segunda-feira, 29 de junho de 2009

Serra d'el Rei, porto de mar

A Serra d’El-Rei é o vértice de um triângulo que vai de Peniche a Óbidos.



Geomorfologia

Porto de mar da Serra d'el Rei; um bastião portuário erigido por Gualdim Paes.
Tal porto de mar, alegadamente, desapareceu.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Do Castelo de Thomar

Mortos ou prisioneiros os que defendiam a fortificação, cujos alicerces o Almonda banha, dirige o grande imperador as suas hostes para o nordeste, onde nas margens do famoso Nabão, em alto monte, o valente Gualdim Paes, glorioso Mestre dos Templários portugueses, tinha levantado as muralhas altivas da sua casa capitular e, na planície subjacente, lançado os fundamentos duma nova povoação.
Contava pois poucos anos de existência esta fortaleza que neste aperto, bem duro, ia experimentar pela vez primeira o rude embate das hostes marroquinas.

Fundado em 1 de Março de 1160, ainda com seus alicerces mal cimentados e suas pedras, memórias da antiga cidade da margem oposta, não aconchegadas em postura definitiva para uma invencibilidade sem limites, era êsse castelo um amplo recinto cingido de muralhas abaluartadas que corriam nas quatro principais direcções, ligando a quadrela do norte as partes mais nobres da novel construção.

Ao oriente, no mais alto do padrasto, levantava-se a alcáçova, do meio da qual imergia a torre dc menagem, alta, forte, quadrada, onde altiva e arrogantemente flutuava o invencivel estandarte da Cruz, a terrível balsa, aquela que nas quatro orlas inscrevia o célebre versículo de David: A nós não, Senhor, dáe glória, mas sim ao teu nome.

A poente quebrava o ângulo uma fábrica exquisita, estranha, pontuda, de forma prismática, de 16 fáces, com um corpo central, da mesma forma, mas de 8 fáces, que se abriam em arcos bizantinos, deixando entrar aqueles a luz, que frestas estreitas e altas coavam na amplidão do lugar que decerto se destinava às reuniões privadas da cavalaria templária.

Ao Centro da fortaleza e em declive arrumavam-se as instalações dos soldados que durante a paz, por dever do cargo, viviam entre muros, e os alojamentos para aqueles que de longe vinham ao chamamento dos apertos da guerra.

Suas portas altas, espaçosas, ogivais, abriam-se: uma no longor oriental, donde o nome de Porta do Sol, e a outra no do sul, entre dois salientes e valentes cubelos, no meio da rampa áspera, na parte mais declivosa das cortinas.
Esta, a largos traços descrita, era a praça que a onda vertiginosa de Iacube ia, com fragor, tentar despedaçar.

Seus soldados, embriagados com a vitória de Torres Novas, vinham audazes, féros, arremetedores, na certeza de, em breve, se encherem de novo de glória e de saque.

Deante deles, recolheu com seus homens de armas, à sua sede, o glorioso Mestre da milicia do Templo, Gualdim Paes, que, atento, senhor de si, confiante na sua valente espada e nas dos seus poucos, mas fieis companheiros, esperava o choque medonho dos ferozes africanos e ia saber da valentia e das qualidades defensivas do castelo que trinta anos antes tinha fundado, dando origem à linda cidade que por tantos títulos se tornaria notavel— Tomar.

Não se fez esperar muito o temeroso chefe berbere, e qual catadupa, salta sôbre a infantil povoação que, não podendo sofrer tão duro golpe, se entregou à sua negra sorte, pondo-se antes, seus habitantes ao abrigo das fortes e bem defendidas muralhas templárias.

Enraivecido, Iacube, ordena o saque, que é seguido pela destruição das habitações que já se estendiam em ruas direitas pela planura fôra, onde agora a multidão da sua gente acampava numa agitação febril de conquista e de matança.
Esta não se pôde realizar, mas aquela é tentada e os petrechos de guerra são postos em acção numa ânsia de vitória e numa inutilidade impaciente e desprestigiante.

Os chefes maometanos redobram de ardor e seus soldados, no delírio da luta, não perdem um momento, o cêrco é mais apertado, os muros da impassível fortaleza cada vez são mais batidos por todos os engenhos de que dispunha a arte dos assédios, as portas do altivo castelo são violentamence atacadas, mas uma impossibilidade se opõe a tanto esfôrço — a inexpugnabilidade da praça e o valor dos sitiados.

