quarta-feira, 14 de julho de 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Mais uma partida ...

De (re)encontro com o Passado

Em Lembrança, Homenagem e Gratidão

Descemos a colina. Tu levas um ramo de
oliveira na mão. Sobre as estrelas do teu
sorriso, a roupa branca. Sobre o cruto da
montanha a morada dos deuses.

Além, a casa lacustre. Sobre uma estaca,
O nosso Gato. Castanheiros pesam
O tempo. Tempo primordial, que este
livro desperta em nós.

Na areia dos mapas escreves o teu nome.
Os ventos do norte chegam e levam-no
Pelos quatro cantos da terra: Palavra
Indecifrável, silenciosa como a eternidade.


- Luís Costa

domingo, 11 de julho de 2010

Chanson de Roland

I
Carles li reis, nostre emper[er]e magnes
Set anz tuz pleins ad estet en Espaigne:
Tresqu'en la mer cunquist la tere altaigne.
N'i ad castel ki devant lui remaigne;
Mur ne citet n'i est remes a fraindre,
Fors Sarraguce, ki est en une muntaigne.
Li reis Marsilie la tient, ki Deu nen aimet;
Mahumet sert e Apollin recleimet:
Nes poet guarder que mals ne l'i ateignet. aoi.

II
Li reis Marsilie esteit en Sarraguce.
Alez en est en un verger suz l'umbre;
Sur un perrun de marbre bloi se culchet,
Envirun lui plus de vint milie humes.
Il en apelet e ses dux e ses cuntes:
«Oëz, seignurs, quel pecchet nus encumbret:
Li emper[er]es Carles de France dulce
En cest païs nos est venuz cunfundre.
Jo nen ai ost qui bataille li dunne,
Ne n'ai tel gent ki la sue derumpet.
Cunseilez mei cume mi savie hume,
Si m(e) guarisez e de mort et de hunte.»
N'i ad paien ki un sul mot respundet,
Fors Blancandrins de Castel de Valfunde.

III
Blancandrins fut des plus saives paiens:
De vasselage fut asez chevaler,
Prozdom i out pur sun seignur aider;
E dist al rei: «Ore ne vus esmaiez!
Mandez Carlun a l'orguillus, (e) al fier,
Fedeilz servises e mult granz amistez.
Vos li durrez urs e leons e chens,
Set cenz camelz e mil hosturs muers,
D'or e d'argent .IIII.C. muls cargez,
Cinquante carre, qu'en ferat carier:
Ben en purrat luer ses soldeiers.
En ceste tere ad asez osteiet;
En France, ad Ais, s'en deit ben repairer.
Vos le sivrez a la feste seint Michel:
Si recevrez la lei de chrestiens,
Serez ses hom par honur e par ben.
S'en volt ostages, e vos l'en enveiez,
U dis u vint pur lui afiancer.
Enveiu[n]s i les filz de noz muillers:
Par nun d'ocire i enveierai le men.
Asez est melz qu'il i perdent le chefs,
Que nus perduns l'onur ne la deintet,
Ne nus seiuns cunduiz a mendeier.» aoi.

IV
Dist Blancandrins: «Pa[r] ceste meie destre
E par la barbe ki al piz me ventelet,
L'ost des Franceis verrez sempres desfere.
Francs s'en irunt en France la lur tere.
Quant cascuns ert a sun meillor repaire,
Carles serat ad Ais, a sa capele;
A seint Michel tendrat mult halte feste.
Vendrat li jurz, si passerat li termes,
N'orrat de nos paroles ne nuveles.
Li reis est fiers e sis curages pesmes:
De noz ostages ferat tre[n]cher les testes;
Asez est mielz, qu'il i perdent les testes,
Que nus perduns clere Espaigne, la bele,
Ne nus aiuns les mals ne les suffraites.»
Dient paien: «Issi poet il ben estre!»

