segunda-feira, 30 de março de 2009

Petra, Nabateus e Kerak



El Khazneh - A Câmara do Tesouro

Petra

Petra: A Excavação

Al Kerak - O Castelo

Os Nabateus

Amigo de todas as horas e situações
Meu Irmão, Meu Amigo! Amigo de sempre. Irmão, que percorres o caminho com lealdade e devoção. Obrigada.

branco
riscado no verde
cruza sombras num galope
no fremir de asa branca
crepita o bosque fremente
desse fogo que não arde
no restolho esvoaçante

corre
corcel libertado
cruza o manto de verdura
corre livre
enfim liberto
e ao vento o peito aberto
traz ao bosque outra frescura

corre
mítico unicórnio
e que ao som do teu tropel
floresça este vergel
brotem fontes de água pura

alado cavalo branco
trazes asas de luar
e dourar de cada estrela
nesse louco cavalgar.


- Jorge Castro

sábado, 28 de março de 2009

D. Affonso Henriques



Pae, foste cavalleiro.
Hoje a vigilia é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!

Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infieis vençam,
A benção como espada,
A espada como benção!


- Fernando Pessoa, Mensagem

Contributo para No Altar de Santa Maria

Trata-se este artigo de um artigo ao estudo e descoberta do (No) Altar de Santa Maria levado a cabo por João do C. G. de Santa Marial do Olival.

Estas imagens

publicadas por João, corresponde efectivamente ao altar existente na Igreja de Santa Maria do Olival antes das obras de 1940, conforme se pode constatar pelas imagens seguintes

Imagens dos arquivos da DGEMN, das obras de 1940.

No momento imediatamente anterior às obras de 1940, ou seja, o altar-mor que se encontrava na altura, era o que as imagens apresentam, com a mesa de pedra onde está inscrita a Cruz de Cristo.
Que é feito desta mesa?
Estará arrecada no Convento, ou terá sido outro o seu destino?

É que, anteriormente a esta mesa de pedra com a Cruz de Cristo, existia uma outra, também das imagens publicadas por João, esta


Como se pode verificar, o altar-mor é o mesmo, já a mesa é outra! Esta mesa é anterior à que foi fotografada aquando das obras, i.e., da mesa que se encontrava no local quando começaram as obras, que é a da imagem anterior.

E posteriormente às obras de 1940, o panorama do altar-mor sofreu uma imensa reviravolta!


Apenas ficou a imagem original da Senhora do Leite, o oratório foi removido, e de acordo com as descobertas do João ficámos a saber que o oratório da imagem encontra-se actualmente no Convento de São Francisco!

Já a mesa que o sustentava ... Onde pára?

Foram retirados os diferentes patamares de degraus em pedra.

Foi colocado uma balustrada de madeira para impedir o acesso.

A Estrela foi recolocada por cima, substituindo o vitral que ali se encontrava.

E o que é feito da lápide que se encontrava perto do vitral - que foi substituido pela Estrela?

Os frisos de vidro, voltaram à sua simplicidade, deixando de lado os vitrais que aí se encontravam. Onde páram os vitrais retirados?

De onde é que veio a nova mesa?

Resumindo caro João, a sua descoberta está certíssima!
Agora só falta encontrar as mesas!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Contributo para a Pedra Oblíqua de Santa Maria do Olival

O Degraconis, dos C.G. de Santa Maria do Olival, publicou um estudo sobre a Pedra Oblíqua de Santa Maria do Olival

Ora, tendo em conta algumas fotografias tiradas antes, durante e depois das obras de 1940, poderei referir que a Pedra Oblíqua não só não se encontrava na altura naquela posição, como se tratará de algo bem mais interessante que uma simples Pedra Oblíqua!!

Passemos então a factos:

- Tendo em conta a fotografia tirada actualmente da Pedra Oblíqua, a sua posição relativa e absoluta, apresentada pelo Degraconis, temos

uma imagem dos arquivos da DGEMN, das obras de 1940.
Pode apreciar-se, entre muitos outros detalhes interessantíssimos noutra altura, no piso (clicar na imagem para redimensionar); agora numa imagem mais aproximada

podemos ver (clicar na imagem para redimensionar) que a Pedra Oblíqua, não se encontra lá!!