Este nunca se desmentiu durante os seis longos dias do sítio duro,encarniçado, sangrento, a ponto de tanto sangue se derramar numa das portas da inconquistavel fortaleza que desde então se tornou conhecida por esse apelido.

(fonte: Vieira Guimarães)

domingo, 21 de junho de 2009

O dia mais longo do ano

Solstício de verão

SOLSTÍCIO DO VERÃO 2009, NA PEDRA DO SOL

Quem vai à luz do Céu com luz da Terra,
Encontra a escuridão no seu caminho;
Quem vai buscar a noiva em som de guerra,
Morre sem noiva e sem amor, sozinho.

Encontra a escuridão no sol ardente,
Arma do Anjo Negro mascarado
Que cega todo aquele que à sua frente
Ergue o rosto agressivo e confiado.

Morre na areia seca do deserto,
Seu corpo nu a apodrecer no chão,
Simplesmente coberto
Pelo pranto sem fim duma Nação.

E eu fui a Deus com alma natural,
E o meu grito de amor desafiou.
E Deus toldou-se quando eu dei sinal,
E a noiva nem sequer me sepultou!


- Miguel Torga, D. Sebastião

A Porta do Sol ...

... do Castelo de Tomar nos finais do Séc. XIX

E actualmente:

terça-feira, 16 de junho de 2009

Gualdim

Só da Luz, quero a Luz e muita Luz,
Que ela é Pão, que ela é prémio prò dolente…
Ela é Nova, ela é noiva, eu digo sus!
Coragem para o pobre e o doente.

Só da Luz. Só d’Amor, em farta Vinha,
O Sol agora vem, e é bem-vindo…
Ai cânticos e frol duma andorinha!
O dia é Primavera, eu digo lindo!

Só da Luz, minha leda, e só do Vate:
Vem d’amora, de poma e vem de véu…
Vem comigo, a lidar o bom combate:
Eu n’asa dos teus olhos, vejo o Céu.


- Paulo Jorge Brito e Abreu, Primavera Pascal

Comenda de Pinheiro de Ázere

A falta de elementos históricos torna difícil determinar, com precisão, a data de constituição da maior parte destes aglomerados populacionais espalhados pelo país e que outrora tiveram posição de relevo na administração local.

Está neste caso Pinheiro de Ázere, antiga vila e sede de concelho sobre cujo passado tão pouco se tem dito, não obstante os valiosos documentos manuscritos, alguns em pergaminho com centenas de páginas, agora encontrados depois de aturadas buscas, virem fazer um pouco de luz sobre a constituição da referida vila nos primeiros tempos.

Esperamos publicar, no todo ou em parte, o texto dos referidos documentos ou pelo menos daqueles que se consideram mais importantes.

A freguesia denominava-se nos primeiros tempos Santa Maria do Pinheiro.

A palavra Pinheiro deve ter tido origem no facto de ter existido em tempos remotos junto da ermida dedicada a Nossa Senhora um monstruoso pinheiro que caiu por ocasião de um grande temporal no ano de 1700.

Ázere para uns, deriva da palavra "Azize" que significa estimada.
No entanto, outros são da opinião que ela deriva de "Azar" que significa batalha.
É muito possível que em tempos bastante longínquos se tenha travado alguma, muito importante, nesta região.

Pouco se sabe da constituição deste extinto concelho de Pinheiro de Ázere até ao século XIII, mas nas inquirições a que se procedeu em Maio de 1258 ordenadas por D. Afonso III, se diz que uma parte de Pinheiro pertencia a Santa Cruz de Coimbra e as outras três partes à Ordem do Templo, e que os seus homens já iam nas hostes do Rei.

Foi nesta vila que o conde D. Pedro, filho de D. Dinis, esperou seu irmão D. João Afonso que o desafiara.
Porém, a conselho do infante D. Afonso (futuro Rei) retirou-se com as suas hostes que o acompanhavam desde a Beira.

O aglomerado populacional da freguesia formou-se à volta da sua igreja paroquial da invocação de S. Miguel Arcanjo, e os seus habitantes regiam-se pelos usos e costumes legados pelos seus antepassados e pelas doutrinas da Igreja, tementes como eram da Justiça Divina.

Extinta a Ordem do Templo passou esta freguesia a pertencer à Ordem de Cristo e a ser cabeça da Comenda do mesmo nome, cujo comendador ou seu delegado aqui tinha residência e administrava os seus bens.