V
Li reis Marsilie out sun cunseill finet:
Sin apelat Clarin (...) de Balaguet,
Estamarin e Eudropin, sun per,
E Priamun e Guarlan le barbet,
E Machiner e sun uncle, Maheu,
E Joüner e Malbien d'ultremer,
E Blancandrins, por la raisun cunter.
Des plus feluns dís en ad apelez:
«Seignurs baruns, a Carlemagnes irez;
Il est al siege a Cordres la citet.
Branches d'olives en voz mains porterez,
Ço senefiet pais e humilitet.
Par voz saveirs sem puez acorder,
Jo vos durrai or e argent asez,
Teres e fiéz tant cum vos en vuldrez.»
Dient paien: «De ço avun nus asez!» aoi.

VI
Li reis Marsilie out finet sun cunseill;
Dist a ses humes: «Seignurs, vos en ireiz;
Branches d'olive en voz mains portereiz,
Si me direz a Carlemagne, le rei,
Pur le soen Deu qu'il ait m(er)ercit de mei.
Ja einz ne verrat passer cest premer meis,
Que jel sivrai od mil de mes fedeilz,
Si recevrai la chrestiene lei,
[S]erai ses hom par amur e par feid;
S'il voelt ostages, il en avrat par veir.»
Dist Blancandrins: «Mult bon plait en avreiz.» aoi.

VII
Dis blanches mules fist amener Marsilies,
Que li tramist li reis de Suatilie;
Li frein sunt d'or, les seles d'argent mises.
Cil sunt muntez ki le message firent,
Enz en lur mains portent branches d'olive.
Vindrent a Charles ki France ad en baillie:
95 Nes poet guarder que alques ne l'engignent. aoi.

VIII
Li empereres se fait e balz e liez,
Cordres ad prise e les murs peceiez,
Od ses cadables les turs en abatied.
Mult grant eschech en unt si chevaler
D'or e d argent e de guarnemenz chers.
En la citet nen ad remes paien,
Ne seit ocis, u devient chrestien.
Li empereres est en un grant verger,
Ensembl od lui Rollant et oliver
Sansun li dux e anseis li fiers
Gefreid d anjou le rei gunfanuner,
E si i furent e gerin et gerers,
La u cist furent, des altres i out bien:
De dulce france i ad quinze milliers.
Sur palies blancs siedent cil cevaler,
As tables juent pur els esbaneier
E as eschecs li plus saive e li veill,
E escremissent cil bacheler leger.
Desuz un pin delez un eglenter
Un faldestoed i unt fait tut d or mer,
La siet li reis, ki dulce france tient.
Blanche ad la barbe e tut flurit le chef,
Gent ad le cors e le cuntenant fier,
S'est, kil demandet, ne l estoet enseigner.
E li message descendirent a pied,
Sil saluerent par amur e par bien.

IX
Blancandrins ad tut premereins parled,
E dist al rei: «Salvez seiez de Deu
Le glorius, que de[v]u[n]s aürer!
Iço vus mandet reis Marsilies, li bers:
Enquis ad mult la lei de salvetez;
De sun aveir vos voelt asez duner,
Urs e leuns e veltres enchaignez,
Set cenz cameilz e mil hosturs muez,
D'or e d'argent .IIII. cenz muls trussez,
Cinquante care, que carier en ferez;
Tant i avrat de besanz esmerez
Dunt bien purrez voz soldeiers luer.
En cest païs avez estet asez;
En France, ad Ais, devez bien repairer;
La vos sivrat, ço dit mis avoez.»
Li empereres tent (...) ses mains vers Deu,
Baisset sun chef, si cumencet a penser. aoi.


- La Chanson de Roland, I - IX (francês antigo)

A Cruz e o Signum

sábado, 10 de julho de 2010

A Lenda de Martim Moniz

O nome de Martim Moniz está ligado à conquista de Lisboa aos Mouros e figura na memória da cidade através de uma praça com o seu nome.

A lenda conta que D. Afonso Henriques tinha posto cerco à cidade, ajudado pelos muitos cruzados que por aqui passaram a caminho da Terra Santa.

O cerco durou ainda algum tempo, durante o qual se travavam pequenas investidas por parte dos cristãos.

Numa dessas tentativas de assalto a uma das portas da cidade, Martim Moniz enfrentou os mouros que saiam para repelir os cristãos e conseguiu manter a porta aberta mesmo a custo da sua própria vida.