Tomemos ainda outros exemplos, de imagens actuais, para conseguirmos criar uma estrutura/rede visual por forma a enquadrar a Pedra Oblíqua que hoje se vê ali posicionada, tentando vê-la em 1940 antes e durante as obras, ou pelo menos no momento em que no decurso das obras teriam terminado o piso


Tendo com base todas as evidências acima, posicionamento actual que se pode observar pela 1ª imagem, visível no ângulo do primeiro arco junto ao altar-mor, por dentro e por fora, tendo em conta a grande dimensão da Pedra, na 2ª imagem tirada em 1940, a Pedra não está lá.

La Petra, non che!

Agora ficam as interrogações:

Afinal, que Pedra é esta?

De onde veio?

Reparem na 1ª imagem de 1940, do lado esquerdo da imagem havia muitíssimo mais do que há hoje!! ... mas, essa vai ser uma outra história!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Mais tarde, um contributo...

... para a Pedra Oblíqua de Santa Maria do Olival.

O Degraconis, dos C.G. de Santa Maria do Olival, publicou um estudo sobre a Pedra Oblíqua de Santa Maria do Olival

Compreender

Como é que se pode fazer com que alguém entenda aquilo que se está a prentender dizer?

Não se consegue; o entendimento, o entender, a compreensão tem que surgir de cada pessoa.
A isso se chama: a solidez do entendimento.
É a Lei da Vida.

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


- Alexandre O'Neill, Há palavras que nos beijam

Gratefully

Sing HU to open your Heart

terça-feira, 24 de março de 2009

MemoBlitz - Fotomaratona

A Associação Restauradores Sem Fronteiras está a organizar o MemoBlitz'09 a decorrer no Aqueduto dos Pegões em Tomar, nos dias 17 e 18 de Abril de 2009!

Dois dias inteiramente dedicados ao (Re)Conhecimento do Património!

Com várias Saídas de Campo, Oficinas, Stands, Palestras e FotoMaratona.

A participação é gratuita!

Consulta do Programa

e

Inscrições

Fonte: Rui Ferreira

Programa Provisório

Regulamento da fotomaratona

Vamos ver se consigo ir

Addenda:

Está decidido. Eu vou à fotomaratona.

Ordenação da Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo

(clique nas imagens para ler o respectivo documento)

A doação do Castelo de Ceras a Gualdim

segunda-feira, 23 de março de 2009

Muito aquém ...

... do que Vossa Mercê merece.

Mas, bem vedes, infelizmente, não sou poeta, dizem por mim outros, as palavras que gostaria de saber compôr.

O Som e a Luz, num doce murmúrio dos Momentos, uns findos, outros por fazer e cumprir; uma Existência contínua.

A Harpa de Deus.
Amor Puro, que flui num Rio que, contínuo, desagua no Oceano. Um Oceano de Paz, de Harmonia, onde descansa a Eternidade.

Flor de acaso ou ave deslumbrante,
Palavra tremendo nas redes da poesia,
O teu nome, como o destino, chega,
O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo
De todas as cores do dia!


- Alexandre O'Neill, O teu nome

O Selo de D. Afonso Henriques

Ler esta explicação

A quadratura do círculo

Repare-se nos braços da cruz em forma de cabeça de machado.

Quadratura do círculo
e
PI

domingo, 22 de março de 2009

Data

O Nabantia recorda a data da extinção da Ordem do Templo:

- Ordem do Templo, ou Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão

Os Cavaleiros Templários

22 DE MARÇO DE 1312

Data de má memória.
Embora nunca tenha referido tal, a Ordem que se lhe seguiu, apesar de ter herdado todos os seus bens terrenos, não se encontrava à altura da sucessão.
Foi a morte da Essência, ficando apenas uma Laranja semi-murcha.

Aproveito o momento para publicar, em jeito de memória futura, as cruzes existentes no Cartorium do Convento de Cristo em Tomar.




Contudo, considero ser verdadeira Cruz Templária Portuguesa a publicada por Sebastião Barros.

sábado, 21 de março de 2009

Ao Nabantia


Nesta entrada da Primavera, agradecer a menção à Porta de Almedina ou Porta do Sangue.

Votos de Felicidades nesta Gloriosa Primavera.

Não é já de Natal esta poesia.
E, se a teus pés deponho algo que encerra
e não algo que cria,
é porque em ti confio: como a terra,
por sobre ti os anos passarão,
a mesma serás sempre, e o coração,
como esse interior da terra nunca visto,
a primavera eterna de que existo,
o reflorir de sempre, o dia a dia,
o novo tempo e os outros que hão-de vir.