O Capítulo Geral da Ordem celebrado no Convento de Tomar em 5 de Dezembro de 1503 consentiu que fosse feito o tombo dos bens da Comenda pelos visitadores da Ordem Frei D. João Pereira e bacharel Frei Diogo do Rego.
Foi feito por Frei Francisco Freire da dita Ordem, de 20 a 25 de Fevereiro de 1508. Era comendador neste ano Frei Gomes Ferreira. Este documento está escrito em letra tipo cursivo e tem 75 páginas.

A Comenda possuía bens nas aldeias de Aguieira e Moreira de Fundo, freguesia de Santar termo de Viseu, em Travanca, concelho de Penacova e na Serra da Estrela, termos de Gouveia e de Folgosinho, a terra chamada a Serdaça.

Estão transcritos neste tombo os limites do concelho de Pinheiro de Ázere, e nele também se indica os direitos que a Ordem tinha na dita Comenda.

Em 16 de Fevereiro de 1662 foi feito novo tombo dos bens da Comenda que terminou em 26 de Fevereiro de 1664.

Foi Juiz deste tombo Inácio de Magalhães e escrivão Gaspar de Lemos Costa. Este livro está em muito mal estado de conservação, tem 191 folhas e foi feito em letra encadeada.

Em 12 de Maio de 1827, de novo se fez o tombo dos bens da Comenda, sendo juiz do tombo o juiz de fora da vila de Tondela, Bartolomeu José Vaz Preto Geraldes e escrivão Francisco Xavier Boto Machado.
Era administrador da Comenda Luiz Ferreira de Andrade.
Nele se diz que os bens existentes na Serra da Estrela se não cobravam há anos. Encontram-se neste tombo demarcados os limites do concelho que confrontam com os concelhos de Couto do Mosteiro, Óvoa e S. João de Areias.
Tem 236 folhas e a letra é do tipo corrente. Os rendimentos desta Comenda tinham de custear as despesas do comendador, da Igreja e das capelas, como se vê na visita feita a esta Comenda em 1507, e prover o sustento do pároco e do ermitão da capela da Senhora da Ribeira.

Foram comendadores desta Comenda entre outros: Jorge de Melo, Monteiro – mor de D. João III, Manuel de Melo, Monteiro – mor de D. Sebastião, de D. Henrique e de D. Filipe II; Garcia de Melo, e Francisco de Melo, Monteiro – mor, até 1712, nesta data foi-lhe retirada a posse da Comenda. D. Maria de Melo, filha do Monteiro – mor do reino; D. Joana Catarina de Melo, casada com D. Pedro da Cunha Mendonça e Meneses, Monteiro – mor do reino, e D. Francisco José de Melo da Cunha Meneses, primeiro Marquês de Olhão, ficando a partir de então na posse desta família.

Em 13 de Julho de 1514 foi-lhe concedida foral por D. Manuel I, que regulamentava os direitos e deveres dos habitantes da freguesia. (O original deste documento encontra-se arquivado na Biblioteca Municipal de Santa Comba Dão).

A partir de 1532 com a criação da Mesa da consciência e Ordens, tribunal criado por D. João III para resolução dos diversos casos jurídicos e administrativos relativos ao mestrado da Ordem de Cristo, ficou este concelho pertencendo ao respectivo tribunal.

Além da igreja paroquial existente nesta freguesia, as capelas do Senhor das Necessidades; de S. Sebastião; da Senhora da Conceição, em Pinheirinho; capela particular da família Corte – Real e da Senhora da Ribeira ou do Pranto.

A dividir o corpo da Igreja do altar – mor existe um arco que fecha com uma pedra onde está esculpida a Cruz de Avis – símbolo da ordem de Cristo.

No pavimento que antecede o altar – mor e no da porta da sacristia existem lajes de dimensões ilegíveis que servem de cobertura a sepulturas, possivelmente de comendadores que aqui tenham falecido.

A capela da Senhora da Ribeira ou do Pranto, de todas a mais importante, que foi o mais célebre santuário destas terras, fica situada entre montes à beira do rio Mondego num sítio muito aprazível. É muito antiga e parece ter sido igreja de freguesia há muitos séculos suprimida.

(fonte)

Imagens

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Portugal

Mais do que um País, uma Nação, uma Ideia, um Orgulho de Pertença Colectiva.

Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela então os Íncolas primeiros.