O seu corpo ficou atravessado entre os dois batentes e permitiu que os cristãos liderados por D. Afonso Henriques entrassem na cidade. Ferido gravemente, Martim Moniz entrou com os seus companheiros e fez ainda algumas vítimas entre os seus inimigos, antes de cair morto.

D. Afonso Henriques quis honrar a sua valentia e o sacrifício da sua vida ordenando que aquela entrada passasse a ter o nome de Martim Moniz.

O povo diz que foi D. Afonso Henriques que mandou colocar o busto do herói num nicho de pedra, onde ainda hoje se encontra, junto à Praça de Martim Moniz.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Endovélico

Depois que Resende, no Liv. IV, Antiqut. Lusit., aduziu as inscrições dedicadas ao deus Endovelico, que se acham no frontíspicio do convento dos Agostinhos de Vila Viçosa, e outra que se vê no castelo da Vila do Alandroal, extraídas todas das ruínas do famoso templo, que a esta divindade falsa se erigiu num outeiro não longe da vila de Terena: depois que Brito tratou largamente do mesmo assunto no Tomo I da Mon. Lusit., nada mais resta, que assentirmos aos que dizem, que fora este templo fundado por Maharbal, capitão Carthaginez, e dedicado a Cupido; pois a figura do ídolo, com os olhos fechados, o coração na boca, e asas nos pés, bem claramente nos mostram a natureza do amor profano, que em nada repara, tudo descobre, e n’um instante se remonta, foge, e desaparece, deixando frustrados, e iludidos os seus devotos.

Diogo Mendes de Vasconcellos, nos seus escholios a Resende, desaprovando a conjectura fraca, de que alguma povoação chamada Endovelia désse o nome a Endovelico; e mesmo que este fosse o deos dos caminhos; se convence de que a gentilidado cega lhe dera aquele nome, persuadida que ele tivesse particular virtude para ele arrancar e extrair do corpo setas, dardos, ossos, pedras, ferros, e quaisquer outras coisas estranhas, que nele se aferravam, e intrometiam. Porém icado o Amor a divindade mais poderosa para arrancar os segredos do coração humano, não havendo já mais reservas entre os que muito, e profanamante se amam: foi muito natural chamar-se Endovelico, aquele deus, que poderosamente arrancava os segredos mais intimos, e os mais recatados pensamentos: quasi valde, aut intus avellens. Du Cange. v. Endo, diz o seguinte: «Veteriubus Latinis Endo, vel Indu, idem erat quod Intus a Graeco ENDON: unde voces pler aeque v.g. Endoclusus, Endofestare, Endortium, Endopetitus, Endorigus, etc, por Inclusus, Infestare, Initium, Impetitus, Irriguus, etc.» Digamos pois que Endovelico era o mesmo, que Endoavellens, ou Intusavellens.

A sua primeira estátua foi de prata maçiça; mas roubada com todas as mais preciosidades raras do seu templo pelos soldados de Julio César quando conquistaram Hespanha: outra de fino mármore substítuiu a primeira, a qual os Cristãos meteram depois no grosso da parede da Igreja de S. Miguel (como tendo o diabo aos pés) onde, quase todos os nossos dias, foi achada, e feita em pedaços por gente rústica, e que não sabia estimar esta maravilha da escultura, como diz a Chronica dos Eremitas da Serra d'Ossa.

- Santa Rosa Viterbo

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma Homenagem a ...

D. Lopo-Fernandes-Muniz
Lustre de Irmandade, Amizade e Bondade---Irmão, Amigo, Confidente---Amparo nas horas difíceis---Mão amiga sempre presente

D. Lopo Fernandes que por mais de um título provou ser digno de tão alta escolha (sucedendo a Gualdim Pais).
Continuou na senda (...) do seu antecessor, dilatando o reino e repovoando as terras desertas e arruinadas por onde tinha passado o anjo mau da guerra.
Em 1197 doou-lhe D. Sancho I, Idanha-a-Velha, que já tinha pertencido aos templários e em 1199 recebe em paga de bons e leais serviços e em troca do padroado das igrejas de Mogadouro e Penas-Róias, cujos castelos os templários tinham fundado, as vasta região de Acafá que é hoje a Vila Nova de Ródão com o seu dilatadíssimo território circunvizinho.
Breve foi o seu mestrado.
Na investida que D. Sancho fez aos estados leoneses pelo meado de 1199, morre valorosa e gloriosamente no cêrco de Ciudad- Rodrigo.
Seu corpo foi conduzido e depositado honradamente por D. Sancho na igreja de Santa Maria dos Olivais, foi sepultado numa capela que de propósito ali tinha sido feita e que demoliram, sem respeito pelo ilustre mestre, para se construir a actual sacristia.
Sobre o rico túmulo que o rei e a Ordem mandaram levantar, puseram o seu busto e numa das faces o epitáfio, que dizia de sua morte em Leão.