- José Régio, Reflorir, sempre!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Momento



I

Eu nunca fiz soar meus pobres cantos
Nos paços dos senhores!
Eu jamais consagrei hino mentido
Da terra dos opressores.
Mal haja o trovador que vai sentar-se
À porta do abastado,
O qual com ouro paga a própria infâmia,
Louvor que foi comprado.
Desonra àquele, que ao poder e ao ouro
Prostitui o alaúde!
Deus à poesia deu por alvo a pátria,
Deu a glória e a virtude.
Feliz ou infeliz, triste ou contente,
Livre o poeta seja,
E em hino isento a inspiração transforme
Que na sua alma adeja.

II

No despontar da vida, do infortúnio
Murchou-me o sopro ardente;
E saudades curti em longes terras
Da minha terra ausente.
O solo do desterro, ai, quanto ingrato
É para o foragido,
E nevoado o céu, árido o prado,
O rio adormecido!
E lá chorei, na idade da esperança,
Da pátria a dura sorte;
Esta alma encaneceu; e antes de tempo
Ergueu hinos à morte;
Que a morte é para o mísero risonha,
Santa da campa a imagem
Ali é que se aferra o porto amigo,
Depois de árdua viagem.

III

Mas quando o pranto me sulcava as faces,
Pranto de atroz saudade,
Deus escutou do vagabundo as preces,
Dele teve piedade.
«Armas», bradaram no desterro os fortes,
Como bradar de um só:
Erguem-se, voam, cingem ferros; cinge-os
Indissolúvel nó.
Com seus irmãos as sacrossantas juras,
Beijando a cruz da espada,
Repetiu o poeta: «Eia, partamos!
Ao mar!» Partia a armada,
Pelas ondas azuis correndo afoutos,
As praias demandámos
Do velho Portugal, e o balção negro
Da guerra despregámos;
De guerra em que era infâmia o ser piedoso,
Nobreza o ser cruel,
E em que o golpe mortal descia envolto
Das maldições no fel.

IV

Fanatismo brutal, ódio fraterno,
De fogo céus toldados,
A fome, a peste, o mar avaro, as turbas
De inúmeros soldados;
Comprar com sangue pão, com sangue o lume
Em regelado Inverno;
Eis contra o que, por dias de amargura,
Nos fez lutar o Inferno.
Mas de fera vitória, enfim, colhemos
A c'roa de cipreste;
Que a fronte ao vencedor em ímpia luta
Só essa c'roa veste.
Como ela torvo, soltarei um hino
Depois do triunfar.
Oh, meus irmãos, da embriaguez da guerra
Bem triste é o acordar!
Nessa alta encosta sobranceira aos campos,
De sangue ainda impuros,
Onde o canhão troou por mais de um ano
Contra invencíveis muros,
Eu, tomando o alaúde, irei sentar-me,
Pedir inspirações
À noite queda, ao génio que me ensina
Segredos das canções.

V

Reina em silêncio a lua; o mar não brame,
Os ventos nem bafejam;
Rasas co'a terra, só nocturnas aves
Em giros mil adejam.
No plaino pardacento, junto ao marco
Tombado, ou rota sebe,
Aqui e ali, de ossadas insepultas
O alvejar se percebe.
É que essa veiga, tão festiva outrora,
Da paz tranquilo império,
Onde ao carvalho a vide se enlaçava,
É hoje um cemitério!

VI

Eis de esforçados mil inglórios restos,
Depois de brava lida;
De longo combater atroz memento
Em guerra fratricida.
Nenhum padrão recordará aos homens
Seus feitos derradeiros.
Nem dirá: – «Aqui dormem portugueses;
Aqui dormem guerreiros.»
Nenhum padrão, que peça aos que passarem
Reza fervente e pia,
E junto ao qual entes queridos vertam
O pranto da agonia!
Nem hasteada cruz, consolo ao morto;
Nem lájea que os proteja
Do ardente sol, da noite húmida e fria,
Que passa e que roreja!
Não! Lá hão-de jazer no esquecimento
De desonrada morte,
Enquanto, pelo tempo em pó desfeitos,
Não os dispersa o norte.

VII

Quem, pois, consolará gementes sombras,
Que ondeiam junto a mim?
Quem seu perdão da Pátria implorar ousa,
Seu perdão do Elohim?
Eu, o cristão, o trovador do exílio,
Contrário em guerra crua,
Mas que não sei verter o fel da afronta
Sobre uma ossada nua.