- Camões, Lusíadas - XXI

Salve, berço do nome lusitano!
Nesta manhã solene.
Que, em volver de ano e ano,
Jamais acabará que a apague o tempo
Da saudosa memória;
Nesta manhã de glória
A ti veio, a ti venho, asilo santo
Da lusitana antiga liberdade.

Tuas lobregas cavernas
Me serão templo augusto e sacrossanto,
Aonde da Razão e da Verdade
Celebrarei a festa.

Ouça-me o vale, o outeiro,
Escute-me a floresta
Aonde do seguro azambujeiro
Seus cajados cortavam
Os pastores de Luso,
Que a defender a pátria e a liberdade
Nesses tempos bastavam
De honra e lealdade.


- Almeida Garrett, Viriato

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.


- Fernando Pessoa

É preciso rezar, cantar e trabalhar;
Ter esta força de alma e de certeza
Que esculpe em bronze de harmonia
A nossa espiritual fisionomia
E nos leva a encarar, sem, medo, a negra Morte!
Sim: é preciso crer. Acreditai!
O peso bruto, a inércia dominai!
Erguei, cantando e orando, a voz!
Vencei a triste Sorte,
Invisível espectro, além de nós...


- Teixeira de Pascoaes

A chamada Catedral de Idanha-a-Velha


Enquadramento
Urbano.
Povoação fortificada situada na margem direita do rio Ponsul *2, implantando-se nas terras baixas a S. de Monsanto.
A igreja situa-se intramuros, junto à Porta S. da muralha.

Descrição
Catedral de planta rectangular com dois eixos ortogonais, composta por rectângulo principal ao qual se justapõem, ao lado maior, dois rectângulos e um quadrado.

Cobertura diferenciada a duas águas na nave central e a uma água nas naves laterais.

Fachada principal voltada a NE., com dois registos, tendo o primeiro porta em arco quebrado e porta de lintel recto e o segundo óculo circular e campanário.

Alçado SO. tem, no primeiro registo, duas portas de lintel recto com as ombreiras almofadadas e, superiormente, janelão em arco pleno.

Alçado NO. com porta em arco quebrado e rematada por gablete decorado, ladeado por quatro frestas.

No nível superior, correspondendo ao clerestório da nave central, sete frestas em arco pleno.

Alçado SE. possui janela de lintel recto entaipada e duas frestas, integrando o aparelho dois fustes e inscrição romana.
No segundo registo, cinco frestas em arco pleno. Dois baptistérios exteriores, um na entrada S. e outro junto à entrada N..

INTERIOR de três naves, uma das quais truncada.

Pavimento em madeira em lajeado de granito, sendo os degraus de acesso revestidos a mármore rosa.

Nave central mais larga e elevada do que as laterais, separadas por arcos formeiros ultrapassados, peraltados no lado do Evangelho, assentando em colunas e pilastras.

As paredes SE. e NE. apresentam arcadas cegas em alvenaria de tijolo e a parede NE. arco pleno. Impostas em mármore decoradas com palmetas.

Arco triunfal em ferradura, assente em impostas salientes.

Pavimento lajeado, sendo, na nave central, de madeira.
Cobertura de vigamento de madeira.

A capela lateral SE. de planta quadrada e cobertura em abóbada de berço, apresenta pintura mural representando São Bartolomeu com o diabo agrilhado aos seus pés, em tons ocre e terra queimada, tendo como envolvimento barra decorativa em tons cinza.

A Capela de Nossa Senhora do Rosário, com cobertura em concha, integra na zona superior da parede esgrafito de sabor popular com a data de 1593 gravada e decorada com motivos geométricos, zoomórficos, cruciformes e cabeças de anjo.

Vestígios de pintura mural também nos alçados da nave entre as duas capelas e lateralmente à segunda, representando o Calvário, Cruz de Cristo e Santo António.

O baptistério encontra-se situado no exterior, com planta cruciforme, apresentando pequenos tanques adjacentes.

Cisterna adossado à igreja, à esquerda do portal principal.