- Vieira Guimarães, A Ordem de Cristo

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

Eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.


- Miguel Torga, Portugal

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Amazigh

Leave the familiar for a while.
Let your senses and bodies stretch out

Like a welcomed season
Onto the meadows and shores and hills.

Open up to the Roof.
Make a new water-mark on your excitement
And love.

Like a blooming night flower,
Bestow your vital fragrance of happiness
And giving
Upon our intimate assembly.

Change rooms in your mind for a day.

All the hemispheres in existence
Lie beside an equator
In your heart.

Greet Yourself
In your thousand other forms
As you mount the hidden tide and travel
Back home.

All the hemispheres in heaven
Are sitting around a fire
Chatting

While stitching themselves together
Into the Great Circle inside of
You.


- Hafiz

terça-feira, 6 de julho de 2010

Código de Ética dos Índios Norte-Americanos

Conselho Indígena Inter-Tribal

Composto pelas Tribos:

*Cherokee Blackfoot
*Cherokee
*Lumbee
*Comanche
*Mohawk
*Willow Cree
*Plains Cree
*Tuscarora
*Sicangu Lakota Sioux
*Crow-Montana
*Northener Cheynne-Montana

1 - Levante-se com o Sol para Orar; ore sozinho, ore com frequência.
O Grande Espírito ouvirá, se se der ao trabalho de falar-Lhe.

2 - Seja tolerante para com aqueles que estão perdidos no Caminho.
A ignorância, a superioridade, a raiva, o ciúme e a avareza, surgem de uma Alma em dificuldades.
Peça para que possam reencontrar o Caminho do Grande Espírito.

3 - Procure conhecer-se a si mesmo, e através de si mesmo.
Não permita que outros percorram o seu Caminho por si.
O seu Caminho, a sua Estrada, é apenas sua.
Outros podem compartilhar o seu Caminho e Caminhar a seu lado, mas ninguém pode Caminhar por si.

4 - Trate aqueles que convida a entrarem no seu Lar com grande consideração.
Sirva-os do melhor que tiver, e trate-os com Respeito e Honra.

5 - Não tome para si aquilo que não é seu, quer seja algo que pertença a outra pessoa, à natureza ou à cultura. Se não lhe foi dado, não é seu.

6 - Respeite tudo o que foi colocado sobre a Terra.
Sejam pessoas, plantas ou animais.

7 - Respeite o pensamento, os desejos e as palavras das outras pessoas. Nunca interrompa os outros, nem os ridicularize, não os imite de forma rude.
Permita a cada pessoa o direito à Expressão Pessoal.

8 - Todas as pessoas cometem erros. E todos os erros podem ser perdoados.

9 - Os pensamentos maus causam doenças à mente, ao corpo e ao Espírito. Pratique o Optimismo.

10 - A natureza não é nossa, é apenas uma parte de nós. A natureza faz parte da nossa família terrena.

11 - As crianças são a semente do futuro. Plante Amor nos seus Corações, regue com Sabedoria, são lições de vida. Quando crescerem, dê-lhes espaço para continuarem a crescer.

12 - Evite magoar o Coração das outras pessoas, pois o veneno da dor causada aos outros, regressará a si.

13 - Seja sincero e verdadeiro em qualquer circunstância.
A Honestidade é um teste à nossa Herança do Universo.

14 - Mantenha-se equilibrado. O seu corpo físico, emocional, mental e espiritual necessitam de ser fortes, puros e saudáveis. Cuide do seu corpo físico para que possa fortalecer o seu corpo mental. Enriqueça o seu corpo espiritual para curar o seu corpo emocional.