VIII

Lavradores, zagais, descem dos montes,
Deixando terras, gados,
Para as armas vestir, dos céus em nome,
Por fariseus chamados.
De um Deus de paz hipócritas ministros
Os tristes enganaram:
Foram eles, não nós, que estas caveiras
Aos vermes consagraram.
Maldito sejas tu, monstro do Inferno,
Que do Senhor no templo,
Junto da eterna Cruz, ao crime incitas,
Dás do furor o exemplo!
Sobre as cinzas da Pátria, ímpio, pensaste
Folgar de nosso mal,
E, entre as ruínas de cidade ilustre,
Soltar riso infernal.
Tu, no teu coração incipiente,
Disseste: – «Deus não há!»
Ele existe, malvado; e nós vencemos:
Treme; que tempo é já!

IX

Mas esses, cujos ossos espalhados
No campo da peleja
Jazem, exoram a piedade nossa;
Piedoso o livre seja!
Eu pedirei a paz dos inimigos,
Mortos coma valentes,
Ao Deus nosso juiz, ao que distingue
Culpados de inocentes.

X

Perdoou, expirando, o Filho do Homem
Aos seus perseguidores;
Perdão, também, às cinzas de infelizes;
Perdão, oh vencedores!
Não insulteis o morto. Ele há comprado
Bem caro o esquecimento,
Vencido adormecendo em morte ignóbil,
Sem dobre ou monumento.
C tempo d'olvidar ódios profundos
De guerra deplorável.
O forte é generoso, e deixa ao fraco
O ser inexorável.
Oh, perdão para aquele a quem a morte
No seio agasalhou!
Ele é mudo: pedi-lo já não pode;
O dá-lo a nós deixou.
Além do limiar da eternidade
Cl mundo não tem réus,
O que levou à terra o pó da terra
Julgá-lo cabe a Deus.
E vós, meus companheiros, que não vistes
Nossa triste vitória,
Não precisais do trovador o canto:
Vosso nome é da história.

XI

Assim, foi do infeliz sobre a jazida
Que um hino murmurei,
E, do vencido consolando a sombra,
Por vós eu perdoei.


- Alexandre Herculano, A Vitória e a Piedade

quarta-feira, 18 de março de 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

Porta do Sangue ou Almedina

Através do Nabantia li o artigo do Tomar a Dianteira :

PORTA DA ALMEDINA: O ESTADO DO SÍTIO

Publica Sebastião Barros um excelente artigo.
E no artigo, uma imagem da Cruz que procurei pelo lado de dentro, quando, aparentemente, ela se encontrava do lado de fora!

Muito agradeço a Sebastião Barros pela publicação da imagem, que eu cheguei a pensar tratar-se da minha imaginação!

Coisas ...
Não somos nós que encontramos as coisas, as coisas é que nos encontram a nós.

Ei-la, à magnífica Rosa!


Concordando consigo, caro Sebastião Barros, não posso, contudo, deixar de chamar a atenção para um ponto:

E as pessoas, os tomarenses em primeiro lugar, porque é que ao invés de se queixarem, não mudam o estado das coisas?

A começar por colocar mãos à obra e limparem a área - eu prontifico-me para ajudar, ou se quiserem, para iniciar a obra, e depois, alterarem o poder local nas próximas eleições.

Não se queixem apenas, hajam.

domingo, 15 de março de 2009

Agradecimento

Ao Nabantia, pela referência a Tamarma.

Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras -
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.


- Fernando Pessoa, Infante D. Henrique

O Sol e a Lua

sábado, 14 de março de 2009

Uma questão delicada

Esta.

Ao contrário de outros desafios, muitíssimo mais subtis, este foi ostensivo e desafiador.

Os Mundos estão cheios de símbolos, e de símbolos de símbolos.
Nem o Bem, nem o Mal, mas o Amor.

A Alegoria

Este é o ano da Justiça; e um ano de Justiça repleto de símbolos como duas 6ª feira 13 seguidas.

É a revolução, a queda das máscaras, e a clarificação.

Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Glauco – Estou vendo.

Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?

Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?

Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?

Glauco - É bem possível.

Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?

Glauco - Sim, por Zeus!

Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?

Glauco - Assim terá de ser.

Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco - Muito mais verdadeiras.

Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?

Glauco - Com toda a certeza.

Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?

Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.

Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.

Glauco - Necessariamente.

Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.

Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.

Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?

Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.

Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?

Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.

Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?

Glauco - Por certo que sim.

Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?

Glauco - Sem nenhuma dúvida.

Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.

Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.
- Platão, A República, Alegoria da Caverna

sexta-feira, 13 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

Deusa - Mulher

No Dia Internacional da Mulher

Afrodite - Vénus - Astarte - Ishtar (Ou Simplesmente Mulher)

No Ano de Júpiter, ou da Justiça, a Deusa do Amor aparece, para temperar a Justiça com Amor, e transmutar em Compaixão.

(...) Sabe-se que um culto se sobrepunha a outro adaptando os locais anteriormente utilizados.

Por isso, certamente que muitas das capelas e ermidas que existem ao longo da costa foram antigos santuários construídos pelos marinheiros Fenícios em honra da sua senhora, a deusa Astarte, Ericina ou Columba a quem mais tarde os romanos chamaram Afrodite, Venus e Hera.

Astarte era uma divindade fundamentalmente relacionada com a lua e que frequentemente aparece como protectora, como estrela guia dos viajantes e marinheiros. Também conhecida por estrela da manhã ou estrela alta, Astarte acabou por se identificar com as divindades Greco-Romanas Hera e Anat, bem como com a famosa Vénus Ericina.

J. Leite Vasconcelos, na sua obra "As religiões da Lusitânia" considera a existência em Portugal de santuários Fenícios em honra de Astarte, a deusa Semítica da Lua. Embora entre nós haja poucos vestígios materiais do culto de Vénus ou da sua antecessora Astarte ou Ericina, Camões, nos Lusíadas, atribui-lhe o papel de protectora dos Portugueses, nomeadamente nos cantos I, III, VI, VII e particularmente no canto II.

Ao estabelecerem as suas bases Atlânticas de 35 em 35 quilómetros, os marinheiros desses tempos escolhiam locais da costa que apresentassem de preferência dois ancoradouros contíguos, como alternativa à direcção dos mares, como Ericeira a "Ribeira" e a "Foz".

Nesses ancoradouros os Fenícios construíram fortalezas e sobretudo santuários, normalmente dedicados à deusa Astarte ou uma das suas variantes. Muitos desses antigos santuários são hoje, naturalmente, dedicados aos nossos Santos, como estamos convencidos ser a capela da Senhora da Boa Viagem e Sto. António, junto à Praia dos Pescadores.

Nesta capela, que no princípio de século XVII foi sede da corporação dos homens do mar, existia o culto a Sant' Elmo. Curiosamente, no cabo Higuér, entre Biarritz e San Sebastian, na rota Oceânica Fenícia, onde outrora se erguia um templo a Vénus existe hoje uma capela dedicada a Sant' Elmo, tal como no sul da Espanha, em Málaga, onde existiu uma colónia Fenícia, existe hoje um local com esse nome.

Um dos atributos de Astarte ou Vénus aparece relacionado com a lua. A 100 metros a baixo da capela de Sto. António, a caminho da praia, existe uma fonte, "A Bica", ou o "Chafariz da Concada" como se lhe chama, da qual ainda há memória de ser conhecida por: Fonte da Lua.
Olhando para sul, lá no fundo, na Serra de Sintra, existiu um santuário em honra da Lua, o qual Leite de Vasconcelos admite ter sido Fenício, dedicado a Astarte.
De resto, a própria Serra de Sintra, era assim designada pelo escritor Grego de século I/II, Ptolomeu.

A sul, como ponto alternativo, o Lizandro, na embocadura do qual se ergue a ermida de S. Julião e Sta. Basalisa que faz lembrar o antigo santuário de Astarte, a Alba Sta Columba, a Vénus Ericina, a Estrela dos Céus, na Sicília. E
ste santuário é também hoje dedicado a "San Giuliano". Quem visita a ermida de S. Julião, que sinaliza a entrada do Lizandro e que conjuntamente com a capela de S. Sebastião, a norte da Ericeira, localizam aquela costa, depara com um pentagrama gravado na parede de pedra do alpendre.

Ao jeito de uma época, este pentagrama contem algumas inscrições, vários triângulos e três quadrados. Num destes triângulos estão dispostas 80 letras, em colunas verticais e horizontais, as quais dão leituras sucessivas e em todas as direcções da Estrela Matutina. Estrela Matutina era um dos nomes porque era também conhecida Isthar (estrela), Astarte-Vénus ou Ericina. Quanto a Sta. Basalisa, era uma das "nove Santas Irmâs Gémeas" popularizadas num mito que as relaciona com Astarte.