Época Construção
Séc. VI / VII / XII / XIII / XV / XVI / XX

Cronologia

Séc. IV - provável construção da primitiva basílica;

559- 570 - criação do bispado da Egitânia, por Teodemiro, rei dos Suevos *3;

585, cerca de - edificação da catedral, do baptistério e do hipotético paço;

Séc. IX / X - transformação em mesquita;

Séc. XII / XIII - surge uma nova capela-mor, reaproveitando materiais da construção anterior;

1165 - doação a Gualdim Pais, Mestre dos Templários, por D. Afonso Henriques;

1197 - doação a Lopo Fernandes, Mestre dos Templários;

1199 - transferência da sede episcopal para a Guarda;

1229 - doação a Mestre Vicente, Bispo da Guarda;

1244 - doação a Martim Martins, Mestre dos Templários;

1326 - recebia 500 libras dadas pelo comendador de Rio Frio, a renda do espiritual e temporal da povoação, 100 libras dos comendadores de Almourol e Cardiga e 100 pela renda do espiritual de Proença;

1497 - obras de renovação na antiga Catedral por ordem de D. Manuel, para o que estipula a quantia de 5 réis por ano; abertura de novos portais;

Séc. XVI - a igreja encontrava-se já parcialmente enterrada; correcção da orientação do altar-mor, (C. Torres, 1992);

1505, 10 Outubro - visitação de D. João Pereira e Fr. Francisco, estando a comenda vaga, por morte de Fr. Garcia Afonso; os visitadores constataram a existência de três naves, a da direita com 7 arcos e a da esquerda com 4, surgindo 2 entradas, um portal virado a N., de pedra lavrada e executado recentemente, protegido por alpendre sustentado por colunas de pedra e coberto por telha vã, e um portal mais pequeno a S.; sobre o portal principal, campanário de pedra lavrada, de construção recente, com dosi sinos e rematado por grimpa; à esquerda do alpendre, edifício antigo com 5 arcos; a capela-mor era abobadada, totalmente em cantaria, tendo uma mesa de altar assente em coluna, onde surgia a imagem escultórica do orago, Nossa Senhora, surgindo dois altares colaterais de pedra, dedicados a Santo António e a São Sebastião, com esculturas dos oragos e imagens pintadas na parede, surgindo, ainda, as pinturas de Santa Catarina e São Sebastião;

1537, 10 Outubro - visitação de Fr. António Lisboa, referindo a existência de porta travessa com alpendre, apoiado em cinco colunas com a altura de 6 varas; a capela tinha 4 varas de comprido e 3 de largo; o altar-mor encontrava-se deslocado e estava forrado de azulejos, surgindo um retábulo velho com a pintura de Nossa Senhora, encimado por dossel de sarja vermelha; junto à capela, construíra-se a sacristia num arco; altares colaterais com tábuas pintadas com os oragos respectivos; no lado esquerdo do portal principal, a pia baptismal; igreja parcialmente forrada, entrando-se nela descendo quatro degraus;

1589 - rasga-se a Capela de Nossa Senhora do Rosário;

1593 - abertura da porta S.;

Séc. XIX - a igreja é transformada em cemitério da localidade, perdendo a sua função cultual;

1893 - data na Capela de Nossa Senhora do Rosário;

1955 - início da prospecção arqueológica, da responsabilidade de Fernando de Almeida;

1998, 12 Fevereiro - cedência do imóvel ao Instituto Português do Património Arquitectónico;

2006, Fevereiro - fim das obras na zona envolvente da Sé; feitura de uma estrutura metálica em torno dos baptistérios e colocação de estrutura envidraçada para poderem ser visualizados.

Tipologia
Arquitectura religiosa, visigótica, islâmica românico-gótica e manuelina.

Igreja de planta rectangular com dois eixos ortogonais e justaposição de rectângulos e quadrados, com três naves. Portas em arco quebrado, uma delas com gablete, portas de lintel recto, uma delas com ombreiras almofadadas.

Clerestório com vãos em arco pleno.

Arcos formeiros ultrapassados.

Baptistério de planta cruciforme.

Características Particulares
Integração de materiais romanos na construção.

Ausência de abside e elevação interna.

Os arcos não apresentam o mesmo diâmetro e as colunas, formadas por tambores, não possuem concordância exacta entre a altura dos fustes e respectiva adaptação ao capitel.

Portas desniveladas.

Alguns capitéis serão romanos, outros parecem ser jónicos, mas com volutas picadas (C.A. Ferreira de Almeida) e outros parecem inacabados.

As pinturas murais revelam semelhanças com as da Igreja de Santiago de Belmonte, Igreja de Nossa Senhora da Fresta, em Trancoso e a de São João Baptista do Cimo de Vila de Castanheira, devendo-se, provavelmente, a uma mesma oficina.

Materiais
Granito; xisto; mármore; cantaria, alvenaria; aparelho isódomo, almofadado e rusticado; revestimento inexistente; telha "romana".