15 - Tome decisões conscientes. Seja responsável pelas suas próprias acções.

16 - Respeite a privacidade e o espaço pessoal dos outros. Não toque na propriedade pessoal das outras pessoas, em particular em objectos religiosos e/ou sagrados. Tal é proibido.

17 - Comece por ser verdadeiro consigo mesmo. Se não puder nutrir e ajudar-se a si mesmo, não poderá nutrir e ajudar os outros.

18 - Respeite outras crenças religiosas. Não imponha as suas creças aos outros.

19 - Partilhe a sua boa fortuna com os outros. Participe com Caridade.

Através de Caboclo Guaraci

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Botica



Vem a propósito falar desta sala, pois dela sai outra esmola piedosíssima.

Junto à Enfermaria, está uma rica peça em local acomodado, que serve de Botica. A qual, podemos dizer que serve sem qualquer tipo de interesse a toda a vizinhança e comunidade que existe a dez léguas ao redor do Convento.

Porque a terra de seu é limitada e pobre, todos os necessitados acodem a ela a pedir os necessários medicamentos.
Principalmente os da Vila de Thomar, que contém mil fogos, e onde há bem poucos que possam deixar de considerarem-se dignos de serem tidos por pobres.

A todos os doentes, que os médicos da Vila afirmem serem pobres, dá-se-lhes o necessário tal como se dá aos religiosos do Convento internamente.

Em geral, a todos aqueles que pedem minudências, tais como unguentos, águas e outras coisas sem prescrição médica, dá-se-lhes de tudo com generosidade, e para que se possa aferir da grande liberalidade piedosa deste Convento, direi para frisar este propósito, que existe na Vila de Thomar e nos arredores quatro mosteiros da Ordem do Pobre São Francisco (...) a todos se lhes dá os medicamentos necessários, sem haver falta de nada, e com tanta liberdade vêm pedi-los, que mais parece que os compram, e são dados com tanta liberalidade como se por eles recebessem, e com uma alegria tão grande, pois esse é o seu interesse: espiritual.

Também fornecem o Hospital de tudo o que seja necessário, e se os oficiais da Misericórdia pedirem alguma coisa, dão-lhes com grande liberalidade.

- Trad a partir de Fr. Hieronimo Roman, La Yn. Cau. de Cristo

«_Quem está à minha porta?», perguntou Ele.
«O teu humilde servo», respondi eu.
«O que é que te traz aqui?»
«Saudar-te, meu Senhor.»

«_Quanto tempo mais viajarás?»
«_Até que TÚ me detenhas.»
«_Quanto tempo mais ferverás no fogo?»
«_Até que esteja purificado. Este é o meu juramento:
No altar do amor entrego riquezas e posição.»

«Tens defendido o teu caso, mas não tens testemunhas.»
«As minhas lágrimas são minhas testemunhas,
a palidez do meu rosto são as minhas provas.»
«O teu testemunho não tem validade:
Os teus olhos estão demasiado húmidos para ver.»
«_Pelo esplendor da Tua justiça os meus olhos
tornaram-se limpos e sem imperfeição.»

«_O que procuras?»
«_Ter-te como Amigo permanente.»
«_Que queres de Mim?»
«_A tua abundante Graça.»
«_Quem foi o teu companheiro na viagem?»
«_O pensamento de Ti, meu Rei.»
«_O que é que te trouxe aqui?»
«A fragrância do Teu vinho.»

«_Que é que te agrada mais?
«_A companhia do Soberano.»
«_Que é que encontras n’Ele?»
«_Centenas de milagres.»
«_Porque é que está o palácio deserto?»
«_Porque todos temem o ladrão.»
«_Quem é o ladrão?»
«_Quem me mantenha afastado de Ti.»

«_Aonde encontras segurança?»
«_No serviço e na renúncia.»
«_Que te oferece a renúncia?»
«_A esperança de salvação»

«_Onde se acha a graça?»
«_Na presença do Teu amor.»
«_Como te aproveitas desta vida?»
«_Mantendo-me fiel a mim mesmo.»

Chegado está o momento do Silêncio.
Se falo da Sua verdadeira essência,
Vocês sairão do vosso ser voando,
E nem porta nem telhado os poderão reter!


- Rumi