A mil e quinhentos metros desta ermida, perto da Carvoeira, nas margens do Lizandro, fica a capela da Nossa Senhora do Ó, ou do Porto. No seu interior, num altar retirado existe uma antiga imagem de pedra de Sta. Ana, mãe da Nossa Senhora e avó de Jesus que faz lembrar a Ana ou Anat dos Fenícios, a "Rainha de Todos os Céus", divindade pouco diferenciada de Astarte. Também no panteão Celta da Hibérnia (Irlanda) existia uma Ana ou Anat, a mãe que "alimentava os deuses".
- Gwydion Lusitanae

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ainda os altares da Charola Templária

Regressando à questão Charola templária e altares, passaram, pelo menos, 2 tipos de altares pela Charola: o original, ou seja, aquele que existia ao tempo da fundação, que pressuponho fosse idêntico ao apresentado pela 3ª, 4ª e 5ª das imagens presentes no artigo anterior, de inspiração marcadamente românica do Séc. XII.

Sucede que o altar até há relativamente pouco tempo, presente no seio da Charola (como não podia deixar de ser), foi retirado.
(Onde é que se encontra actualmente?
Qual o fim que lhe deram?)

Voltando às características do altar propriamente ditas.
A 3ª imagem, imagem do altar que foi retirado, apresenta inscrita uma data, data de elaboração - pressuposição minha - de 1960, como se pode observar na imagem.

Quem mandou elaborar o altar?
Trata-se de uma cópia do altar original? Se sim, onde está o altar original? Se não, basearam-se em quê para a sua elaboração? E ainda, se não, quem mandou colocar lá o altar?

Aguça-me o interesse, o facto do altar apresentar duas covas em cunha na mesa, e não uma no suporte da mesa como referem os escritos antigos, cuja utilização da cova no suporte era a de guardar relíquias - isto no Séc. XII, já a que apresenta duas cunhas na mesa, apresenta-se como uma fusão entre o altar românico e um altar pagão.

As duas cunhas na mesa, apresentam duas leituras:

- sacrifício, propriamente dito;

- receptáculo das águas do Espírito.

Quid Altare?

Addenda:

Agradecendo a colaboração de Rui Ferreira para a melhor compreensão desta questão, transcrevo o seu comentário ao artigo:
Olá Sigillum

Ora bem; o altar que há pouco tempo foi retirado está arrecadado no Convento de Cristo.

Ele foi realmente colocado no centro da Charola por volta de 1960, (não tenho em lembrança a data que efectivamente está gravada na pedra)
Ele foi lá colocado na sequência da remoção de uma altar que outrora existia adossado às colunas do tambor central a nascente. Desse altar faz parte a imagem de Cristo Crucificado que lá se colocou há cerca de 4 anos.

Este altar excêntrico, provavelmente do séc. XVII, foi desmontado na sequência de várias intervenções na Charola, que nos anos 40, quiseram repor alguma originalidade à Capela Templária. Assim, a elevação existente no piso sob o tambor central foi demolida, deixando ver as bases das colunas templárias.. deste modo o tal altar excêntrico deixou de ter base e foi desmontado.
Dela fazem parte o tal Crucifixo que agora lá está suspenso, uma "pianha" de madeira de grandes dimensões, em reserva e ainda duas lajes com epigrafes pintadas, existentes também em reserva. Do altar propriamente dito nada se sabe.
Mas voltando à "mesa central" ou altar que a Sigillum reputa de original...

Foi lá posto na época dos 60, antes disso os padres do seminário tinham lá algo parecido, em madeira e amovível, há fotos disso.
Esta mudança também teve a ver com o Conc. Vaticano II e, NOVIDADE NOVIDADE, antes de haver altar o que se desmontou agora, foi feita uma maquete em tamanho real, talvez para ver como ficava a coisa... Esta maquete consiste nas cinco colunas em tamanho real que serviram seguidamente de molde às de pedra.

Ia para finalizar mas lembrei-me do tal pormenor dos buracos!!

Era o local, e isso é comum nas igrejas antigas, onde se colocavam as pedras de Ara...
Eu cheguei a ver uma: forrada a pano e com um carimbo!

Raramente os altares tinham duas, segundo me disseram!

Mas pergunte-se a um sacerdote sobre isso....
Ver ainda dois artigos relativo às Pedras de Ara: Simbologia das Pedras e Pedras de Ara

domingo, 1 de março de 2009

Homenagem a Gualdim Paes nos 849 anos da fundação de Tomar


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


- Fernando Pessoa
---------------------