Observações
*1 - Classificada em conjunto com a Ponte sobre o Rio Ponsul, com a DOF: A chamada "Catedral" e a velha ponte a este, sobre o Ponsul, em Idanha-a-Velha.

*2 - topónimo derivado de Procônsul.

*3 - em 569, o bispo da Egitânea encontrava-se presente no Concílio de Lugo, confirmando a existência do bispado, nesta data.

*4 - espólio arqueológico disperso por vários museus e entidades particulares (Museu Lapidar Igeditano de António Marrocos, Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Museu Nacional de Arqueologia).

*5 - de acordo com o "Plano de Aldeia" do Programa "Aldeias Históricas de Portugal - Beira Interior", está prevista intervenção no imóvel com projecto tutelado pelo IPPAR, da responsabilidade do arquitecto Alexandre Costa.

(fonte: IHRU)

(Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Idanha-a-Velha)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Idanha

Muralhas e Torre de Menagem de Idanha-a-Velha


Enquadramento

Urbano. Povoação fortificada situada na margem direita do Rio Ponsul *1, implantando-se nas terras baixas a S. de Monsanto, a uma cota de 205 m.. Vislumbra-se o Castelo de Monsanto (v. PT020505080009), a cerca de 5 Km..

Descrição
Muralhas de traçado ovalado, com três portas e o vestígio de uma quarta, integrando numerosos materiais romanos, observando-se, no troço N., merlões piramidais. Porta S. em arco pleno e ladeada por torre de planta quadrada. No lado O., observam-se vestígios de duas torres quadradas e outra semicircular.
Porta do Sol já não existe, sendo assinalada pela interrupção da cortina da muralha.
Porta N. com duplo arco pleno, ladeada por duas torres de planta semicircular.
No interior, torre de menagem de planta rectangular sem cobertura, conjugando diferentes tipos de aparelho.
Assenta sobre pódio de templo romano constituído por soco rusticado e base moldurada. Sobre esta, apresenta embasamento escalonado e biselado. Possui dois registos, tendo, no primeiro, porta em arco quebrado no alçado N..
Segundo registo com porta em arco pleno com inscrição no tímpano; fresta nos alçados E., O. e S..

Época Construção
Séc. I / X / XIII/ XVII

Cronologia
Época pré-histórica - povoamento documentado na envolvente;
60 a.C. - hipotética fundação do município por Júlio César;
16 a.C. - existência documentada da povoação romana;
I -IV d.C. - referência a Civitas Igaeditanorum;
Séc. I - construção do Templo de Vénus;
105 - referência aos Igaeditani na inscrição da Ponte de Alcântara;
Séc III / IV - muralhamento da povoação;
Séc. X - hipotética reconstrução da cerca muralhada;
1165 - doação a Gualdim Pais, Mestre dos Templários, por D. Afonso Henriques;
1197 - doação a Lopo Fernandes, Mestre dos Templários;
1229 - concessão de carta de foral por D. Sancho II, segundo o modelo de Ávila / Évora; doação a Mestre Vicente, Bispo da Guarda; reconversão da muralha;
1244 - doação a Martim Martins, Mestre dos Templários;
1245 - data provável de construção da Torre de Menagem sobre templo romano;
1477 - instituição de um couto de homiziados;
1510 - concessão de carta de foral; renovação das muralhas;
1624 - autorização de D. Filipe III para António de Mascarenhas armar minas nos muros de Idanha;
1708 - estado de ruína das muralhas *2;

Tipologia
Arquitectura militar, romana e gótica.
Muralhas romanas de traçado ovalado, que estão na base da muralha medieval, rasgada por quatro portas, viradas aos pontos cardiais.
Torre de menagem medieval de planta rectangular, com dois registos, rasgada por portal de arco apontado e frestas.

Características Particulares
Torre de menagem assente sobre pódio de templo romano.
Existência de ruínas romanas extramuros. Coexistência visível de construções e materiais de diferentes épocas.

Materiais
Granito; xisto; mármore; cantaria, alvenaria; aparelho isódomo, almofadado e rusticado; revestimento inexistente; telha "romana".

Observações
*1 -
topónimo derivado de Procônsul.
*2 - espólio arqueológico disperso por vários museus e entidades particulares (Museu Lapidar Igeditano de António Marrocos, Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Museu Nacional de Arqueologia ).
(fonte: IHRU)